Chama-se Spot e é o mais recente elemento na segurança de Donald Trump. Faz parte da equipa do Serviço Secreto dos Estados Unidos da América que protege o recém Presidente eleito do país. Tem pouco menos de 1 metro de comprimento e cerca de 2 metros de altura e quatro patas. Mas não é bem um cão. É um robô em forma de cão que pode correr a uma velocidade de até 1,5 metros por segundo e consegue abrir portas mas não está armado,

Este cão-robô tem estado a vigiar a residência de luxo do milionário em Mar-A-Lago, na Flórida, desde que o republicano ganhou as eleições presidenciais a 4 de novembro, e não passou despercebido. São vários os vídeos nas redes sociais como o Tik Tok e o X, por exemplo, que rapidamente chamaram a atenção.

Há uma frase em Spot que salta logo à vista. “Não faça festas”. O aviso está escrito nas quatro patas do cão-robô, não vá alguém ter vontade de o fazer. Uma hipótese pouco provável, diz à BBC Melissa Michelson, cientista política do quase centenário Menlo College, escola de negócios de Silicon Valley. “Não sei se alguém se sente tentado a dar festas a estes cães-robôs. Não têm um aspeto fofinho”.

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A ideia também não é essa. Não é um brinquedo: é mais um cão de guarda e tem um objetivo claro. “Proteger o Presidente eleito é uma prioridade máxima”, frisou Anthony Guglielmi, chefe de comunicação do Serviço Secreto dos EUA, à BBC.

Nas redes sociais, as opiniões diferem — há quem o considere “giro” e quem tenha medo da nova tecnologia — e, tal como na televisão americana, tem sido motivo de piadas.

As capacidades de “Spot”: sem faro, sem armas e com muitos ‘olhos’

Mas afinal, o que faz  este “cão-segurança de alta tecnologia”, como lhe chama o Serviço Secreto? Muita coisa. Fabricado pela Boston Dynamics, é conhecido pela sua agilidade: sobe e desce escadas, percorre espaços apertados e ainda abre portas. Mas o que tem levado as agências de segurança a estarem dispostas a pagar até 71,110.50 euros (75.000 dólares) é a sua aptidão para revelar potenciais ameaças. Ou seja, a sua capacidade de vigilância.

Spot tem muitos ‘olhos’, digamos assim. Está “equipado com tecnologia de vigilância e uma série de sensores avançados que apoiam as operações de proteção”, detalhou Anthony Guglielmi. Já a Boston Dynamics — empresa de robótica, muito conhecida pela criação dos robôs BigDog, Atlas, Spot e Handle ao longo das últimas décadas — especifica que o cão-robô tem várias câmaras que geram um mapa 3D do seu ambiente e pode também ter extras como a deteção térmica.

No entanto, Spot precisa de mão humana. “Basicamente, é controlado por uma pessoa que usa um joystick enquanto ele anda”, disse Missy Cummings, professora de engenharia que dirige o Centro de Autonomia e Robótica da Universidade George Mason. Embora o cão-robô possa também deslocar-se automaticamente ao longo de percursos predefinidos por humanos, claro. E tem uma grande vantagem — que o distingue dos humanos ou de cães de carne e osso — não se distrai com a realidade que o rodeia, como os cheiros, os sons ou as imagens.

Porém, nem tudo é perfeito, o cão-robô pode ser destruído. Basta serem pulverizados com Aqua Net —  um spray de cabelo, uma espécie de laca — no focinho, “para impedir as câmaras de continuarem a funcionar corretamente”, revela Missy Cummings.

Para já, Spot não está armado. No entanto, já existem modelos com armas a serem testados: “As pessoas estão a tentar transformar estes cães em armas”, disse a professora à BBC, referindo-se a um modelo chinês com uma espingarda acoplada.

Porque é que o futuro Presidente dos EUA precisa de um cão robô?

O que levou Spot a integrar a segurança de Donald Trump? Ron Williams, atual CEO da empresa de segurança e gestão de risco Talon Companies, que foi agente do Serviço Secreto, refere à BBC que as tentativas de assassinatos contra Trump vieram apressar a agência “a atualizar a tecnologia que pode aumentar a capacidade de detetar e deter” novas tentativas de ataque. O futuro Presidente dos EUA esteve duas vezes na mira de atacantes: uma num comício em julho, em Butler, na Pensilvânia, e outra, em setembro, no campo de golfe da sua residência de Mar-a-Lago. Mais recentemente, o Departamento de Justiça dos EUA ainda suspeitou de uma eventual terceira intenção de o matar, no dia 9 de novembro.

Três pessoas acusadas de plano para tentar matar Donald Trump a mando do Irão

O ex-agente do Serviço Secreto considera que estes “cães” já deviam ter sido instalados há muito tempo, numa propriedade como Mar-a-Lago, com muitas áreas expostas, pois conseguem cobrir uma área muito maior do que agentes humanos sozinhos. Williams espera que estes novos modelos de segurança sejam utilizados mais vezes no futuro.

O que, na verdade, já está a acontecer: para além do Serviço Secreto, os cães-robôs também estão a ser utilizados por forças de segurança a nível global, segundo o ex-agente.

Cães-robôs na segurança e no ataque, uma moda que chegou à Ucrânia

A crescente vontade de substituir os seres humanos por este tipo de máquinas não vem de agora. A criação e o desenvolvimento de “cães robóticos têm visto um boom significativo nas últimas décadas”, refere a Panda Security. As suas capacidades têm sido desenvolvidas em várias áreas,“desde construção e entretenimento até exploração espacial e operações militares.” O Phony Pony, desenvolvido por Frank e McGhee e lançado em 1966, foi o primeiro robô quadrúpede autónomo a surgir nos Estados Unidos.

Desde 2005, com o BigDo” que a Boston Dynamics tem desenvolvido variados modelos, cada vez mais avançados, até chegar ao Spot, o cão-guarda de Trump. Mas esta não foi a primeira vez que o cão saiu à rua.

Já no ano passado, a polícia de Nova Iorque incluiu o modelo Spot na sua equipa, apesar das queixas de “uma ultrapassagem distópica do poder policial”, recorda o Wired.

Na primavera deste ano, segundo o site oficial da empresa criadora, uma brigada anti-bombas do condado de Montgomery, na Pensilvânia, também comprou o robô para inspecionar potenciais explosivos, por ter “um conjunto de habilidades revolucionárias”. O tenente Allen Stewart, revela o motivo da aquisição: “O que nos atraiu no Spot foi a sua mobilidade e agilidade. Quando vimos a capacidade do Spot de abrir portas e subir degraus, pensámos: ‘Esta coisa é incrível.’”

Spot não tem sido só utilizado pelos Estados Unidos. Segundo o Kyiv Post, em setembro, as Forças Armadas da Ucrânia afirmaram que utilizaram os serviços destes robôs, como forma de vigilância na linha de frente do combate contra a Rússia, de acordo com um post no Telegram do grupo operacional e estratégico Khortytsia.

“Ele [o cão] pode ser controlado por um operador ou seguir uma rota pré-definida. A sua pequena silhueta torna-o quase invisível”, afirmou um soldado ucraniano ao jornal, pelo que são enviados para reconhecimento e intimidação das forças russas.

E em maio, a CNN revelou que os militares chineses, durante exercícios com o Camboja, exibiram também um cão-robô mas com uma arma automática nas costas, o tal modelo mencionado por Missy Cummings.