O ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales volta a ser ouvido na comissão de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras em 24 de janeiro, enquanto a audição da ministra da Saúde está marcada para dia 17.

A informação foi confirmada, esta quinta-feira, à agência Lusa pelo presidente da comissão, o deputado do Chega Rui Paulo Sousa.

Lacerda Sales, que é arguido no processo juntamente com Nuno Rebelo de Sousa (filho Presidente da República) e o ex-diretor clínico do Hospital Santa Maria Luís Pinheiro, regressa ao Parlamento oito meses depois, na sequência de um pedido do Chega de caráter obrigatório, após vários depoentes referirem a possível interferência do antigo secretário de Estado no pedido de marcação da primeira consulta das crianças.

Na primeira vez que foi ouvido na comissão, em 17 de junho, o ex-governante disse não estar disponível para “servir de bode expiatório num processo político-mediático a qualquer custo” no caso das crianças tratadas com medicamento Zolgensma no Hospital Santa Maria (Lisboa) em 2020.

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Lacerda Sales salientou que “nenhum membro do Ministério da Saúde pode ter interferência na marcação de consultas ou na administração de medicamentos”, criticando o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e a auditoria do Hospital Santa Maria.

“Eu não posso aceitar o relatório da IGAS e a auditoria do Hospital Santa Maria. No entanto, apesar das suas limitações, a auditoria [do Santa Maria] concluiu bem que não houve qualquer favorecimento nestas crianças. As regras clínicas foram respeitadas. Ninguém passou à frente”, disse o ex-governante.

A audição da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, está agendada para a próxima semana, em 17 de janeiro. A governante será ouvida na qualidade de presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) à data que o caso foi noticiado.

Por sua vez, o ex-presidente do conselho de administração do CHLN Daniel Ferro será ouvido no dia 14 de janeiro, no mesmo dia em que irá depor o presidente do grupo Lusíadas Saúde, Vasco Antunes Pereira.

A jornalista da TVI/CNN Sandra Felgueiras, que deu a conhecer o caso em novembro de 2023, será ouvida em 21 de janeiro.

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Estas deverão ser as últimas audições na comissão parlamentar de inquérito depois de serem ouvidos, na sexta-feira, o médico Tiago Proença dos Santos, do Hospital Santa Maria, e o diretor do Serviço de Medicina Física e Reabilitação da mesma unidade, Francisco Sampaio.

A comissão parlamentar de inquérito, constituída em maio do ano passado, poderá ouvir ainda o Presidente da República, uma vez que Marcelo Rebelo de Sousa remeteu uma decisão para depois de concluídas as restantes audições, e caso exista “matéria que o justifique”.

Na semana passada, o Chega insistiu neste pedido de audição, para pressionar uma resposta do chefe de Estado.

De acordo com o Regime Jurídico dos Inquéritos Parlamentares, “o Presidente da República, bem como os ex-presidentes da República, por factos de que tiveram conhecimento durante o exercício das suas funções e por causa delas, têm a faculdade, querendo, de depor perante uma comissão parlamentar de inquérito, gozando nesse caso, se o preferirem, da prerrogativa de o fazer por escrito”.

Em causa está o tratamento hospitalar das duas crianças luso-brasileiras que receberam o medicamento Zolgensma em 2020. Na altura, este tratamento — que tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa — teve um custo de dois milhões de euros por pessoa.