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Quanto mais tempo passar maior a probabilidade de as pessoas serem reinfetadas
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Quanto mais tempo passar maior a probabilidade de as pessoas serem reinfetadas

IHMT-UNL

Quanto mais tempo passar maior a probabilidade de as pessoas serem reinfetadas

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Celso Cunha: “Ao aparecerem novas variantes, a probabilidade de novas reinfeções é maior e pode haver sintomas mais severos"

O número de reinfeções está subvalorizado porque é preciso confirmar se os vírus das duas infeções são diferentes. Muitas pessoas podem ter reativações e por ficarem assintomáticas contagiar outras.

As reinfeções pelo novo coronavírus começaram a ser reportadas poucos meses depois do início da pandemia e não será de estranhar que, ao longo do tempo, se tornem mais frequentes. Porque as pessoas vão tendo mais contactos com pessoas infetadas e porque a imunidade gerada pela infeção natural vai diminuindo ao longo do tempo.

Ter tido uma infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, com ou sem sintomas, com sintomas leves ou severos, não deve ser, por isso, razão para que as pessoas descurem as medidas de prevenção do contágio ou mesmo que desvalorizem os sintomas associados à Covid-19, alerta Celso Cunha, virologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa.

A 19 de janeiro, a revista científica The BMJ reportava 31 casos de reinfeção confirmados em todo o mundo, mas o número será certamente muito maior. Isto porque um caso de reinfeção só é possível de ser confirmado se for possível sequenciar (ler) os genes dos vírus da primeira e da segunda infeções, para se comparar se é o mesmo ou se é diferente. Se for o mesmo, o mais provável é que o vírus estivesse escondido nas células e tenha sido reativado.

Em Portugal, também já houve cerca de duas dezenas de casos suspeitos de reinfeção. Mas, até ao momento, não foi possível confirmar nenhum deles, respondeu fonte do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge ao Observador.

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Se os sintomas são mais leves numa reinfeção ou se as novas variantes têm maior probabilidade de provocar uma reinfeção são questões que ainda não foram totalmente respondidas. Celso Cunha lembra que pode depender tanto do vírus (e da variante) que cause a infeção, como do indivíduo que é infetado, tal como das suas características genéticas ou comorbilidades. Uma combinação de variáveis que dificulta a generalização.

O diretor da Unidade de Microbiologia Médica do IHMT lembra ainda que num ano de pandemia aprendemos muito sobre como diagnosticar a infeção e tratar os doentes com Covid-19, mas o conhecimento sobre a biologia do vírus e os seus mecanismos de atuação é pouco mais do que há um ano. Ainda há muito trabalho a fazer nesta área, diz o investigador nesta entrevista.

"Quanto mais pessoas infectadas houver, mais provável será haver contágios repetidos nas pessoas. Também é verdade que aquilo que tem sido descrito na literatura e reportado pelos médicos, no caso destas reinfeções, é que os sintomas são, geralmente, mais leves do que durante o primeiro contágio. Mas isso também quer dizer que podemos estar a deixar passar muitas pessoas assintomáticas e que estão infetadas."

As reinfeções com o SARS-CoV-2 continuam a ser um fenómeno raro ou, por causa do aumento das infeções em todo o mundo, da diminuição da imunidade dos infetados ao longo do tempo ou mesmo do tempo que já passou desde o início da pandemia, tornaram-se mais frequentes?
É natural que as reinfeções se tenham tornado mais frequentes, tal como acontece com todos os outros coronavírus, com que somos afetados todos os anos — chamados coronavírus sazonais, a que não dávamos muita importância, por causarem doenças ligeiras. É expectável que haja reinfeções tal como há com os outros vírus que pertencem à mesma família.

Quanto mais pessoas infectadas houver, mais provável será haver contágios repetidos nas pessoas. Também é verdade que aquilo que tem sido descrito na literatura e reportado pelos médicos, no caso destas reinfeções, é que os sintomas são, geralmente, mais leves do que durante o primeiro contágio. Mas isso também quer dizer que podemos estar a deixar passar muitas pessoas assintomáticas e que estão infetadas. Depois, é importante saber se estão infetadas com o mesmo vírus que as infetou da primeira vez, ou se estamos na presença de uma variante substancialmente diferente, ou apenas ligeiramente diferente, da primeira.

Quanto mais variantes, mais reinfeções podem existir

CDC

De que forma as reinfeções se podem relacionar com as novas variantes?
Uma pessoa reinfetada é aquela que foi infetada uma vez, com diagnóstico, e foi novamente diagnosticada com a mesma patologia, de origem infecciosa, neste caso também pelo mesmo tipo de vírus.

Há cada vez mais pessoas infetadas. Enquanto o número de pessoas infetadas continuar a aumentar, a tendência para aparecerem novas variantes aumenta também, porque o vírus dentro das células do organismo que infeta vai multiplicar-se e vão surgindo mutações.

Assim, vamos assistir a um aumento do número de mutações e vão aparecer novas variantes. Ao aparecerem novas variantes é natural que o nosso sistema imunitário responda de forma mais débil a algumas delas. E daí podermos ter reinfeções com sintomas mais severos do que aqueles que estavam a ser reportados no início da pandemia. À medida que elas vão aumentando, a probabilidade de termos novas reinfeções também é maior. Ou seja, do nosso organismo não conseguir debelá-las tão rapidamente como no início.

Mas ter reinfecções com as novas variantes não quer sejam mais graves, pois não?
Não apostaria nisso, neste momento. O que observamos é que, de facto, as reinfeções têm tendência — e isso parece bem estabelecido — para causarem sintomas mais leves. Mas não sabemos se futuramente, com a evolução do vírus, não possamos estar perante variantes que causem sintomas mais graves até do que os iniciais. Daí que seja muito difícil estarmos a dizer, agora, se no futuro não poderemos estar perante uma determinante variante do vírus que cause sintomas mais graves que o atual. É impossível de dizer. A tendência atual é para que as reinfeções sejam menos graves, mas o que pode acontecerá no futuro não podemos dizer.

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A tendência tem sido essa, mas também há casos reportados de doença mais grave e até de morte na reinfeção. O que é que justifica isto?
Não sei explicar [não conhece os casos em concreto]. O que penso é que, provavelmente, essas pessoas poderiam ter outras comorbilidades que afetaram o funcionamento normal do seu organismo. Ou que, durante a primeira infeção, o organismo ficou com sequelas que depois puderam ser aproveitadas pelo vírus numa segunda infeção para tornar os sintomas mais graves. É uma regra [ter sintomas mais ligeiros], mas a regra pode ter exceções, que poderão estar relacionadas com questões do próprio indivíduo — comorbilidades, sequelas que a infeção deixa —, que fizeram com que ficasse debilitado durante bastante tempo, e entretanto tenha sido reinfetado e não tenha sido capaz de responder tão eficazmente como da primeira vez.

Há cada vez mais relatos de sintomas que persistem durante muito tempo nas pessoas que estiveram infetadas. Acha que este tipo de sintomas pode tornar a pessoa mais suscetível a uma infeção?
Não sou clínico, e por isso não posso responder-lhe com conhecimento de causa absoluto, mas diria que não. Dependerá do tipo de sequelas com que a pessoa fique. As sequelas que afetam o sistema nervoso podem causar depressão ou deixar as pessoas confusas durante muito tempo, mas não creio que fiquem mais suscetíveis ou que tenham sintomas mais graves numa reinfeção. Mas se as sequelas forem ao nível do sistema respiratório, sistema cardiovascular ou de outros órgãos essenciais — como os rins –, aí poderemos eventualmente ter problemas, poderemos ter casos de pessoas que numa reinfeção tenham sintomas mais graves do que numa primeira infeção, sobretudo se o sistema imunitário não estiver a funcionar bem.

"Desde o início da pandemia — e já lá vai um ano —, aquilo que sabemos sobre a biologia do vírus e sobre a maneira como funciona no nosso organismo é praticamente o mesmo que sabíamos no início. E, no entanto, publicaram-se milhares de artigos científicos. A única coisa que sabemos melhor é tratar os doentes."

E as novas variantes, podem afetar mais estas pessoas?
Tudo depende da variante a que a pessoa é exposta. Se o sistema imunitário respondeu bem durante a primeira infeção, se teve uma resposta forte e se a variante não for muito diferente da primeira, o sistema imunitário consegue reconhê-la, lutar com a nova infeção de forma eficaz e é por isso que os sintomas são mais leves. Quando os sintomas são iguais aos da primeira infeção ou mais graves, aí é que temos uma exceção. Essas exceções podem ser provocadas pelo próprio vírus — por estarmos perante uma variante que deixou de ser reconhecida pelo sistema imunitário —, ou por sequelas deixadas pela primeira infeção.

Desde o início da pandemia — e já lá vai um ano —, aquilo que sabemos sobre a biologia do vírus e sobre a maneira como funciona no nosso organismo é praticamente o mesmo que sabíamos no início. E, no entanto, publicaram-se milhares de artigos científicos. A única coisa que sabemos melhor é tratar os doentes.

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Porquê?
Porque sabemos que estas coisas demoraram mais tempo. A investigação foi dirigida — e muito bem — para aquilo que era necessário para conter a pandemia: para aspetos da epidemiologia, da transmissão do vírus, da patologia do vírus, para produzir uma vacina ou para reposicionar medicamentos que fossem capazes de tratar a infeção. Tudo coisas práticas com impacto na saúde pública.

A investigação que é necessário fazer — e que está a ser feita —, não atrai tanto a opinião pública, mas vai ter um impacto real no tratamento. Mas demora muito mais tempo. A investigação fundamental demora muito tempo, mas vai trazer-nos a informação necessária para combatermos e para tratarmos eficazmente este tipo de infeções.

Que respostas pode dar esta investigação fundamental?
Pode indicar-nos, dentro daquilo que são as proteínas virais e do mecanismo de replicação do vírus, quais serão os potenciais alvos terapêuticos e tentar encontrar fármacos específicos — novos ou velhos — capazes de impedir a replicação do vírus dentro das células, por exemplo. Mas não é uma tarefa fácil. Há poucos fármacos para tratar doenças virais e a maior parte não é muito eficaz, porque os vírus replicam-se dentro nas nossas células e utilizam grande parte da maquinaria celular para se replicarem. Para impedir a replicação dentro das células temos de ter o cuidado de não interferir com as células.

"Existem já uma série de relatos de pessoas que apresentaram sinais de reativação do vírus. É exceção ou é regra? Ou está relacionado com características específicas de determinado tipo de pessoas — fatores genéticos ou comorbilidades? Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões àcerca disso. Tudo o que possa ser dito é pura especulação."

Há alguma evidência que o vírus fique adormecido nas nossas células?
O vírus pode ficar escondido algures, por exemplo, em células do sistema nervoso, e causar aqueles sindromes de confusão nas pessoas. E, realmente, pode ser reativado num momento em que o nosso sistema imunitário está mais débil, como acontece com o herpes.

Se o vírus fica escondido pode, eventualmente, ser a causa de sintomas persistentes? Estas pessoas podem ter maior probabilidade de apresentar uma reativação do vírus?
Existem já uma série de relatos de pessoas que apresentaram sinais de reativação do vírus. É exceção ou é regra? Ou está relacionado com características específicas de determinado tipo de pessoas — fatores genéticos ou comorbilidades? Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões àcerca disso. Tudo o que possa ser dito é pura especulação. Não sabemos, por exemplo, caso haja uma reativação, se vai acontecer uma vez e o sistema imunitário vai reagir e eliminar o vírus ou se o reservatório do vírus vai permanecer para sempre dentro do corpo. Não conseguimos ainda responder a isso, temos apenas um ano de pandemia.

Houve uma altura em que se receava que a infeção com SARS-CoV-2 depois da vacinação pudesse causar uma reação exacerbada, como na dengue. Ainda é uma preocupação?
No início, quando começaram a ser preparadas as primeiras vacinas, esta era uma das preocupações: se as vacinas não iriam provocar uma reação, como na dengue, em que uma pessoa infetada, depois de vacinada, pudesse ter uma reação exacerbada e com sintomas mais graves. Isso, felizmente, não se tem verificado, embora a população mundial vacinada até este momento seja muito escassa. É pouco provável que venha a acontecer nas vacinas que estão a ser comercializadas e, se acontecer, será um fenómeno esporádico.

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Só se pode provar que houve reinfeção se tiver a sequenciação genética dos vírus que provocam a infeção nos dois momentos, correto?
Sim.

O que pode levar a que o número de casos de reinfeções esteja muito subvalorizado?
Pode, porque as reinfeções podem nem ser detetadas. Como os sintomas são, geralmente, bastante mais leves, uma pessoa pode passar por assintomática ou estar apenas subfebril e mais cansada — que pode ser um sinal, mas que a maior parte das pessoas não valoriza.

E muito menos se já tiverem estado infetadas e acharem que não podem estar outra vez.
Exatamente, exatamente. E é comum. Tenho ouvido, de várias pessoas que já estiveram infetadas, que esse fenómeno sucede: num dia custa a subir as escadas e no dia seguinte parece que nada se passou.

As reinfeções podem nem ser detetadas. Como os sintomas são, geralmente, bastante mais leves, uma pessoa pode passar por assintomática ou estar apenas subfebril e mais cansada — que pode ser um sinal, mas que a maior parte das pessoas não valoriza."

Seria importante ter uma monitorização mais rigorosa destas reinfeções? O que poderíamos tirar daí?
Podíamos tirar muita coisa. Imagine uma pessoa infetada, com poucos sintomas ou nenhuns, com sintomas que desvaloriza ou mesmo assintomática. Essa pessoa vai trabalhar, para a escola, para o hospital, andar de transportes públicos, pode infetar ‘N’ pessoas estando assintomática — porque sabemos que os assintomáticos são transmissores. As pessoas não podem ter como garantido que, porque já tiveram a doença, já não a transmitem. Isso pode não ser verdade — e, provavelmente, não é.

Por isso, mesmo depois de terem estado infetadas ou depois de terem tomado a vacina, as pessoas devem manter precauções. Não sabemos se essas pessoas que estiveram infetadas continuam com níveis de anticorpos considerados suficientes para combater a infeção, se vão ser reinfetadas com uma variante diferente contra a qual os anticorpos não são suficientes para a neutralizar. Diria que uma pessoa que já foi infetada tem de continuar a tomar as mesmas precauções do que qualquer outra pessoa. Por outro lado, em relação à vacina, estamos agora a começar a administrá-la. Não temos dados suficientes para saber por quanto tempo se mantém eficaz.

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