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A sala de audiências do Palácio Nacional de Mafra, onde o rei costumava receber convidados
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A sala de audiências do Palácio Nacional de Mafra, onde o rei costumava receber convidados

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A sala de audiências do Palácio Nacional de Mafra, onde o rei costumava receber convidados

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A boda real e o regresso dos Bragança a Mafra: o palácio onde uma princesa foi batizada e de onde partiu o último rei português

Construído devido a uma promessa feita por D. João V pelo nascimento da filha primogénita, Mafra sempre teve uma estreita relação com a Casa de Bragança. Agora vai receber a primeira boda da família.

Quando se casou com D. Maria Ana de Áustria, D. João V prometeu que construiria um convento em Mafra se a rainha lhe desse descendência. Quando D. Maria Ana engravidou, passados três anos, o rei deu ordem para que começasse a construção da casa religiosa, que teria capacidade para apenas cerca de 13 frades. Ainda no mesmo ano, D. João mudou de ideias e decidiu transformar o pequeno convento no maior projeto arquitetónico promovido pela dinastia de Bragança.

O Real Edifício de Mafra foi inaugurado a 22 de outubro de 1730, no dia em que o rei completou o seu 41.º aniversário. Nos quase 200 anos que se seguiram, até à queda da monarquia, Mafra foi um dos palácios de predileção dos monarcas portugueses, que o visitavam com regularidade em busca de um lugar mais seguro, para caçarem na Tapada ou simplesmente para descansar. D. Manuel II, último rei de Portugal, costumava viajar de Lisboa para Mafra apenas para tocar órgão na igreja, a única no mundo com seis destes instrumentos que podem ser tocados em simultâneo.

Apesar de muito frequentado pela família real, o Palácio de Mafra não costumava ser utilizado para eventos oficiais. Nunca foi palco de um casamento e a basílica recebeu um único batizado (para o qual teve de ser construído uma pia batismal, porque a igreja não tinha uma). D. Maria Francisca, filha de D. Duarte Pio de Bragança, será a primeira Bragança a casar em Mafra desde a fundação do convento e palácio, um local carregado de simbolismo pela ligação histórica que tem com a família, não só porque foi construído por um dos seus membros, mas também porque foi daquela casa que, em 1910, saiu para o exílio o último rei de Portugal.

A primeira pedra do Palácio de Mafra foi lançada a 11 de novembro de 1717. O edifício foi o grande projeto arquitetónico do reinado de D. João V

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Maria Bárbara de Bragança, a princesa que fez nascer um palácio em Mafra

Quando D. João V, quarto rei da dinastia de Bragança, morreu, em 1750, a coroa portuguesa passou para o seu filho José. O futuro D. José I, que ficou conhecido como o Reformador, era o terceiro filho de D. João V, mas a morte do irmão mais velho, D. Pedro, Príncipe do Brasil, empurrou-o para o topo da lista de pretendentes ao trono. Além de Pedro, José tinha outros três irmãos (um deles, um outro Pedro, casou com a sobrinha, a futura D. Maria I), mas foi pelo nascimento da irmã D. Maria Bárbara, filha primogénita de de D. João V, que o Palácio Nacional de Mafra foi construído.

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D. João V tinha 19 anos quando casou com D. Maria Ana de Habsburgo, arquiduquesa da Áustria, com o objetivo de firmar um aliança contra França e Espanha, que atravessava uma crise de sucessão. D. Maria Ana era irmã do arquiduque Carlos da Áustria, pretendente ao trono de Espanha com o apoio de Portugal. O casamento foi realizado a 9 de julho de 1708, por procuração, como era comum na época, e ratificado em Lisboa após a chegada de D. Maria Ana, em outubro do mesmo ano. De modo a assegurar a sucessão, o rei fez um voto — que construiriam em Mafra um pequeno convento para receber cerca de 13 frades se a rainha engravidasse.

Sérgio Gorjão, diretor do Palácio de Mafra, explicou ao Observador que era habitual os monarcas fazerem este tipo de promessas, sobretudo para o nascimento do primeiro filho. “E vivíamos numa sociedade muito religiosa”, frisou. “D. João V recebeu o título de ‘Fidelíssimo’. Era, de facto, um rei muito devoto, mas também muito esclarecido. Era um homem muito, muito culto. Houve, aliás, um sonho que não cumpriu, que era o de viajar pela Europa para conhecer os grandes monumentos. Obviamente que como monarca não podia sair com essa liberdade, ainda por cima sendo Portugal um país com a escala que tinha. Mas teve um irmão que foi bastante viajado, o infante D. Miguel de Bragança.”

Os Bragança sempre tiveram especial predileção pelo Palácio de Mafra. Contudo, a partir do século XIX, passou a ser usado sobretudo como casa de férias

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Em 1711, D. Maria Ana ficou grávida e, “na evidência dessa gravidez”, o rei autorizou a construção do convento. D. João V, que tinha o plano de construir um grande palácio em Lisboa, decide a certa altura abandonar a ideia e transferir o imenso projeto para Mafra. “Em Lisboa, a família real e a corte distribuíam-se por vários palácios. Segundo um bocadinho o modelo de Versalhes, o rei decidiu criar um palácio fora da capital, um espaço seguro onde a corte pudesse eventualmente vir a residir e espelhando o que era a sociedade do antigo regime”, explicou Sérgio Gorjão, acrescentando que o palácio real de Mafra foi construído como “forma de propaganda do poder monárquico absoluto”, representando “a sociedade e o papel central do rei nessa sociedade, em estreita ligação com a sua dimensão natural, de herdeiro do trono, mas também na sua dimensão divina”.

Quais são os planos para a boda real: “Que seja simples mas com dignidade, uma festa alegre e vivida”

O primeiro filho do casal real, uma menina, nasceu a 4 de dezembro de 1711. Foi lhe dado o nome de Maria Madalena Bárbara Xavier Leonor Teresa Antónia Josefa, mas foi como Maria Bárbara que a primogénita de D. João V ficou conhecida. Talvez por ter sido a primeira filha do rei, D. João tinha um carinho especial por Maria Bárbara, com quem teve sempre uma relação muito próxima, o que nem sempre acontecia na época. Mulher culta, amante das artes e sobretudo de música, recebeu formação musical do compositor italiano Domenico Scarlatti, que foi contratado por D. João V para dirigir a Capela Real e para ensinar a jovem princesa. Scarlatti tornou-se um amigo próximo, tendo acompanhado D. Maria Bárbara quando esta se mudou para Espanha após o casamento com o infante Fernando de Bourbon. Além de uma grande intérprete, a princesa foi também compositora, tendo deixado uma extensa obra musical, que acabou dispersa após a sua morte.

D. Maria Bárbara foi uma das protagonistas da chamada “Troca das Princesas”, que aconteceu a 19 de janeiro de 1729 numa ponte construída sobre o Rio Caia, que faz fronteira entre Elvas e Badajoz. Nessa data, a princesa portuguesa foi entregue à família real espanhola para desposar Fernando de Borboun, enquanto Mariana Vitória de Bourbon, filha do rei de Espanha, foi entregue aos Bragança a fim de casar com o futuro D. José I. A “Troca das Princesas” serviu para cimentar os laços entre as duas nações e reforçar a paz.

D. Maria Bárbara de Bragança, filha primogénita de de D. João V, foi a razão pela qual o Palácio de Mafra foi construído. A princesa foi rainha de Espanha

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Depois de vários anos a viver numa corte hostil, que se oponha à ascensão ao trono de Fernando de Bourbon, herdeiro após a morte precoce do irmão, Luís I, que reinou apenas alguns meses, D. Maria Bárbara tornou-se rainha de Espanha em 1746. O seu marido, com quem estabeleceu uma profunda amizade, tinha uma saúde muito débil e a rainha teve em vários momentos de assumir a governação. Desempenhou também “uma atividade diplomática extraordinária” e fomentou a produção artística e musical na corte espanhola. “Foi uma mulher absolutamente notável”, comentou Sérgio Gorjão. “Tanto ela como o pai, foram grandes monarcas. Ela percebeu que as mulheres tinham de ter um papel mais ativo na sociedade e na sua condução e deu um primeiro passo importante para que as mulheres surgissem como participantes ativas, que foi a construção do Convento de Las Salesas Reales, em Madrid.”

Fundado em 1748, o convento foi criado para receber e educar jovens da nobreza espanhola e prepará-las para a vida em sociedade, contribuindo para “uma nova visão do papel da mulher” num país que era ainda “bastante fechado”, salientou o diretor do Palácio de Mafra. A casa religiosa foi também pensada como eventual local de retiro para a rainha no caso de sobreviver ao rei, o que não aconteceu — talvez de forma inesperada, dado os problemas de saúde que afligiam o rei, D. Maria Bárbara acabou por morrer primeiro que Fernando VI, provavelmente de cancro, em 1758. Foi sepultada na igreja do convento que fundou, onde também se encontra o marido, que morreu menos de um ano depois.

Palácio de Mafra, a casa “mais simbólica da dinastia de Bragança”

Entre 1711 e 1714, D. João V decidiu alterar radicalmente o projeto inicial do Palácio de Mafra e transformá-lo numa enorme obra arquitetónica e num símbolo imponente da Casa de Bragança. Para isso, contratou João Frederico Ludovice, um artista alemão multifacetado que vivia em Lisboa, que foi encarregado de coordenar o gabinete de arquitetura onde foram produzidos todos desenhos do palácio. Foi também chamado a participar na obra o arquiteto e engenheiro Custódio Vieira, que foi responsável por dirigir os trabalhos do Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa.

A primeira pedra do palácio foi lançada a 11 de novembro de 1717. Passados 13 anos, o grandioso edifício estava praticamente pronto. A basílica foi consagrada a 22 de outubro de 1930, data em que o rei festejou o seu 41.º aniversário. A festa da consagração durou 24 horas e incluiu um banquete popular que alimentou nove mil pessoas. Os festejos estenderam-se por mais sete dias. “Foi uma coisa notável”, declarou Sérgio Gorjão, referindo-se à rapidez com que a obra foi dada como terminada. “Estamos a falar de um dos maiores edifícios da Europa [na altura]. Foi um dos maiores estaleiros da Europa, também. Ao contrário de outros palácios, que foram feitos em tijolo e revestidos [em pedra], por exemplo, é praticamente tudo em pedra. É uma estrutura notável. É de facto uma das grandes obras da Europa.”

É na basílica do Palácio de Mafra que decorrerá o casamento da filha de D. Duarte Pio

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O facto de o palácio ter algumas particularidades sustenta essa mesma ideia. A basílica, onde decorrerá o casamento de Maria Francisca em outubro, tem a primeira cúpula construída em Portugal e reúne o melhor da produção artística italiana das décadas de 1720 e 1730. “Escultores de Roma, Florença e Génova trabalharam em Mafra em simultâneo. É quase como uma fotografia do estado artístico da Itália por volta de 1730”, disse o diretor, destacando que, na altura da sua abertura, a basílica tinha também um conjunto notável de pintura, sobretudo italiana, que foi substituída quase na sua totalidade por peças retabulares em pedra na segunda metade do século XVIII e início do século XIX, quando foi criada no palácio a Real Escola de Escultura de Mafra, liderada por Alessandro Giusti.

Também extraordinário é o conjunto de seis órgãos da igreja. A instalação dos instrumentos data do reinado de D. João V, mas os órgãos originais já não existem — foram substituídos por outros de maior qualidade durante o período de regência do futuro D. João VI. Estes têm a particularidade de poderem ser tocados simultaneamente, existindo peças musicais compostas para os seis órgãos, “coisa que é única no mundo”, apontou Sérgio Gorjão. O conjunto sineiro, composto originalmente por 120 sinos (mas apenas com 119 atualmente instalados), integra dois carrilhões, um deles criado por um famoso construtor de sinos de Antuérpia, Willem Witlockx. Este é “um dos melhores, senão o melhor, carrilhão do XVIII”, garantiu o responsável.

Igualmente famosa é a biblioteca, a maior com uma única sala datada do século XVIII. Localizada na ala nascente do antigo convento, tem mil metros quadrados e mais de 30 mil volumes, que incluem obras de Filosofia e Teologia, mas também gazetas, distribuídos por estantes altas e ricamente decoradas. Estas foram mandadas construir por D. José I, que frequentou muito o palácio durante os primeiros anos de reinado. Tanto o rei como a rainha, Mariana Vitória, eram grandes caçadores e deslocavam-se com regularidade a Mafra para caçar na Tapada. D. José acabou por usufruir mais do palácio do que o próprio pai, que passou os últimos anos de vida condicionado por vários problemas de saúde. Mas só o fez até 1755 — conta-se que, após o Terramoto de Lisboa, o rei passou a ter receio de viver em casas feitas de pedra e cal, passando, por isso, a recorrer menos ao Palácio de Mafra e a passar mais tempo na Real Barraca, na Ajuda, que era feita de madeira.

A biblioteca do Palácio de Mafra alberga 30 mil volumes, que incluem obras de Filosofia e Teologia, mas também gazetas. D. João V era um ávido leitor

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Sérgio Gorjão acredita que a construção do Palácio de Mafra não foi apenas “um capricho”, mas a “grande obra” de D. João V, que dedicou também atenção a outros edifícios, sobretudo em Lisboa. “É a grande casa que ele constrói para a memória da dinastia de Bragança. Para todos os efeitos, é uma casa simbólica, ou a mais simbólica da dinastia de Bragança, sobretudo nessa primeira fase inicial, ainda em pleno absolutismo”, considerou.

Ana de Jesus Maria de Bragança, a princesa ‘rebelde’ que foi batizada em Mafra

Depois de uma fase de “declínio” durante o reinado de D. José I, o Palácio de Mafra voltou a ser um dos locais preferidos da família real durante o reinado de D. Maria I e, sobretudo, durante a regência do seu filho, o futuro D. João VI, que transferiu para ali a sua residência regular. “Era o palácio de que mais gostava e era aquele onde se sentia mais seguro”, declarou Sérgio Gorjão, acrescentando que “nessa altura o palácio voltou a conhecer um certo apogeu, até do ponto de vista artístico”. Foi em Mafra que nasceu, em 1806, a filha mais nova de D. João e D. Carlota Joaquina, D. Ana de Jesus Maria, que apenas com um ano de idade se mudou com a família para o Brasil, na sequência das invasões francesas.

Foi também em Mafra que Ana de Jesus Maria foi batizada, tendo sido o único membro da família real a receber o sacramento na igreja do palácio real, no início de 1806. O evento era de tal forma pouco usual que foi necessário mandar construir uma “pia batismal provisória”, porque a basílica, não se tratando de uma igreja paroquial, não tinha uma. A pia em casquinha pintada onde a princesa foi batizada ainda existe — está exposta na ala de Arte Sacra do palácio, a caminho da antiga enfermaria, a única do século XVIII ainda preservada em Portugal. Também sobreviveram os dois berços usados na cerimónia. “Para não andarem com um berço de um lado para o outro, porque a bebé estava numa capela e depois era transferida para outra, foi necessário fazer dois berços iguais. Não sabíamos porque é que tínhamos dois berços iguais. Depois percebemos que era por causa de uma cerimónia religiosa”, revelou o diretor, revelando que também subsiste a vela de batismo da infanta.

A pia batismal onde a infanta Ana de Jesus Maria de Bragança foi batizada (em cima, à esquerda) encontra-se atualmente exposta na ala de Arte Sacra

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D. Ana Maria de Jesus Maria era “uma mulher de grande garra”, com “uma visão do mundo bastante aberta”, que teve “uma vida absolutamente extraordinária”. Quando tinha 21 anos, casou, em Queluz, com D. Nuno José de Moura Barreto, segundo marquês de Loulé, depois elevado a duque. O casamento foi um escândalo por vários motivos. Além de ter celebrado matrimónio com uma pessoa de uma condição social inferior, D. Ana Maria de Jesus estava grávida — a primeira filha do casal, D. Ana de Jesus Maria (inversão do nome da mãe) nasceu 22 dias após o casamento. D. Ana Maria de Jesus e D. Nuno José passaram vários anos longe de Portugal, sobretudo em França, onde nasceram as restantes filhas. Em 1835, separaram-se, altura em que a marquesa passou a viver em Roma, onde morreu e onde se encontra sepultada, na Igreja de Santo António dos Portugueses. O seu marido, que ocupou por duas vezes o cargo de primeiro-ministro de Portugal, e filhos, estão sepultados no jazigo dos duques de Loulé no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

“Foi de facto uma mulher muito à frente do seu tempo, com uma vida que na altura seria provavelmente altamente criticável e até um pouco escandalosa, mas que, na verdade, permite-nos perceber uma personagem que era de facto muito diferente daquilo que era hábito no seu tempo e que também decorre da educação que teve”, afirmou Sérgio Gorjão.

Casamento real. Do anel de noivado aos dois vestidos sem esquecer a tiara da rainha d. Amélia

O batismo de Ana de Jesus Maria foi “o único evento da família real de destaque durante os praticamente 300 anos de vida” do Palácio de Mafra. “E foi também o único batismo que existiu aqui”, salientou o diretor. Isto porque “os batismos reais eram geralmente feitos nas capelas reais dos locais onde os reis, as mulheres dos reis ou as monarcas residiam. Se uma rainha dava à luz em Lisboa, era natural que o batizado fosse em Lisboa. Mas como o príncipe regente estava em Mafra, e este foi o único caso em que uma princesa nasceu aqui, foi obviamente também batizada aqui.”

A partir do século XIX, com a passagem de um regime absolutista para um regime liberal, os monarcas portugueses, que passaram a estar “bastante mais controlados”, começaram a permanecer mais tempo em Lisboa do que nos palácios que mantinham nos arredores da capital. Mafra foi perdendo o estatuto de residência permanente, passando a funcionar sobretudo como retiro de verão. D. Manuel, o filho mais novo de D. Carlos, parecia gostar particularmente de Mafra. Um melómano como muitos outros membros da Casa de Bragança (D. José I gostava tanto de música que a correspondência por que mais ansiava era aquela que incluía as partituras das novas peças musicais) e um exímio organista, o príncipe viajava muitas vezes de Lisboa para Mafra depois de jantar para tocar órgão na basílica.

O quarto onde dormiu D. Manuel II antes de partir para o exílio ainda existe. Na divisão, encontra-se exposto um retrato do rei executado por José Malhoa

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A última residência de D. Manuel II, o exilado

Em 1910, dois anos após o regicídio que vitimou D. Carlos e o príncipe herdeiro Luís Filipe, na eminência de um ataque em Lisboa, D. Manuel II refugiou-se em Mafra. Foi a partir do palácio real que se organizou a partida da família real para o exílio, o que acabou por acontecer a 5 de outubro. Nesse dia, o último rei de Portugal, a sua mãe, a rainha viúva D. Amélia e outros familiares partiram para a Ericeira, de onde seguiram de barco para Gibraltar e, por fim, para Inglaterra, onde D. Manuel viveu até ao final da sua vida. O quarto onde o último rei dormiu ainda existe, assim como a mobília, que pertenceu a D. Pedro V e depois a D. Luís I, seus tios-avôs.

Menos de um ano depois da instauração da república, o Palácio de Mafra abriu ao público como espaço visitável, para receber um congresso ibérico de arquitetos. “A nova República queria mostrar as suas ‘joias da coroa’ e, portanto, Mafra foi rapidamente adaptado a museu”, disse Sérgio Gorjão. Primeiro palácio em Portugal a tornar-se visitável, o edifício tem funcionado como museu desde então. Em outubro deste ano, o local de onde saiu o rei para o exílio, voltará, ainda que por breves momentos, a ser a casa dos Bragança.

Questionado sobre o casamento de Maria Francisca de Bragança e a sua importância para o Palácio de Mafra, o seu diretor aponta que a cerimónia tem “duas dimensões”, uma “privada”, por se tratar de “uma atividade religiosa como muitas outras que acontecem na basílica”, e outra “histórica e simbólica”. “D. Maria Francisca de Bragança é descendente dos reis de Portugal e, portanto, é um prazer poder receber o casamento de uma pessoa que tem essa ancestralidade histórica, ligada também a esta casa”, disse. “Ficamos muito felizes por essa iniciativa. Mafra é a representação da dinastia de Bragança, não só a parte conventual, como o próprio palácio, da mesma maneira que outras dinastias tiveram representações noutros espaços.”

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