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Russia's President Putin on working visit to China
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Vladimir Putin esteve em Pequim com o presidente chinês no arranque dos jogos Olímpicos de Inverno, semanas antes da invasão da Ucrânia

Alexei Druzhinin/TASS

Vladimir Putin esteve em Pequim com o presidente chinês no arranque dos jogos Olímpicos de Inverno, semanas antes da invasão da Ucrânia

Alexei Druzhinin/TASS

Como Xi Jinping se prepara para atirar um "salva-vidas" à Rússia, suavizando efeito das sanções ocidentais

Há anos que a Rússia se tem virado para a China como mercado alternativo para vender gás e petróleo que a Europa possa deixar de comprar. Sanções podem ter vários efeitos perversos, avisam analistas.

Já aconteceu no passado quando a Rússia invadiu a Crimeia em 2014 e podes voltar a acontecer agora, mas com mais intensidade. A China vai estender a mão à Rússia e suavizar as sanções “massivas” que a União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido aprovaram como represália pela invasão da Ucrânia. Esta ajuda não nasce das atuais circunstâncias, tem vindo a ser trabalhada ao longo dos últimos dez anos e está mais forte do que nunca.

Analistas financeiros e especialistas em política internacional acreditam que a China está pronta para compensar os maiores golpes económicos, através de acordos de compra de petróleo e gás natural. Esses contratos contrariam a expectável queda das vendas para a Europa.

Esta cumplicidade é visível em negócios na energia, mas não só, e foi denunciada pelo primeiro-ministro australiano. “Não se atira um salva-vidas à Rússia enquanto eles estão a invadir outro país. Isto é simplesmente inaceitável. Este não é o tempo para aliviar as restrições comerciais à Rússia. Devemos todos fazer exatamente o contrário”, afirmou Scott Morrison esta sexta-feira.

"Não se atira um salva-vidas à Rússia enquanto eles estão a invadir outro país. Isto é simplesmente inaceitável. Este não é o tempo para aliviar as restrições comerciais à Rússia. Devemos todos fazer exatamente o contrário",
Primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison

O papel chinês pode ser ainda fundamental no sucesso ou fracasso das sanções já decididas contra o sistema financeiro e bancário, já que existem bancos públicos não comerciais dispostos a emprestar e que estão menos expostos a represálias, em caso de violação das sanções americanas, do que os bancos comerciais.

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“A Rússia já estava a preparar-se para eventuais pacotes de sanções económicas”, afirma a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova. Especialista em política externa e Federação Russa, Sónia Sénica lembra que as sanções financeiras e diplomáticas foram acionadas várias vezes, em 2014, em 2018 e mais recentemente no caso Navalny (o opositor de Putin que foi envenenado). Apesar dessas sanções serem cada vez mais robustas, “a Rússia parecia saber contornar os constrangimentos resultantes”.

Porque as sanções do Ocidente não assustam (nem demovem) Putin

O regime sabia que viriam sanções económicas — independentemente da decisão em relação à Ucrânia — e até estava avisado (publicamente) que iriam envolver o gasoduto Nord Stream 2, cuja certificação foi suspensa pela Alemanha antes de se iniciar a invasão pela Rússia. A investigadora do IPRI assinala que o regime de Putin preparou um plano de contingência para proteger a economia e contornar as previsíveis sanções, para além do plano estratégico e militar que cortou com a ordem internacional, afastando-se dos seus interlocutores ocidentais.

"Os bancos e o sistema financeiro russos estão "habituados a contornar esses constrangimentos e a reforçar as reservas internas para combater as oscilações". 
Sónia Sénica, investigadora de política externa e da Federação Russa do Instituto Português de Relações Internacionais

A China é uma peça fundamental desse plano, mas não será a única. Sónia Sénica aponta os investimentos significativos feitos no mercado interno por parte da liderança russa em indústrias como a defesa. “Os bancos e o sistema financeiro estão habituados a contornar esses constrangimentos e a reforçar as reservas internas para combater as oscilações”. Acresce a tentativa de encontrar outros parceiros comerciais.

Se a China é o mais óbvio, também a Índia estará a tentar encontrar mecanismos alternativos que permitem contornar o efeito de sanções e manter os negócios com a Rússia. “É a lógica comercial e económica a suplantar uma lógica política e diplomática”, sublinha a especialista. Os dois países abstiveram-se na votação da resolução das Nações Unidas que condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Rússia e China têm a melhor relação em 50 anos

Uma das aproximações mais apontadas pelos analistas foi a visita de Vladimir Putin a Pequim na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, quando o Ocidente já desconfiava das movimentações militares na fronteira com a Ucrânia, para se reunir com Xi Jinping e no qual o presidente russo destacou o momento sem precedentes nos laços entre os dois países.

Jorge Tavares da Silva, professor da Universidade de Aveiro que dá um mestrado de estudos chineses, tem a mesma visão. “A China e a Rússia estão nas suas melhores relações nos últimos 50 anos”, desde o tempo em que se verificou a cisão que afastou Mao Zedong da União Soviética e que foi aproveitada por Richard Nixon para restabelecer relações com a China comunista.

Agora, o encontro em fevereiro entre os dois líderes não foi apenas simbólico dessa aliança, mas produziu efeitos práticos que revelam como a Rússia está a encontrar mercados alternativos para escoar os seus recursos.

Gazprom's Logistics Center for thermally-insulated containers in Russian Far East

Gazprom assinou acordo de venda de gás por 25 anos à China

Yuri Smityuk/TASS

A Gazprom a a chinesa CNPC assinaram um acordo de fornecimento de gás natural a 25 anos através do novo gasoduto da Sibéria que deverá estar a operar em pleno em 2025. A petrolífera russa Rosneft já é a maior exportadora de petróleo para a China, fornecendo 7% das necessidades, tendo reforçado o fornecimento já este ano. No mesmo dia em que as tropas russas entraram na Ucrânia, uma agência chinesa deu luz verde à compra de trigo de todas as regiões russas que estavam condicionadas por causa do risco de contaminação de um fungo.

Jorge Tavares da Silva diz que para a Rússia o grande mercado é a Europa, mas as sanções decididas pela União Europeia vão dar mais oportunidade de reforço da cooperação económica entre os dois países à margem do Ocidente, não só na energia e nos produtos agrícolas, mas ainda em áreas tecnológicas e dos chips, setores que foram alvo das sanções da União Europeia.

A sanção “nuclear”. O que é o SWIFT e que consequências teria um bloqueio à Rússia?

Também ao nível financeiro, e enquanto as potências ocidentais hesitam em acionar a chamada “bomba atómica” das sanções — a exclusão da Rússia do sistema mundial de operações bancárias SWIFT –, a Rússia e a China têm vindo a desenvolver um caminho paralelo ao todo poderoso dólar. Vários acordos comerciais, incluindo a venda de gás e petróleo, estão a ser feitos com outras moedas, desde o euro, mas também rublos e yuans. Ainda assim, e de acordo com dados do banco central russo citados pelo Financial Times, 47% dos negócios entre os dois países eram feitos em dólares e 36% em euros nos primeiros nove meses de 2021.

A mesma fonte indica que a Rússia já é o maior destino de financiamentos atribuídos pelo setor institucional público chinês que entre 2000 e 2017 atingiram 151 mil milhões de dólares, empréstimos que têm como colateral as receitas futuras das exportações de petróleo. Entre estes financiadores estão o China Development Bank e o Export-Import Bank of China.

Sanções podem ter efeitos perversos

Para já, o impacto das sanções anunciadas não parece grande, apesar das palavras duras usadas pela presidente da Comissão Europeia. O primeiro pacote europeu pretendeu, logo, impedir o acesso da Rússia às mais importantes capitais financeiras. “O alvo corresponde a 10% do setor bancário, mas também empresas públicas chave no setor da defesa. Estas sanções vão aumentar os custos de financiamento, causar mais inflação e gradualmente minar a base industrial russa”, afirmou Ursula von der Leyen.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen

Ursula von der Leyden anunciou quatro pacotes de sanções da UE contra indústria, banca, aviação e dirigentes

STEPHANIE LECOCQ/EPA

A bolsa de Moscovo, que tinha afundado no dia da invasão, recuperou na abertura horas depois da segunda vaga de sanções de Bruxelas, divulgadas na madruga de sexta-feira.

Sónia Sénica reconhece que o pacote cumulativo de sanções tem sido uma abordagem muito reativa e não proativa, com o anúncio de sucessivas medidas mais gravosas, que não conseguiu fazer “retrair a política assertiva e militarizada” na Ucrânia.

Porque as sanções do Ocidente não assustam (nem demovem) Putin

Para além de correrem o sério risco de não produzirem o efeito pretendido, as sanções até podem resultar em mais do que um efeito perverso, sublinha o professor de Aveiro. Isto sem considerar o impacto negativo que terão também nas economias dos países que as impõem.

“As sanções têm o efeito de exacerbar os nacionalismos internos”, o que pode reforçar o apoio interno à política de Putin, por um lado. Ao mesmo tempo os condicionamentos levam a desvios de negócios e à procura de alternativas, o que neste caso significa também o reforço de velhas alianças.

"As sanções têm o efeito de exacerbar os nacionalismos internos", o que pode reforçar o apoio interno à política de Putin, por um lado. Ao mesmo tempo os condicionamentos levam a desvios de negócios e à procura de alternativas, o que neste caso significa também o reforço de velhas alianças.
Jorge Tavares da Silva, especialista em estudos chineses da Universidade de Aveiro

“Sabemos bem de que lado a China está”, diz, apesar de o país estar a “gerir a questão da Ucrânia com equilíbrio do ponto de vista formal, não assumindo uma posição oficial de apoio ou condenação a nenhuma das partes.

Mais um sinal evidente dessa parceria estratégica e económica foi a reação cautelosa de Pequim à ofensiva russa e a conversa telefónica entre Xi Jinping e Vladimir Putin divulgada pela televisão chinesa e na qual o presidente russo terá reafirmado a sua disponibilidade para negociar com a Ucrânia.

Uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, citada por vários órgãos internacionais, rejeitou apelidar a operação russa na Ucrânia de uma invasão porque as forças russas só estavam (então) a atacar instalações militares, tendo também manifestado-se contra a imposição de sanções “unilaterais e ilegais”. Desde 2011, os Estados Unidos impuseram mais de 100 sanções à Rússia, afirmou Hua Chunying aos jornalistas em Pequim. “Mas essas sanções resolveram algum problema? Irá o problema da Ucrânia resolver-se graças às sanções americanas à Rússia?”

A posição chinesa atribui também culpa aos Estados Unidos pela escalada da situação na Ucrânia por ter criado o “pânico” ao agitar o cenário da guerra (que acabou por ser real).

União Europeia aprova congelamento de bens de Putin e Lavrov

Sobre o impacto das sanções impostas, Sónia Sénica considera que há um aspeto positivo na medida em que “são uma demonstração de coesão do Ocidente”, além de atingirem personalidades como o Presidente e o número dois na crise da Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov. “Estamos no patamar muito elevado do que é gravoso” e é conhecido, ainda que não seja oficial, que o património destes dirigentes e outros oligarcas russos está fora da Rússia, e uma boa parte dele na Europa (em particular no Reino Unido).

Mas o que está em causa é mais do que económico. Para Jorge Tavares da Silva, as sanções vão reforçar a cooperação entre estes dois estados que estão “alinhados” contra as democracias liberais, contra os valores ocidentais e que têm o mesmo objetivo: “Não querem os Estados Unidos na sua proximidade”. Também a investigadora do INPRI cita o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano para concluir que depois da invasão ao seu país “não teremos a mesma ordem internacional. Houve uma desestabilização da segurança europeia, uma contestação da ordem internacional liberal de hegemonia americana e uma alteração do quadro do direito internacional que é revisionista”.

E poderá a China seguir o exemplo dado por Putin? O especialista em estudos chineses acredita que o regime de Pequim está a estudar muito bem o cenário de uma ofensiva sobre Taiwan. “Estão a avaliar a reação internacional” ao ataque à Ucrânia. Embora muito diferente do aliado russo, Xi Jinping não deixa de ser “um líder assertivo e que se está a perpetuar no poder ao contrário dos seus antecessores e é muito determinado na questão nacionalista”.

Para o professor da Universidade de Aveiro não se pode, pois, excluir nenhum cenário, nem o de um conflito armado. “Se Xi Jinping perceber que uma intervenção em Taiwan não teria consequências e que poderia ganhar, avança”. A questão central está na avaliação das consequências, conclui.

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