Na véspera das eleições federais na Alemanha, este sábado, nas ruas e esplanadas de Charlottenburg, um dos distritos de Berlim onde as casas são mais caras, veem-se sobretudo pessoas mais velhas, reformadas na maior parte dos casos. Um eleitorado entre o qual a União Democrata-Cristã (CDU) sempre foi bastante popular e que Armin Laschet terá de conseguir garantir os votos neste domingo para ter hipóteses de suceder a Angela Merkel como chanceler.
As sondagens, no entanto, há várias semanas que são desfavoráveis aos democratas-cristãos, uma tendência que Armin Laschet não conseguiu mudar nesta última semana de campanha, embora tenha conseguido aproximar a CDU do Partido Social Democrata alemão (SPD). Mas terá Laschet feito o suficiente?
“Dos três candidatos a chanceler, Laschet é o meu favorito”, responde ao Observador Joachim (que prefere ser identificado apenas pelo primeiro nome). Momentos antes de entrar num autocarro em Charlottenburg, o dentista, de 60 anos, revela que no domingo vai votar na CDU e enumera os motivos que o levaram a confiar em Armin Laschet, que desde 2017 governa o estado da Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso da Alemanha: a política de “desenvolvimento económico”, a “experiência” enquanto ministro-presidente” e o facto de ser um “conservador”.
Em 2017, descontente com as políticas de Angela Merkel, que acusa de ter governado “demasiado à esquerda”, Joachim decidiu que o país precisava de dar uma guinada à direita e tornou-se, assim, num dos eleitores tradicionais da CDU que votou na Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita. Mas, quatro anos depois, Joachim confessa-se desiludido com a AfD, que se revelou “demasiado extremista”. Por esse motivo, com a chanceler de saída e por temer que, em caso de vitória do SPD, o Die Linke (esquerda radical) chegue ao governo, vai votar na CDU, na esperança que a Alemanha tenha um “governo verdadeiramente conservador”, se possível em coligação com o Partido Liberal Democrático (FDP).
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Fotografia de Laschet a rir após cheias foi “a gota de água que fez o copo transbordar”
Posição completamente oposta é a da advogada Ina Schwarz. Aproveitando uma pausa nas compras que está a fazer em Charlottenburg, deixa rasgados elogios à chanceler Angela Merkel, sobretudo devido ao acolhimento de cerca de um milhão de refugiados após a crise migratória de 2015, mas também no que diz respeito à gestão da pandemia de Covid-19 e ao papel da chanceler na política internacional, uma vez que conseguiu “unir a Europa”.
Mas, quando questionada sobre qual o candidato em melhor posição para continuar o legado de Merkel, Ina Schwarz apenas vê um com capacidades para seguir as pegadas da chanceler: Olaf Scholz.
“Confio em Scholz da mesma forma que confiava em Merkel”, assegura a advogada ao Observador, revelando que, à semelhança do que tem feito em eleições anteriores, vai votar no SPD, uma vez que considera o ministro das Finanças e vice-chanceler como uma pessoa “séria” e que “faz as coisas acontecer”. Sobre Armin Armin Laschet, diz que o candidato da CDU “não consegue expressar e transmitir as suas posições” políticas e aponta um momento que a deixou com uma opinião bastante negativa do democrata-cristão: a fotografia em que Laschet aparece a rir em Erftstadt quando o Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier prestava uma homenagem às quase 200 vítimas mortais das cheias que devastaram a Alemanha ocidental em julho.
Antes deste caso, que valeu duras críticas a Armin Laschet, a CDU liderava confortavelmente as intenções de voto. Dias antes das cheias, uma sondagem do instituto Forsa dava os democratas-cristão com o dobro (30%) das intenções de voto dos sociais-democratas (15%), uma vantagem que começou a diminuir drasticamente nas semanas seguintes, até que, em agosto, Olaf Scholz e o SPD passaram para a frente. Para o pensionista Joerg (que também não quis revelar o apelido), de 66 anos, não há dúvidas que a fotografia embaraçosa de Laschet foi “a gota de água que fez o copo transbordar”.
Ainda assim, apesar de ver Laschet como um “líder fraco”, o antigo funcionário de uma companhia de seguros na área da saúde admite votar na CDU este domingo. “Porque é um partido que garante estabilidade, defende as empresas e tem o crescimento da economia como prioridade”, justifica, não escondendo, no entanto, que o seu candidato ideal para suceder a Merkel — “um fenómeno único e impossível de substituir” — seria Markus Söder, líder da União Social-Cristã (CSU), o partido irmão da CDU na Baviera, e ministro-presidente do governo daquele estado.
Como Laschet, eleito líder da CDU em janeiro deste ano — sobretudo devido ao facto da sua proximidade com Angela Merkel — não gerou entusiasmado apesar de a CDU liderar confortavelmente as sondagens, Söder ainda chegou a desafiar a liderança do ministro-presidente da Renânia do Norte-Vestfália, pondo mais sal nas feridas abertas entre os democratas-cristãos, mas acabaria por desistir, com o partido a unir-se em torno do seu candidato.
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Ainda assim, a CDU, que governou a Alemanha durante 57 dos últimos 72 anos, além de arriscar perder as eleições este domingo, pode ter o pior resultado eleitoral da sua história, confirmando a queda da influência do partido, um problema que, na verdade, começou ainda durante os anos de Angela Merkel.
Nas eleições de 2017, a CDU perdeu oito pontos percentuais comparativamente aos 41,5% conquistados quatro anos antes, um fenómeno atribuído, sobretudo, ao crescimento da extrema-direita. Agora, as sondagens dão-lhe 22%, uma queda que estará relacionada com o crescimento do FDP, mas, sobretudo, dos Verdes, um partido que angaria um grande apoio entre o eleitorado mais jovem — aquele em que a CDU tem mais dificuldade em conseguir impor-se.
Ao final da tarde deste sábado, enquanto bebem uma cerveja na esplanada de um café perto da Potsdamer Platz, os amigos Paul Piper, de 31 anos, e Janna Stumpe, de 28, ambos arquitetos com especialidade em interiores, explicam ao Observador o que, na sua ótica, afasta os democratas-cristãos dos jovens.
“É uma questão geracional. A CDU é muito conservadora, muito virada para as preocupações dos eleitores mais velhos. Não tem a mente aberta para enfrentar as alterações climáticas ou para responder às questões sociais”, explica Paul Piper, estendendo a crítica a Armin Laschet, um candidato que “não tem a força necessária para ser chanceler”.
Janna Stumpe, que tal como Paul vai votar nos Verdes, subscreve as palavras do amigo em relação à CDU, mas abre um parênteses quando surge o nome de Angela Merkel, uma pessoa “excecional” que “ouvia as preocupações” das pessoas. “Merkel fez um bom trabalho. Era conservadora, mas confiávamos nela”, acrescenta.
Longe de convencer a maioria dos eleitores, inclusive o eleitorado tradicional do seu partido, Armin Laschet mantém a esperança de que a sua proximidade com a chanceler possa levar a que os indecisos acabem, este domingo, por pôr a cruz na CDU apesar de não confiarem totalmente no líder do partido. De falta de apoio de Angela Merkel, Laschet não se pode queixar, uma vez que a chanceler, nesta última semana de campanha, esteve várias vezes ao seu lado em ações de campanha.
A encerrar a campanha eleitoral este sábado, Merkel foi até à terra natal de Laschet, em Aachen, na Renânia do Norte-Vestfália, a mais de 600 quilómetros de Berlim e apelou ao voto no candidato da CDU, considerando que é o futuro da Alemanha que está em jogo. “O que está em causa é manter a Alemanha estável. Trata-se do vosso futuro”, insistiu Merkel no último dia de campanha. Será que os eleitores vão responder ao apelo da sua “Mutti”? Tudo está em aberto para este domingo.