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Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (à direita) e primeiro-ministro António Costa visitaram a fábrica da AutoEuropa, em Palmela (Setúbal)
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Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (à direita) e primeiro-ministro António Costa visitaram a fábrica da AutoEuropa, em Palmela (Setúbal)

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (à direita) e primeiro-ministro António Costa visitaram a fábrica da AutoEuropa, em Palmela (Setúbal)

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Em equipa que ganha não se mexe. Costa lança, Marcelo finta Centeno, e golo: um ministro lesionado e uma recandidatura anunciada

Marcelo e Costa foram juntos à Autoeuropa. Coincidência? Não. A coreografia parecia ensaiada. Marcelo desautorizou Centeno e Costa, provavelmente agradecido, desfez tabu do apoio socialista.

Chegaram precisamente com quatro minutos de diferença, num compasso de espera habitual em eventos protocolares que envolvem ambas as equipas do Presidente da República e do primeiro-ministro. António Costa chegou na frente, às 11h55, entrou na tenda que estava reservada para aqueles cinco minutos e, findos quatro, chegou Marcelo Rebelo de Sousa. Eram 11h59. Tudo estava sincronizado. E tudo se manteve sincronizado durante as duas horas de visita à fábrica da Autoeuropa, em Palmela, que, segundo manda a “tradição”, se realiza ‘sempre’ a dois. Já tinha sido assim em 2016, voltou a ser agora. A próxima, sugere Costa, voltará a ser em 2021. Um na frente, o outro atrás, os dois lado a lado, quando convém.

A dança manteve-se sincronizada até ao fim. E eis que se deu a grande finale: António Costa avançou para o microfone, fez a declaração à imprensa que estava prevista e terminou a lançar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Belém, o grande tabu que Marcelo tem mantido e que agora pareceu desfazer-se pela voz do primeiro-ministro. O trabalho foi de “equipa”, como viria a sublinhar depois o Presidente da República. E em equipa que ganha não se mexe. Ou, melhor, equipa que ganha, não é equipa que se “quebra”, como sugeriu também o Presidente da República.

E tudo isto se passou ao mesmo tempo em que, no Parlamento, o ministro das Finanças acabava de ser ouvido sobre os empréstimos do Estado ao Novo Banco e implicava Costa na decisão. Tudo se passou quando, no Parlamento, era marcado para esta tarde um debate de atualidade sobre esse tema. O ‘desentendimento’ entre Costa e Centeno deixou a política nacional ao rubro. Marcelo, quanto a isso, foi “claríssimo”: Costa esteve bem e Centeno devia ter esperado. Estava feita a finta, a seguir viria o golo.

#CostaBem, #CentenoMal. “O que eu disse foi claríssimo”

O arrufo aconteceu na semana passada, quando Costa teve de admitir que não tinha sido informado de que o Estado iria transferir nova tranche de 850 milhões do Fundo de Resolução para o Novo Banco antes de se conhecer os resultados da auditoria à atuação daquele banco. Costa prometeu ao BE, no Parlamento, que não seriam feitos empréstimos sem que se conhecesse o resultado da auditoria, e, na véspera, o empréstimo já tinha sido feito. Descoordenação?

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No Parlamento, à mesma hora que Costa chegava à Autoeuropa, Centeno garantia que a injeção de 850 milhões no Novo Banco não tinha sido feita “à revelia” do primeiro-ministro. Ou seja, Costa sabia. “Não há nenhuma decisão que não passe pelo Governo e pelo Conselho de Ministros e não decidimos resoluções desastrosas na praia”, disse. Centeno admitia, ainda assim, que a ficha de apoio sobre o tema tinha chegado às mãos do primeiro-ministro com um par de horas de atraso, ou seja, não estaria na posse de António Costa quando este fez a referida intervenção no debate quinzenal em que afirmou que não haveria mais dinheiro para o Novo Banco sem o resultado da auditoria especial em curso.

O ministro das Finanças, contudo, não esclareceu se tinha comunicado ao primeiro-ministro que a injeção em causa — 850 milhões de empréstimo ao Fundo de Resolução para injetar 1035 milhões de euros no Novo Banco — não poderia ficar condicionada à conclusão e ao resultado da auditoria especial aos créditos que geram as perdas. Teria de ser feita antes, até ao dia 6 de maio,  último dia do prazo previsto no contrato, sob pena de o Estado entrar em incumprimento. Além de que, como explica o Observador, a conclusão da auditoria deveria ser terminada em maio, mas devido à pandemia da Covid-19, teria sido adiada.

Injeção no Novo Banco não foi feita “à revelia” de António Costa. Garantia de Centeno não convence oposição

Mas o Presidente da República escolheu claramente um lado e não perdoou. Apesar de saber que “o Estado português cumpre o que tem de cumprir, e se assumiu o compromisso tinha de o cumprir”, Marcelo Rebelo de Sousa deixou duras alfinetadas ao ministro das Finanças. “Havendo, e bem, uma auditoria cobrindo o período de 2000 até 2018, faz todo o sentido o que disse o primeiro-ministro no Parlamento: é politicamente diferente o Estado assumir responsabilidades dias antes de se conhecer as conclusões da auditoria, ou ela ser concluída dias antes de o Estado assumir responsabilidades”, disse aos jornalistas. Ou seja, Costa bem, Centeno mal?

“Estava anunciado para maio o processo conclusivo da auditoria. O senhor primeiro-ministro esteve muito bem no Parlamento quando disse que fazia sentido que o Estado cumprisse as suas responsabilidades, mas naturalmente se conhecesse previamente a conclusão da auditoria”, continuou. Ou seja, significa que Costa esteve bem, e Centeno esteve mal? “Significa aquilo que eu disse. Havia uma auditoria que ficaria concluída em maio deste ano. Para os portugueses não é indiferente cumprir compromissos com o conhecimento exato do que se passou num determinado processo, ou cumprir compromissos e, mais tarde, vir a saber como foi esse processo”. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. “É politicamente diferente”, insistiu.

Caso Novo Banco. Marcelo elogia Costa e ignora Centeno: “PM esteve muito bem no Parlamento”

O Presidente da República ainda seria novamente questionado sobre o tema, mas a música tinha acabado. “Não tenho mais nada a dizer, o que eu disse foi claríssimo”. Costa aproveitou este apoio e limitou-se a colocar um ponto final: “Depois do Presidente da República, o primeiro-ministro nada tem a acrescentar”. É assim não é? Seria, em temos normais. Mas faltava um último passo de dança. Como António Costa tinha escapado às perguntas dos jornalistas, e ao tema Centeno/Novo Banco, Marcelo deu um passo atrás e Costa voltou a dar um passo em frente para o microfone. “Depois do Presidente da República, o primeiro-ministro nada tem a acrescentar, a não ser acrescentar que, sendo eu um otimista, não tenho a menor dúvida do que se seguirá no próximo ano”. Era o passo final da coreografia. Novo Banco fintado, eis a recandidatura.

Costa lança segundo mandato de Costa (e apoio do PS?)

A jogada parecia ensaiada. “Estabeleceu-se uma nova tradição de que o primeiro-ministro e o Presidente da República vêm, em conjunto, à Autoeuropa. Foi assim em 2016, no primeiro ano de mandato do Presidente da República, foi assim também no último ano do atual mandato”, começou por dizer António Costa, abrindo o tapete para o que aí vinha. E o que aí vinha era um convite dos trabalhadores da Autoeuropa para os dois voltarem lá, numa próxima data, e almoçarem junto dos trabalhadores, no refeitório da fábrica.

Convite aceite. E Costa até já tinha uma data na ponta da língua para esse almoço: “Se viemos cá no primeiro ano do atual mandato do Presidente da República, e agora voltamos cá no último ano do mandato, a terceira data é óbvia: é no primeiro ano do próximo mandato do Presidente da República, e faço-me desde já convidado para acompanhar o senhor Presidente da República para aqui virmos para o ano partilhar essa refeição“. “É que o Presidente da República já experimentou o pastel de bacalhau mas eu fiquei com vontade de experimentar a refeição completa”.

E foi assim, depois de um test drive aos carros da Volkswagen, cada um no seu, que António Costa não só lançou a recandidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa como, pelo caminho, não deixou muitas dúvidas de que o PS irá apoiar essa mesma recandidatura. 

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Um espírito de equipa que se formou e que “nada vai quebrar”. Marcelo diz ‘sim’

A dança prosseguiu, sempre sincronizada. Era a vez de Marcelo Rebelo de Sousa entrar em palco. Costa recuou, Marcelo aproximou-se do microfone e fez a sua parte: faltava só marcar o golo. “Recordava o primeiro-ministro que em 2016 estávamos a sair de uma crise longa e difícil na economia, agora vamos continuar a confiar nos portugueses e vamos ultrapassar esta pandemia e os efeitos económicos e sociais este anos e nos anos próximos. E eu cá estarei, cá estaremos todos — com o espírito de equipa que se formou e que nada vai quebrar. Cá estaremos todos este anos e nos próximos anos a construir um Portugal melhor”, disse.

“Nos próximos anos eu cá estarei”. Ouça o que disse Marcelo depois do desafio de Costa

A música continuava a bater no compasso certo, ninguém saía do tom. Marcelo ainda responderia a perguntas dos jornalistas, às quais o primeiro-ministro tinha escapado para deixar entrar o Presidente. Dizer que “vai estar cá” no próximo ano, significa que se vai recandidatar à Presidência? “Estamos cá em qualquer caso, mas não nos podemos substituir à vontade do povo português”, disse, sublinhando que “a vontade de todos nós é estarmos cá e fazermos o que temos de fazer para que o exemplo da Autoreupa se mantenha, seja em 2021, 2022, 2023 e por aí a diante”.

Esta parte já não estava prevista e, por isso, Marcelo Rebelo de Sousa improvisou uns passos de dança. “Não queria aprofundar essa matéria”, começou por dizer. “É prematuro falar nessa matéria”, diria ainda em resposta aos jornalistas. Mas depois acertou novamente o passo com o primeiro-ministro, afirmando que existe “a vontade” dos dois de continuarem a “trabalhar em conjunto”. “O que interessa é a vontade de trabalharmos em conjunto, e este exemplo da vinda à Autoeuropa é um de muitos exemplos de todos os dias desse trabalho em conjunto”, disse. Costa foi eleito para mais quatro anos de mandato, por isso é seguro de que “cá estará”. Marcelo precisa de ser eleito, em janeiro, para mais cinco. Só aí é que poderão prosseguir o “trabalho de equipa”.

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