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epa10096563 Firemen fights a forest fire in Reboredo village, Vila Pouca de Aguiar, Portugal, 28 July 2022. A total of 466 operational, 144 vehicles and six airplane are fighting the forest fire.  EPA/PEDRO SARMENTO COSTA
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Entre 16 e 19 de setembro houve temperaturas elevadas, rajadas de vento de 50km/h, um bombeiro ferido com gravidade e pessoas desalojadas

PEDRO SARMENTO COSTA/EPA

Entre 16 e 19 de setembro houve temperaturas elevadas, rajadas de vento de 50km/h, um bombeiro ferido com gravidade e pessoas desalojadas

PEDRO SARMENTO COSTA/EPA

Camiões de combate parados, meios desviados e Proteção Civil pressionada a agir. Caos no combate ao fogo de Vila Pouca de Aguiar

Seis horas depois de pedir ajuda, Vila Pouca de Aguiar finalmente teve reforços, mas os meios foram desviados pouco depois. O Observador reconstruiu a fita do tempo do fogo que durou quatro dias.

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Naquele dia, há pouco mais de uma semana, em que as chamas atingiram Vila Pouca de Aguiar, o reforço de meios demorou seis horas a chegar. Os bombeiros daquela região estavam todos destacados. A cerca de 20 quilómetros dali, uma brigada e um grupo de combate vizinho, da região do Douro, estiveram  estacionados horas à espera de autorização para agir. Com o fogo a avançar pelo concelho, casas em risco e um bombeiro ferido, a presidente da Câmara Municipal pegou no telefone e foi ligando a toda a cadeia de comando da Proteção Civil, nível após nível. Só parou quando chegou à Secretaria de Estado. E, então, os meios foram mobilizados. Tinham passado as tais seis horas desde os primeiros contactos, mas, afinal, a brigada — que se tinha juntado ao combate apenas duas horas antes —, recebeu ordens para voltar para trás. No terreno, o Comandante das Operações ficou incrédulo e confrontou o responsável: acusou-o de “cobardia” e de estar a cumprir indicações “mal dadas”. Sem efeito. Vila Pouca de Aguiar ficou sozinha no combate às chamas, que só deram tréguas três dias mais tarde e quando já tinham ardido oito mil hectares.

O Observador reconstruiu a fita do tempo daquele 16 de setembro, o primeiro dia de incêndios em Vila Pouca de Aguiar. Foi pelas 7h30, em Bornes de Aguiar, que se viram as primeiras chamas. Logo nesse dia podia ter-se evitado a “situação trágica” que a região acabou por viver, garante a autarca, Ana Rita Dias. Mas para isso era necessário que os meios de reforço entrassem em ação atempadamente. Uma semana depois — e já após o anúncio da ministra da Administração Interna de que será feito um levantamento para apurar se houve “falhas” na coordenação do combate das chamas —, o Observador ouviu acusações dos bombeiros e do poder político local sobre a ausência de respostas no apoio. Ainda que haja quem insista que tudo foi “feito segundo o pré-estabelecido” — ou seja, que todas as regras foram cumpridas.

Proteção Civil e Bombeiros: a hierarquia

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Na estrutura hierarquizada da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) inclui-se, entre outros, a Direção Nacional de Bombeiros.

O Comandante Nacional desta entidade é, desde 2020, André Fernandes. O 2.º comandante é Mário Silvestre.

Abaixo na hierarquia estão cinco Comandos Regionais da Proteção Civil: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. O incêndio de Vila Pouca de Aguiar desenrolou-se na região Norte, liderada por Carlos Alves.

Por sua vez, esta região subdivide-se em oito sub-regiões, tendo cada uma delas um sub-comandante regional (que respondem a Carlos Alves). São elas: Alto Minho, Alto Tâmega e Barroso, Área Metropolitana do Porto, Ave, Cávado, Douro, Tâmega e Sousa e Terras de Trás-os-Montes.

Foi na sub-região de Alto Tâmega e Barroso, liderada por comandante da Proteção Civil, Artur Mota, que tudo aconteceu. Esta área faz fronteira com a sub-região do Douro, comandada por Miguel Fonseca.

Abaixo destes, na hierarquia, estão depois os corpos de Bombeiros, liderados por um comandante. Em cada teatro de operações há um Comandante de Operações de Socorro (COS), que em Vila Pouca de Aguiar foi Hugo Silva.

 

Região vizinha estava sem incêndios e com brigadas livres

Hugo Silva, comandante dos Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar, assumiu o controlo das operações do incêndio logo no início, em Bornes de Aguiar, pelas 8h42. Na altura, recorda ao Observador, o alerta do fogo já tinha sido dado e pela frente os bombeiros encontraram um incêndio intenso em zona de mato com duas frentes.

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“Nessa segunda-feira, havia uma grande falta de meios, porque havia muitos incêndios em simultâneo. O primeiro incêndio iniciou-se às 7h30 e durante toda a manhã fiz pedidos de reforço de meios terrestres e aéreos ao comandante sub-regional do Alto Tâmega e Barroso [Artur Mota], que, conforme possível, despachava meios”, conta o comandante. Segundo Hugo Silva, nesta região existem apenas “11 corpos de bombeiros” e todos tinham funções atribuídas nessa altura.

"Pelas 11h a situação agravou-se e começou a haver casas em risco. Houve uma insistência de pedidos de reforço da minha parte e eram constantemente negados"
Hugo Silva, Comandante de Operações de Socorro deste incêndio

Segundo também apurou o Observador, Artur Mota avançou com o pedido de reforço de “pessoal de apoio desde a primeira hora”. Para dar resposta ao pedido, pelas 11h00 chegou ao local uma brigada de Sapadores Florestais. Por esta altura, já a situação estava a agravar-se e um bombeiro tinha ficado ferido, relata o Comandante de Operações de Socorro (COS) deste incêndio, Hugo Silva.

“Por volta das 11h00, a situação agravou-se e começou a haver casas em risco. Houve uma insistência de pedidos de reforço da minha parte, de helicópteros pesados e leves, e eram constantemente negados. E o mesmo com os meios terrestres”, partilha ainda Hugo Silva. A brigada de sapadores era insuficiente e, rapidamente, tudo “descambou”, acrescenta uma fonte da Proteção Civil envolvida nas decisões tomadas no terreno.

A alternativa — já que todos os bombeiros do Alto Tâmega estavam no terreno — era recorrer às regiões vizinhas, explica Hugo Silva: “Havia, na altura, sub-regiões que não tinham incêndios, nomeadamente o Douro”, e que tinham brigadas prontas a agir paradas.

No terreno, a apoiar o responsável pelo teatro de operações, estava também o comandante Hernâni Carvalho, que diz que a situação com que se deparou gerou alguma “indignação” entre os elementos de Vila Pouca de Aguiar. “O comandante sub-regional do Douro tinha um grupo de combate parado [ou seja, quatro equipas, cada uma com cinco homens, com dois veículos táticos de abastecimento] estacionado a 20 e poucos quilómetros de um dos incêndios”, em Vila Real. “Além disso, ao mesmo tempo, estava uma brigada de combate estacionada em Vila Verde, Alijó”, a cerca de 25 quilómetros.

epa10096114 A fireman watches a forest fire in Reboredo village, Vila Pouca de Aguiar, Portugal, 28 July 2022. A total of 466 operational, 144 vehicles and six airplane are fighting the forest fire.  EPA/PEDRO SARMENTO COSTA

Na região de Vila Pouca de Aguiar existem apenas "11 corpos de bombeiros"

PEDRO SARMENTO COSTA/EPA

Ajuda só chegou quando pedido “chegou ao poder político”

A acompanhar toda esta situação estava a autarca de Vila Pouca de Aguiar, Ana Rita Dias, após o comandante Hugo Silva lhe ter denunciado a “falta de meios” com que se deparava no terreno. “Ajudou-me e nunca mais saiu do terreno”, lembra o bombeiro responsável pelo incêndio em Vila Pouca de Aguiar.

“Quando pedimos ao Comando sub-regional do Alto Tâmega e Barroso [um reforço de meios], ele negou a saída e disse que não tinha meios disponíveis, quando sabemos que havia meios noutras corporações”, acusa a autarca, numa referência aos meios controlados pelo Comando sub-regional do Douro.

A social-democrata começou por pedir apoios terrestres “ao comando sub-regional [do Alto Tâmega], depois ao comando Regional [do Norte] e diziam que tinham lá a informação e que estavam a aguardar a disponibilização de meios”, que já estavam a ser pedidos há horas. “Depois, entrei em contacto com o Comando Nacional [da Proteção Civil] e com a secretaria de Estado da Proteção Civil. E disseram-me que viriam”, lembra a presidente do município, criticando o facto de não terem sido “tomadas decisões em favor de Vila Pouca de Aguiar”.

"A presidente da Câmara [Ana Rita Dias] recorreu a toda a gente e só funcionou quando chegou ao poder político"
Fonte da Proteção Civil

Apesar de a presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar não o confirmar, fonte que esteve envolvida em toda a situação no terreno acusa o comandante da Região Norte de só disponibilizar meios de reforço “quando achasse necessário”. Uma vez que este responsável, Carlos Alves, “tem autonomia para decidir” a alocação dos meios que coordena sem precisar de validação do Comando Nacional, “a presidente da Câmara recorreu a toda a gente e só funcionou quando chegou ao poder político”.

Fonte próxima deste Comandante da Região Norte — o alvo das maiores críticas pela falta de apoio no combate ao fogo em Vila Pouca de Aguiar — garante ao Observador que, neste incêndio, tal como nos outros, tudo foi “feito segundo o pré-estabelecido” e “todas as indicações foram seguidas à letra”, assegurando ainda que “não há descoordenação a Norte”. O Observador questionou a Proteção Civil sobre que tipo de decisões foram tomadas, assim como o que as motivou, mas não obteve resposta.

O aviso dois dias antes e todas as decisões do combate aos incêndios: ministra fala pela primeira vez sobre fogos

Reforços só chegaram cerca de 6 horas depois dos primeiros pedidos de ajuda

Só pelas 17h chegaram ao terreno os reforços de meios terrestres que foram sendo pedidos insistentemente ao longo de toda essa segunda-feira — e quando já havia registo de mais um incêndio, em Sabroso de Aguiar. “Mandaram a brigada que estava em Vila Verde, Alijó. Ajudou no incêndio de Borges de Aguiar, que começou às 7h30” e naquela altura (a meio da tarde) já ameaçava casas, lembra Hugo Silva, que comandava todas as operações no terreno.

De onde veio a ordem, ninguém sabe ao certo — nem mesmo a autarca que, ao telefone, foi percorrendo os vários níveis da hierarquia de comando da Proteção Civil, até chegar ao topo e, depois, começar a pressionar o secretário de Estado da Proteção Civil, Paulo Simões Ribeiro —, mas nesse momento os meios foram desbloqueados e foi enviada para Vila Pouca de Aguiar a brigada que até aí tinha estado parada em Alijó.

Por volta dessa mesma hora, tudo piorou: iniciou-se um incêndio na freguesia de Telões e, uma hora e meia depois, as chamas chegaram também à aldeia de Quintã de Jales. Mas nesse momento “já não havia meios para despachar” que pudessem ajudar no combate das chamas naquele local, recorda o comandante das operações no terreno, Hugo Silva. Nesta região, além das elevadas temperaturas (29º C) e da baixa humidade, soprava um “vento de Este seco e quente” e registavam-se “rajadas de vento de 50km/h”, acrescenta.

"A brigada [enviada para ajudar] recebe ordem do Comando Sub-regional do Douro para ir embora e abandona o teatro de operações"
Hugo Silva, Comandante de Operações de Socorro deste incêndio

Pensando em socorrer-se da brigada do Douro que chegara poucas horas antes, Hugo Silva deu indicações para que essa força seguisse para o combate numa destas frentes. Mas foi surpreendido: “A brigada recebe ordem do Comando sub-regional do Douro para não ir para lá e abandona o teatro de operações.”

Ana Rita Dias, a autarca de Vila Pouca de Aguiar, considera que o que aconteceu nesse momento configura uma situação de “desvio” de meios e “omissão de auxílio”, naquele que era um “dia chave” e que levou a que o incêndio “desembocasse numa situação trágica” em que arderam oito mil hectares e em que pelo menos uma casa de primeira habitação ficou totalmente em cinzas.

Firefighters fight a forest fire in Zimao, Vila Pouca de Aguiar, Portugal, 16 September 2024. The situation has worsened in the fire in Vila Pouca de Aguiar, which is approaching the village of Vila Meã, said the mayor today, who asked for more resources to fight the three fires in the municipality. 99 operational and 32 vehicles are fighting the forest fire. PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

Neste incêndio registaram-se rajadas de vento de 50km/h

PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

Douro recusou ajudar Vila Pouca de Aguiar durante mais tempo

No momento em que Hugo Silva se deu conta da ordem para que os bombeiros da sub-região de Douro abandonassem aquele local, a tensão subiu. O comandante do teatro de operações chegou mesmo a confrontar o responsável pela brigada que acabara de chegar. “Chamei o comandante dessa brigada e disse-lhe: ‘Se vais embora és um cobarde, porque isto é uma ordem mal dada. O incêndio está onde nós estamos, temos casas praticamente a arder e vais embora’.”

Mas o responsável pela brigada cumpriu a ordem do comandante da sub-região do Douro, Miguel Fonseca, e regressou à base.

A troca de comunicações passou então para o nível superior. O responsável pelo Comando sub-regional do Alto Tâmega entrou em contacto com o Comando sub-regional do Douro. A intenção era reverter a ordem para a brigada desmobilizar e para que se mantivesse no local a apoiar o combate das chamas. Pedido negado. “Os meios eram poucos e havia pânico” em todas as regiões, lembra a fonte.

A mesma fonte do sub-comando do Tâmega admite que, apesar haver uma hierarquia de comando definida, há uma certa autonomia de decisão de cada um dos níveis de comando. A quem estava no terreno não foi dada qualquer justificação para que Vila Pouca de Aguiar não tivesse contado com um maior (e mais prolongado) reforço de meios. “Como já não havia casas em risco, deviam voltar para a base”, explicou fonte próxima do Comando sub-regional do Alto Tâmega.

Contudo, o responsável pelo incêndio, Hugo Silva, garante que havia armazéns ameaçados pelo fogo. E critica: “A brigada saiu quando tínhamos quatro incêndios ativos. Se, naquele dia, [os meios] viessem atempadamente, estes quatro incêndios se calhar não passariam de incêndios normais. Houve pessoas que ficaram sem nada, desalojadas e com a vida destruída.”

O Observador tentou, uma vez mais, obter respostas junto da Proteção Civil acerca dos motivos pelos quais tinham sido retirados meios do local, mas não obteve resposta.

Ao fim do dia, pelas 20h00, num grupo de WhatApp que reúne vários bombeiros, surgiaram fotografias desta brigada que tinha sido enviada temporariamente para a sub-região vizinha. Estavam parados em fila, a cerca de trinta minutos dos incêndios de Vila Pouca de Aguiar. De acordo com membros deste grupo, depois de a brigada ter sido desmobilizada, ficou em Alijó em pré-posicionamento. Ou seja, estavam parados e preparados, num local pré-definido, para entrar em ação naquilo que chamam de ataque ampliado (no qual existe uma equipa pronta a intervir com intensidade após um primeiro ataque a um determinado incêndio ter falhado).

Brigada foi desmobilizada para Alijó

Ajuda regressou quando chamas se viraram contra si

Apesar de todos os pedidos, a ajuda da região vizinha do Douro só voltou a entrar em ação horas depois, quando a situação se agravou “e o incêndio evolui na sua direção”, conta o comandante Hugo Silva. Durante a noite de segunda-feira e a manhã de terça-feira as chamas desenvolveram-se e os fogos de “Telões e Quintã de Jales alargaram-se e seguiram em direção a Vila Real”, onde está a fronteira das sub-regiões.

Fonte da Proteção Civil acrescenta que “acabaram por aparecer [em Vila Pouca de Aguiar] cinco brigadas depois, ao longo do tempo, aí até ao terceiro dia, quando as chamas chegaram à sua área territorial do Douro”.

Comandos distritais de operações e socorro acabam para dar lugar a modelo sub-regional

“Há muito que as coisas correm mal” entre a sub-região do Douro e do Alto Tâmega, devido à existência de “muitos interesses por trás”, agravados pela decisão de criar sub-regiões para substituir a existência de distritos, algo que aconteceu em janeiro de 2023, critica o comandante dos incêndios de Vila Pouca de Aguiar. Hugo Silva acusa a Proteção Civil de ter tomado “muitas más decisões, em muitos aspetos”, naquela segunda-feira, primeiro dia de incêndios. “Se tivessem mandado os meios parados no primeiro dia” a tempo, “o desfecho era outro”, diz. E acrescenta que mesmo nos dias seguintes “a gestão dos meios foi ruinosa”.

Fonte da Proteção Civil que esteve envolvida no combate às chamas em Vila Pouca de Aguiar concorda: “Há aqui uma tensão por causa da organização em sub-regiões em vez de distritos. Tínhamos de resolver a situação e não tomar partidos”. E acrescenta que “a presidente da Câmara tinha razão a 100%” quando se queixou das decisões tomadas no terreno, porque “tinha casas a arder ou quase” e havia falta de meios.

A mobilização [de bombeiros] não falhou, só que isto tem que ver com o modelo que está a ser adotado para a mobilização e gestão dos meios a nível nacional
António Nunes, presidente da Liga de Bombeiros de Portugal

Liga dos Bombeiros: problema está no modelo de “mobilização e gestão dos meios”

Por isso mesmo, Ana Rita Dias afirmou que vai “fazer uma exposição às autoridades competentes“, por considerar que houve omissão de auxílio e desvio de meios. “Pedi hoje [sexta-feira, dia 20] a fita do tempo. Espero que isto seja visto com seriedade e rigor e se apure se há responsabilidades a assumir. Só podemos respirar de alívio porque não houve uma catástrofe ainda maior nem perdas de vida”.

Também os bombeiros querem que sejam apuradas responsabilidades, mas criticam o facto de não poderem aceder à fita do tempo. Em alternativa, os próprios comandantes optam por registar todas as ordens que são dadas e tudo o que acontece no terreno, de forma a poderem proteger-se. No incêndio de Pedrógão Grande, em 2017, o então Comandante da Proteção Civil, Albino Tavares, mandou os operadores de comunicações suspender o registo de mais alertas na fita do tempo, situação que serviu de lição aos bombeiros.

HENRIQUE CASINHAS/OBSERVADOR

A própria ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, disse dois dias depois do início do incêndio em Vila Pouca de Aguiar que, quando tudo tivesse acabado e estivessem “a fazer o rescaldo e quando se fizer o ponto da situação”, seria feito “o relatório”. “Como sempre, apreenderemos, iremos e estaremos à vossa disposição para esclarecer se houve ou não houve falhas, se tudo correu bem”, disse.

Para o comandante dos Bombeiros Voluntários de Cabo Ruivo, a fonte dos problemas está na coordenação feita pela Proteção Civil, que “quer mandar” nos bombeiros, em vez de assumir uma mera função de coordenação.

“Os Bombeiros têm o seu próprio comandante e estão debaixo do comando da Proteção Civil”, diz Jorge Mendes, explicando que a transmissão de ordens aos operacionais no terreno acaba por “não só demorar mais tempo como, muitas vezes, não é consensual, nem é reconhecido pelos pares”. Por vezes, conta, “há meios que chegam ao terreno e o comandante [dos Bombeiros presente] diz que não pediu nada daquilo”. Em parte, diz, esta descoordenação resulta do facto de que quem está a tomar decisões se encontra “a 200 quilómetros do local, em vez de a 50”.

Montenegro anuncia 500 milhões em fundos europeus para prejuízos dos incêndios e volta a falar em “interesses” nos fogos

É para evitar falhas destas que a Liga dos Bombeiros tem defendido que “o modelo tem de ser melhorado”, explica o presidente, António Nunes. “Os autarcas e alguns comandantes queixavam-se de que os bombeiros não estavam distribuídos nos locais apropriados. A mobilização não falhou, só que isto tem que ver com o modelo que está a ser adotado para a mobilização e gestão dos meios a nível nacional. Muitas vezes, os comandantes, mesmo que peçam a intervenção de determinado meio, nem têm capacidade para o ordenar. Têm de ter ordem da Proteção Civil”, explica.

Uma semana depois do início do incêndio em Vila Pouca de Aguiar, o Governo reuniu-se com o Ministério Público, GNR e PSP. Deste encontro resultou o anuncio de 500 milhões de euros em fundos europeus para prejuízos dos incêndios. Relativamente às investigações dos incêndios que assolaram o país (que provocaram nove vítimas mortais e dezenas de feridos), o primeiro-ministro avançou será feito um “levantamento exaustivo” dos casos de incêndios, de modo a perceber o que esteve na origem das ignições. E levantou a possibilidade de alguns terem sido provocados por “interesses particulares”.

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