O Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia confirmou a condenação a prisão perpétua do general Zdravko Tolimir, por genocídio no massacre de Srebrenica, em 1995, a maior atrocidade cometida em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

“A câmara de recurso confirma a condenação de Tolimir a prisão perpétua”, disse o juiz Theodor Meron, numa audiência realizada no Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, sediado em Haia, a instância judicial criada pela ONU para julgar crimes de guerra durante o desmembramento da Jugoslávia.

Outrora considerado o braço-direito do comandante do exército sérvio-bósnio, Ratko Mladic — também em julgamento — Tolimir foi condenado a prisão perpétua em 2012 pelo papel que desempenhou em crimes cometidos a “uma escala maciça” durante os três anos de guerra civil na Bósnia.

Ostentando um grande crucifixo de madeira, Tolimir ouviu calmamente os juízes enquanto estes refutavam a maioria dos argumentos do seu recurso.

Os magistrados descreveram Tolimir, agora com 66 anos, como “os olhos e os ouvidos” de Mladic, sobretudo no massacre perpetrado em meados de julho de 1995 quando as forças sérvias-bósnias mataram quase 8.000 homens e rapazes muçulmanos bósnios no enclave de Srebrenica, que supostamente se encontrava sob proteção de forças da ONU.

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Durante o julgamento, os juízes esclareceram alguns incidentes em Srebrenica, incluindo num armazém situado a poucos quilómetros do enclave, para onde cerca de 1.000 rapazes e homens muçulmanos foram levados depois de capturados pelo exército sérvio-bósnio.

Quando o armazém ficou cheio, os soldados sérvios abriram fogo com metralhadoras e atiraram granadas de mão para o interior.

“Eles dispararam durante horas, só parando de vez em quando para fazer um intervalo”, frisaram os magistrados.

Além do genocídio, Tolimir também foi condenado por outros seis crimes, incluindo extermínio, homicídio, perseguição e deslocação forçada durante a guerra, que fez 100.000 mortos e 2,2 milhões de desalojados.

Segundo os juízes, o ex-chefe dos serviços secretos fazia parte de “uma iniciativa criminosa conjunta” para transformar os enclaves de Srebrenica e Zepa, no leste da Bósnia, em zonas sérvias etnicamente puras.

Tolimir é um dos mais velhos generais sérvios-bósnios a receber um veredicto do tribunal de crimes de guerra da ONU e um dos poucos arguidos a serem considerados culpados de genocídio.

Detido em maio de 2007 na Bósnia-Herzegovina, Tolimir, cujo julgamento foi adiado diversas vezes por doença, declarou-se inocente quando o seu julgamento começou, em julho de 2007.

Fazendo a sua própria defesa, Tolimir afirmou que não deu ordens de combate em Srebrenica e que o que aconteceu foram “combates contra grupos terroristas”, e não assassínios depois de os capacetes azuis holandeses do enclave “seguro” terem sido dominados pelas forças de Mladic.

O próprio Mladic enfrenta 11 acusações, incluindo genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, entre os quais o de Srebrenica.