A Ucrânia insistiu nos últimos meses para que os Estados Unidos da América (EUA) deixassem que o país utilizasse armas de longo alcance para ataques dentro da Rússia. Este domingo, segundo noticiou a imprensa norte-americana, o Presidente dos EUA, Joe Biden, deu a luz verde que Kiev tanto esperava e vai permitir que as tropas ucranianas usem os mísseis ATACMS, que podem atingir alvos em território russo a cerca de 300 quilómetros.

Com risco de fazer escalar a situação, o Chefe de Estado norte-americano opôs-se durante meses a que Kiev atacasse alvos russos a longa distância. A dois meses de terminar o mandato, Joe Biden mudou ideias e concedeu um apoio ao esforço de guerra da Ucrânia, isto numa altura em que Presidente eleito Donald Trump já prometeu terminar o conflito em 24 horas, sugerindo que pode acabar com o envio de armamento para território ucraniano.

De acordo com o New York Times, os mísseis de longo alcance deverão ser utilizados para atacar a região de Kursk, na Rússia, que está parcialmente ocupada pela Ucrânia desde agosto de 2024. Desta forma, os Estados Unidos reagem ao envio de tropas da Coreia do Norte para território russo, sendo esperado que militares de Pyongyang se juntem à ofensiva de Moscovo, que reúne 50 mil homens, nas próximas semanas.

O que são os mísseis ATACMS com que a Ucrânia sonha e que os EUA podem vir a enviar para o campo de batalha?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os dirigentes norte-americanos acreditam, no entanto, que os ataques a alvos a longa distância dentro da Rússia não mudarão drasticamente as dinâmicas no campo de batalha. A permissão de Joe Biden terá mais como objetivo enviar uma mensagem à Coreia do Norte, de modo a que o país não envie mais homens para território russo.

Segundo a Reuters, a Ucrânia está a planear atacar alvos russos já nas próximas semanas com ATACMS. Contudo, o Presidente ucraniano não confirmou oficialmente a informação. No discurso diário, Volodymyr Zelensky disse apenas que os “ataques não são levados a cabo com palavras”: “Essas coisas não são anunciadas. Os mísseis vão falar por si. Certamente vão”.

“O plano para fortalecer a Ucrânia é o plano da vitória, que eu apresentei aos parceiros. Um dos pontos-chave passa por capacidades de longo alcance para as nossas forças armadas”, indicou o Chefe de Estado ucraniano, notando que tem havido “muita conversa nos meios de comunicação social” sobre a possibilidade de a Ucrânia “receber permissão” para levar a cabo essas ações ofensivas contra a Rússia.

Aos mil dias de guerra, Rússia “avança lentamente” no Donbass e intensifica ofensiva. Mas Biden dá fôlego à Ucrânia

Políticos russos fazem eco de Putin e deixam várias ameaças

Vários políticos russos indignaram-se com a decisão do Presidente norte-americano, dado que pode colocar em causa a ofensiva que estão a levar a cabo em vários pontos da linha da frente, em particular em Kursk. Fizeram eco das declarações do líder russo, Vladimir Putin, que, a 13 de setembro, afirmou que se o Ocidente concordasse em autorizar ataques ao território da Rússia com os seus mísseis de longo alcance, isso significava que os países da NATO, os EUA e a Europa “estariam em guerra com a Rússia”.

O antigo candidato presidencial russo e líder da Comissão Estatal de Assuntos Internacional da Câmara Baixa russa (Duma), Leonid Slutsky, foi a primeira voz russa a pronunciar-se sobre a luz verde dada por Joe Biden para que a Ucrânia ataque alvos a longa distância dentro da Rússia. “Biden, aparentemente, decidiu terminar o seu mandato presidencial e entrar para a história como ‘Bloody Joe’ [Joe Sangrento]”, atirou, acrescentando que, a serem verdade as informações publicadas nos jornais norte-americanos, isso significa a “participação direta dos Estados Unidos no conflito na Ucrânia”.

Perante este cenário, Leonid Slutsky referiu que haverá uma “resposta mais dura” da Rússia, com base nas “ameaças que serão criadas” para o país. “A administração Biden não pode deixar de entender que deixa a equipa de Trump com o problema de resolver não só o conflito ucraniano, como também um problema mais grave — prevenir um conflito global”, frisou o aliado de Vladimir Putin.

No Telegram, Andrey Klishas, membro do Conselho de Segurança da Federação Russa, avisou igualmente que o Ocidente decidiu escalar o conflito e que a Rússia pode acabar com o “Estado ucraniano”, que podia ficar “em ruínas esta manhã”. Por sua vez, Vladimir Dzhabarov, vice-líder da Comissão de Assuntos Internacionais, citado pela Reuters, disse que Moscovo vai reagir em breve. A decisão norte-americana foi um “grande passo rumo à terceira guerra mundial”.