O condutor do veículo (Cybertruck) da Tesla que explodiu à porta de um hotel de Donald Trump, em Las Vegas, no primeiro dia do ano, teria problemas de saúde mental que estão a ser associados ao período prolongado em que esteve destacado no exército.

Uma ex-namorada de Matthew Livelsberger, com quem manteve uma relação intermitente entre 2018 e 2021, contou ao Washington Post que o militar confidenciou-lhe que sofreu um traumatismo crânio-encefálico quando esteva em missão. As autoridades também partilharam notas que estavam no telemóvel (que ficou carbonizado) de Livelsberger e que sugeriam, segundo o jornal, efeitos sobre a saúde mental do período em que esteve em combate.

Na quinta-feira, um dia depois da explosão, foi noticiado que o homem, de 37 anos, era um soldado das Forças Especiais dos Estados Unidos da América, que estava de licença.

Segundo o testemunho da ex-namorada, Alice Arritt, ao Washington Post, Livelsberger informou-a que se deparava com problemas de memória, fraca concentração, dificuldade em manter relações e culpa pelas suas ações enquanto esteve destacado. Arritt reconheceu que esses são sintomas que sucedem a uma pancada na cabeça ou a um choque violento no corpo, o que pode ter efeitos na saúde mental. Alice Arritt disse mesmo que vários amigos veteranos e antigos doentes que acompanhou (é enfermeira) morreram por suicídio. “Ele queria ter mais ajuda”, recordou.

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Condutor do Tesla que explodiu junto ao hotel de Trump era sargento das Forças Especiais dos Estados Unidos

Numa das mensagens que trocaram no início da relação, reveladas por Arritt, Livelsberger partilhou que sofreu “algumas concussões” e, mais tarde, manifestou possíveis consequências do período de combate, como noites sem dormir, frustração ou dificuldade na concentração. Arritt e Livelsberger terminaram a relação, mas mantiveram-se em contacto. A enfermeira, aliás, foi uma das últimas pessoas a quem o militar enviou mensagem antes de morrer.

Segundo as autoridades, o Cybertruck da Tesla explodiu depois de Livelsberger ter disparado uma arma contra a cabeça quando estava estacionado em frente ao Trump International Hotel, em Las Vegas. A explosão aconteceu horas depois de um veterano do exército, com uma bandeira do Estado Islâmico, ter atropelado várias pessoas em Nova Orleães, matando 14. As autoridades não estabeleceram uma ligação entre os dois acontecimentos.

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O FBI, que está a investigar, também não encontrou nenhum dado que prove que Matthew Livelsberger não gostasse do Presidente eleito, Donald Trump e, segundo o Washington Post, admitiu mesmo que “provavelmente” o militar sofria de perturbação de stress pós-traumático. A ex-namorada caracterizou o ex-namorado como uma pessoa politicamente moderada, com tendência mais conservadora.

Numa conferência de imprensa esta sexta-feira, as autoridades partilharam capturas de ecrã de notas que estavam no telemóvel de Livelsberger. “Isto não foi um ataque terrorista, foi uma chamada de atenção“, escrevia o militar. “Os americanos só prestam atenção aos espetáculos e à violência. Que melhor maneira de transmitir o meu ponto de vista do que uma proeza com fogo de artifício e explosivos?

Noutra lia-se: “Porque é que o fiz agora? Precisava de limpar a minha mente dos irmãos que perdi e aliviar-me do fardo das vidas que tirei.” As autoridades não revelaram se Livelsberger procurou tratamento para uma lesão cerebral. O Departamento de Defesa entregou os registos médicos às autoridades, de acordo com um porta-voz do Pentágono.

Segundo o jornal, vários estudos feitos ao longo dos últimos anos têm sugerido que a exposição prolongada a episódios que envolvem explosões pode danificar as vias neurais do cérebro.

Matthew Livelsberger esteve destacado várias vezes no Afeganistão, o que — escreve o jornal — o colocou em risco acrescido. O militar foi condecorado com medalhas que honram atos de coragem em combate. Ao todo, recebeu cinco medalhas de boa conduta do exército, o que sugere que esteve destacado longos períodos de tempo sem ações disciplinares. Além da ex-namorada, amigos de Matthew Livelsberger têm relatado à imprensa norte-americana como o militar era alguém que “queria sempre ajudar o outro”.

Veículo da Tesla explode e faz um morto à porta de hotel de Donald Trump em Las Vegas