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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Guterres foi ao terreno antes de se reunir com Zelensky. "Olho à volta e vejo as minhas netas a fugirem em pânico"

Durante a manhã, Guterres visitou um "cenário horrendo", a vala comum nas traseiras de uma igreja onde estavam 117 corpos e Borodianka onde houve quem nem se apercebesse da sua presença.

Texto e fotografias dos enviados do Observador à Ucrânia, Carlos Diogo Santos e João Porfírio

Raysa Palamarchuck nem se apercebeu do maior aparato militar, mas tinha até uma explicação para tantas câmaras de televisão na principal praça de Borodianka: “Deve ser por causa daquela feirinha que fizeram hoje”. Era de lá que vinha, a passos lentos, com uma canadiana numa mão e um gorro na cabeça. Mas a razão era outra e chegou assim que a mulher de 69 anos virou as costas: António Guterres.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas entrou em Borodianka ainda antes da hora marcada, 10h30 (menos duas em Lisboa), para a primeira paragem das três que fez nesta manhã nos arredores de Kiev, todas em cidades destruídas pelas forças russas. Depois de olhar em volta para os prédios totalmente destruídos pelos militares russos recebeu algumas informações das forças armadas da Ucrânia sobre o que aconteceu naquele local.

“Imagino a minha família nestes prédios”

Ainda que nem todos se tivessem apercebido, em toda a volta do busto do poeta e artista ucraniano Taras Shevchenko — caído, após ter sido alvejado pelo menos três vezes na cabeça e outras tantos no peito pelos invasores — a presença militar era muito superior ao normal para um dia como este.

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E foi no meio desse esquema de segurança apertado, que incluía elementos das Nações Unidas, que Guterres fez uma primeira declaração aos jornalistas, em tom emotivo.

“Vejo estes edifícios destruídos e imagino a minha família numa daquelas casas que estão agora totalmente destruídas. Vejo as minhas netas a fugir em pânico, com parte da família morta. A guerra é algo absurdo no século XXI, é um mal”
António Guterres, em Borodianka

“Vejo estes edifícios destruídos e imagino a minha família numa daquelas casas que estão agora totalmente destruídas. Vejo as minhas netas a fugirem em pânico, com parte da família morta. A guerra é algo absurdo no século XXI, é um mal”, começou por dizer.

Antes de voltar ao carro da ONU que o levaria até à próxima paragem, Guterres aproveitou ainda para dizer que “o nosso coração está com as vítimas”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A visita à maior vala comum e um apelo à Rússia

A poucos quilómetros dali, na cidade de Bucha, que também fica no Oblast de Kiev, António Guterres visitou a maior vala comum encontrada até agora, com mais de cem cadáveres, cavada nas traseiras de uma igreja St. Andrew Pervozvannoho All Saints. Dos 117 corpos ali encontrados, 30 seriam de mulheres e dois de menores.

Na presença do padre Andrii Holovine — que também aproveitou para falar com o secretário-geral das Nações Unidas — foi-lhe dado um novo enquadramento pelos militares, desta vez sobre o cenário de terror que as autoridades ucranianas encontraram naquele local (e que, quando este frente-a-frente com Putin, este lhe repetiu ter sido uma “encenação”).

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“Quando falamos de crimes de guerra, não podemos esquecer que o pior dos crimes é a própria guerra”, fez questão de dizer António Guterres a todas as atrocidades cometidas ainda no local. Afirmou também esta´´´r satisfeito que o Tribunal Internacional esteja atento às possíveis evidências de crime de guerra na Ucrânia e foi até mais longe.

“Apoio inteiramente o Tribunal e apelo à Rússia para cooperar com ele”, acrescentou, seguindo de imediato para o jipe que da ONU que o esperava na terra batida em torno da imponente igreja ortodoxa.

O “cenário horrendo” onde os civis são quem mais sofre

A visita de António Guterres pelas três cidades em torno da capital ucraniana que estiveram tomadas pelas tropas russas e foram destruídas antes da saída destes terminou em Irpin, num “cenário horrendo”, como viria a descrever.

Em toda a sua volta, por cima das cabeças dos jornalistas, militares e seguranças, o português que lidera a Organização das Nações Unidas só conseguia ver prédios de habitação totalmente destruídos, sem janelas, muitos deles sem paredes exteriores e queimados das explosões.

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“Isto demonstra algo que é sempre verdade. Os civis pagam sempre o preço mais alto”, afirmou, voltando a focar o seu discurso nos ucranianos que pagaram com a vida ou que têm agora de recomeçar tudo do zero.

“As pessoas a viver nestes prédios pagaram o preço mais alto de uma guerra para a qual não contribuíram”, rematou, antes de retomar a Kiev onde às 17h locais se encontrará com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Alexy Dyahin, 45 anos, estava parado ao volante da carrinha branca com que faz entregas e ficou a ver a saída de Guterres e todo o aparato que o rodeava a dissipar-se. É um dos milhões de ucranianos que estão a sentir na pele o preço de uma guerra e, sem que nada lhe fosse perguntado, aproveitou para contar como isso tem moldado até a forma de estar da sua família. “Falei ainda há bocado com o meu irmão, que está em Kharkiv, ele já só fala ucraniano”. Alexy só fala russo, é de Lviv, mas compara-se até durante a conversa a Stepan Bandera — um ícone do nacionalismo do país e que liderou a Organização dos Nacionalistas Ucranianos.

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