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Berlim. Roteiro da Ostalgie

9 de Novembro de 1989, o dia em que o Muro caiu. O que resta hoje da Berlim que então era a "do lado de lá"? Primeira parte de um percurso pelos lugares de memória da República «Democrática».

    Índice

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[Este artigo foi publicado originalmente a 2 de novembro de 2014 e é republicado a propósito dos 30 anos da queda do Muro de Berlim.]

A Leste, o comunismo virou indústria. A sua memória tornou-se atracção turística de capitais como Praga, Varsóvia ou Budapeste onde existem communist tours de todos os géneros e para as maiores variadas bolsas. Regra geral, são passeios em que jovens guias impreparados debitam trivialidades já conhecidas sobre a Cortina de Ferro ou contam histórias macabras, exacerbando os pormenores mais cruéis para suscitar a incredulidade nauseada de donas de casa do Kentucky. No final, todos gostam. E dão nota positiva.

Berlim é diferente. Às recordações dos tempos do Muro juntam-se os lieux de la mémoire do nazismo, convertendo a cidade – sobretudo, o seu centro, nas imediações das Portas de Brandenburgo – num gigantesco parque temático dos piores horrores do século XX. Para quem duvide, basta lembrar que um dos principais e mais concorridos locais evocativos da memória do III Reich se chama Topografia do Terror, ficando situado no quarteirão que serviu de sede à SS, à Gestapo e ao Departamento Central da Segurança do Reich. Até já existem estudos académicos que analisam o impacto dos memoriais às vítimas do III Reich sobre os turistas vergados pela exibição de tanta dor e tragédia, como aquele que Lorraine Brown, da Universidade de Bornemouth, publicou em Agosto passado nas páginas do Journal of Tourism and Cultural Change.

Imagem emblemática de um soldado a fugir da Alemanha de Leste nos primeiros dias de construção do Muro

Imagem emblemática de um soldado a fugir da Alemanha de Leste nos primeiros dias de construção do Muro

A memória da República Democrática Alemã pode ser evocada em duas tonalidades distintas, em parte complementares, em parte contraditórias. A primeira abordagem sublinha os aspectos mais sombrios e dramáticos da fractura da Alemanha e, sobretudo, a omnipresença sufocante da Stasi no quotidiano dos alemães de Leste.

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No cinema, o filme A Vida dos Outros, de 2006, cumpriu exemplarmente essa função. A vida real ultrapassa a reconstituição cinematográfica: Ulrich Mühe, o actor principal, que desempenha o papel de agente da Stasi, morreria cerca de um ano depois do lançamento do filme; diz-se que após a reunificação descobrira no seu dossier na polícia política que, além de quatro colegas da sua companhia teatral de Berlim-Leste, a própria mulher informava a Stasi de todos os seus passos. Ao contrário do que se possa pensar, o local onde esta dimensão negra da RDA se apresenta de forma mais marcada não é no Museu da Stasi, no nº 103 da Ruchestrasse, mas na Prisão de Hohenschönhausen, um pouco afastada dos circuitos habituais.

A segunda via de acesso à memória da RDA é a Ostalgie. A sua expressão mais conhecida é, sem dúvida, o filme Goodbye, Lenine!, de Wolfgang Becker, êxito de bilheteira de 2003. Actualmente, porém, ninguém sonha com tempos pretéritos, exceptuando minorias saudosas e líderes políticos radicais, como Sahra Wagenknecht, vice-presidente do partido Die Linke, a quem o El País chamou “A Pasionaria de Berlim“, e que há 30 anos, quando os alemães de Leste como Angela Merkel começaram a transpor os escombros do Muro, transbordando de alegria, se trancou no seu quarto, tristíssima, mergulhando numa leitura nocturna da Crítica da Razão Pura.

Ao contrário do que sucedia no filme de Wolfgang Becker, hoje não se deseja retornar a um tempo em que havia emprego para todos mas liberdade para ninguém, nem sequer para os oficiais da Stasi ou para os mais altos quadros do Partido (veja-se o que aconteceu ao líder máximo da RDA, Walter Ulbricht, forçado a abandonar o poder em 1971 por “razões de saúde”). Nos nossos dias, a revisitação nostálgica do passado serve acima de tudo propósitos mercantis e constitui um escape ou contraponto lúdico aos efeitos devastadores do excesso de dark tourism. Com um sorriso condescendente, observamos o mau-gosto reinante na RDA como forma de aliviar a tensão provocada pelo martirológio dos que tentaram sem sucesso a fuga para o Ocidente.

Graffiti num troço do Muro de Berlim

Graffiti num troço do Muro de Berlim

Aplicada sobretudo às lembranças do Holocausto, a Vergangenheitsbewältigung foi recuperada nos acesos debates sobre o legado da RDA, sobretudo quando um vasto inquérito divulgado em 2008 demonstrou que as crianças da Alemanha de Leste pouco ou nada sabiam do que havia ocorrido naquele território, julgando que a Stasi era um serviço de informações como qualquer outro.

Entre os antigos países do bloco de Leste, a RDA é dos que mais se prestam a esta ambivalência de sentimentos contraditórios. O país dispunha de recursos suficientes para alimentar pretensões de competir com a Alemanha ocidental e, à semelhança da sua irmã do outro lado do Muro, a RDA queria ser prática, funcional e eficiente. No entanto, revestia essa ambição a fórmica e cimento pré-fabricado, revelando uma autêntica obsessão por materiais plásticos de origem química. O resultado, grotesco, é hoje contemplado com certa ternura e paternal misericórdia, típicas dos vencedores. Esta forma complacente de observar o passado talvez seja uma forma de lidar com uma memória que, mais do que cândida e inocente, é dolorosa e inultrapassável.

Os alemães cunharam até uma expressão que sintetiza a necessidade de fazer uma gestão equilibrada dos traumas pretéritos: Vergangenheitsbewältigung. Aplicada sobretudo às lembranças do Holocausto, a Vergangenheitsbewältigung foi recuperada nos acesos debates sobre o legado da RDA, sobretudo quando um vasto inquérito divulgado em 2008 por Gerhard Schröder demonstrou que as crianças da Alemanha de Leste pouco ou nada sabiam do que havia ocorrido naquele território, julgando que a Stasi era um serviço de informações como qualquer outro, que existia mais protecção ambiental antes de 1989 ou que o Muro tinha sido erguido pelas potências ocidentais.

O Memorial do Muro de Berlim, na Bernauer Strasse, está situado no preciso local onde, há 30 anos, na noite de 10 de Novembro de 1989, foram deitados abaixo os primeiros fragmentos daquela barreira ofensiva. O local foi convertido num memorial e num centro educativo, possuindo ainda um grande pedaço do Muro 

O Memorial do Muro e as «estações-fantasma»

O Muro continua presente mesmo onde já não existe. Até no coração da cidade, entre as Portas de Brandenburgo e a entrada no Reichstag, encontra-se assinalada no chão a linha que até há 30 anos dividia Berlim. A poucos metros dali, uma organização anticomunista exibe uma exposição ao ar livre com fotografias das vítimas da URSS.

Além de uma pequena parcela existente junto à Topografia do Terror, na esquina entre a Niederkirchnerstrasse e a Wilhelmstrasse, há dois grandes pontos de aproximação ao Muro, cada qual com as suas vantagens. Para quem apreciar arte pública e graffiti, a East Side Gallery apresenta um troço muito apreciável do Muro de Berlim, com 1.316 metros de extensão. Situada na Mühlenstrasse, em Friedrichshain, é a maior galeria de arte a céu aberto do mundo. Mas pouco nos diz sobre a história do Muro.

East Side Gallery em Berlim

Por isso, é preferível abordá-lo por outra via de acesso. O Memorial do Muro de Berlim, na Bernauer Strasse, está situado no preciso local onde, há 30 anos, na noite de 10 de Novembro de 1989, foram deitados abaixo os primeiros fragmentos daquela barreira ofensiva. O local foi convertido num memorial e num centro educativo, possuindo ainda um grande pedaço do Muro e uma plataforma com vários pisos acima do solo de onde é possível contemplar as diversas secções que repeliam os que sequer ousassem aproximar-se dali.

O Memorial do Muro visita-se ao ar livre, estando aberto todos os dias do ano. A visita pode fazer-se de uma forma rápida, subindo à plataforma que nos permite observar o Muro e as linhas sucessivas de defesa (este é o único local onde tudo isso se encontra integralmente preservado). Obviamente, quem quiser mergulhar a fundo no que o Centro de Visitantes tem para mostrar poderá passar ali longas horas (o Centro encontra-se encerrado às segundas-feiras). A livraria é excelente e tem obras de qualidade, ainda que quase todas em alemão. Noutras línguas, praticamente só existem guias ou obras turísticas, comercializados noutros locais, pelo que é desaconselhável começar o dia carregado de livros que, em todos os sentidos, são bastante pesados.

A partir do Memorial do Muro, e mediante reserva, é possível fazer uma viagem de táxi com guia, durante cerca de uma hora e meia, através do que resta dos 155 km de betão que outrora dividiam Berlim. Apesar da informação recebida e de no caminho se visitar um ponto interessante, a já citada East Side Gallery, o passeio é caro, sobretudo para quem viaje sozinho (60€ por uma pessoa, 10€ por cada passageiro extra). Será preferível uma visita guiada ao Memorial, de cerca de uma hora, pelo custo irrisório de 3 euros. Aos domingos, às 15h00, existe uma visita guiada que não necessita de marcação prévia. Para os outros dias, é necessário fazer uma reserva através do formulário disponível na Internet, podendo escolher-se várias línguas: alemão, inglês, francês, italiano e castelhano. Este é um caso em que uma visita guiada faz toda a diferença. A menos que já saiba alguma coisa sobre a história do Muro ou que vá lendo atentamente as placas explicativas existentes no local, a visita ao Memorial, sem o devido enquadramento, não passará de uma passagem por uma muralha de cimento e arame farpado, acompanhada de uma entrada fugaz na esquálida Capela da Reconciliação, e pouco mais do que isso.

Até à construção do Muro, em 1961, cerca de 3,5 milhões de alemães tinham fugido para o Ocidente, o que correspondia a cerca de 20% do total da população da República Democrática Alemã. O Muro foi construído para estancar esta hemorragia, mas foi incapaz de parar o derramamento de sangue: 136 pessoas, pelo menos, perderiam a vida a tentar escapar rumo à liberdade.

Para chegar ao Memorial pode utilizar os transportes públicos, quer o metro (linhas U6 e U8), quer os comboios suburbanos (S-Bahn), saindo neste caso na S-Bahn Nordbanhof. Mesmo que não venha de S-Bahn, convém visitar a estação Nordbanhof, pois ali está patente, em exibição permanente, uma exposição sobre as «estações-fantasma» da Berlim dividida.

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Algumas linhas de comboios suburbanos da Alemanha ocidental atravessavam Berlim-Leste. A partir de 1961 (e até 1989), as carruagens deixaram de parar nas estações que ficavam situadas no subsolo da RDA. Antes de entrar nessa zona vermelha, ouvia-se nos altifalantes um aviso sinistro, repetido com veemência: «Última paragem em Berlim Oeste! Última paragem em Berlim Oeste!» Depois passava-se pelas «estações-fantasma»: o comboio abrandava mas não parava; nem as portas se abriam, obviamente.

Para evitar quaisquer veleidades transgressivas, no cais das «estações-fantasmas» estavam colocados vários soldados, de armas em punho. Um amigo meu, que nos anos setenta estudava da Escola Alemã de Lisboa, fez com os colegas uma visita a Berlim. Ainda hoje a travessia das «estações-fantasmas» é das memórias mais marcantes que guarda dessa viagem à Alemanha.

Um périplo pela memória da RDA deve começar pela estação S-Bahn Nordbanhof e, a partir daí, prosseguir até ao Memorial do Muro. Sem dúvida, esta é a forma mais «impactante», como agora se diz, para iniciar a sua incursão num mundo que desabou há 30 anos. E é a que mais se aproxima e melhor reconstrói o que seria viver encurralado por uma muralha de betão cinzento. Não por acaso, este será o ponto nevrálgico das comemorações da queda do Muro de Berlim.

Convém ter presente um dado estatístico, na sua crueza singela: até à construção do Muro, em 1961, cerca de 3,5 milhões de alemães tinham fugido para o Ocidente, o que correspondia a cerca de 20% do total da população da República Democrática Alemã (há estatísticas que apontam para números mais baixos, mas ainda assim expressivos, de 2,6 milhões de fugitivos). O Muro foi construído para estancar esta hemorragia, mas foi incapaz de parar o derramamento de sangue: 136 pessoas, pelo menos, perderiam a vida a tentar escapar rumo à liberdade. Ao longo da sua existência, o Muro registou 5.043 tentativas de fuga bem-sucedidas (das quais, 564 pelos próprios guardas leste-alemães…). Foram feitas 3.221 detenções e 1.693 disparos contra pessoas em fuga.

Memorial do Muro de Berlim
Exposição ao ar livre – aberta todos os dias do ano, a qualquer hora.

Centro de Visitantes – Abril-Outubro, de terça a domingo, das 9h30 às 19h00; Novembro-Março, de terça a domingo, das 9h30 às 18h00. Encerrado às segundas-feiras.
Exposição das Estações-Fantasma – aberta nos horários da estação Nordbahnof S-Bahn.
Entrada gratuita.
Endereço: Bernauer Strasse, 111
Endereço electrónico: http://www.berliner-mauer-gedenkstaette.de

No Palácio das Lágrimas o enfoque é dado na micro-História ou, se quisermos, em histórias de vida de pessoas reais e concretas, narradas a partir de objectos: uma fotografia, um serviço de chá, muitas malas de viagem. 

Palácio das Lágrimas (Tränenpalast)

Junto à estação de comboios de Friedrichstrasse, em Reichstagufer, nº 17, situa-se o Palácio das Lágrimas. Apesar de ter cada vez mais visitantes, nem sempre os turistas o incluem nos seus programas. Aliás, em muitos guias turísticos nem sequer é referido.

A meio da visita há um momento de frisson, no decurso do qual é possível entrar na cabina onde se fazia o controlo dos passaportes e documentos de identificação. Esta é a piéce de résistance da exposição mas, em boa verdade, o mais importante são as experiências e as histórias ali contadas.

O edifício (que, diga-se, não corresponde ao original) é de uma invulgar beleza arquitectónica, parecendo uma nave de cristal, com linhas rectas e funcionais. A função justificava o nome que os cidadãos lhe deram: Palácio das Lágrimas. A estação ferroviária de Friedrichstrasse ficava inteiramente do lado da RDA, e era no Tränenpalast que se processava a passagem para o Ocidente dos alemães de Leste. Desde que foi aberto, em 1962, dez milhões de pessoas atravessaram aqui a fronteira entre dois regimes. A passagem era um momento de ansiedade e expectativa, que tanto se poderia realizar em quinze minutos como durar várias horas. «Palácio das Lágrimas», assim lhe chamaram, pois era um lugar de despedida e de separação, muitas vezes sem se saber por quanto tempo – talvez para sempre.

Após a queda do Muro, o edifício foi usado como clube nocturno até 2006. Em 2003, alguns apetites imobiliários estiveram prestes a deitá-lo abaixo, aproveitando o seu espaço e toda a área envolvente. O Palácio das Lágrimas seria classificado, recuperado pela Fundação da História da República Federal Alemã e hoje pode ser visitado. A entrada é livre e o espaço está aberto ao público todos os dias do ano (salvo nas vésperas de Natal e Ano Novo), das 9h às 19h ou, em certos dias da semana, das 10h às 18h.

É possível fazer uma visita guiada à exposição permanente, mas não se justifica. A menos que esteja a começar uma visita e consiga integrar-se no grupo, as visitas requerem marcação prévia com antecedência mínima de três semanas e só se realizam para grupos de 10 pessoas. Com uma agravante: apesar de gratuitas, as visitas duram apenas 15 minutos… Há tours mais detalhados, de cerca de uma hora, mas apenas para grupos com mais de 15 pessoas e também mediante marcação prévia. Mais decisivamente ainda, a exposição é relativamente pequena. Mas imperdível.

Criança chora junto em Muro (foto de 1963): o pai ficara a vive no Leste, a mãe no Oeste.

Criança chora junto em Muro (foto de 1963): o pai ficara a vive no Leste, a mãe no Oeste.

Enquanto no Memorial do Muro se é confrontado com uma realidade bruta e crua, mas desumanizada, enquanto no Museu da RDA se privilegiam as grandes estatísticas e os aspectos mais risíveis e caricatos do quotidiano a Leste, no Palácio das Lágrimas o enfoque é dado na micro-História ou, se quisermos, em histórias de vida de pessoas reais e concretas, narradas a partir de objectos: uma fotografia, um serviço de chá, muitas malas de viagem. A meio da visita há um momento de frisson, no decurso do qual é possível entrar na cabina onde se fazia o controlo dos passaportes e documentos de identificação. Esta é a piéce de résistance da exposição mas, em boa verdade, o mais importante são as experiências e as histórias ali contadas. Todas elas, como é evidente, com uma fortíssima carga emocional. Perdoe-se o previsível lugar-comum: este será sempre um palácio de lágrimas, para quem o viveu e para quem agora o visita.

Palácio das Lágrimas
Horário: aberto todos os dias do ano, excepto dias 23, 24 e 31 de Dezembro; de terça a sexta-feira, das 9h00 às 19h00; sábados, domingos e feriados, das 10h00 às 18h00.
Entrada grátis.
Endereço: Reichstagufer, 17
Endereço electrónico: http://www.hdg.de/berlin/

Este é, possivelmente, o mais «ideológico» dos lugares de memória da antiga RDA. Fundado em 1962 por Rainer Hildebrandt, um activista dos direitos humanos, o Museu assume claramente um propósito de combate ao comunismo e à memória da União Soviética

Checkpoint Charlie

Sendo um dos mais visitados lugares de Berlim, convém não ver apenas o posto de controlo – ou melhor, a réplica do posto de controlo, já que o original se encontra no Museu dos Aliados, em Berlim-Zehlendorf – que está erguido em plena Frierichstrasse. Mesmo ao lado, no nº 43 dessa rua, existe – e é impossível não reparar nela – a Casa-Museu do Checkpoint Charlie. No meio da azáfama ruidosa do centro de Berlim, o Checkpoint Charlie é incapaz de transmitir a memória das trocas de espiões feitas nas brumas da Guerra Fria, ou sequer dos momentos cruciais da crise de Outubro de 1961, em que as duas superpotências se enfrentaram a metros de distância, com os tanques colocados frente a frente, medindo forças como rufias de rua. Não tem, de forma alguma, o poder evocativo da Ponte Glienicke, em Potsdam, o lugar por excelência dos ambientes de John Le Carré. De todo o modo, o Checkpoint Charlie é o lugar mais emblemático da Guerra Fria, que muitos ainda julgam ter sido erigido à memória de um soldado de nome Charlie quando, na verdade, Charlie corresponde a «C» no alfabeto fonético da NATO.

Um dos momentos de tensão junto a este posto fronteiriço, com tanques soviéticos em posição ameaçadora

Um dos momentos de tensão junto a este posto fronteiriço, com tanques soviéticos em posição ameaçadora

Como quase todas as pessoas que vão ao Checkpoint Charlie acabam por entrar no Museu do Checkpoint Charlie, e, pior ainda, como este não se situa num espaço construído de raiz para albergar um museu mas num edifício comum, é muito fácil ser atropelado por uma excursão de adolescentes aos gritinhos, a tirarem selfies junto a um busto de Gandhi ou às réplicas de avisos com os célebres dizeres «You Are Leaving the American Sector».

O Checkpoint Charlie é o lugar mais emblemático da Guerra Fria, que muitos ainda julgam ter sido erigido à memória de um soldado de nome Charlie quando, na verdade, Charlie corresponde a «C» no alfabeto fonético da NATO

Daí que o ideal seja entrar logo pela fresca, à hora de abertura, 9h00 da manhã. No resto do dia, o museu é algo confuso, até porque mistura, numa organização nem sempre perceptível, a evocação das memórias do Muro e a defesa dos direitos humanos em todo o mundo (melhor dizendo, uma exposição apologética da não-violência; recentemente, foi instalada uma nova exposição permanente, exaltando a NATO). Em salas sucessivas, por vezes labirínticas, acumula-se uma infinidade de objectos, correndo-se o risco de uma sobredose de informação fornecida de forma caótica. Existem visitas guiadas de cerca de uma hora, em alemão, inglês e francês, para grupos superiores a 30 pessoas. Mas isso não é mais do que um paliativo para a confusão instalada. A grande vantagem do espaço é o seu generoso horário – das 9h00 às 22h00, todos os dias, incluindo Natal, Páscoa e feriados –, o que lhe permite escolher uma hora possivelmente mais calma, ao início da manhã ou durante o jantar (à noite, após o jantar, é frequente o Museu voltar a encher).

O custo de entrada são 12,50€, o que pode parecer caro. Mas, atendendo ao espólio, justifica-se plenamente. Concentre-se sobretudo na parte relativa ao Muro e às imaginativas tentativas de fuga que, durante décadas, foram concebidas, evitando perder-se nas alas dedicadas à não-violência e à NATO.

Este é, possivelmente, o mais «ideológico» dos lugares de memória da antiga RDA. Fundado em 1962 por Rainer Hildebrandt, um activista dos direitos humanos, o Museu assume claramente um propósito de combate ao comunismo e à memória da União Soviética, bem como aos seus resquícios, não sendo por acaso que discursos de Ronald Reagan são transmitidos em televisões existentes no local, que há uma exposição permanente sobre a NATO ou que Anna Politkovskaya e até o oligarca Mikhail Kodhorkovsky são apresentados como mártires da liberdade.

Casa-Museu do Checkpoint Charlie
Horário: aberto todos os dias do ano, incluindo feriados, das 9h00 às 22h00.
Entrada: 12,50€ / adultos. Entrada gratuita com Berlin Pass.
Endereço: Friedrichstrasse, 43-45.
Endereço electrónico: http://www.mauermuseum.de

Saber se vale a pena visitar a Fernsehturm depende muito do nível de empenho numa excursão pelas memórias da ex-RDA. A Torre é, paradoxalmente, o edifício menos próximo dessa realidade e, em simultâneo, o que exprime de forma mais exuberante as ambições da Alemanha comunista.

Torre da TV (Fernsehturm)

Visíveis em toda a Berlim, os 365 metros da Torre da TV eram um dos maiores motivos de orgulho das autoridades da República Democrática Alemã. Conta-se a história de um governante português que, após o 25 de Abril, sendo recebido em Berlim e levado ao cimo da Fernsehturm quis dizer umas palavras simpáticas aos seus anfitriões, observando que, no meio da escuridão, existia ao longe uma parte da cidade muito iluminada e animada. Os alemães de Leste responderam, meio embaraçados, que se tratava de Berlim-Oeste…

A torre que era o orgulho da RDA

A torre que era o orgulho da RDA

Sendo um posto de observação de 360º para toda a cidade de Berlim e arredores, o conselho mais óbvio é que o visite já depois de ter alguma familiaridade com a capital da Alemanha e os seus principais monumentos, para que os possa reconhecer a uma altura de 203 metros.

Outra sugestão, esta mais importante: a Torre da TV recebe cerca de 1,2 milhões de visitantes por ano. Considerando que os elevadores têm uma capacidade limitada para escoar tantos visitantes, é muito possível, ou até provável, ter que esperar horas para conseguir subir ou mesmo não arranjar lugar e ter de vir embora.

Aconselha-se vivamente a que compre os bilhetes com antecedência através da Internet. Este será, possivelmente, o conselho mais importante que se deve dar a quem pretenda subir à Fernsehturm. Como é evidente, a aquisição de entradas pela Internet obriga a algum planeamento da sua visita e tem a desvantagem do preço: ao balcão, um bilhete custa 13€; pela Internet, não é barato: 19.5€ (existem preços mais caros se quiser ir ao restaurante e mais bilhetes baratos se quiser entrar logo de manhã, às 9h00 ou às 10h00, existindo ainda bilhetes nocturnos, que não aconselho muito: se quiser ter uma visão de Berlim à noite, ainda que incomparavelmente menos esplendorosa, reserve uma visita gratuita à cúpula do Reichstag, desenhada por Norman Foster, ainda que para isso convenha ir de manhãzinha muito cedo ao local onde fazem as reservas, sempre com filas enormes, e que fica no Tiergarten, mesmo defronte à entrada do Reichstag).

Não sendo barata, a compra online é a única forma que conheço para assegurar a visita à Torre da TV sem surpresas e à hora desejada (tem sempre que passar por um sumário controlo de segurança, pelo que, apesar de ter uma visita marcada pela Internet para uma dada hora, é possível que só suba à Torre minutos depois, mas a espera geralmente não é grande – e, enquanto aguarda, pode ir contemplando o átrio de entrada). Se chegar muito antes, pode dar uma volta pela Alexanderplatz, ou «Alex», epicentro de Berlim-Leste, hoje um local bastante inóspito, atravessado por milhares de berlinenses atarefados. Além da visão dos edifícios em redor, algo degradados, na Alexanderplatz existe o famoso Relógio das Horas do Mundo, construído em 1969, que dá as horas de todo o planeta e possui um desenho futurista muito similar ao estilo soviet cosmic.

Saber se vale a pena visitar a Fernsehturm depende muito do nível de empenho que queira colocar numa excursão pelas memórias da ex-RDA. A Torre é, paradoxalmente, o edifício menos próximo dessa realidade e, em simultâneo, o que exprime de forma mais exuberante as ambições da Alemanha comunista. Toda a atmosfera se assemelha à do Atomium, em Bruxelas, talvez porque ambos sejam construções futuristas, com ambições desmedidas, que o decurso do tempo se encarregaria de disciplinar. Se a Torre da TV corresponde a uma versão RDA de luxe, a marca da Ostalgie não é por ali muito evidente. Melhor dizendo, encontra-se algo dissimulada pelo arrojo da edificação e da sua traça, bem como pelo facto de a arquitectura e a tecnologia não serem num estilo marcadamente «socialista». Por isso, se vai à Torre da TV em busca de reminiscências da RDA, encontrará, quando muito, fotografias da construção, iguais às de qualquer grande obra pública.

Típico da RDA, do estilo RDA em versão de luxe, era, esse sim, o Palácio da República (Palast der Republik) que ficava na Marx-Engels Platz (como assim se designou até 1994). Sede do parlamento da RDA e de inúmeros equipamentos culturais, incluía dois auditórios, galerias de arte, treze restaurantes, uma estação de correios, uma pista de bowling e uma discoteca. No interior, soberbo, uma decoração faustosa. Apesar da oposição de muitos alemães de Leste e de vários protestos, o Palácio foi arrasado por uma infelicíssima decisão parlamentar tomada em 2003. É certo que uns anos antes se havia descoberto que aquele monumental poema ao socialismo de luxo estava pejado de amianto, e que a cada obra de conservação que se fazia se descobria mais e mais amianto, mas nada disso justificava este crime de lesa-Ostalgie. Restam-nos alguns livros que permitem contemplar o sumptuoso palácio de vanguarda, como Palast der Republik, 1994-2010, com imagens do fotógrafo Christian von Stefellin (ed. Hatje Cantz, 2011), ou Palast der Republik, de Thorsten Klapsch (Edition Panorama GmbH, 2010), entre tantos outros.

À falta do Palácio da República, resta-nos a pontiaguda consolação da Torre da TV. A ver, sem dúvida.

Torre da TV
Horário: aberto todos os dias; de Março a Outubro, das 9h00 às 00h00; de Novembro a Fevereiro, das 10h00 às 00h00
Entrada: 13,50€ / adultos, adquirido ao balcão; preços variáveis com reserva prévia, aconselhando-se a marcação da «Fast View», por 19,50€ / adultos.
Endereço: Panoramabe 1A
Endereço electrónico: http://www.tv-turm.de/ 

Nos Kindergarten e nas creches da RDA as crianças eram educadas, desde a mais tenra idade, a irem ao bacio em simultâneo, alinhados lado a lado. Enquanto todos não estivessem aliviados, ninguém saía dali. A medida tinha dois objectivos: acabar com o individualismo, mesmo nestas necessidades íntimas; e evitar o consumo de fraldas.

Museu da RDA (DDR Museum)

Sendo um museu privado, o DDR Museum é o espaço em que a marca da exploração comercial da Ostalgie se torna mais evidente. Mas é também, e talvez por isso mesmo, aquele em que todo o passado da RDA se encontra exposto de forma mais inovadora e atraente, didáctica e divertida. Para todas as idades e com diversos níveis de informação, ou seja, tanto permite uma visão rápida como uma estadia mais demorada e instrutiva.

O espaço não é muito grande, costuma estar bastante cheio e padece de um excesso de interactividade com o visitante. Este é obrigado, se quiser ver alguma coisa, a abrir portas e gavetas, a carregar num sem-número de botões, a navegar por tours virtuais alucinantes e a folhear écrans touch-screen. É grande o risco de a visita se tornar demasiado feérica – e frenética –, na contemplação do paradoxal vanguardismo rétro da RDA. Mas, a par disso, para quem o queira e saiba ver sem ânsias, o Museu tem secções muito informativas dedicadas à economia, à população, etc., com estatísticas arrasadoras. Os bonecos para crianças, a atracção pelo nudismo e pela jardinagem caseira, as actividades dos Pioneiros são curiosidades únicas e suscitam sorrisos, até mesmo risos.

Há casos caricatos, mas sérios: por exemplo, nos Kindergarten e nas creches da RDA as crianças eram educadas, desde a mais tenra idade, a irem ao bacio em simultâneo, alinhados lado a lado. Enquanto todos não estivessem aliviados, ninguém saía dali. A medida tinha dois objectivos: acabar com o individualismo, mesmo nestas necessidades íntimas; e evitar o consumo de fraldas. Segundo alguns criminologistas, a ascensão da extrema-direita entre os jovens do território da antiga Alemanha de Leste, verificada após a queda do Muro, deve-se aos traumas provocados por aquela política repressiva, tese controversa e de ressaibos freudianos que na Alemanha abriu a chamada «polémica do bacio».

Um alemão de Leste consumia, em média, 286 garrafas de cerveja e 16 garrafas de bebidas espirituosas por ano – o equivalente a 16 litros de álcool puro, para homens e mulheres.

O Museu da DDR fala disso, mas aborda muitos outros temas. As réplicas das celas de interrogatório da Stasi são dispensáveis, por demasiado encenadas e artificiosas. Em contrapartida, é delicioso ver os bens produzidos na RDA, muitos deles em nome de uma ideia nacionalista de auto-suficiência, vários correspondendo a imitações de produtos ocidentais, com destaque para o creme Florena, uma cópia descarada das famosas caixas de Nívea. Menos graça acharemos ao aumento vertiginoso do consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas. O vinho da Saxónia, claro, estava reservado para os jantares oficiais, tendo os alemães comuns de beber vinhos de qualidade duvidosa provindos da Hungria, da Bulgária ou da Jugoslávia. Em todo o caso, o consumo de vinho per capita duplicou entre 1960 e 1998, o mesmo sucedendo com os cigarros.

Um consumo generoso de bebidas - nem sempre de boa qualidade

Um consumo generoso de bebidas – nem sempre de boa qualidade

Na cerveja e nas bebidas espirituosas, os aumentos ainda foram maiores. Um alemão de Leste consumia, em média, 286 garrafas de cerveja e 16 garrafas de bebidas espirituosas por ano – o equivalente a 16 litros de álcool puro, para homens e mulheres. Em 1989, apenas 16% dos lares da RDA tinham telefone. E se havia igualdade quanto ao consumo de álcool, a pretensa paridade socialista entre homens e mulheres não passava de uma miragem: em 1989, apenas uma mulher exercia um cargo político, como ministra; dos postos de direcção nas empresas estatais, somente 2,4% eram ocupados por mulheres; nas universidades, só 15% dos docentes eram do sexo feminino. Em 1989, na classe trabalhadora, os homens recebiam em média 1.074 marcos por mês; as mulheres auferiam uma média de 894 marcos.

Nas lojas, escasseavam os produtos (dizia-se, ironizando: «na RDA existe de tudo mas nem sempre»), pelo que os alemães de Leste tinham um ritual: todos os dias, saíam de casa com um saco de compras para a eventualidade de encontrarem à venda produtos básicos de que necessitassem. Nos últimos anos da RDA, o racionamento atingiu o absurdo: para comprar fraldas era necessário apresentar um documento de identificação; em resposta, muitas mães apresentavam os bebés junto às caixas de pagamento…

Os carros d nomenklatura marxista-leninista

Os carros d nomenklatura marxista-leninista

Para poderem beneficiar das medidas de apoio à natalidade e distribuição de casas, os alemães de Leste casavam muito mais cedo do que os seus compatriotas da RFA; mas, como o divórcio era muito mais fácil de alcançar, o número de mães solteiras cresceu exponencialmente. Em cada três mulheres, duas estavam divorciadas ao fim dos três primeiros anos de casamento. Para poderem trabalhar e sustentar os filhos, tinham de os colocar em infantários desde muito novos e por longos períodos do dia. Noventa por cento das crianças da RDA foram educadas em creches.

Nas lojas, escasseavam os produtos (dizia-se, ironizando: «na RDA existe de tudo mas nem sempre»), pelo que os alemães de Leste tinham um ritual: todos os dias, saíam de casa com um saco de compras para a eventualidade de encontrarem à venda produtos básicos de que necessitassem.

Na RDA existia o culto do livro, mas não pelas melhores razões. Todos procuravam reunir livros em casa, pois não os podiam consultar em bibliotecas ou comprar nas livrarias. 1984, de Orwell, estava obviamente proibido. Frequentemente, os livreiros faziam encomendas gigantescas e irrazoáveis, solicitando 20 ou 50 mil exemplares de um determinado título, pois sabiam que, na melhor das hipóteses, iriam receber 20 cópias. Havia um especial controlo dos autores de Leste considerados subversivos, como Christa Wolf ou Stefan Heym: pedia-se 100.000 exemplares, recebia-se cinco cópias das obras desses autores, imediatamente adquiridas pelos próprios empregados das livrarias.

No campo musical, os candidatos a cantores rock tinham de submeter-se a uma audição prévia perante uma comissão de funcionários estatais, e só se fossem aprovados receberiam autorização para se apresentar em público. Para viajar para o estrangeiro (e o «estrangeiro» correspondia apenas a países socialistas), era necessário obter licença: as férias de Verão começavam em Fevereiro, altura em que os alemães da RDA começavam a tratar da burocracia para poder sair do país em Agosto.

Nas praias, e apesar da reprovação das autoridades, o nudismo era corrente, na linha da tradição naturista germânica: quatro em cada cinco alemães de Leste praticavam regularmente o nudismo. Só tinham igual paixão pela jardinagem: em 1985, 70% dos habitantes da RDA passavam os fins-de-semana a cuidar das suas plantas, em jardins adornados pelos omnipresentes gnomos decorativos. A fé religiosa entrara em crise: em 1950, 7,6% dos inquiridos diziam não professar qualquer crença, existindo 80,6% de protestantes; em 1989, os não-crentes eram já 63,5% e o número de protestantes descera para 30%. Ainda assim, como é sabido, as igrejas teriam um papel fulcral na derrocada do regime.

Nunca se sabia o que havia nas lojas, pelo que se andava sempre com um saco

Nunca se sabia o que havia nas lojas, pelo que se andava sempre com um saco

O descalabro da economia também ajudou: desde os alvores da década de setenta, com o aumento dos preços das matérias-primas importadas da URSS, a RDA obtinha os seus empréstimos externos com avais e garantias da Alemanha ocidental. Desesperadas por investimento estrangeiro, as autoridades comunistas concederam licenças de produção na RDA às empresas estrangeiras, ávidas de mão-de-obra barata; várias marcas estabeleceram-se no território: a roupa interior Triumph, os sapatos Salamander, os auto-rádios Blaupunkt, as baterias Varta ou o creme Nívea, a par da Pepsi-Cola. Infelizmente, os alemães de Leste não auferiam salários que lhes permitissem comprar aqueles bens. Começou, então, um vasto mercado de imitações, que se publicitavam em surdina sob o lema «tão bons como os do Oeste».

Enquanto isso, a aposta na indústria pesada trouxe danos ambientais profundíssimos: entre Mesburg, Halle e Bitterfeld criou-se uma zona chamada «triângulo químico», com uma insuportável concentração de fábricas poluentes, do mesmo passo que era comum existirem minas a céu aberto no centro das cidades. As condições de saúde, apesar do investimento feito na formação de pessoal, eram extremamente deficientes: o prazo de marcação de uma primeira consulta hospitalar era superior a três meses, as urgências tinham enormes filas de espera e não se podia marcar uma consulta por telefone.

Em matéria de saúde recorde-se que a RDA não hesitava em recorrer aos mais fortes e perigosos químicos para conquistar medalhas nas competições internacionais: muitos atletas sofreram danos irreversíveis e até morreram em resultado da ingestão desmesurada de esteróides anabolizantes da marca Oral-Turinabol. E todos se lembram decerto dos corpos disformes das imponentes nadadoras da Alemanha democrática.

A parte mais séria do Museu da RDA não é sobrea o desastre económico da economia planificada. É a que evidencia as desigualdades profundas de um país onde a nomenklatura tinha acesso a supermercados próprios e andava de Volvo, evitando os populares Trabant.

Em face de tudo isto, não admira que haja crescido exponencialmente o número dos «requerentes», como se chamava na gíria aos que solicitavam autorização de saída para o estrangeiro. A RFA ajudava financeiramente, sendo a venda dos seus cidadãos um negócio extremamente vultuoso para as autoridades leste-alemãs. O número de «requerentes» cresceu de 21.000 em 1980 para 125.400 em 1989.

A parte mais séria do Museu da RDA não é apenas aquela que demonstra o desastre económico da economia planificada. É a que evidencia, com factos e imagens, as desigualdades profundas de um país que se proclamava justo mas onde a nomenklatura tinha acesso a supermercados próprios e andava de Volvo, evitando os populares Trabant. No Museu da DDR pode contemplar um Volvo usado por um alto dignitário da República Democrática. Mais curioso ainda: nos percursos usados habitualmente pelos dirigentes do Estado e do Partido, os blocos de apartamentos estavam pintados (mas apenas até à altura da visão de um passageiro do banco traseiro…); nas outras zonas, os prédios mantinham a sua aparência inacabada e cinzenta.

No final da visita, uma loja com réplicas de tudo quanto possa imaginar dos tempos da RDA, a preços razoáveis. Igualmente a preços razoáveis, o Museu dispõe de um restaurante adjacente, de que adiante se falará (ver Onde Comer).

Museu da RDA
Horário: aberto todos os dias do ano; de segunda a domingo, das 10h00 às 20h00; sábados, das 10h00 às 22h00.
Entrada: 7€ / adultos.
Endereço: Karl-Liebknecht Strasse, 1
Endereço electrónico: http://www.ddr-museum.de/en

Próximos lugares da memória

Na segunda parte deste artigo visitaremos o Museu Trabant (TrabiWorld), o Museu da Stasi, a Prisão de Hohenschönhausen, o Museu na Kulturbrauerei, o Parque Treptower, a Karl-Marx Allee e ainda outros lugares que evocam a Ostalgie.

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