A Meta aprovou e distribuiu mais de 3.000 anúncios nas suas redes sociais Facebook e Instagram com conteúdo pornográfico, ao longo do último ano, segundo uma investigação da AI forensics, uma organização sem fins lucrativos europeia que investiga algoritmos em plataformas digitais. Este conteúdo explícito de cariz sexual é removido pelos algoritmos da Meta quando partilhado por utilizadores comuns, segundo o relatório publicado esta quarta-feira e avançado em primeira mão pelo Le Monde.

Os milhares de conteúdos publicitários identificados pelo estudo foram vistos por 8.2 milhões de vezes na União Europeia, durante o ano passado, em países como Alemanha, França, Itália e Polónia. Foi determinado que o público alvo dos mesmos foram predominantemente homens com mais de 44 anos.

Os anúncios promoviam, por exemplo, o melhoramento de performance sexual a homens e sites de encontros amorosos. Alguns eram ilustrados com elementos audiovisuais produzidos por inteligência artificial. O relatório menciona como exemplo um anúncio com um deepfake do ator francês Vicent Cassel. Uma imitação da voz de Cassel, um ator não pornográfico, pode ser ouvida a promover medicação para melhoramento de performance sexual sobre uma imagem pornográfica. O estudo refere-se a uma versão desta publicidade que foi entretanto apagada.

Também foram registados anúncios publicitários contendo imagens a sugerir relações incestuosas. Um dos exemplos relatados é um anúncio que simula as mensagens no Whatsapp entre um pai e uma filha, no dia em que esta atinge a maioridade. Nestas, a filha sugere ao seu progenitor que já podem “relações sexuais”.

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Os investigadores tentaram publicar todos os anúncios que identificaram como não cumpridores com as políticas da comunidade da Meta em contas de utilizadores normais do Facebook e Instagram e não como anunciantes. Em todos os casos, os conteúdos foram retirados das plataformas por não cumprirem com as regras comunitárias.

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A investigação concluiu que, “ainda que a Meta tenha a tecnologia para detetar automaticamente conteúdo pornográfico, não a utiliza para aplicar as suas políticas da comunidade em anúncios da mesma forma que o faz para conteúdo não publicitado”. A empresa afirma fazer a revisão de cada anúncio antes de ser publicado na plataforma, em parte feita por algoritmos inteligentes que não necessitam de mão humana. Segundo o relatório, este processo foi anteriormente criticado por não aprovar a publicação de conteúdo e anúncios relacionados com saúde e educação sexual para mulheres, transgéneros e não-binários.

É possível que as entidades que querem promover produtos e serviços, através de anúncios sexualmente explícitos, na Europa tenham aprendido a contornar o algoritmo da Meta. Essa é uma explicação, avançada pelo Le Monde, para a propensão identificada na publicidade de misturar conteúdo pornográfico com conteúdos de cariz não sexual como “desenhos animados da Disney, praias, céus estrelados e canções infantis”.

O duplo padrão, que diferencia entre publicidade e conteúdo pessoal, foi identificado inicialmente em dezembro de 2023 e continua a verificar-se persistentemente. Dessa forma não é possível tratar-se de um “bug temporário”, concluiu a AI forensics. Estas conclusões contradizem os relatórios de avaliação de riscos publicados pelo Facebook e Instagram (que são obrigados a fazer pelo regulamento de serviços digitais da União Europeia) em que afirmam fazer “uma revisão proativa” dos anúncios publicados.

A maior fonte de financiamento da empresa que detém o Facebook e Instagram são as receitas publicitárias. A investigação conclui que a empresa diminuído as suas exigências de moderação de publicidade ao ponto de começar a admitir promover conteúdo pornográfico.