Índice
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Após uma série sobre a história e nomenclatura dos frutos e seus nomes…
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 1: Dos limões-pomposos às pêras-jacaré
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 2: Melões valencianos e pepinos-serpente
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 3: Maçãs de algodão e sicofantas
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 4: Ratos vegetais e bagas peludas
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 5: Cerejas-dos-lobos e maçãs-das-bruxas
…de uma série similar sobre legumes….
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 6: Abóboras-do-cambodja e narco-alfaces
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 7: Pêssegos-dos-lobos e maçãs-insanas
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 8: Nabos-suecos e erva-dos-pardais
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 9: Maçãs-do-diabo e pêras-da-terra
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 10: Feijões-de-porco e ervilhas-quadradas
…e de outra sobre especiarias e ervas aromáticas…
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 11: Grãos-do-paraíso e bafo-de-dragão
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 12: Ninhos de fénix a as ilhas do Maluco
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 13: O misterioso malabathrum e a especiaria mais cara do mundo
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 14: Oito cornos e a maratona do Funchal
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 15: Ninfas assediadas e dragõezinhos mongóis
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 16: A essência da vulgaridade e o mosto ardente
De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 17: O alimento-dos-deuses e a seda-das-fadas
…eis o segundo de dois textos sobre frutos secos (para o primeiro, ver De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 18: Nozes-de-são-filiberto e castanhas-dos-cavalos), entendidos aqui no sentido de frutos que à partida têm baixo teor de água (como nozes e castanhas), não na de frutos carnudos que foram sujeitos a um processo de secagem (como acontece com figos e uvas). Alguns frutos secos já foram tratados em artigos anteriores, por razões de afinidade, como é o caso da amêndoa, que é parente do pêssego e do damasco (ver De onde vêm os nomes do que comemos? Parte 3: Maçãs de algodão e sicofantas).
Noz-de-macadâmia
A noz-de-macadâmia é praticamente o único contributo relevante da flora da Oceânia para a dieta mundial – convém lembrar que, apesar do nome sugerir origem neo-zelandesa, o kiwi provém da China (ver De onde vêm os nomes do que comemos: Parte 4). As árvores que a produzem pertencem ao género Macadamia, sendo as espécies comercialmente relevantes a M. integrifolia, a M. ternifolia e a M. tetraphylla – existe uma quarta espécie, a M. jansenii, mas as suas nozes contêm glucósidos cianogénicos, que são venenosos (ver De onde vêm os nomes do que comemos: Parte 3).
O género Macadamia é nativo da Nova Gales do Sul e de Queensland, na Austrália, e as suas nozes faziam há muito parte da dieta dos aborígenes quando o botânico britânico Allan Cunningham deu com a planta em 1828 – foram precisos mais 30 anos para que o primeiro europeu se arriscasse a saborear uma (e disso deixasse registo, bem entendido) e outros tantos para surgir a primeira plantação comercial. Só lentamente o cultivo da Macadamia foi ganhando expressão, nomeadamente no Hawaii, o que fez os EUA liderarem a produção mundial da noz até 1997, ocasião em que foram suplantados pelo país de origem, que, por sua vez, foi destronado pela África do Sul em 2012.
As vendas de noz-de-macadâmia sofreram apreciável incremento após um incidente ridículo que ganhou desmedida atenção mediática: em Dezembro de 2014, no aeroporto John F. Kennedy, em Nova Iorque, o vice-presidente da companhia aérea Korean Air ficou tão agastado por uma hospedeira lhe ter servido nozes-de-macadâmia numa saqueta em vez de numa taça, como ele entendia apropriado a um passageiro de 1.ª classe, que teve um ataque de fúria, envolveu-se numa violenta altercação com o chefe de cabine e exigiu que este fosse expulso do avião, obrigando o avião a regressar ao terminal.
Não há indícios de que o incidente tenha resultado de substâncias alucinogénicas ou neurotóxicas contidas nas nozes-de-macadâmia, pelo que poderá continuar a consumi-las tão assiduamente quanto permita a sua carteira (os preços estão, em geral, acima da fasquia dos 40 euros/Kg). O que se desaconselha é que alimente o Piloto com elas, pois, tal como acontece com o cacau e seus derivados, a noz-de-macadâmia é tóxica para os canídeos.
O nome do género, atribuído em 1857 pelo botânico Ferdinand Mueller, ainda que soe a reino de fantasia, homenageia o australiano de origem escocesa John Macadam (1827-1865), químico, professor de medicina e político, sem relação de parentesco com John Loudon McAdam, engenheiro civil escocês que, c.1820, inventou o conceito de estrada de macadame (que não envolve atapetar o pavimento com nozes-de-macadâmia).
A designação da noz-de-macadâmia é consensual em quase todas as línguas, do húngaro ao japonês, do finlandês ao basco; mas recebe os nomes de “bauple”, “gyindl”, “jindilli” ou “boombera” nas línguas dos aborígenes australianos, que não foram ouvidos nem achados por Ferdinand Mueller. A língua inglesa admite designações alternativas pouco usadas, como “Queensland nut”, “Hawaii nut” (por este arquipélago ter sido pioneiro na produção comercial da noz), “maroochy nut” (em Queensland há um rio e uma cidade com o nome “Maroochy”, que significa, ao que consta, “cisne negro”), e “bauple nut” (da designação indígena “bauple”).
Pistácio
O pistácio é o fruto da Pistacia vera, uma prima de modesta dimensão do imponente cajueiro sul-americano, com origem nas zonas montanhosas entre a Turquia e o Afeganistão.
A sua presença na alimentação humana tem pelo menos 12.000 anos, como atesta um sítio arqueológico em Göbekli Tepe, na Turquia, e os indícios da mais antiga “domesticação” apontam para o actual Uzbequistão. Era conhecido do botânico Teofrasto (371-288 a.C.), que colocava a sua origem na Bactriana (Afeganistão) e Índia; Plínio o Velho informa que a Pistacia vera foi introduzida na Península Itálica por Lúcio Vitélio (Lucius Vitelius Veteris, c.7 a.C.-51 d.C.), no regresso da sua missão como procônsul romano na Síria (além de ter levado pistácios consigo, Lúcio Vitélio foi também responsável por exonerar do cargo de prefeito da Judeia um certo Pôncio Pilatos, em resultado de queixas apresentadas pelos samaritanos, que acusavam o prefeito de “uso desproporcionado de força”).
Pistácio” vem, através do latim “pistacchio” e do grego “pistákion”, da designação persa do fruto: “pistak”. É a mesma raiz que gerou o espanhol “pistacho”, o italiano “pistacchio”, o francês “pistache”, o inglês “pistachio”, o alemão “pistazie”, o checo “pistáciový”, o polaco “pistacja”, o finlandês “mantelipistaasi”, o romeno “fistic”, numa rara demonstração de unidade europeia. Em espanhol, o pistácio é também conhecido por “alfóncigo”, que provém do árabe hispânico “al-fustuq”, que, por sua vez, conduz à mesma raiz: o grego “pistákion”.
A Pistacia vera tem dois parentes próximos, comuns em Portugal, Espanha e boa parte da bacia mediterrânica: um é a Pistacia lentiscus (aroeira ou lentisco), que não produz frutos comestíveis e da qual se extrai uma resina aromática, o mástique, que tem aplicações como vedante e goma de mascar. A palavra, similar noutras línguas europeias, provém do grego “mastichein”, que significa “ranger os dentes” e deu origem ao latim “masticare” e ao português “mastigar”, bem como ao nome da planta em grego, “mastícha” ou “mastichodendro” (árvore do mástique). O principal centro de produção de mástique é a cidade de Masticochoria, na ilha de Chios. O mástique é, por esta razão, também conhecido pelo poético nome de “lágrimas de Chios”.
A outra parente é a Pistacia terebinthus (terebinto), de onde se extrai a terebintina e cujos frutos são usados, em Chipre, para confeccionar uma variedade local de pão; na Turquia, o fruto é torrado e usado para produzir uma bebida afim do café. No Próximo Oriente, a resina extraída do terebinto era adicionada ao vinho como conservante (uma prática que não beliscará a mundividência dos que crêem piamente que “dantes era tudo puro e saudável, agora a comida está cheia de químicos”).
O pistácio só foi introduzido na Califórnia em meados do século XIX e o seu cultivo em larga escala só começou na década de 1970, mas os EUA transformaram-se rapidamente num dos líderes da produção, ocupando hoje o 2.º posto do ranking, com ¼ do total mundial, sendo o 1.º lugar detido por um dos países-berço da Pistacia vera: o Irão, com 50% do total mundial. Seguem-se, a boa distância, China, Turquia e Síria.
Alfarroba
A alfarrobeira (Ceratonia siliqua) é uma árvore da família das leguminosas (Fabaceae) que, embora seja originária do Mediterrâneo Oriental e Próximo Oriente e esteja perfeitamente adaptada aos Verões quentes, secos e longos destas regiões, revela indícios de que se tratará de uma espécie tropical ou sub-tropical que ficou “encurralada” pelas alterações do clima e conseguiu adaptar-se a condições mais áridas. Entre essas características “fósseis” estão as raízes-contrafortes, necessárias para providenciar estabilidade nas florestas tropicais, em que as camadas inferiores de solo são pobres em nutrientes, pelo que o sistema radicular das árvores se desenvolve preferencialmente à superfície (e que na alfarrobeira se combinam com uma raiz principal profunda); e as raízes aéreas, originalmente “concebidas” para extrair água da atmosfera, o que só faz sentido em climas húmidos.
A alfarroba faz parte da dieta dos povos mediterrânicos há milénios e supõe-se que a desconcertante menção que a Bíblia faz ao facto de João Baptista ter passado um período no deserto em que se alimentou exclusivamente de “gafanhotos e mel”, resulta de um erro de tradução do hebraico para o grego: é provável que os “gafanhotos” (“hagavim”, em hebraico) fossem afinal “alfarrobas (“harubim”). No carrossel de “dietas miraculosas” em que andam deslumbrados os crédulos, ainda não surgiu uma “dieta detox João Baptista”, mas é provável que ganhe mais adeptos se tiver alfarrobas no lugar de gafanhotos.
Embora a alfarroba seja cultivada há 4000 anos e fosse conhecida de gregos e romanos, terão sido os árabes que mais fizeram por difundir o seu cultivo na bacia mediterrânica, e foi ao nome dado à vagem no árabe, “kharrub”, que surgiram, em torno do Mediterrâneo, o português “alfarroba”, o espanhol “algarroba”, o catalão “garrofa”, o italiano “carruba”, o siciliano “carrua”, o sardo “carruba” e o francês “carobe”.
Segundo o médico e botânico grego Dioscórides (c.40-90 d.C.), os gregos chamavam-lhe “xilokeratia”, ou seja “corno de madeira”, pela aparência lenhosa das suas vagens quando maduras, e “keration”, diminutivo de “corno” (“keras”), designação que foi adaptada para o nome científico “ceratonia” (a que foi somada “siliqua”, a palavra latina para “vagem”). A afinidade entre a vagem e um corno nem sempre é evidente – nem todas as alfarrobas são curvas – mas também o turco insiste nessa semelhança, ao designar a alfarroba por “keçiboynuzu” (“corno de cabra”). É possível que o árabe “kharrub” provenha do grego “keration”, que, por sua vez, poderá provir do acádio “kharuba” ou do aramaico “kharubbha”; por perto andam o hebraico “harubh” e o persa “kirnubh”.
A raiz árabe produziu o inglês “carob” e o alemão “karub”, mas a alfarroba é também conhecida em inglês como “algarrobo” (uma importação do espanhol), “St. John’s bread” (numa alusão à suposta dieta de João Baptista no deserto) e “locust” (idem, pois “locust” significa “gafanhoto”). A alusão ao “pão de João Baptista” impôs-se no holandês “johannesbroodboom”, no húngaro “szentjánoskenyérfa” e nas línguas escandinavas – no dinamarquês e norueguês “johannesbrød”, no sueco “johannesbröd” e no finlandês “johanneksenleipäppu”.
Por se crer que as sementes de alfarroba (10-15 em cada vagem) teriam peso homogéneo (não é verdade: variam tanto quanto as outras sementes), foram utilizadas, desde a Antiguidade Clássica, como unidades de medida para pesar pedras e metais preciosos – esta unidade de peso foi designada em árabe por “qirat” (a partir do nome árabe da semente da alfarroba), que deu origem ao italiano “carato” e, depois, a “carat” em inglês e francês, a “quilate” em português e espanhol e algo similar nas restantes línguas. Note-se que desde meados do século XIX que o quilate deixou de depender das sementes de alfarrobas e que desde 1907 está fixado em 0.2 gramas; quando a palavra é aplicada ao ouro ganha outro significado: o da percentagem de ouro na peça (24 quilates para ouro puro, 1 quilate para uma parte de ouro em 24).
A alfarroba tem múltiplas aplicações alimentares: pode ser consumida “ao natural”, mas nesta forma o seu gosto adstringente será do agrado de poucos; os ruminantes a quem é servida como forragem não se queixam, mas o elevado teor de taninos desaconselha que seja parte substancial da dieta. A alfarroba é também usada na região mediterrânica para a confecção de licores, como o gulepp tal-harrub de Malta.
Da polpa da alfarroba obtém-se farinha, com aplicação na alimentação humana e animal e da semente extrai-se, após remoção da casca (muito resistente) com ácido, uma goma com propriedades espessantes que tem múltiplas aplicações nas indústrias alimentar, cosmética e farmacêutica. É conhecida como “goma garrofín” em espanhol e “locust bean gum” em inglês, mas o mais provável é que se tenha deparado com ela no rótulo de numerosos produtos alimentares sob a designação “E410”.
A farinha de alfarroba pode também funcionar como sucedâneo de cacau, o que veio pôr termo a um cruel dilema que tirava o sono a tantos amigos dos animais: como proporcionar ao seu cão o requintado sabor do chocolate sem o expor à teobromina contida no cacau, que é tóxica para ele? O chocolate de alfarroba, que não contém teobromina, é usado para confeccionar petiscos para canídeos (uma das mais florescentes indústrias do planeta).
Por uma vez, Portugal, país com desempenhos bem mais modestos no volume de produção agrícola do que no futebol, no futsal ou no hóquei em patins, figura no topo do ranking de produtores, com ¼ do total mundial, seguida por Itália, Espanha, Marrocos e Turquia. Outros produtores relevantes são a Grécia, Chipre, Argélia, Líbano e Tunísia.
Outras “alfarrobas”
A alfarrobeira tem vários parentes na África Ocidental, nas árvores do género Parkia, cujo nome científico é uma homenagem a Mungo Park (1771-1806), um escocês que teve papel pioneiro na exploração daquela região. As Parkia produzem vagens comestíveis semelhantes a alfarrobas, sendo a espécie com maior relevo comercial a Parkia biglobosa, cujo habitat se estende do Senegal ao Sudão e cuja vagem, bem maior que a alfarroba, tem 30-40 cm de comprimento e contém uma trintena de sementes; a designação “biglobosa” resulta de as suas inflorescências terem a forma de globos e surgirem aos pares.
A árvore é conhecida em inglês por “African locust tree” (pela semelhança com a alfarrobeira), “two-ball nitta-tree” (pelas suas inflorescências duplas), em francês por “caroubier africain” ou “arbre à farine” (pela farinha obtida da vagem) e por uma miríade de nomes nas línguas das várias regiões africanas onde ocorre – a mais frequente é “néré” (da língua bambara).
Nas planícies norte-americanas surge outra “alfarrobeira”, o espinheiro-da-virgínia, Gleditsia triacanthos, que também produz uma vagem com polpa açucarada, o que justifica que em inglês seja conhecida por “honey locust”.
O francês dá ênfase à semelhança entre as sementes contidas nas suas vagens e a as favas e chama-lhe “févier d’Amérique”, enquanto o espanhol prefere realçar as suas aceradas defesas e chama-lhe “acacia de tres espinas”, o que tem eco no nome científico “triacanthos” (embora as variedades cultivadas sejam desprovidas de espinhos).
No Gran Chaco, as planícies entre a Argentina e o Uruguai, surge outra árvore similar, a Prosopis nigra, conhecida em espanhol por “algarrobo negro”, de cujas vagens de sabor adocicado se produz farinha e, após fermentação, um licor.
O género Prosopis inclui cerca de 40 espécies distribuídas pelas zonas semi-áridas do sul dos EUA e do norte do México, algumas das quais produzem vagens comestíveis, mas sem significado comercial. Estas Prosopis são designadas em inglês por “mesquite” e em espanhol por “mezquite”, mas os adeptos de teorias conspiracionistas que crêem que está em curso um complot para islamizar os EUA podem dormir descansados: “mesquite” e “mezquite” derivam do nahuatl “mizquitl”.
Pinhão
“Pinhão” é a designação genérica das sementes das pináceas, uma família amplamente distribuída pela América do Norte, Europa e Ásia. Há vários Pinus cujas sementes são comestíveis, mas em muitas espécies elas são demasiado pequenas para que a exploração comercial seja viável. Em Portugal e na Europa mediterrânica a espécie que tem maior relevância comercial é o pinheiro-manso ou Pinus pinea, enquanto na Ásia dominam o Pinus gerardiana (originário das zonas montanhosas do Afeganistão, Paquistão e noroeste da Índia) e o Pinus koraiensis (Coreia, nordeste da China, Mongólia, nordeste da Rússia e Japão).
O maior produtor de pinhão é a Coreia do Sul, que representa ¼ do total, seguida pela Rússia, China, Paquistão e Afeganistão.
A designação do pinhão nas línguas da Europa ocidental provém da designação latina do pinheiro, “pinus”, e é consensual: “piñón” em espanhol, “pinoli” em italiano, “pignon” em francês, “pine nut” em inglês, “pinienkern” em alemão, “pijnboompit” em holandês, “pinjekjerne” em norueguês.
O pinheiro-manso é designado por “pino piñonero” ou “pino manso” em espanhol, mas o francês prefere realçar a forma da sua copa, chamando-lhe “pin parasol” (também “pin pignon”), e a mesma perspectiva é adoptada pelas designações inglesas “parasol pine” e “umbrella pine” e pelo holandês “parasolden” (“den” = pinheiro). O inglês “Italian stone pine” associa-o a Itália e a solos pedregosos e o mesmo faz o alemão “Italienische steinkiefer”, língua em que também é conhecido por “Mittelmeer-kiefer”, ou seja “pinheiro mediterrânico”. Os italianos, claro, não reconhecem vínculo entre o seu país e o Pinus pinea e chamam-lhe “pino domestico”.
Outros pinhões
O Pinus gerardiana é designado em inglês por “chilgoza pine”, a partir do nome que lhe foi dado pelos persas, “čelguze”, de “čehel” (quarenta) + “guze” (noz), possivelmente numa alusão ao número de sementes contidas na sua pinha. O nome científico homenageia Patrick Gerard, um obscuro oficial do Exército Britânico destacado na Índia (a nomenclatura científica está pejada de homenagens a “homens brancos mortos”).
O género Pinus não está representado na flora nativa da América do Sul, sendo o seu lugar tomado pelas coníferas do género Araucaria. Uma espécie de Araucaria, a A. angustifolia, originária do sul do Brasil (nomeadamente no estado do Paraná), é relevante para a produção de pinhão – e mais relevante seria se a sua área de implantação não tivesse sido reduzida em 97% em resultado da desflorestação e não fosse hoje uma espécie ameaçada de extinção.
A Araucaria angustifolia é conhecida como “pinheiro-do-paraná”, “pinheiro-brasileiro” ou “curi” (a partir de “kur í”, nome pelo qual a designavam os índios guarani) e as outras línguas dão-lhe nomes análogos – a que o espanhol acrescenta “pino misionero”, por parte do que é hoje o estado do Paraná (bem como do estado de Rio Grande do Sul) ter, em tempos, feito parte da região das Misiones Orientales, sob controlo espanhol.
O nome do estado de Paraná provém da língua dos índios paraná e significa “rio” – o que quer dizer que o Rio Paraná, que constitui a fronteira ocidental do estado, é, do ponto de vista linguístico, uma redundância. O nome de Curitiba, a capital do estado do Paraná, é objecto de acesa discussão entre etimólogos, uns defendendo que provém do guarani, outros do tupi, mas no que estão de acordo é que a sua raiz significa “pinhal” ou “lugar dos pinheiros” (“pinheiros” no sentido de Araucaria angustifolia, entenda-se).
Bolota
“Bolota” é a designação genérica do fruto dos carvalhos (Quercus sp.), sendo a do sobreiro (Q. suber) e da azinheira (Q. ilex ou Q. rotundifolia) as mais relevantes na alimentação humana e animal na Península Ibérica.
Em tempos em que a vida era mais árdua – antes de ser possível comprar no supermercado biscoitos para cão com creme de chocolate de alfarroba – a farinha das bolotas desempenhou papel relevante na dieta humana na região mediterrânica, sobretudo quando as outras colheitas fracassavam, mas em geral a sua vocação era (como hoje) a alimentação dos suínos, que são capazes de digerir os taninos que são prejudiciais a outros tipos de gado.
Hoje, a bolota tem aplicação marginal na alimentação humana, exceptuando alguns curiosos, chefs inventivos e devotos da alimentação saudável (a bolota é rica nos amados ómega 3 e não tem o odiado glúten). Porém, como também os seres humanos são incapazes de lidar com os taninos, há que remover estes por sucessivas imersões em água.
Uma vez que os Quercus estão disseminados por toda a Europa desde tempos imemoriais, o nome do seu fruto varia consoante as regiões: “bolota” provém do árabe “ballūta”, tal como o espanhol “bellota”. O francês “gland” provém do nome da bolota em latim, “glans”, que também gerou o italiano “ghianda”, o catalão “gla”, o asturiano “llande”, o galego “landra” e o romeno “ghindra”. O inglês “acorn” vem da raiz germânica “akran”, que é também determinou a designação nas línguas escandinavas – “agern” em dinamarquês, “akarn” em islandês, etc.. O alemão “eichel” (como o holandês “eikel”) provém da palavra que designa o carvalho, “eiche”.