O deputado britânico candidato a líder do Partido Conservador, Robert Jenrick, afirmou, esta quarta-feira, que todos aqueles que gritam Allahu Akbar (Alá é Grande) nas ruas devem ser “imediatamente detidos”. As declarações causaram polémica no Reino Unido e o responsável político, ex-ministro das migrações, foi acusado de “islamofobia” e criticado — até entre os conservadores.

“Sempre fui muito crítico da polícia no passado, particularmente da atitude das forças de segurança aos protestos que vemos desde dia 7 de outubro”, dia do ataque do Hamas a território israelita. “Eu acho que é bastante errado que alguém possa gritar Allahu Akbar nas ruas de Londres e não seja imediatamente detido, ou que grite cânticos genocidas no Big Ben e não seja imediatamente detido. Essa atitude é errada e eu sempre vou criticar a polícia por isso”, assinalou Robert Jenrick, numa entrevista à Sky News.

Num momento em que o Reino Unido enfrenta uma vaga de manifestações anti-imigração — esperavam-se mais de 100 protestos esta quarta-feira —, Robert Jenrick defende, contudo, que agora a polícia está a fazer o “melhor que pode”: “Devemos agradecer aos corajosos polícias, devemos apoiar os seus esforços. A polícia deve deter os perpetradores de crimes graves e enviá-los para a cadeia”.

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Após as declarações, Robert Jenrick foi bastante criticado. A vice-primeira-ministra, Angela Rayner, defendeu que a retórica do deputado está por trás de “alguns problemas” que afetam o Reino Unido neste momento. “Queremos que as comunidades se juntem e a maioria quer ver isso.”

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Dos trabalhistas, o deputado Afzal Khan explicou que Allahu Akbar é “equivalente muçulmano a Aleluia”. No X, lamentou que o conservador tenha sido “islamofóbico”. “A confiança de Jenrick ao ir à televisão nacional e dizer que as pessoas devem ser presas por dizer Allahu Akbar expõe o seu preconceito contra muçulmanos.”

Dentro dos conservadores também surgiram críticas. O candidato a líder do Partido Conservador, o deputado Mel Stride, frisou à Sky News que a sugestão de “criminalizar as palavras Allahu Akbar” é “insensata e insensível”. Por sua vez, a ex-ministra sem pasta do governo de David Cameron, Sayeeda Warsi, classificou estas palavras como parte de uma “retórica divisiva e indecente”.

Para tentar clarificar o assunto, Robert Jenrick reconheceu no X, após a entrevista à Sky News, que Allahu Akbar é dito de forma “pacífica e espiritual por milhões de britânicos muçulmanos no seu dia a dia”. No entanto, enfatizou que, quando faz parte de “cânticos agressivos”, é “intimidatório e ameaçador”. “É uma ofensa na secção 4 e cinco da Public Order Act”, reforçou.