O ativista Rafael Marques disse esta quarta-feira que a visita de Joe Biden a Angola “é mais simbólica” e não vai resolver a fome no país, lamentando a “incompetência” do Governo angolano na aplicação de medidas concretas.

“É histórica (a visita) por ser a primeira de um Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) a Angola, mas é mais simbólica e mediática do que prática em termos de relações entre os dois países e a explicação é muito simples: as questões internas de Angola — democracia e direitos humanos — devem ser resolvidas cá”, afirmou esta quarta-feira Rafael Marques à Lusa.

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Angola vive, neste momento, a “maior violação” dos direitos dos cidadãos, traduzida pela “fome que graça pelo país”, referiu o também jornalista, salientando que “pouco ou nada” tem sido feito para a salvaguarda do direito à alimentação no país.

O direito à alimentação “é um direito fundamental e pouco ou nada tem sido feito para aliviar o peso da desestruturação do Governo, da economia, sobre o modo de vida dos cidadãos e estas questões não serão resolvidas pelos EUA, devem ser resolvidas pelo Presidente (da República) João Lourenço”, apontou.

O Presidente cessante dos EUA, Joe Biden, que chegou na segunda-feira a noite a Luanda, cumpre esta quarta-feira o seu segundo e último dia de visita a Angola, com presença na cidade do Lobito, província de Benguela, onde participa de uma internacional sobre o Corredor do Lobito.

Este corredor, que conta com investimentos significativos dos EUA e da União Europeia, vai permitir a ligação do porto da cidade angolana à República Democrática do Congo e à Zâmbia para escoamento de minérios e outros produtos através do Atlântico.

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Para Rafael Marques, a visita de Joe Biden não deve encarada como uma “panaceia” para a resolução dos problemas de Angola, insistindo que quem deve os resolver “é quem dirige os destinos do país”.

Quem está a dirigir o Governo “deve ouvir os clamores da população, deve apresentar políticas públicas concretas de melhoria da condição de vida do cidadão e deve, sobretudo, saber governar e ter governantes que não sejam tão medíocres e arrogantes” quanto os atuais, criticou.

O ativista, que esteve na terça-feira na plateia de individualidades que assistiram à intervenção de Joe Biden na sua vista ao Museu Nacional da Escravatura, em Luanda, reafirmou as soluções dos problemas de Angola devem ser encontradas internamente.

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“Esperar que entidades estrangeiras venham resolver os nossos problemas é um atestado de menoridade, o país é nosso e somos nós quem tem de resolver os problemas“, vincou.

O também diretor do portal “Makaangola” considerou, por outro lado, que o Corredor do Lobito não vai resolver o problema dos angolanos e não vai mudar a economia do país, argumentando que a infraestrutura é de grande valia para os norte-americanos.

O Corredor do Lobito “é um projeto e deve ser tratado como tal, não vai resolver os problemas dos angolanos, não vai mudar a economia, isso é conversa, tem um valor geopolítico, geoestratégico para os EUA”, disse.

Defendeu ainda que os angolanos precisam de produção alimentar, emprego e de outras condições “que só um Governo competente, com pessoas sérias e responsáveis, pode fazer”. “Nós não temos, precisamos um Governo sério”, realçou.

“Temos um Governo que serve o Presidente (da República) e o Presidente (da República) serve-se a si, é só ele quem decide e pode. A nossa vida não mudará, porque temos um mau Governo”, concluiu Rafael Marques.