Morteza Mehrzadselakjani, ou simplesmente Mehrzad, tem 2,46 metros. É a segunda pessoa mais alta do mundo, atualmente, e a sétima mais alta de sempre. Sofre de acromegalia, uma condição que provoca a produção excessiva de hormonas de crescimento, e tem uma esperança média de vida dez anos inferior ao normal. Pelo meio, é bicampeão paralímpico de voleibol sentado — e vai atrás do terceiro ouro.

Natural de Kelachay, no norte do Irão, já media 1,90 metros aos 16 anos e foi precisamente com essa idade que foi diagnosticado. Um acidente de bicicleta, porém, tornou tudo ainda mais complicado: a fratura pélvica que sofreu na queda fez com a perna direita parasse de crescer, algo que o obriga a movimentar-se de cadeira de rodas ou muletas. Atualmente, a perna direita de Mehrzad tem menos 15 centímetros do que a esquerda.

Em Paris, o atleta iraniano de 36 anos procura conquistar a terceira medalha de ouro depois de já ter sido campeão paralímpico de voleibol sentado no Rio e em Tóquio. Contudo, na verdade, só começou a praticar a modalidade seis meses antes dos Jogos Paralímpicos de 2016 — e tudo graças a um programa de televisão. Mehrzad foi o convidado de um espaço sobre pessoas com características físicas fora do comum e Hadi Rezaeigarkani, o selecionador de voleibol sentado do Irão, percebeu que tinha acabado de encontrar um futuro campeão.

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“Não estava propriamente à procura de um jogador que, sentado, conseguisse ver por cima da rede. Mas um dia vi esse jogador na televisão. Quando o vi percebi logo que podia utilizá-lo na minha equipa. Era considerado alguém estranho, mas conseguimos convertê-lo num campeão”, disse o treinador numa entrevista ao The New York Times há alguns anos.

Mehrzad estava “deprimido e sozinho” com os seus 2,46 metros mas o voleibol sentado salvou-o e fez dele um campeão

Quase uma década depois, Mehrzad é bicampeão paralímpico e bicampeão mundial e já foi considerado o melhor jogador do mundo em três ocasiões. Algo que, ainda assim, não lhe garante todas as mordomias: o iraniano tem dormido no chão em Paris, já que a cama fornecida pela organização dos Jogos Paralímpicos não tem o comprimento suficiente para o acolher.

“Em Tóquio arranjaram uma cama especial para ele, mas aqui não, infelizmente. Dorme no chão. Não tem cama para ele, mas tem o objetivo mais importante na cabeça dele. Não fica nada preocupado se tiver de dormir no chão ou se não tiver o suficiente para comer. De alguma maneira, está só preocupado com a medalha de ouro”, explicou o selecionador nacional ao site oficial dos Jogos Paralímpicos.

Ainda assim, e depois de surgirem as primeiras notícias sobre o facto de o atleta iraniano estar a dormir no chão, a organização já garantiu que irá resolver o problema o mais depressa possível. “Desde que tivemos conhecimento da situação que estamos a tentar encontrar extensões adicionais para a cama. A situação vai ficar resolvida”, indicou um porta-voz do Comité Paralímpico Internacional à BBC, acrescentando que a organização já tinha facultado duas extensões desde o início da competição, mas que o comprimento da cama continuava a ser insuficiente.

A dormir no chão ou num colchão, a verdade é que Mehrzad e o Irão vão atrás do terceiro ouro consecutivo em voleibol sentado. E a “Arma Fatal”, como é conhecido no próprio país, continua a agradecer tudo ao desporto. “O voleibol permitiu-me afirmar a minha personalidade. Hoje em dia, vejo orgulho nos olhos das pessoas. Alguns nem sequer sabem que tenho uma doença. Antes do desporto, só me conheciam pela minha altura. Tudo mudou para mim, financeiramente, socialmente. Mudou tanto a minha vida que já não consigo imaginar-me sem o voleibol. Nunca poderei agradecer o suficiente ao selecionador. Se não tivesse acreditado em mim, nunca estaria aqui hoje”, disse numa entrevista ao jornal The Telegraph.