Os Estados Unidos da América, a Coreia do Sul e a NATO confirmaram, esta quarta-feira, que há pelo menos três mil soldados norte-coreanos na Rússia e que existe uma “probabilidade elevada” de irem para a linha da frente na Ucrânia. Os dois países e a organização internacional dizem ter “provas” de que Pyongyang decidiu apoiar o esforço de guerra russo, ainda que sublinhem que, neste momento, não há norte-coreanos no campo de batalha. 

À porta fechada, os serviços secretos da Coreia do Sul (NIS, sigla em inglês) adiantaram, num sessão no parlamento, que o primeiro contingente de militares norte-coreanos chegou “entre 8 a 13 de outubro” à Rússia, mas, desde essas datas, foram “enviados mais 1.500 soldados”. As informações foram avançadas pela agência de notícias sul-coreana, Yonhap, que cita ainda declarações do líder da oposição, Park Sun-won, que esteve presente na sessão.

A Coreia do Sul espera que, até dezembro, possa haver dez mil soldados norte-coreanos na Rússia. Até ao momento, as secretas de Seul apuraram, tal como os Estados Unidos, que nenhum militar da Coreia do Norte foi enviado para o campo de batalha. Em vez disso, estão em bases militares na Rússia a ser treinados para, entre outras coisas, saber como usar equipamentos militares e como dirigir drones.

Ainda segundo Park Sun-won, as altas patentes militares russas acreditam que os “soldados norte-coreanos são saudáveis” e estão bem em termos físicos e psicológicos, mas não “entendem as táticas de guerra moderna, como ataques de drones”. O líder da oposição e presidente do Partido Democrata assinalou ainda que os generais russos esperam “várias baixas entre os norte-coreanos”.

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Os serviços de informações sul-coreanos apuraram igualmente que os militares da Coreia do Norte recebem dois mil dólares (cerca de 1.850 euros) por mês para estarem na Rússia. Mais: as secretas de Seul também acreditam que o regime de Pyongyang isolou as famílias dos soldados que foram para a Rússia.

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Casa Branca frisa: se as tropas norte-coreanos forem para a linha da frente “serão um alvo legítimo”

O secretário da Defesa, Lloyd Austin, adiantou, na manhã desta quarta-feira, que havia tropas norte-coreanas na Rússia. Durante a tarde, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, deu mais detalhes: “Desde o início a meio de outubro, a Coreia do Norte deslocou três mil soldados para o leste de Rússia. Estes militares viajaram de navio por Wonsan [uma cidade costeira em território norte-coreana] até Vladivostok, na Rússia. Os soldados viajaram para bases militares no leste da Rússia, onde estão a ser treinados”.

Segundo indicou John Kirby num briefing, os Estados Unidos “não sabem” se esses soldados vão ser deslocados para a linha da frente e vão combater ao lado dos russos, mas existe uma “probabilidade elevada” de isso acontecer. “Podem viajar para o oeste da Rússia e lutar contra os ucranianos”, admitiu.

O responsável norte-americano indicou que informou o governo ucraniano e os países aliados do envio de tropas. “Atualmente, vamos continuar a monitorizar a situação”, frisou John Kirby, realçando que se trata de um “ato desesperado” da Rússia. O responsável da Casa Branca deixou ainda um aviso. Se as tropas norte-coreanas foram para o terreno, “serão um alvo legítimo”: “É um jogo justo e são alvos justos”.

A NATO indicou igualmente que os seus países-membros têm provas sobre o envio de tropas norte-coreanas para a Rússia, admitindo o risco de uma escalada da guerra na Ucrânia apoiada por vários aliados de Moscovo. Os países da aliança atlântica “confirmaram a existência de provas da presença de tropas norte-coreanas na Rússia”, destacou a porta-voz da NATO, Farah Dakhlallah, citada por agências internacionais, acrescentando: “Se essas tropas se destinarem a combater na Ucrânia, isso representaria uma escalada significativa do apoio da Coreia do Norte à guerra ilegal da Rússia”.