A Reserva Federal norte-americana anunciou nesta quarta-feira um corte das taxas de juro do dólar, o primeiro desde a pandemia e depois de os juros terem estado em máximos de duas décadas ao longo de mais de um ano. O banco central, aliás, surpreendeu com um corte de juros de 50 pontos-base, quando a generalidade dos analistas admitia que seria de apenas 25 pontos. “A economia está em boa forma e queremos mantê-la assim“, justificou o presidente da Fed.

O corte da taxa de juro, para um intervalo entre 4,75% e 5,00%, surge depois de Jay Powell, o presidente da Reserva Federal (Fed), ter sinalizado num simpósio recente (Jackson Hole) que o banco central está, nesta fase, mais preocupado com os sinais de fragilidade no mercado de trabalho do que com a ameaça da inflação, que foi estimada em 2,5% mês passado – um valor não muito distante do objetivo de 2%.

“Estamos empenhados em proteger a robustez da nossa economia, mantendo a inflação a mover-se de forma consistente em direção à meta”, afirmou Jay Powell, na habitual conferência de imprensa para justificar a decisão anunciada momentos antes. O banco central tem uma “confiança crescente” de que a inflação irá continuar a aproximar-se da meta, depois de ter chegado aos 7% no pico da pressão sobre os preços.

“Concluímos que baixar os juros em 50 pontos era a decisão correta a tomar”, acrescentou Jay Powell, garantindo que isso não significa que o banco central esteja numa “trajetória pré-definida” de baixa dos juros. As decisões vão ser tomadas conforme os dados que forem sendo divulgados nos EUA, afimrou o responsável, salientando a importância dos dados sobre o mercado de trabalho (mais do que os dados da inflação).

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Ninguém “deve olhar para [esta descida de 50 pontos] e achar que, a partir de agora, 50 pontos base é o ritmo normal” das descidas de juros, sublinhou o responsável, admitindo baixas a um ritmo menor ou, mesmo, novas “pausas”.

Polémica com Trump? “Nós fazemos o nosso trabalho para servir todos os americanos”

O candidato republicano às próximas eleições, Donald Trump, disse, antes da decisão, que anunciar um corte das taxas de juro – fosse ele maior ou menor – seria um erro. Baixar os juros, tão perto das eleições (de novembro), “é algo que eles [os responsáveis da Fed] sabem que não deviam fazer“, alegou Trump que, recorde-se, foi quem nomeou Powell para a liderança da Fed durante o seu mandato presidencial (2016-2020). Na ótica de Trump, a redução dos juros irá beneficiar a candidatura (democrata) de Kamala Harris, por dar um possível estímulo à atividade económica.

O candidato republicano já afirmou, há várias semanas, que caso volte a ser eleito Presidente irá defender que a Casa Branca passe a ter “uma palavra a dizer” nas decisões de política monetária da Fed. Essa é uma posição que choca com a visão de que os bancos centrais devem ser independentes do poder político, já que é esse o modelo mais eficaz no controlo da inflação e dos estímulos à economia.

Jay Powell, questionado sobre esta polémica, sublinhou que a história mostra que esta é a melhor forma de gerir a política monetária, isto é, manter “os bancos centrais numa ínsula”. “Nós fazemos o nosso trabalho para servir todos os americanos, não o fazemos para beneficiar este ou aquele partido, esta ou aquela figura política – a nossa missão é fomentar o pleno emprego e controlar a inflação, e acredito que vai continuar a ser assim”, atirou Jay Powell.

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