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“Por favor ignore os tweets anteriores. Era alguém a fazer-se passar por mim. Este sou eu.” É com estas 16 palavras que, a 4 de junho de 2010, Elon Musk escreve a sua primeira publicação no Twitter. A história do bilionário na rede social começa com o esclarecimento de que existia uma conta falsa em que alguém se fazia passar por ele.

Mais de 10 anos depois da primeira publicação, Elon Musk tem uma verdadeira legião de fãs. O patrão da Tesla é seguido por mais de 81 milhões de pessoas e utiliza a rede social para revelar os seus pensamentos sobre quase tudo. Desde críticas a piadas, sondagens e à promoção de empresas, as suas publicações parecem dar quase sempre que falar. Agora tenta tomar o controlo da rede social.

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Controverso, com sentido de humor, polémico, crítico, questionador e com uma veia de marketing. É assim que o multimilionário se apresenta na rede social, onde a sua atividade não pára. As publicações do patrão da Tesla e da SpaceX são quase diárias, e é uma das personalidades mais seguidas do Twitter. Segundo o World of Statistics, Musk é a oitava celebridade com mais seguidores, ficando apenas atrás de Barack Obama, Justin Bieber, Katy Perry, Rihanna, Cristiano Ronaldo e Lady Gaga.

“O Twitter está a morrer?”, questiona Musk ao partilhar e ao reagir às estatísticas, argumentando que as contas mais seguidas colocam pouco conteúdo. Dá dois exemplos: a cantora Taylor Swift não publica nada há três meses e o músico Justin Bieber só tem um tweet em 2022.

Há dias em que o bilionário de 50 anos publica ou partilha mais de 30 tweets sobre temas diferentes e, em todos eles, tem sempre feedback dos seguidores, que reagem com gostos ou comentários. Se depender da participação do patrão da Tesla, a rede social não “morre”.

A oferta de compra para “transformar” o Twitter

“Há pessoas que usam a arte para se expressarem, eu uso o Twitter”, graceja numa entrevista concedida em 2021. Apesar de utilizar a plataforma para se expressar, Elon Musk assume que “mudanças têm de ser feitas”. Depois da tomada de uma participação de 9,2%, Musk avançou esta quinta-feira, 14 de abril, com uma oferta pública para comprar a totalidade do capital da rede social, por 54,20 dólares por ação, em dinheiro, avaliando o Twitter em 43 mil milhões de dólares (quase 40 mil milhões de euros).

O bilionário avisa já que esta é “a melhor” oferta e definitiva, e que o seu objetivo é retirar a empresa de bolsa. “Fiz uma oferta”, reage Elon Musk através, claro, de uma publicação no Twitter.

Num documento enviado à SEC, regulador do mercado de capitais norte-americano, Musk diz ter investido na rede social ao comprar 9,2% das ações por acreditar “no potencial” que tem para a liberdade de expressão mundial. Porém, ao fazer o investimento, percebe que “a empresa nunca servirá esse propósito social na sua forma atual. O Twitter precisa de ser transformado numa empresa fechada [não cotada]”, lê-se no documento.

Elon Musk acrescenta que se a oferta não for aceite terá de “reconsiderar” a sua “posição enquanto acionista”.

Não é um bom investimento sem que sejam efetuadas as mudanças necessárias”, alerta Musk, que afirma que a possível revisão da sua posição na rede social “não se trata de uma ameaça”.

Em comunicado, o Twitter confirma a receção de uma proposta “não solicitada” e “não vinculativa”, que vai “analisar cuidadosamente” para “determinar a linha de conduta que considera servir melhor os interesses da empresa e de todos os seus acionistas”. A rede social vai então avaliar a oferta do patrão da Tesla, juntamente com o banco de investimento Goldman Sachs & Co e com os consultores jurídicos do grupo Wilson Sonsini Goodrich & Rosati, informa a Reuters.

Elon Musk garante que os acionistas vão “amar” o negócio pelo seu elevado preço. Daniel Ives, analista da Wedbush Securities, também acredita que a empresa não vai recusar a proposta. “Isto coloca o Twitter contra a parede. Na minha opinião, não há realmente forma de o Twitter poder rejeitar [a oferta]”, disse à CNBC.

O analista de mercado Adam Crisafulli não está tão confiante e refere à Bloomberg que a oferta de Musk é “demasiado baixa” para ser aceite pelos acionistas ou pela administração do Twitter, tendo em conta que as ações da empresa atingiram 70 dólares há menos de um ano.

Foi a 4 de abril que Elon Musk anunciou a compra de 9,2% das ações do Twitter tornando-se o maior acionista da rede social. Dez dias depois revela querer comprar a totalidade do capital da plataforma. Mas, afinal, como é que podemos analisar o Twitter de Elon Musk?

Twitter e Musk, uma relação com altos e (muitos) baixos

A relação entre Elon Musk e o Twitter nem sempre é fácil. “Eu adoro o Twitter”, assume Elon Musk em 2017. Uns anos depois, em julho de 2020, o bilionário faz uma das primeiras críticas à rede social: “O Twitter não presta“.

O descontentamento com algumas políticas da plataforma leva Elon Musk a dizer algumas vezes que vai abandonar o Twitter, mas ao fim de uns meros dias regressa sempre.

Nas últimas semanas, as críticas de Elon Musk ao Twitter tornaram-se mais constantes. A 24 de março, o bilionário diz estar preocupado com o algoritmo do Twitter, que tem um grande efeito no discurso público ao definir o que o utilizador vê e ao personalizar as publicações a que tem acesso com base nos temas que pesquisa. Quando questionado sobre a possibilidade de uma mudança no algoritmo, 82,7% dos seguidores do magnata concordaram com essa necessidade.

O antigo CEO e co-fundador do Twitter Jack Dorsey reage às ideias de Musk sobre a rede social e afirma que a “escolha” de que algoritmo “usar (ou não) deveria ser aberta a todos”.

Elon Musk descreve-se como um “absolutista da liberdade de expressão”, direito que acredita que o Twitter não respeita. O patrão da Tesla não especifica que mudanças quer que a rede social faça para promover a liberdade, mas alguns dos seus mais recentes tweets mostram que pretenderá pressionar a plataforma a colocar um fim às políticas moderadas e às tentativas de expulsar os utilizadores que violem as diretrizes da empresa.

O Twitter tem sido acusado de suprimir a liberdade de expressão, nomeadamente ao ter bloqueado a conta de Donald Trump. Em 25 de março, Musk afirma que a “liberdade de expressão é essencial para uma democracia em funcionamento” e pergunta aos seguidores se o Twitter adere a este princípio. Depois de 70,4% dos inquiridos terem respondido que não, Musk pergunta se é necessária uma nova plataforma, dando a entender que está a pensar criar a sua própria rede social.

O anúncio da compra de ações por parte de Elon Musk agrada os fãs de Donald Trump, que fizeram dezenas de pedidos para que a conta do antigo Presidente dos EUA fosse desbloqueada. Os funcionários do Twitter, por sua vez, mostram-se mais apreensivos com as novidades.

Apesar de a rede social referir que não toma decisões políticas, quatro trabalhadores dizem à agência Reuters estar preocupados com a capacidade de o bilionário influenciar as políticas internas da empresa a longo prazo, podendo gerar alguma confusão sobre o que é ou não conteúdo abusivo. “Não quero trabalhar para alguém como Musk”, afirma um dos colaboradores.

A participação de Musk no Twitter também preocupa analistas como Adam C. Pritchard, professor de Direito da Universidade de Michigan. A compra das ações terá sido feita a 14 de março, sendo que a lei dos Estados Unidos exige a divulgação da mesma à comissão de valores mobiliários norte-americana — Securities and Exchange Commission (SEC) — nos 10 dias seguintes à aquisição de uma participação equivalente a 5% de uma empresa. O que significa que, por estas contas, o bilionário deveria ter informado o regulador da aquisição até ao dia 24 de março. Musk comunicou a 4 de abril.

“Ele adquiriu [uma participação no Twitter] e não notificou em 10 dias. É uma violação [da lei], garante Adam C. Pritchard, que é citado pela agência Reuters.

Antigos acionistas do Twitter estão a processar Musk exatamente por ele não ter revelado a compra das ações até ao dia 24 de março, como legalmente exigido. O bilionário é acusado de adquirir mais ações a um preço inferior, de fazer “declarações falsas” e ainda de “omissões”.

Elon Musk processado por acionistas do Twitter. Revelou participação na empresa fora do período legal

A entrada e a (repentina) saída da administração do Twitter

Ainda antes da oferta para adquirir a totalidade de ações do Twitter, o anúncio da compra de uma participação da rede social tinha sido seguido por outro — Musk entra na administração da rede social com um mandato até 2024 que o proíbe de deter mais de 14,9% das ações da empresa.

Elon Musk entra na administração do Twitter e promete “melhorias significativas” na rede social

A participação de Elon Musk na rede social é inicialmente descrita como “passiva”, explica a BBC, já que não participa diretamente na tomada de decisões, mas Musk pode ser uma exceção à regra. Ainda assim, ao controlar cerca de 9% dos direitos de voto precisará de muito apoio de outros acionistas para que as propostas sejam apoiadas… ou então tomar o controlo da empresa.

Porém, considerando que Elon Musk tem mais de 81 milhões de seguidores e fez disparar as ações do Twitter no dia em que anuncia a sua participação, o bilionário tem poder mediático. Mas o patrão da Tesla já admitia querer mais, fazendo saber à SEC, logo quando tomou uma posição na empresa, que pretendia uma participação mais ativa no Twitter e mostrou-se entusiasmado pela entrada na administração da rede social.

Com a publicação de um tweet com uma imagem a fumar, o bilionário reage às notícias escrevendo que a próxima reunião do conselho será “acesa”. A fotografia partilhada por Musk é de 2018, quando o empresário fumou canábis durante uma entrevista de duas horas e meia no podcast “The Joe Rogan Experience”. Na altura, a polémica instalou-se e as ações da Tesla caíram mais de 6%.

Mais formalmente, também a rede social reage à entrada de Elon Musk na administração: “As nossas decisões políticas não são determinadas pelo conselho de administração nem pelos acionistas e não temos planos para reverter qualquer decisão. O Twitter está comprometido com a imparcialidade no desenvolvimento e aplicação das suas políticas e regras”, afirma o porta-voz do Twitter Adrian Zamora.

A entrada de Musk para a administração deixa os analistas de mercados divididos. Alexandra Cirone, professora assistente da Universidade de Cornell, nos EUA, acredita que o bilionário pode aproveitar a participação para “tentar influenciar as práticas do Twitter” relativamente à liberdade de expressão. O analista da CFRA Research Angelo Zino partilha do entusiasmo e garante que Musk pode ser uma mais valia para o Twitter porque é uma pessoa que “pressiona mudanças” e que se “recusa a ter um fracasso no currículo”.

Outros analistas parecem não estar tão positivos face à participação do bilionário na rede social. Meredith Benton, fundadora da empresa de consultoria de investimentos Whistle Stop Capital, garante em declarações ao Observador que a compra de ações do Twitter por parte de Elon Musk é “preocupante”.

“A participação de Elon Musk no Twitter é preocupante tendo em conta que um dos maiores desafios da rede social neste momento é a necessidade de apoiar políticas mais fortes relativamente ao assédio e à discriminação no local de trabalho”, frisa.

Com acusações de que a Tesla tem vindo a discriminar funcionários negros na sua fábrica em São Francisco, na Califórnia, Meredith Benton considera que Elon Musk “carece de preocupação relativamente a problemas sociais, como o racismo”.

As águas precisam de ser agitadas no Twitter. A questão é se Elon Musk é ou não a pessoa correta para alterar algumas políticas. E eu acho que é muito arriscado confiar nele”, garante.

A verdade é que a rápida junção de Elon Musk à administração poderia dar mais liberdade ao bilionário para propor mudanças e mostrar que os acionistas estão dispostos a, pelo menos, ouvir as suas ideias. Porém, o empresário decide surpreender mais uma vez e volta atrás, recusando juntar-se ao conselho de administração do Twitter.

O anúncio é feito pelo CEO da rede social Parag Agrawal que escreve que se trata de uma decisão do bilionário.”Penso que esta é a melhor coisa a fazer. Sempre valorizámos a contribuição dos nossos acionistas, e vamos fazê-lo sempre, estejam eles na nossa administração ou não. Elon (Musk) é o nosso maior acionista e vamos continuar disponíveis para os seus contributos.”

A recusa de Elon Musk em fazer parte da administração do Twitter gera uma reação por parte de Rumman Chowdhury, diretora da divisão ML Ethics, Transparency, and Accountability na rede social. “Incomodada” com a possibilidade de o bilionário se juntar à empresa devido aos seus seguidores, Rumman mostra-se aliviada pela decisão do empresário.

“O Twitter tem uma cultura de crítica construtiva hilariante e vi isso silenciar-se com os apoiantes [de Elon Musk] a atacarem os nossos trabalhadores”, lê-se no tweet de Rumman Chowdhury.

Elon Musk nada disse sobre a recusa em ir para a administração, mas um “gosto” numa publicação pode dar a entender os seus motivos. Um utilizador reage à notícia escrevendo no Twitter que foi dito ao bilionário para “não falar livremente”. O simples “gosto” do patrão da Tesla nesta mensagem pode explicar que concorda e que esta pode ser uma das razões pelas quais decide não entrar na administração da rede social.

Elon Musk coloca “gosto” no comentário de um utilizador do Twitter que explica porque é que o bilionário saiu da administração

Elon Musk não entra na administração e dias depois lança a oferta pública para comprar a totalidade do capital. O bilionário propõe-se adquirir 100% da rede social, o que não seria possível se estivesse no conselho com diretores e outros acionistas.

Afinal, o que quer Elon Musk mudar no Twitter?

Elon Musk promete “melhorias significativas” no Twitter quando anuncia a compra de ações e volta a falar em “mudanças” quando lança a oferta para adquirir a rede social. Ainda não é percetível a dimensão das alterações que o magnata quer fazer, mas já está a lutar — pelo menos publicamente — pela implementação de algumas das suas ideias.

Depois de anunciada a participação, o bilionário questiona os seguidores sobre um possível interesse num botão que permita editar tweets já partilhados. A funcionalidade tem sido muito pedida pelos utilizadores do Twitter, praticamente desde a criação da rede social.

A empresa tem-se recusado a implementar a funcionalidade, mas pode estar a mudar de ideias. A 5 de abril — no mesmo dia que Musk lança o inquérito –, Jay Sullivan, vice-presidente do departamento responsável pelo produto que chega aos consumidores do Twitter, admite que a empresa está a trabalhar no botão de editar desde o ano passado.

O Twitter começará a testar a funcionalidade no seu serviço de assinatura premium — Twitter Blue Labs —nos próximos meses para “aprender o que funciona, o que não funciona e o que é possível”. A rede social quer que a edição tenha um tempo limitado, ou seja, que o utilizador só consiga editar uma publicação alguns minutos após fazê-la. O Twitter alerta que o botão de edição demorará tempo para ser desenvolvido e ajustado antes de um possível lançamento oficial.

Elon Musk reage às novidades ao compartilhar um meme que liga a venda da sua primeira empresa de software, a Zip2, a uma série de dominós a cair até à inclusão pelo Twitter do botão de edição há muito esperado pelos utilizadores.

O Twitter pode ainda não ter oficialmente um botão de edição, mas com a nova função “Unmention” será possível que os utilizadores evitem ser notificados nos momentos em que deixam de participar numa troca de tweets com outras pessoas.

Na prática, será possível abandonar conversas na rede social, removendo menções da pessoa em publicações ou threads. Inicialmente, a nova funcionalidade estará disponível apenas na versão web, não se sabendo quando chegará aos utilizadores do Twitter em Android e iOS.

https://twitter.com/TwitterSafety/status/1512137703067996166?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1512137703067996166%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.noticiasaominuto.com%2Ftech%2F1971601%2Fsera-mais-facil-abandonar-conversas-no-twitter

Em meros dias, o Twitter anuncia uma nova funcionalidade e revela estar a testar o botão de edição. Todavia, Elon Musk parece querer bem mais. Para o bilionário a rede social deve ampliar a disponibilidade de contas verificadas — que possuem o símbolo de certo em azul e que deixam claro que aquela conta é oficial. O empresário acredita então que todos os utilizadores que têm o serviço de assinatura premium deveriam receber a verificação, que seria diferente da recebida por contas oficiais, nomeadamente de celebridades, e que seria cancelada se decidissem terminar a subscrição.

Os assinantes do Twitter Blue Labs deveriam também ter acesso à rede social sem anúncios, nem publicidade, entende o empresário que sugere que o pagamento das subscrições deve ser feito através da moeda virtual Dogecoin. Elon Musk questiona ainda os seguidores sobre uma possível remoção da letra “w” da palavra Twitter.

Numa sondagem partilhada no domingo, o patrão da Tesla pergunta se os utilizadores acham que a sede da empresa deve ser transformada num albergue para sem-abrigo, tendo em conta que, por causa da Covid-19, já quase ninguém aparece por lá para trabalhar presencialmente.

Musk sugeriu transformar sede do Twitter em albergue para sem-abrigo. Jeff Bezos respondeu-lhe que é boa ideia — tanto que a Amazon já o fez

Estas sugestões feitas no Twitter por Elon Musk no fim de semana de 9 e 10 de abril foram excluídas logo após ser tornado público que o bilionário, alegadamente por vontade própria, não iria integrar o conselho de administração da rede social.

Não é possível então perceber se foram sugestões reais ou meras brincadeiras do magnata. Porém, o The Washington Post revela que um emoji com a mão na boca — que pode simbolizar o silêncio — foi partilhado após as notícias de que Musk sairia da administração. Tal como todas as críticas recentes à rede social, também este tweet em particular foi apagado.

Tesla e SpaceX. As publicações de Musk afetam os seus negócios e mexem com o mercado?

Em mais de uma década no Twitter, os dois temas sobre os quais Elon Musk mais publica não são uma surpresa. O bilionário escreve principalmente sobre a Tesla e a SpaceX, refere uma análise feita pela Visual Capitalist. A forte presença do empresário na rede social serve também para despertar o interesse dos seguidores para as suas empresas. Porém, algumas publicações de Musk causam polémica e prejudicam os negócios.

Para assinalar o Dia das Mentiras, Musk coloca uma fotografia no Twitter onde aparece sentado ao lado do seu Tesla enquanto segura um cartaz com a palavra “falência”.

Apesar dos esforços para angariar dinheiro, incluindo uma intensa venda de ovos da Páscoa, estamos tristes por informar que a Tesla irá entrar em falência total. Tão falida que nem imaginam”, escreve o empresário na sequência de publicações que acompanha a imagem.

Só algumas horas depois é que Elon Musk decide contar a verdade. Tudo não passa de uma brincadeira, mas os investidores não acham a mesma graça, levando as ações da empresa a cair 6,33% para 249,28 dólares (cerca de 229,10 euros), segundo a revista Fortune.

Depois da brincadeira do Dia das Mentiras, um novo tweet de Elon Musk volta a afetar a Tesla. Após analistas e investidores apostarem na descida das ações da Tesla, o bilionário ameaça retirar a empresa da bolsa escrevendo no Twitter estar a “considerar” tornar a fabricante automóvel “privada [não cotada] a 420 dólares (por ação)” e dizendo já ter o financiamento assegurado.

A publicação gera polémica e leva a acusações sobre possíveis manipulações de mercado. As alegações levam Musk a utilizar o blog da Tesla para justificar que o tweet sobre uma possível saída da empresa da bolsa é feito com consciência das implicações, após muita ponderação e após uma garantia dada por um fundo da Arábia Saudita.

Umas semanas depois, numa nova publicação, o empresário anuncia que decide manter a Tesla uma empresa de capital aberto. O bilionário justifica que, apesar de haver “mais do que suficiente financiamento” para retirar a empresa de bolsa, alguns investidores preferiram que continuasse na bolsa.

É notável que a maioria dos acionistas da Tesla acredite que estamos melhor como uma empresa de capital aberto”, escreve no comunicado.

No seguimento da polémica, a SEC — comissão de valores mobiliários norte-americana — acusa Elon Musk de fraude e de enganar investidores pelos tweets em que escreve ter os recursos necessários para fechar o capital da fabricante automóvel. A comissão pede ainda que o multimilionário seja “proibido de exercer o cargo de administrador da Tesla”. Como resultado, Musk — a título próprio — e a Tesla são multados em 20 milhões de dólares cada e o empresário deixa a presidência do conselho de administração da empresa, apesar de manter a sua posição como CEO.

Reguladora americana pede destituição de Elon Musk por tweets falsos

Os erros do próprio Elon Musk em tweets sobre a Tesla afetam também as ações da empresa. Horas após uma publicação em que dizia que a produção anual chegaria a cerca de 500 mil veículos, o bilionário justifica-se explicando que pretendia escrever que a Tesla esperava fabricar carros a uma taxa anual de cerca de 500 mil até o final de 2019. Com a confusão, as ações da fabricante automóvel caíram 3,7%.

Atento às notícias que saem sobre os seus negócios, o patrão da Tesla reage a um artigo da CNN que contém uma citação de um diretor das Nações Unidas: “2% da riqueza de Musk pode ajudar a resolver a fome no mundo”.

No Twitter, Elon Musk é rápido a responder às alegações. “Se o WFP (World Food Programme) conseguir demonstrar aqui em resposta a este tweet como é que seis mil milhões de dólares iriam acabar com a fome no mundo, eu vendo algumas ações da Tesla já mesmo e avanço”, escreve.

O diretor do World Food Programme, David Beasley, entra na conversa e afirma que “seis mil milhões de dólares não vão resolver a fome no mundo, mas vão evitar instabilidade geopolítica e migrações em massa”. As declarações podem ter motivado Elon Musk a doar 5,7 mil milhões de dólares para a caridade entre 19 e 29 de novembro de 2021. O nome das instituições que receberam o dinheiro não é conhecido, refere a revista Fortune.

Quando utiliza o Twitter para questionar os seguidores se deve vender 10% das suas ações na Tesla e anuncia que vai respeitar a decisão dos inquiridos, o magnata volta a deixar o mundo em dúvida: é loucura ou uma pergunta real?

“Fala-se muito ultimamente que lucros não realizados são um meio de evitar impostos, então proponho vender 10% de minhas ações da Tesla”, escreve o bilionário. Com mais de três milhões de votos, 57,9% das pessoas que votaram apoiaram a ideia de Musk.

“Vendi as ações necessárias para cumprir a meta dos 10% a que me comprometi [no Twitter]”, sublinha o empresário sul-africano. Elon Musk mostra ter cumprido a promessa que fez aos seguidores, que reagem positivamente ao anúncio.

O senador norte-americano Bernie Sanders escreve no Twitter, uns dias após a venda da ações por parte de Elon Musk, que os multimilionários devem pagar mais impostos. “Temos que exigir que os extremamente ricos paguem a sua justa parte”, frisa. “Vou-me esquecendo que ainda está vivo” e “Quer que venda mais ações, Bernie? É só dizer” respondeu Elon Musk nos seus tweets.

O anúncio de que a Tesla investiu cerca de 1,5 mil milhões de euros na bitcoin e a oficialização de que a fabricante automóvel pretende aceitar pagamentos com essa criptomoeda também agitam a empresa.

A Tesla usa apenas software interno e de fonte aberta e opera diretamente a bitcoin”, anuncia no Twitter explicando que o pagamento com a criptomoeda ficaria disponível para fora dos EUA no final daquele ano.

Todavia, menos de um mês depois, a possibilidade de pagar com bitcoin é deixada de lado. A decisão é justificada por Musk com os impactos ambientais dos combustíveis fósseis usados na mineração da criptomoeda. E com isso a bitcoin caiu mais de 10% após o tweet, tendo as ações da Tesla também caído.

“Criptomoeda é uma boa ideia… mas isso não pode ter um grande custo para o meio ambiente”, escreve Elon Musk no Twitter. A frase dá alguma esperança aos utilizadores de moeda virtual, que acreditam que as criptomoedas vão voltar a ser aceites como forma de pagamento na Tesla.

A crença torna-se em realidade quando o bilionário revela que a Tesla aceita o pagamento de acessórios —como carregadores sem fio para telemóvel ou palas de proteção do sol — com Dogecoin, criptomoeda apoiada por Elon Musk. O anúncio aumenta em 15% o valor da Dogecoin, moeda digital criada em 2013. As compras feitas com a moeda virtual não podem ser devolvidas ou canceladas, ao contrário daquelas que são realizadas com moedas tradicionais.

O apoio de Elon Musk a esta criptomoeda é tornado público em fevereiro de 2021, quase um ano antes do anúncio de que poderia ser utilizada para comprar acessórios da Tesla. “Dogecoin é a criptomoeda do povo. Sem altos, sem baixos, apenas Doge”, disse. O anúncio do apoio à moeda virtual fez aumentar o preço da mesma em 50%, escreve o The Guardian.

A Dogecoin começa como uma piada e uma homenagem ao meme “doge”, a foto de um cão japonês da raça Shiba Inu que é acompanhada por frases que simulam o pensamento do animal. Quando o preço da moeda virtual aumenta após a publicidade de Musk, o bilionário publica um tweet com a legenda “de nada”. A fotografia colocada na publicação é inspirada no filme “O Rei Leão”, com Musk a segurar a mascote da criptomoeda.

Uma sondagem publicada pelo bilionário em fevereiro volta a colocar a criptomoeda nas bocas do mundo. Ao questionar os seguidores sobre a futura moeda da Terra, a opção “Dogecoin to the Moooonn” é a mais votada e faz a moeda virtual disparar 35%.

Num verdadeiro dois em um, Elon Musk junta no mesmo tweet a publicidade à Dogecoin e a promoção à SpaceX. O bilionário escreve que a sua empresa vai lançar um satélite para a Lua em 2022 sob o nome “Doge-1” — uma missão paga em Dogecoin, que leva a primeira criptomoeda e o primeiro meme para a Lua.

Durante alguns meses, Elon Musk deixa de escrever sobre o mercado de criptomoedas. Porém, regressa ao partilhar um meme alusivo ao filme Matrix, onde escreve “Dogecoin é dinheiro“, promovendo uma vez mais a moeda virtual.

As publicações do patrão da fabricante automóvel agitam, com as ações da Tesla a valorizarem e desvalorizarem consoante os tweets. “Os mercados movem-se o tempo todo, com base em nada”, desvaloriza Elon Musk em entrevista após receber o prémio de Personalidade do Ano da revista Time em 2021.

Na afirmação do empresário há alguma verdade. Os tweets sobre a SpaceX não recebem tanta reação. Mas Musk não se cansa de partilhar publicações sobre a agência espacial anunciando novidades ou celebrando os feitos da empresa. É no Twitter que anuncia que em 2024 a SpaceX levará pessoas para Marte, onde pousará naves espaciais “bem antes” de 2030.

É também num tweet que revela que a SpaceX está a iniciar um “programa para tirar CO2 da atmosfera e transformá-lo em combustível para foguete”.

Sem surpresas, é na rede social que Elon Musk oficializa o envio de terminais da Starlink para a Ucrânia, para manter o país em guerra conectado com o mundo. A Starlink é um projeto de desenvolvimento de uma constelação de satélites pela SpaceX, que permitem levar internet de alta velocidade para zonas mais remotas do planeta e que, por isso, permitem que a Ucrânia tenha serviço apesar da invasão russa.

Contudo, novas informações divulgadas pelo The Washington Post referem que os quase 3.670 terminais da Starlink enviados pela SpaceX à Ucrânia terão sido, afinal, parcialmente pagos pelos Estados Unidos da América e não apenas uma doação de Elon Musk.

Quase todos os dias Musk partilha tweets sobre a SpaceX, mostrando-se orgulhoso das conquistas da sua empresa. O dia 9 de abril não foi uma exceção. A primeira missão tripulada totalmente privada para a Estação Espacial Internacional com quatro pessoas a bordo foi lançada. A missão é promovida pela empresa norte-americana Axiom Space, que recorreu à SpaceX para transportar os quatro homens. Um feito que é assinalado pelo magnata com um retweet.

Ideias, piadas e polémicas. Os tweets de Musk que lançaram o caos

O Twitter de Elon Musk não tem filtros. O bilionário dá a sua opinião sobre os mais diversos temas, o que muitas vezes gera polémica. Com espaço também para a partilha de piadas e ideias, que tweets do bilionário lançaram o caos?

Quando 12 adolescentes e o seu treinador de futebol ficam presos numa gruta na Tailândia, Elon Musk não hesita em apresentar uma solução: é possível resgatar os jovens utilizando um minissubmarino. A tese do bilionário é sustentada com a partilha de vídeos no Twitter, onde mostra que a sua ideia tem potencial para resultar.

O minissubmarino não é utilizado, uma vez que os futebolistas e o treinador foram retirados da caverna por uma equipa de mergulhadores internacionais, incluindo Vernon Unsworth que classifica a ideia de Musk como uma “manobra publicitária”.

Em reação às acusações, o empresário refere-se ao mergulhador como “homem pedófilo”, num tweet posteriormente apagado. Vernon Unsworth coloca um processo em tribunal contra Elon Musk por difamação, alegando que se sentiu “humilhado” e “envergonhado”. A justiça considera que a publicação feita pelo patrão da Tesla não é difamatória e o bilionário vence o caso dizendo que a sua “fé na humanidade está restaurada”.

As publicações no Twitter colocam novamente Elon Musk em problemas quando decide pronunciar-se sobre a pandemia, afirmando que o pânico que a Covid-19 provoca é “idiota” e sugerindo depois que existe uma “grande diferença” entre morrer por causa do coronavírus ou com o coronavírus.

Cético relativamente à pandemia, o bilionário já esteve infetado com Covid-19 duas vezes. Porém, em mais uma contradição, Elon Musk compra 1.250 ventiladores na China e leva-os para os EUA para os doar a quem precisasse. “Se quiserem ter um ventilador instalado de graça, por favor digam-nos”, anuncia no Twitter.

Por vezes, os tweets de Elon Musk são complicados de decifrar até mesmo para os seus mais fiéis seguidores. A negação, com alguma ironia e humor, de um possível romance entre si e Bill Gates é um desses. Qual o motivo que leva à publicação? A oposição de Gates às opiniões do patrão da Tesla relativamente à Covid-19.

Entre críticas à pandemia e humor na negação de potenciais romances há ainda espaço para a política. Elon Musk disse apoiar Kanye West na corrida à presidência dos EUA, mas quatro dias depois admite estar errado e muda de opinião quando o músico assume ser antivacinas e antiaborto.

A fama que o Clubhouse ganha no início de 2021 gera muita atenção nas outras redes sociais. Elon Musk assume-se fã da plataforma de áudio e num dos seus tweets convida o Kremlin para uma conversa. Não se sabe o que o leva a fazer o convite, mas o porta-voz Dmitry Peskov admite pensar no assunto.

A reação após ter sido considerado o homem mais rico do mundo também é registada no Twitter. “Que estranho” escreve Elon Musk.

Os memes e as piadas fazem ainda parte dos tweets de Elon Musk. Em junho de 2021 partilha uma imagem com o cão que é símbolo da Dogecoin onde se lê “eu tenho que manter a minha paixão escondida do público ou serei socialmente ostracizado”. Na legenda da fotografia, o bilionário escreve, com sentido de humor, “encontrei esta imagem de mim em criança”.

“Pelo menos 50% dos meus tweets foram feitos num trono de porcelana”, brinca na mensagem deixada no Twitter ao revelar que metade das suas publicações são escritas na sanita. Alguns seguidores gostam da piada, mas outros criticam Elon Musk.

Na conta do patrão da Tesla e da SpaceX há também espaço para desafios. Num dos tweets mais caricatos que publicou até à data, Elon Musk desafia o Presidente da Rússia para um duelo. “Venho por este meio desafiar Vladimir Putin para um combate. Em jogo, a Ucrânia”. Numa publicação posterior, em que identifica a conta oficial do Kremlin, o bilionário insiste, recorrendo a uma pergunta: “Aceitam esta luta?”

Umas horas depois, Musk volta ao Twitter para publicar um meme com a imagem da personagem Pablo Escobar na série Narcos. Na legenda lê-se “Netflix à espera que a guerra acabe para fazer um filme sobre como um tipo ucraniano negro que se apaixona por um soldado russo transgénero”.

Para alguns utilizadores do Twitter, o meme é transfóbico. Um tweet anterior em que diz que os “pronomes são uma porcaria” (em tradução livre) leva as pessoas a considerarem que as publicações de Elon Musk relativamente à comunicadade transgénero não são inocentes.

Já algumas vezes, Elon Musk publica os tweets e acaba por apagá-los. É o que acontece quando decide comparar o primeiro-ministro canadiano a Adolf Hitler. O meme partilhado tinha uma foto do alemão com a legenda “parem de me comparar com Justin Trudeau. Eu tinha um orçamento”. A publicação é vista como uma forma de mostrar apoio aos camionistas do Canadá que estavam em protesto contra as restrições para combater a pandemia.

Elon Musk partilhou imagem que comparava Justin Trudeau a Hitler. Muitas críticas depois, apagou o tweet

Seguido por mais de 81 milhões de pessoas no Twitter, Elon Musk tem uma verdadeira legião de fãs. Contudo, nenhum parece ter ido tão longe quanto Jack Sweeney. O estudante de 19 anos, da Florida, partilha online a localização do jato privado do bilionário. Para apagar a conta do Twitter pediu 50 mil dólares (44 mil euros). Quando o valor foi recusado quis um estágio para parar de divulgar as coordenadas, mas o patrão da Tesla não deu resposta e bloqueou o jovem.

A conta do Twitter que partilha a localização do jato privado de Elon Musk

“O meu Twitter está completamente sem sentido neste momento”, escreve em 2019 o patrão da Tesla e da SpaceX. Mas, sem grandes mudanças, a conta do bilionário continua com publicações diárias sobre as suas empresas e temas da atualidade, e continua a surpreender os seus seguidores. Agora, surpreendeu, no entanto, fora da rede ao lançar-se na compra do próprio Twitter. Elon Musk continua a alimentar a sua legião de fãs, dentro e fora do Twitter, mas também continua a dar matéria para os seus detratores. Já o bilionário deverá seguir igual a ele próprio, sem filtros, polémico e crítico.