Em 2010 Ricardo Salgado era o homem mais poderoso de Portugal. Sem nunca ter chegado ao topo dos mais ricos, onde estiveram outros membros da família Espírito Santo, o banqueiro liderou a primeira lista elaborada pelo Jornal de Negócios que procurava ir além da fortuna para chegar ao poder. Salgado era a cabeça de um grupo com mais de 200 empresas que empregava 25 mil pessoas, com atividades concentradas na Europa, África e América Latina
Os negócios do Grupo Espírito Santo estendiam-se desde a área financeira até ao turismo, saúde, imobiliário, construção, autoestradas, agricultura e segurança. A força económica do GES passava ainda pela participação em grandes empresas, com destaque para a Portugal Telecom, mas também na EDP e Semapa, e a por uma rede de relações construída ao longo de duas décadas com a ajuda de quadros que assumiram papéis chave em governos e na administração de grandes companhias.
O grupo incluía marcas emblemáticas como o BES, Tranquilidade, Tivoli, Comporta, Hospital da Luz, mas também negócios obscuros como a intermediação de contratos de defesa (os famosos submarinos) e investimentos exóticos como uma empresa de pesquisa petrolífera no Brasil e 135 mil hectares de fazendas no Paraguai onde se produzem cereais, se cria gado e se vende sémen de boi para reprodução.
Maio de 2010. Quando o mundo mudou
O pior da recessão mundial parecia estar a passar, quando rebenta na Europa a crise das dívidas da zona euro. As pequenas economias periféricas são o elo mais fraco e em maio a situação da Grécia fica fora de controlo. Com o primeiro resgate em marcha, José Sócrates, então primeiro-ministro justificava assim as medidas de austeridade e o aumento de impostos do PEC II (Programa de Estabilidade e Crescimento).
“Há três meses, pensávamos que não precisávamos de o fazer – seria até desejável não o fazer – mas depois do que aconteceu na Europa é preciso. (…) Esse PEC (o I) foi muito bem recebido no mundo. Mas a verdade é que esse mundo mudou, e de que forma, nos últimos 15 dias. Ora nós temos que responder a isso. Temos de fazer mais do que nos propusemos fazer”.
A associação entre Ricardo Salgado a José Sócrates não surge por acaso. O banqueiro foi um dos maiores apoiantes da política de investimento público do Governo PS e empresas ligadas ao BES, como a PT, estiveram na linha da frente de muitos projetos. Mas se o ex-primeiro-ministro demorou a perceber que o mundo mudara, os responsáveis do BES e do GES parecem ter demorado ainda mais a reajustar à nova realidade. O banco era o principal financiador e cliente das empresas do grupo. E com o arrefecimento dos mercados, o GES dependia cada vez mais do BES.
O ano de 2010 marcou uma viragem nos mercados e os investidores internacionais começaram a desconfiar das economias mais frágeis, para descobrir quem seria a próxima Grécia. Portugal, embalado pela teimosia do primeiro-ministro, resistia, embora pagando cada vez mais para se financiar. O fenómeno contagiava rapidamente o setor financeiro português que vivia a sua pior crise de liquidez.
Outubro de 2010. De joelhos
O economista António Borges, já indicado para liderar o departamento europeu do FMI, anunciava que Portugal estava completamente fora dos mercados e do financiamento. “O país “está de joelhos perante o BCE, esperando que eles não alterem a política para irmos vivendo”, dizia numa referência à dependência da banca nacional do financiamento do Banco Central Europeu.
O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, definiu involuntariamente o limite que empurraria Portugal para o resgate. “Com taxas de juro que se aproximem dos sete por cento entramos num terreno onde essa alternativa (ajuda externa) começa a colocar-se”, disse em entrevista ao Expresso. A Irlanda ainda cai primeiro e Portugal, com um governo minoritário vai aguentando a pressão, de PEC em PEC até ao programa final. A banca portuguesa tornou-se, nesta fase, o principal comprador de dívida pública, face à ausência dos investidores internacionais.
Dezembro de 2010. Venda da ESCOM, primeiro sinal
Surgem as primeiras notícias que dão conta da venda Escom, empresa do GES com múltiplos negócios em Angola, à Sonangol. Esta operação foi desde o início um mistério. O tema nunca foi abordado nos relatórios do BES, que não era acionista direto, apesar de a venda servir para reforçar os rácios do banco, porque a empresa angolana era uma grande devedora. Hoje sabe-se que houve um acordo de princípio para a venda da Escom por 700 milhões de euros.
A transação, que envolvia Álvaro Sobrinho, levou ao pagamento de um sinal de 85 milhões de euros, mas nunca se concretizou porque Angola contestou a avaliação da empresa. A justiça portuguesa está a investigar o negócio para descobrir o rasto do sinal pago e de respetivas comissões, entre vários offshores e contas pessoais de Ricardo Salgado.
Abril de 2011. A ajuda e a venda do Bradesco
Ricardo Salgado foi um dos banqueiros a mudar de opinião sobre a ajuda externa. Numa primeira fase, todos os presidentes de bancos recusaram a ideia, invocando a fuga de capitais que aconteceu na Grécia, Mas após a demissão do Governo e o ciclo infernal de descidas de rating, que da República alastrou aos bancos, mudaram o discurso. Em privado, e em público, numa série de entrevistas à TVI.
No mês em que Portugal pede ajuda externa, o BES anuncia a venda da posição no banco brasileiro Bradesco, de que é parceiro. “Foi com tristeza que assinei a venda do Bradesco”. Salgado explica que prefere vender o banco brasileiro para poder manter participações em empresas portuguesas como a EDP e a PT.
Junho de 2011. Sobrinho investigado
Vêm a público as investigações da PJ ao então presidente do BESA. Álvaro Sobrinho é suspeito de branqueamento de capitais num caso que começou em Luanda. Os investigadores suspeitam de fraude na transferência de dezenas de milhões de euros do Banco Nacional de Angola através do BES Londres. Sobrinho é constituído arguido e algum do seu património em Portugal chega a ser congelado. A investigação não foi conclusiva e os bens de Sobrinho são mais tarde libertados.
Agosto de 2011. Era Passos: fora da privatização
Arranca o processo de venda da EDP, a primeira e mais importante privatização do programa de ajustamento. O Governo escolhe a Perella Weinberg para assessorar o Estado nas operações da energia. A opção é contestada em público e privado, pelo presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI), José Maria Ricciardi. As queixas rendem ao BESI a coordenação das próximas privatizações, TAP e ANA, mas as escutas a conversas de Ricciardi apanham revelações comprometedoras que levam à abertura de um inquérito para averiguar suspeitas de manipulação de preços nas privatizações da REN e EDP.
Abril de 2012. Aumento de capital, ato 1
A Espírito Santo Financial Group (ESGF), a holding financeira do GES que detém as participações no BES e na Tranquilidade realiza um aumento de capital de 500 milhões de euros.
Maio de 2012. Ato 2 e… Monte Branco
O Banco Espírito Santo (BES) concretiza um reforço do capital de mil milhões de euros. É a única operação feita por um banco português que é totalmente assegurada com capitais privados durante a intervenção da troika. A família Espírito Santo consegue levantar fundos para manter a sua posição, mas o Crédit Agricole limita a sua exposição ao banco português. Investe no BES, mas em troca do encaixe da venda da sua participação na seguradora Tranquilidade à ESFG.
A Operação Monte Branco chega aos jornais. A rede de branqueamento de capitais com centro na empresa suíça Akoya foi detetada a partir das investigações aos casos Furacão e BPN. Os sócios Micael Canals e Nikolas Figueiredo, bem como o intermediário Francisco Canas, são detidos. O nome de Ricardo Salgado surge na lista de clientes. Álvaro Sobrinho também é falado, e mais tarde sabe-se que o ainda presidente do BESA é acionista da Akoya.
Junho de 2012. Escapar ao olho do BCE
Depois de terem passado quase um ano a recusar a necessidade de recorrerem ao fundo de recapitalização de 12 mil milhões de euros, três dos maiores bancos portugueses anunciam a realização de aumentos de capital. Os privados BPI e BCP vão recorrer à linha da troika.
Para os banqueiros, a imposição da linha de apoio à banca, equivale a uma self fulfling prophecy (uma profecia que se cumpre a si própria). As exigências acrescidas de rácios, a política restritiva e a obrigação de provisionar perdas na dívida pública, que são um resultado direto da aplicação do programa, não deixam alternativas à banca.
Para além dos juros altos e da intervenção na gestão, a ajuda pública cobra outro preço alto: a negociação de planos de reestruturação com Bruxelas que podem implicar venda de ativos e negócios, para além de uma vigilância reforçada aos balanços e operações. Apesar de se submeter aos testes de stress, (é a ESFG que vai a exame), o BES escapou a esta devassa, um feito elogiado na altura, mas que hoje é olhado com a maior desconfiança.
Novembro de 2012. Amílcar Pires com o BESA
Álvaro Sobrinho deixa a presidência executiva do BESA a fica como chairman do banco angolano que passa ser acompanhado diretamente pelo braço direito de Ricardo Salgado, o CFO (administrador financeiro) do BES, Amílcar Morais Pires. O afastamento do matemático angolano, que foi uma escolha pessoal de Salgado, não é no entanto uma transição tranquila. Há algum tempo, que o presidente do BES era pressionado para afastar Sobrinho, devido a suspeitas de descontrolo na gestão e concessão de créditos do BESA.
Dezembro de 2012. Perdão fiscal a Salgado
Na qualidade de presidente não executivo Álvaro Sobrinho preside à inauguração da sede do BESA em Luanda, cerimónia para a qual são convidados jornalistas portugueses. A ausência de Ricardo Salgado é notada.
Por esta altura, a investigação do Monte Branco já tinha chegado ao presidente do BES que aproveita o perdão fiscal para corrigir a situação e pagar impostos por rendimentos no estrangeiro. As explicações são dadas ao Procurador por Ricardo Salgado que vai voluntariamente ao DIAP.
Janeiro de 2013. Justiça iliba Salgado
Em janeiro o jornal i noticia três correções fiscais feitas pelo presidente do BES, relativas a rendimentos fora de Portugal. Dias depois é tornado público um despacho do procurador Rosário Teixeira que iliba Ricardo Salgado de suspeitas de envolvimento na operação Monte Branco.
Fevereiro de 2013. Banco de Portugal também
Perante as notícias insistentes, sobretudo dos jornais Sol e i, de que o Banco de Portugal estaria a questionar Salgado no quadro da reavaliação da sua idoneidade, o Banco de Portugal segue o exemplo do procurador e faz um comunicado inédito, com data de 5 de fevereiro em que afasta qualquer procedimento sem nunca nomear a instituição.
“Tendo em conta a repercussão pública das referidas notícias, o Banco de Portugal entende, neste caso, dever comunicar que as informações disponíveis, recolhidas e recebidas no quadro dos procedimentos aplicáveis, não constituem fundamento, à luz da legislação em vigor, para a abertura de processos de reavaliação de idoneidade em relação aos casos referidos na comunicação social. “
Agosto de 2013. A guerra pela Semapa com o GES a meio
O Expresso traz à superfície uma guerra subterrânea que se travava já nos tribunais entre Pedro Queiroz Pereira (PQP) e a irmã Maude pelo controlo da Semapa. O GES e Salgado estão do lado da irmã e Queiroz Pereira desconfia que este alinhamento esconde a vontade de lhe roubar o controlo da Semapa. A guerra vai ser notícia nos próximos meses e vai envolver a intervenção de intermediários como Eduardo Catroga e Fernando Ulrich.
Setembro de 2013. Onde para o dinheiro?
São reveladas informações comprometedoras sobre a situação financeira do Grupo Espírito Santo. Dois fundos geridos pela ESAF, a ES Liquidez e ES Rendimentos, tinham aplicado dois a três mil milhões do dinheiro dos seus clientes em dívida das empresas GES, sobretudo na Espírito Santo Internacional (ESI).
Em alguns casos a exposição atinge 80% dos ativos e uma nova diretiva comunitária obriga a reduzir esse valor para 20%. A composição das carteiras é pública e quem consultar as contas dos fundos vê reservas e ênfases dos auditores. A situação não é nova, embora se tenha agravado nos meses anteriores, mas a emergência pública da história coincide com a guerra pela Semapa. PQP é acionista da ESI e exige acesso a informação.
O GES está numa corrida contra o tempo, tem pouco tempo para refinanciar uma dívida de três mil milhões. E agora que já são públicas as dificuldades em obter fundos, o grupo usa o único recurso disponível: o banco e os seus clientes. A informação de que a dívida das holdings do GES está a ser comercializada nos balcões do BES é noticiada no final de setembro. A CMVM sabe, mas o seu presidente explicará mais tarde (julho de 2014) que tinha as mãos atadas: a lei estava a ser cumprida, a colocação privada foi feita em grupos até 149 investidores, o que dispensa a aprovação do regulador.
Ainda em setembro começam a chegar ao Banco de Portugal as primeiras informações sobre as auditorias às empresas não financeiras do GES com sede no Luxemburgo. A iniciativa é uma consequência do exame às contas e viabilidade dos grupos que são os maiores devedores da banca. As holdings do GES estão na lista negra. Começa a emergir a dívida oculta não reconhecida nas contas da ESI. Mas ainda ninguém advinha a verdadeira dimensão do buraco.
Outubro de 2013. Um enorme buraco em Angola
Pedro Queiroz Pereira é chamado ao Banco de Portugal para mostrar documentação sobre o GES, quando o regulador já tinha informação grave sobre o universo empresarial que se sustenta no BES. E já há problemas a rebentar em outro lado.
São identificados créditos de 5700 milhões no BESA (Banco Espírito Santo Angola) concedidos sem garantia sob a tutela do ainda chairman do banco, Álvaro Sobrinho. Para sustentar a concessão de crédito da sua participada, e apesar de não ter acesso ao sistema informático da instituição angolana, o BES emprestou 3,3 mil milhões de euros ao BESA.
Salgado vai a Angola e após um encontro com José Eduardo dos Santos consegue uma garantia bancária pessoal do ministro das Finanças, no valor de 4200 milhões de euros que cobre o risco de incumprimento dos clientes do banco angolano. Dias depois, Álvaro Sobrinho abandona as funções de chairman no BESA.
Sem esse o aval de Luanda, o BES teria de reconhecer as imparidades no BESA e iria ao tapete. Sabe-se mais tarde que o Banco de Portugal questionou a validade desta garantia, mas o aval salva as contas anuais do banco que apesar de más não comprometem os rácios exigidos pela supervisão.
Novembro de 2013. Cai o tabu: Salgado desafiado
Ricardo Salgado não precisa de mais problemas, mas sim de soluções. O banqueiro está sob forte pressão, por causa da fragilidade financeira do grupo e das investigações judiciais, quando fecha acordo com PQP no início do mês. Convence a Maude Queiroz Pereira a vender a sua posição na Semapa ao irmão por um valor muito inferior ao que esta exigia, O GES ainda tem de compensar em parte essa perda, soube-se mais tarde na reprodução feita pelo i da reunião do conselho geral do GES que tratou o tema.
Mas o alívio dura pouco. Dias depois, a PJ faz buscas na sede do BES. Toda a imprensa noticia. No final do dia, o conselho superior do grupo reúne-se numa reunião explosiva. José Maria Ricciardi desafia a liderança de Salgado. Mas Salgado dá-lhes a volta, pede um voto de confiança e convence a família que é o único com capacidade de resolver os graves problemas do grupo.
A notícia desta reunião, publicada no dia seguinte pelo Jornal de Negócios, relata Salgado como o resistente a um golpe de Estado movido pelo primo Ricciardi. A precária situação do grupo é disfarçada por uma guerra de poder num banco. É a história que os jornais preferem porque recorda o conflito no BCP e a destruição de valor que se seguiu. Mas Salgado não é Jardim Gonçalves e Ricciardi nada tem a ver com Paulo Teixeira Pinto. O BES não é o BCP e os tempos são de crise e não de prosperidade.
Depois de um comunicado em que Ricciardi revela não ter dado confiança ao primo, seguem-se passos de conciliação, pelo menos na esfera pública. O presidente do BESI aceita a liderança de Salgado que não o afasta da corrida à sua sucessão. Ricciardi começa a distanciar-se do primo e das irregularidades que já são evidentes para os mais próximos.
O fim do reinado absoluto de Salgado está à vista. O tema que até então tinha estado apenas nas capas dos jornais Sol e i, associados a um inimigo do presidente do BES, Álvaro Sobrinho, deixa de ser um tabu. Mas Salgado quer deixar a casa arrumada antes de sair, o que implica escolher o seu sucessor. Tal como Jardim Gonçalves no BCP, o presidente do BES demorou a perceber que não era a solução, mas o maior problema.
Dezembro de 2013. Banco de Portugal pressiona
O Banco de Portugal começa a identificar a real dimensão do buraco na ESI e exige medidas urgentes de saneamento e a proteção do negócio financeiro controlado a partir da ESFG. Para o banco central, são também precisas mudanças de fundo nas pessoas que estão no topo do grupo, que implica afastar a prazo a família que é a maior acionista.
O BES já vendeu a participação na EDP. O GES tem um plano de venda de ativos que arranca com a dispersão em bolsa da ES Saúde. São dados passos para tornar a arquitetura do GES mais transparente para potenciais investidores. O objetivo é atrair capitais à Rioforte que passa a concentrar os negócios. É contratado José Honório, gestor independente e com boa reputação, que tinha saído da Semapa em confronto com Pedro Queiroz Pereira.
Mas ao mesmo tempo que o Banco de Portugal tenta separar as águas entre o grupo e o BES (ring fencing), a gestão do banco trabalha no sentido contrário, empurrando a dívida das holdings para os clientes de retalho e institucionais. Dentro e fora de Portugal é usada a rede cirúrgica de pequenos bancos em países estratégicos para captar capital e com pouca regulação.
As gravações divulgadas recentemente pelo jornal i das reuniões do conselho geral do GES revelam a desorientação da família. Na resposta às perguntas, o presidente do BES que começa a desvendar a dimensão do buraco. Mas, por agora, o prestígio de Salgado ainda funciona dentro e fora do grupo e o nome Espírito Santo ainda é sinónimo de solidez, para a maioria.
Janeiro de 2014. Auditoria destapa buraco no GES
O Banco de Portugal intensifica as instruções e a pressão. O banco central fica a saber no final do mês os resultados da auditoria da KPMG que apontam para uma situação financeira líquida negativa de 2400 milhões de euros na ESI. Há ainda uma dívida superior a cinco mil milhões de euros.
Fevereiro de 2014. O último sucesso
Apesar da fraca procura do público e colaboradores, a Espírito Santo Saúde estreia-se em bolsa com a ajuda dos investidores institucionais. Questionada sobre a ausência de Ricardo Salgado, presidente do BES, de José Maria Ricciardi, do BESI, na sessão de resultados, a presidente da ES Saúde, Isabel Vaz respondeu: “Penso que estão todos a trabalhar. O grupo está em grande atividade, foi anunciada uma grande reestruturação”.
O IPO da ES Saúde foi o último êxito do GES. Dias depois o BES anuncia os seus piores resultados anuais, com perdas superiores a 500 milhões de euros. Mas na apresentação, Salgado está confiante quando comenta com ironia as declarações feitas pelo primo Ricardo Abecassis dias antes no Brasil. “O dr. Ricardo Abecassis é um excelente banqueiro mas, no Brasil, estamos em período de férias, entre o Natal e o Carnaval, e ele anda um bocadinho distraído.” “O capital [do BES] é robusto, mas não podemos cantar glória e não posso dizer que não vamos ter um aumento de capital pela frente”. Até aproveita para enviar “um beijinho” ao primo.
Março de 2014. Uma garantia?
A Espírito Santo Financial Group anuncia uma provisão extraordinária de 700 milhões de euros para cobrir riscos potenciais da exposição ao setor não financeiro do GES. É a resposta às exigências crescentes dos reguladores. A mensagem que passa é a de que a provisão ao ser feita na ESGF poupa o BES.
A garantia a favor do BES e dos seus clientes tem como colateral a Tranquilidade, cuja venda seria acionada em caso de defualt no GES. Só mais tarde se percebeu que a seguradora não valia nem metade do montante pelo qual tinha de responder. Em parte porque os seus ativos foram contaminados com dívida do grupo.
Abril de 2014. A irmã PT dá a mão
Enquanto a PT está focada nos últimos passos da fusão com a Oi, os gestores do GES estão mais preocupados em atrair investidores para refinanciar a gigantesca dívida de curto prazo do grupo. E a tesouraria da PT é uma fonte de recursos preciosa. Sob pressão de Salgado e Morais Pires, a PT renova aplicações milionárias em papel comercial na Rioforte. Henrique Granadeiro viria a assumir ter dado instruções ao gestor financeiro da operadora para investir.
Depois de identificada a situação insustentável na ESI, a holding não financeira do GES passa a ser o polo principal de financiamento ao grupo. A dívida alastra das holdings que estão no topo da estrutura do grupo para a Rioforte e para os clientes do BES. A grande fuga para a frente estava em marcha. O país estava obcecado com o fim do programa da troika. Não seria um banco a sujar a saída limpa de Portugal.
15 de maio. Aumento de capital a caminho
O BES anuncia um aumento de capital de 1.045 milhões com um desconto de 34%. A operação “permitirá ao BES reforçar a sua base de capital, por forma a potenciar a sua vantagem competitiva na recuperação da economia portuguesa e o crescimento nos mercados internacionais onde está presente e, ao mesmo tempo, criar reservas adicionais de capital” para responder às novas exigências da União Bancária.
21 de maio. O prospeto explosivo
É divulgado um segundo prospeto relativo ao aumento de capital que traz informação bombástica sobre o grupo que pela primeira vez vem a público de forma inequívoca, por pressão da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O BES revela irregularidades materialmente relevantes detetadas nas contas da ESI cuja situação financeira é descrita como grave. O banco assegura ter tomado as medidas para evitar que casos de incumprimento na ESI possam ter impacto financeiro no BES, agravando a situação financeira, mas reconhece que há um risco de reputação sobre os administradores do banco, que afinal são em muitos casos os mesmos.
22 de maio. A última entrevista: a culpa é do contabilista
Na última entrevista como presidente executivo, Ricardo Salgado justifica-se ao Jornal de Negócios. Diz que é apenas o líder da área financeira. Responsabiliza o contabilista da ESI, Francisco Machado da Cruz, pelo descontrolo das contas e insiste que todos temos de ser solidários. Quer dizer, solidários com ele.
27 de maio. Crédit Agricole põe um pé fora
Os dois maiores acionistas, ESFG e o Crédit Agricole, anunciam que não vão acompanhar o aumento de capital e vendem os seus direitos de voto. A ESFG reduz a sua posição no BES para 25% O banco francês termina a parceria de décadas com a família Espírito Santo com uma participação inferior a 15% no banco. A empresa que juntava as duas participações, a Bespar, é dissolvida.
12 de Junho. Sucesso de Pirro
Ricardo Salgado anuncia satisfeito: “Foi o aumento de capital de maior sucesso do BES desde a privatização em 1992”. A operação atraiu 150 investidores, a maior parte do Reino Unido, EUA e Irlanda. Mais tarde o Financial Times viria a classificar a operação como um dos piores negócios de sempre no mundo financeiro.
13 de junho. O contabilista falou
O contabilista desaparecido reaparece, citado em documentos divulgados pelo Expresso onde garante que desde 2008 que Salgado e outros administradores sabiam que as contas da ESI escondiam uma parte do passivo. Em registos entregues ao Banco de Portugal, Machado da Cruz revela que as contas só eram apresentadas aos administradores depois de José Castella (controlador financeiro) e Salgado decidirem o que ficava fora do passivo no processo de consolidação. O buraco então detetado era de 1300 milhões.
20 de junho de 2015. Salgado vai sair, mas fica Amílcar
Terminado o aumento de capital, é tempo de sucessão no banco. Os acionistas ESFG e Crédit Agricole revelam a proposta para novos órgãos sociais. Salgado sai da presidência, mas vai liderar o novo órgão, o conselho estratégico onde terá assento a família Espírito Santo. São indicados Amílcar Morais Pires para CEO e Mota Pinto para chairman.
A lista não é consensual na família, Ricciardi vota contra. No final do dia, o Banco de Portugal emite um comunicado esclarecedor nas suas omissões: “Relativamente ao preenchimento dos órgãos de administração e fiscalização, o Banco de Portugal aguarda a decisão da Assembleia Geral dos acionistas do BES para avaliar o cumprimento por cada um dos indigitados dos requisitos necessários para o exercício de tais funções, designadamente os previstos nos artigos 30 e 31 que definem os critérios de idoneidade”.
Em privado, o Banco de Portugal insiste: é preciso afastar todos os membros da família, e seus aliados, da gestão. No BES vive-se um período de vazio de poder que se vem a revelar trágico para o banco. Enquanto não há caras novas, mandam os que já lá estavam. As operações aprovadas na primeira quinzena de julho, nas quais se incluem as transações intermediadas pela sociedade suíça Eurofin, vão afundar o BES.
27 de junho. A notícia da Rioforte
O Expresso e o i revelam um investimento de 897 milhões da PT na Rioforte, uma empresa do GES, o maior acionista da operadora, que está à beira do incumprimento. Em paralelo à crise Espírito Santo começa-se a desenrolar-se o drama da PT que é o maior dano colateral do colapso GES/BES. A cotação da operadora entra num ciclo de quedas sucessivas.
1 de julho. Ricciardi vende ações
José Maria Ricciardi comunica a venda da totalidade das acções no BES. Dias antes, o BES tinha em comunicado afastado a possibilidade de venda do BESI, contrariando intenções manifestadas pelo seu presidente.
3 de julho. O BES em perigo
A Espírito Santo Financial Group revela a sua exposição às empresas não financeiras e comunica ter contraído empréstimos de 823 milhões no BES.
O Banco de Portugal faz o primeiro de vários esclarecimentos sobre a situação financeira do banco. “A situação de solvabilidade do BES é sólida, tendo sido significativamente reforçada com o recente aumento de capital. O Banco de Portugal tem vindo a adotar um conjunto de ações de supervisão, traduzidas em determinações específicas dirigidas à ESFG e ao BES, para evitar riscos de contágio ao banco resultantes do ramo não-financeiro do GES”.
No mesmo dia, a brasileira Oi afirma desconhecer o investimento da parceira portuguesa no GES. A fusão que iria criar um grande operador luso-brasileiro treme, os brasileiros impõem condições.
5 de julho. A vez de Vítor
É proposta uma nova composição para os órgãos sociais do BES. O CEO escolhido é Vítor Bento, entram ainda José Honório e João Moreira Rato, que sai do IGCP para assumir o cargo de CFO. Amílcar Morais Pires sai de cena. Desaparece também referência ao conselho estratégico onde se sentaria a família Espírito Santo. As alterações de nomes e modelo vão ao encontro das orientações do Banco de Portugal que as aceita em comunicado. As mudanças devem ser aprovadas em conselho de administração a dia 28, por cooptação. E quem manda entretanto?
10 de julho. Ações em queda, Salgado tenta tudo
A manhã começa com um comunicado que detalha a exposição do BES às empresas do GES: 1200 milhões. E a exposição dos clientes do BES ao GES. Retalho: 853 milhões. Institucionais: dois mil milhões. Esta era a situação identificada a 30 de Junho. Mas o quadro ainda não estava completo.
Depois de quedas fortíssimas, a ESFG suspende a negociação das acções. A pressão vendedora é cada vez maior no BES, destruindo o valor do investimento recente dos novos acionistas. Com a sucessiva divulgação de operações suspeitas, a espiral de desconfiança que começa nos mercados alastra aos clientes do BES.
O surgimento de comunicados das autoridades e declarações do governo que procuram tranquilizar os depositantes, em vez de acalmar são vistas com um sinal de alarme.
Nos bastidores, Ricardo Salgado movimenta todas as influências para tentar salvar o grupo. Bate à porta dos governos de Lisboa e Luanda a pedir financiamento, mas só houve recusas. Apela à amizade de Durão Barroso. Numa reunião do conselho geral do GES, revelada pelo jornal Sol, José Manuel Espírito Santo apela: “O Moedas, eu punha já o Moedas a funcionar”. Mas o então secretário de Estado adjunto de Passos Coelho não agiu, ou se o fez, não teve resultados.
11 de julho. Carlos Costa põe água
Mais um comunicado do Banco de Portugal: “Em face do comportamento especialmente adverso no mercado de capitais nacional decorrente da incerteza latente sobre a situação financeira do Banco Espírito Santo (BES), o Banco de Portugal esclarece que, tendo em conta a informação reportada pelo BES e pelo seu auditor externo (KPMG), o BES detém um montante de capital suficiente para acomodar eventuais impactos negativos decorrentes da exposição assumida perante o ramo não financeiro do Grupo Espírito Santo (GES) sem pôr em causa o cumprimento dos rácios mínimos em vigor. (…)”
“A situação do ramo não financeiro do GES foi detetada na sequência de uma auditoria transversal realizada por entidade independente por determinação do Banco de Portugal, no final de 2013, aos oito maiores grupos bancários portugueses. Recorda-se ainda que, na sequência das conclusões extraídas dessa auditoria, foram determinadas várias medidas destinadas a salvaguardar a posição financeira do BES relativamente aos riscos emergentes do ramo não financeiro do GES. (…) Não existem motivos que comprometam a segurança dos fundos confiados ao BES, pelo que os seus depositantes podem estar tranquilos”.
Os atos seguintes do regulador desmentem esta tranquilidade.
13 de julho. Substituição
O Banco de Portugal convoca uma reunião extraordinária do conselho de administração do BES num domingo. É antecipada a entrada dos novos administradores no BES. Entram Bento, Honório e Moreira Rato. Saem Salgado, Ricciardi, Manuel Espírito Santo e Morais Pires. Mas os novos gestores são só três e têm de trabalhar com os homens de confiança de Salgado.
15 de julho. Derrocada na ESFG
Em resultado das desvalorizações em bolsa, a ESFG é obrigada a entregar 5% do capital do BES, que tinham sido dados como garantia a um financiamento para a holding familiar participar no aumento de capital. Nos dias seguintes serão comunicadas demissões em série dos órgãos sociais.
17 de julho. Maria Luís avisa, poucos ouviram
A ministra das Finanças é chamada ao Parlamento para justificar as nomeações “políticas” para a administração do BES. Maria Luís remete o dossiê para o Banco de Portugal, embora reconheça que o Governo está a acompanhar o tema. Alerta ainda que as regras sobre as intervenções no setor financeiro alteraram-se. “Passou a existir a figura da partilha dos encargos. Quando haja indispensabilidade da intervenção pública tem que haver um plano aprovado pelas autoridades europeias”.
18 de julho. Carlos Costa confia na almofada
Carlos Costa vai ao Parlamento. Repete que, com base na informação do banco e do auditor, o BES “tem uma almofada de capital suficiente para acomodar possíveis impactos negativos da exposição ao braço financeiro do GES sem comprometer os rácios de capital”.
O banco central não antecipa um impacto negativo relevante da posição no capital do BES resultante da situação financeira da filial angolana, tendo em conta a garantia dada pelo Estado angolano.
Revela que está em curso uma auditoria independente para rever toda a carteira de crédito, de modo a dissipar dúvidas e outra auditoria forense para apurar o cumprimento de regras e leis.
O governador realça as conversas preliminares entre o BES e bancos de investimento internacionais, assim como o interesse demonstrado por diversas entidades (fundos de investimento e bancos europeus) em assumir uma posição de referência no BES. São sinais que indiciam que uma solução privada para reforçar o capital é realizável.
Conclui que se for necessário, a linha de recapitalização criada pela troika “encontra-se disponível em 6,4 mil milhões de euros e poderá ser disponibilizada para suportar qualquer necessidade de capital de um banco português, no enquadramento legal relevante e em aplicação das regras de ajuda estatal”. É o plano B do Banco de Portugal.
24 de julho. CMVM (in)tranquila; Salgado detido
É a vez de Carlos Tavares ser ouvido no Parlamento. O presidente da CMVM é menos tranquilizador, até porque já saíram notícias de operações fortemente realizadas após o fecho das contas de 30 de junho. Carlos Tavares confirma que há investigações em curso sobre transacções de acções e que comunicou indícios de natureza criminal relacionados com o GES relativos a infidelidade, abuso de confiança e de informação privilegiada. O regulador avisa que há informação relevante para conhecer nos próximos dias, numa alusão aos resultados semestrais cuja divulgação foi adiada.
Mas o acontecimento que domina todas as atenções é a detenção de Ricardo Salgado que é levado de manhã para o Tribunal de Instrução Criminal para ser questionado pelo juiz Carlos Alexandre, na sequência da investigação liderada pelo procurador Rosário Teixeira.
Com alguma ironia, o interrogatório nada tem a ver com os problemas do BES ou do GES. É o caso Monte Branco, em investigação há dois anos, que leva à detenção de Salgado. As autoridades querem saber o rasto do dinheiro que se perdeu em negócios como a venda da Escom e as contrapartidas do contrato dos submarinos. Salgado sai às seis da tarde, constituído arguido, e depois de pagar uma caução de três milhões. Está indiciado por crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais.
28 de julho. PT perde força na Oi
A Portugal Telecom anuncia os novos termos da fusão. Os portugueses, via PT SGPS, perdem poder e vêm a sua posição cair de 37,4% para 25,6% da nova empresa que ainda é liderada por Zeinal Bava. A PT SGPS ficará reduzida à participação na nova empresa e à divida de 897 milhões da RioForte cujo incumprimento já é oficial.
29 de julho. O buraco alarga-se
Uma notícia do Expresso anuncia que os prejuízos semestrais do BES podem chegar aos três mil milhões por causa do reconhecimento de operações realizadas nas últimas semanas. Em causa estão produtos comercializados por intermédio da Eurofin, que foram usados através de transferências para offshores para contornar as limitações do Banco de Portugal e aumentar a exposição do banco e dos seus clientes às empresas do grupo.
O Banco de Portugal volta a insistir: caso venha verificar-se qualquer insuficiência da atual almofada de capital (hipótese que admite pela primeira vez), o interesse demonstrado por diversas entidades em assumirem uma posição de referência no BES, indicia que é realizável uma solução privada para recapitalizar o banco. “No limite, se necessário, está disponível a linha de recapitalização pública criada no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira (…). Em todo o caso, a solvência do BES e a segurança dos fundos confiados ao banco estão asseguradas.”
O dia seguinte muda tudo.
30 de julho. As contas, além do pior cenário
Às dez da noite, o Banco Espírito Santo apresenta os maiores prejuízos de sempre na história empresarial portuguesa. São piores do que a pior previsão: 3600 milhões de euros de perdas refletem as muitas e avultadas provisões que o banco teve de constituir para responder a todos os fogos que deflagraram nos últimos meses. Estes prejuízos pulverizam a almofada de capital que há duas semanas era considerada suficiente pelo regulador.
O Banco de Portugal é empurrado a emitir o comunicado mais violento da sua história. Argumenta que fatos só descobertos pelo auditor na segunda quinzena, com impacto negativo de 1500 milhões, alteraram profundamente o valor das perdas, comprometendo os rácios do banco. Estes factos, imputáveis à administração liderada por Ricardo Salgado indiciam atos de gestão gravemente prejudiciais para os interesses do BES e um claro incumprimento das determinações do Banco de Portugal. “Caso se confirme a prática de ilícitos, serão extraídas as necessárias consequências em matéria contraordenacional e, porventura, criminal”.
O banco central afasta imediatamente administradores em funções com o pelouro do controlo interno e os responsáveis de auditoria, compliance e gestão de riscos e suspende direitos de voto do GES. O Banco de Portugal exige um aumento de capital, a curto prazo. Apesar de continuar a preferir soluções de mercado assinala que a solidez do BES “está salvaguardada pelo facto de continuar disponível a linha de recapitalização pública criada no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira para suportar eventuais necessidades de capital do sistema bancário”.
Ainda nesse dia, a Comissão Europeia é informada da intervenção iminente e abre um procedimento para avaliar a legalidade da operação. Os traços gerais da solução terão sido comunicados a Bruxelas, embora não formalmente, garantem o Governo e o Banco de Portugal. Houve trocas de informação sobre cenários que excluem o regulador da bolsa.
31 de julho. Um caos nos bastidores
O BES pode precisar de um aumento de capital até quatro mil milhões de euros. É um valor colossal que afasta os privados que até então mostraram interesse no banco.
Os investidores receiam a revelação de novos buracos. Um mini-Conselho de Ministros (Passos Coelho, Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque, Rui Machete e Hélder Reis, sec. Estado Orçamento) aprova um decreto-lei das Finanças para aplicar uma medida de resolução ao BES, com recurso ao Fundo de Resolução da banca. O Presidente promulga no próprio dia. O vice-primeiro ministro Paulo Portas “referenda” o decreto no dia a seguir.
1 de agosto. Inferno na bolsa
Na sexta-feira vive-se mais uma sessão infernal na bolsa de Lisboa. As ações do banco estão em queda livre. Em dois dias caíram 80% até serem suspensas a uma hora do final da sessão de bolsa; à espera de um plano ou solução. O BES não voltará a ser negociado, mas nos últimos dois dias foram transacionados mais de 12% do capital da instituição. Houve grandes investidores a vender, travando as perdas. À noite, as televisões anunciam que o Estado vai entrar no capital do BES, usando para tal o fundo de recapitalização da troika, numa solução à Banif.
2 de agosto. Mendes anuncia resolução
Marques Mendes no comentário na SIC revela os traços de um plano diferente do descrito na véspera e que seria porventura o preferido pelo Banco de Portugal. Não será uma recapitalização com fundos públicos (financiados pela troika), mas uma resolução que separa o banco mau do bom. O Estado não entra como acionista, mas apenas como financiador. Acionistas e credores de dívida subordinada perdem tudo.
3 de Agosto
O governador do Banco de Portugal está sozinho quando anuncia ao país o fim do BES e o nascimento do Novo Banco. A instituição recebe 4.900 milhões de euros e é assumida pelo fundo de resolução da banca que pediu emprestado capital ao fundo da troika. A solução é inédita e segue no essencial as novas regras europeias que obrigam a responsabilizar primeiro os investidores. Na segunda linha da assunção de previsíveis prejuízos está o sistema bancário. O BES vai ser uma cobaia. Vítor Bento mantém-se para já. O banco mau entra em liquidação, há contas congeladas. Governo e banco central asseguram que não haverá prejuízos para o contribuinte. É o fim do Banco Espírito Santo e o início de uma outra história.