Víctor de Aldama, ex-presidente do Zamora FC e Claudio Rivas, empresário do setor dos hidrocarbonetos, tentaram replicar em Portugal a mesma fraude fiscal que levaram a cabo a partir de uma empresa de hidrocarbonetos em Espanha que lhes rendeu 182 milhões de euros. O caso envolve José Luis Ábalos, ex-ministro socialista espanhol, amigo próximo de Aldama, sob o qual pendem suspeitas de tráfico de influências.

Segundo o El Mundo, Rivas tinha uma empresa de comércio grossista de combustível em Portugal desde pelo menos 2019. Criou depois uma empresa espelho da empresa portuguesa em Espanha, chamada Combustibles Peninsulares S.L., que passou a deter 100% das ações da portuguesa. Aldama terá ainda falsificado um contrato para branquear, na China, parte de lucros provenientes do negócio.

Como conclui o jornal espanhol, os autores da fraude também pretendiam que a operadora portuguesa vendesse produtos para as suas empresas de distribuição em Espanha, com o objetivo de fomentar o negócio base. Terá sido nesta fase que os empresários tentaram chegar a Nuno Rebelo de Sousa, filho de Marcelo Rebelo de Sousa. A Unidade Central Operativa da Guardia Civil Espanhola encontrou referências ao filho mais velho do Presidente da República numa troca de mensagens entre o espanhol Víctor de Aldama e Claudio Rivas.

As mensagens datam de agosto de 2021 e foram descobertas na aplicação Signal. Na correspondência, que foi enviada para o Tribunal Central de Instrução n.º2 da Audiência Nacional espanhol no âmbito desta investigação de fraude fiscal, Aldama diz a Rivas que tinha prevista uma “conferência com o filho do Presidente de Portugal” às 16h do dia seguinte e que este lhe tinha perguntado “se podia entrar na empresa com uma percentagem”.

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A administradora da empresa portuguesa foi por um período de tempo a irmã de Rivas, Marisa, que está presa preventivamente tal como Víctor de Aldama e Claudio Rivas no âmbito do caso de corrupção Koldo. Através da empresa criada recentemente em Portugal, Aldama e seu parceiro, Rivas, pretendiam desviar os lucros obtidos em território nacional, para depois continuar a escondê-los através de diferentes sociedades, como já tinham feito em Espanha.

Nuno Rebelo de Sousa mencionado em caso de fraude fiscal em Espanha

O esquema que pretendiam montar com a empresa portuguesa era em tudo semelhante ao que já tinham feito prosperar no país vizinho. Vender milhares de toneladas de hidrocarbonetos a empresas controladas por eles sem devolver ao fisco o IVA cobrado, e dissolver essas empresas antes de completarem um ano de vida por meio de concursos de credores. Dessa forma, poderiam continuar a criar outras empresas de fachada e evitavam a atenção das autoridades.

“Defraudou-me de uma forma que ainda me parece um pesadelo”. Aldama apresentava-se como marquês, mas não tinha título

Víctor de Aldama apresentava-se a empresários e outras pessoas do seu círculo de negócios como neto do Marquês de Aldama. Afirmava até que o seu avô tinha construído La Moraleja, um bairro abastado no norte de Madrid. Era tudo falso.

Um importante empresário madrileno identificado pelo El Mundo como J.L descreveu Aldama enquanto um homem “especialmente violento, muito irascível, arrogante e tão direitista, tão ultra”, que Santiago Abascal, líder do Vox, não “é nada ao lado dele”. “Defraudou-me de uma forma que ainda me parece um pesadelo”, admitiu sobre um dos homens atrás do caso de fraude fiscal em Espanha.

J.L contou ao jornal que o pretenso marquês se gabava dos seus contactos no Equador. Segundo o jornal espanhol, Aldama vivia de aparências desde tenra idade. Aos 26 anos terá comprado um Ferrari com um cheque sem cobertura e acabou a ser perseguido por oito meses pela dívida.

Mais tarde terá tentado adquirir a equipa de futebol de Córdoba. “Os donos do clube disseram-me que ele vestiu um marroquino de xeque árabe para os enganar e que já tinha outro xeque para revender a equipa. Acontece que apresentou como garantia um armazém imundo em Madrid e não aceitaram”, descreve o mesmo empresário.