Se há uma doença fácil de prevenir com grande eficácia e elevado retorno em termos de qualidade de vida, ela é, sem dúvida, a osteoporose. Para conseguir bons resultados — sentidos sobretudo quando a idade vai avançada —, basta apenas praticar exercício físico ao longo da vida, ingerir as quantidades adequadas de cálcio e fazer atividades ao ar livre, porque o sol é indispensável à produção de vitamina D. Por tudo isto, e porque a prevenção é, afinal, muito simples, a Associação Portuguesa de Osteoporose (APO) organiza, entre os dias 17 e 20 de outubro, a edição virtual da Corrida dos Ossos Saudáveis, na qual toda a gente, em qualquer parte do mundo, pode participar. O objetivo é consciencializar para a importância da prevenção de uma doença que atinge cerca de 10% da população portuguesa, por ocasião do Dia Mundial da Osteoporose, que se assinala a 20 de outubro.
Segundo o Professor Doutor Pedro Cantista, Presidente do Colégio Medicina Física e de Reabilitação da Ordem dos Médicos, e presidente da APO, “faz todo o sentido continuar a sensibilizar a opinião pública através deste dia, porque a osteoporose tem uma dimensão epidemiológica enorme”. Em concreto, o especialista em medicina física e de reabilitação explica que esta doença “determina um número colossal de fraturas e, em consequência destas, muitas pessoas podem morrer, sofrer e ficar com incapacidade relevante”. Mas a verdade é que “esta situação muito grave pode, em grande parte, ser evitada ou, pelo menos, minorada através de uma estratégia de prevenção”, que é onde, nas suas palavras, se situa a missão da APO: “Informar e educar para fundamentalmente prevenir.”
Como participar na Corrida dos Ossos Saudáveis?
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A APO quer toda a gente a praticar exercício físico, pelo que o convite para participar na Corrida dos Ossos Saudáveis não tem limite de idades nem sequer de localização geográfica. Pela primeira vez em formato virtual, devido à pandemia, os participantes podem escolher entre duas distâncias — 5 ou 10 quilómetros — e percorrê-las onde lhes for mais conveniente, entre os dias 17 e 20 de outubro. As inscrições são gratuitas e feitas aqui, dando direito a dorsal e diploma de participação.
Esta é uma corrida com história, como recorda Pedro Cantista: “Há 10 anos que enchemos as ruas do Porto e de Matosinhos, e brindando no final da corrida num bar fantástico de batidos de leite. Este ano é recomendado distanciamento, por isso, o convite é feito a todos, em qualquer parte do mundo, mas sem um trajeto definido”. Para mais informações e acesso aos passatempos que irão decorrer nos dias da corrida, o responsável convida a visitar a página de Facebook da APO.
Leite e corrida — A dupla essencial
A APO concebeu um programa de sensibilização que decorre ao longo de todo o mês de outubro e que, além da Corrida dos Ossos Saudáveis, integra também sessões médico-científicas e ações destinadas à comunidade em geral. A mensagem incide sobretudo na dupla constituída por leite e corrida, tudo em prol da saúde óssea. “Leite, porque a alimentação rica em cálcio e proteínas estimula o desenvolvimento dos ossos; corrida, porque o osso responde à prática do exercício, tornando-se mais forte, especialmente quando existe impacto do corpo humano sobre o solo, como acontece na corrida ou mesmo na caminhada”, esclarece Pedro Cantista. Além disso, “sabemos que o leite é a fonte de cálcio mais facilmente disponível na dieta diária e que a corrida ou caminhada cabe no orçamento e na disponibilidade de todos”. Ou seja, não há desculpas para não prevenir a osteoporose, “salvo questões particulares de cada um”.
Ao contrário do que, por vezes, se difunde erradamente, o clínico salienta que “o exercício físico é uma das intervenções mais importantes na osteoporose, quer na prevenção de fraturas, quer na sua reabilitação”. Nas suas palavras, “através do exercício adequado, podemos adquirir mais massa óssea durante o nosso crescimento, evitar a sua perda e melhorar o equilíbrio, prevenindo as quedas que originam fraturas”. Além disso, quando acaba por se verificar a quebra de um osso, os especialistas “recorrem ao exercício como parte importante dos programas de reabilitação”, os quais “são orientados de acordo com critérios clínicos e de forma individualizada, ou seja, tendo em conta a idade e as especificidades de cada caso”.
Quais são os melhores exercícios para quem tem osteoporose?
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Além da corrida e caminhada, outros exercícios físicos são adequados a quem padece de osteoporose, mas o acompanhamento médico é fundamental. De acordo com Pedro Cantista, “os programas devem incluir exercícios em carga destinados a solicitar, através da contração muscular, os diversos feixes que sustentam o peso do nosso corpo — quando estamos em pé ou caminhamos, por exemplo — e aqueles que permitem os movimentos em sentido contrário à força da gravidade, como quando erguemos os braços”. Entre as fraturas mais frequentes relacionadas com a osteoporose, o especialista destaca as das vértebras, ancas e membros superiores.
Quem está em maior risco?
Sensibilizar para a problemática da osteoporose é importante, sobretudo num país como o nosso, onde “continuamos a não ter os comportamentos de saúde adequados”, isto é, “não seguimos uma alimentação correta, ingerimos demasiado sódio, pouco cálcio, temos uma prevalência de baixa vitamina D, somos muito sedentários e continua-se a fumar”.
Quanto aos fatores de risco para desenvolver a doença, o mais relevante é a idade, seguindo-se fatores genéticos, morfologia óssea, baixo índice de massa corporal, bem como a perda de massa muscular. Por seu turno, hábitos pouco saudáveis, como o consumo excessivo de álcool, cafeína, tabaco e ainda o sedentarismo contribuem igualmente para acentuar o risco. Há ainda a considerar as situações de osteoporose secundária, ou seja, em que esta surge como consequência de outra patologia prévia, nomeadamente, doenças inflamatórias reumáticas, síndromes de má absorção intestinal ou doenças endócrinas, como é o caso da diabetes, hipogonadismo ou as relacionadas com a tiroide. A osteoporose pode também surgir como resultado da toma prolongada de alguns medicamentos, com destaque para os corticoides.
Ainda assim, Pedro Cantista sublinha que “todos, sem exceção” devem preocupar-se com a saúde dos ossos. “Se esperamos só dar atenção à osteoporose quando já formos mais velhos, é tarde”, pelo que “é preciso começar na idade infantil”. Com efeito, quando a osteoporose começa a dar sinais, significa que já está instalada. Por se tratar de uma doença silenciosa, vai evoluindo sem se revelar e “a primeira manifestação sintomática da osteoporose é a fratura”. Todavia, há sinais clínicos que podem ser indicativos da progressão da doença, como é ocaso da diminuição da altura, pelo que é importante medir-se também as pessoas mais velhas e não apenas as crianças e adolescentes.
Estão ainda disponíveis exames laboratoriais e imagiológicos que permitem o diagnóstico precoce da osteoporose, sendo prática frequente da APO o rastreio gratuito em espaços públicos.
A prevenção é o melhor tratamento
Quanto aos tratamentos disponíveis, o médico refere a existência de “vários medicamentos que devem ser utilizados na altura própria, no decurso da evolução da osteoporose”. Outras intervenções que não passam por fármacos também podem ser equacionadas, como é o caso das cirurgias ortopédicas para estabilização de fraturas e sua reabilitação.
Mas antes de chegar à necessidade de tratar, o especialista reforça que “vale a pena prevenir”. “A saúde é a componente principal e determinante das nossas vidas” e é essa a principal mensagem que deseja partilhar por ocasião do Dia Mundial da Osteoporose, convidando todos a participar na Corrida dos Ossos Saudáveis.
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