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Depois de a “operação militar especial” na Ucrânia ter sido apenas uma expressão encontrada para camuflar o que na realidade foi o início da guerra contra a Ucrânia, os russos ouviram esta quarta-feira o Presidente decretar uma “mobilização militar parcial”, mas o alcance que, de facto, terá pode não ser assim tão claro. Para já, sabe-se quem será mobilizado no imediato e quem irá ficar de fora, destinando-se a convocatória alegadamente apenas a militares na reserva, mas a resposta imediata dos russos deixa transparecer o receio de que a longo prazo o cenário seja outro.
Quem vai vai ser mobilizado para combater na Ucrânia e quem escapa à guerra? O que já se sabe
Na resposta à comunicação ao país de Vladimir Putin, além de manifestações em várias cidades russas, os compatriotas correram para a internet. Para comprar voos, procurar saber “como partir um braço” ou “como sair da Rússia” – e, de tantas vezes tentar aceder à página da ferrovia estatal russa, acabar por causar o bloqueio da mesma. Foi esse o resultado imediato das inquietações dos russos nas primeiras horas depois do discurso de Putin.
A pesquisa “como sair da Rússia” teve o pico maior depois de ter sido anunciado que as companhias aéreas russas não estavam autorizadas a vender mais voos com origem no país aos russos. Antes, já os lugares disponíveis tinham sido esgotados e os poucos que ainda sobravam estavam a ser vendidos a preços astronómicos.
Segundo a ferramenta de análise do Google das tendências de pesquisa, as regiões de São Petersburgo, Komi (a norte do país), Moscovo, Novosibirsk (a terceira maior cidade depois de Moscovo e São Petersburgo) são aquelas onde o número de pesquisas sobre as hipóteses de saída do país foram mais frequentes nas últimas horas.
Mais rápida foi a pesquisa no Google por “bilhetes”. Ainda Putin falava, às 9 horas, e já era perfeitamente visível através das pesquisas pelos utilizadores da internet do país a pesquisa pela palavra chave “bilhetes”. Ao termo “bilhetes”, a ferramenta de monitorização da Google identificou também a adição de várias cidades: Astana, a capital do Cazaquistão, Tiblissi, a capital da Geórgia, e ainda Istambul, na Turquia.
Já a expressão “Onde posso sair da Rússia” teve um pico de pesquisas também logo ao início do dia, depois da declaração ao país de Putin, tendo caído até ao início da tarde. Já depois de esgotados os voos e hipóteses de sair de comboio e com relatos de longas filas de trânsito em alguns pontos fronteiriços, voltou a subir novamente às primeiras horas da noite. Ainda assim, está longe de ser o dia em que os russos mais procuraram uma saída do país, com o número máximo registado no dia em que o Kremlin decretou a invasão à Ucrânia.
Além das pesquisas sobre sair do país, os russos procuraram também por “bilhetes esgotados”; “bilhetes de comboio”; “aeroflot não vende bilhetes” — isto depois de uma das principais ferramentas de compra de bilhetes de avião na Rússia ter deixado de funcionar — ou “companhia ferroviária russa não vende bilhetes”.
“Como partir um braço sem dor” ou “como ficar fora da mobilização”. Voos a preços astronómicos e página dos caminhos de ferro indisponível
Para quem não tem grande esperança em conseguir sair da Rússia, resta a opção de tentar não ser enviado para território ucraniano. Uma das opções que ocorreu a milhares de internautas quase de imediato foi “partir um braço”, mas com preferência a conseguir fazê-lo “sem dor”.
Além de tentar descobrir, na internet, como partir um braço “sem dor”, as pesquisas associadas a essa são: “em casa” e “escapar à mobilização”, deixando poucas dúvidas do motivo que levou os russos a procurar tal resposta online. A monitorização das pesquisas na internet parece ajudar a perceber que os russos não estão mesmo do lado de Putin no tópico da guerra com a Ucrânia ou, pelo menos, que não estão disponíveis a dar a vida por ela.
Mas a tentativa de fuga à mobilização não se ficou pela intenção, ou pelas pesquisas na internet, com milhares de russos a deixarem o país ao longo do dia. Os voos com saída diária a partir de Moscovo ou São Petersburgo saíram cheios da Rússia, com os preços a subirem vertiginosamente.
Para quem não conseguiu voo esta quarta-feira, de acordo com o motor de pesquisa de voos da Google é possível comprar viagens diretas para Baku, no Azerbeijão ou para Osh, no Quirguistão, com preços a rondar os mil euros por passageiro, só a ida.
Já quem estiver disposto a enfrentar uma viagem de 24 horas, com uma escala de 14 horas nos Emirados Árabes Unidos, consegue chegar a Istambul até ao final da semana, segundo a mesma ferramenta de pesquisa. O preço, claro, também não é para todos os bolsos: 418 euros por passageiro ida.
A RZD, companhia de caminhos de ferro estatal russa, que podia ser uma opção para quem está a tentar sair do país também não parece ser uma solução uma vez que a página oficial onde é possível comprar os bilhetes online está indisponível.
A ‘Down for Everyone or Just Me’ confirma que a página https://www.rzd.ru/ está mesmo fora de serviço e os relatos nas redes sociais dão conta que o site está em baixo há várias horas.