O líder parlamentar da IL defende a opção do partido em cortar qualquer conversa sobre coligações pré-eleitorais com Luís Montenegro e argumenta que a história recente tem provado que “as vitórias conseguem-se por maioria parlamentar” e “havendo mais escolhas para os eleitores”. Rodrigo Saraiva admite até fazer parte de uma solução de poder integrando a “família não socialista” mesmo que o PS vença as eleições legislativas. “A 11 de março, quem vai mandar é a vontade dos portugueses e se os portugueses puserem na Assembleia da República”, diz.
Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, Rodrigo Saraiva admite vir a integrar um futuro governo do PSD, desde que as negociações estejam devidamente balizadas. Ainda assim, o fundador do partido admite também a possibilidade de um apoio de incidência parlamentar e assegura que “tudo está em cima da mesa”, com os liberais disponíveis para se sentarem com o PSD e negociarem dependendo da votação nas eleições legislativas.
O líder reconhece que o PSD tem usado o exemplo do que aconteceu em Lisboa — a IL pôs-se de fora da grande coligação de Carlos Moedas e não elegeu qualquer vereador — para tentar provar que os liberais não sabem fazer parte da solução. Ainda assim, garante não existir qualquer arrependimento sobre essa matéria. O mesmo vale para os Açores, em que a IL se desvinculou do acordo de incidência parlamentar que tinha com o governo de José Manuel Bolieiro. “A bolha política-mediática comete muito um erro que é de analisar o que se passa nos Açores e na Madeira à luz daquilo que é o continente”, sublinha.
Confrontado com a situação interna do partido, com vários militantes a saírem em rutura com o rumo escolhido pela atual direção do partido, Rodrigo Saraiva argumenta que ninguém foi expulso e que as pessoas saíram por “livre e espontânea vontade”. O líder parlamentar relativiza as críticas, recorda o peso relativo dessa pequena fatia de militantes e à pergunta sobre se essa oposição só existe para aparecer na comunicação social a resposta é taxativa: “Sim”.
“A seguir às eleições, estamos disponíveis para nos sentarmos com o PSD”
A Iniciativa Liberal colocou-se de fora de uma coligação pré-eleitoral com o PSD e justificou-o dizendo que era uma questão de convicção política. A convicção política das ideias da IL é mais importante do que a convicção política de pôr fim à governação socialista que tanto criticam?
Há, de facto, esse grande objetivo de derrotar o socialismo. O socialismo que tem governado o país nestes últimos oito anos e que governou 21 dos últimos 27 e com resultados que nós consideramos que são péssimos, como a degradação económica, a degradação dos serviços públicos, a degradação das instituições. E esse é um grande objetivo, derrotar o socialismo. E como tem vindo a ficar bem claro naquilo que é a mais recente história da democracia em Portugal, as vitórias conseguem-se por maioria parlamentar. E essa maioria parlamentar será cada vez mais possível quando cada um dos partidos, portanto, havendo mais escolhas para os eleitores, se consigam conquistar mais eleitores para os partidos que representam o espaço não socialista.
Mas isso não é uma visão muito purista da ideia de ir a votos.
Quando se fala em convicções há sempre algum purismo. Esse é o ponto de partida. Mas também há uma vertente prática de acreditar nisso. Conheço pessoas que o dizem que votam na Iniciativa Liberal e não votariam no caso de a IL e coligada. Como também haverá certamente eleitores do CDS mais conservadores, que votarão CDS e que não se sentem confortáveis em votar numa coligação onde esteja um partido liberal.
A IL está disposta a pagar o preço de, ao recusar coligar-se com o PSD, não garantir esse governo de direita e, portanto, perpetuar o governo socialista?
Sempre dissemos que o PSD era, em primeira instância, o principal parceiro para haver um entendimento. E temos dito isso, e Rui Rocha, o nosso presidente, já disse que no dia 11 de março, a seguir às eleições, estamos disponíveis para nos sentar com o PSD e construir essa alternativa ao socialismo.
A IL tem criticado o PSD por não se ter colocado ao lado da moção de censura ao governo, que foi apresentada este ano, por ter votado contra o plano da saúde, por nunca ter votado a favor quando propuseram a privatização da TAP. No dia seguinte às eleições vai haver condições para haver um governo entre a IL e o PSD de que forma?
Vai haver condições. Agora, vai depender daquilo que seja a vontade dos portugueses porque é diferente nós sentarmo-nos à mesa com outro partido tendo um respaldo e a confiança de portugueses em 5%, 10%, 15% ou 20%. É diferente. Obviamente, um partido entre 5% e 20% tem um espectro diferente de atuação e de confiança daquilo que poderá colocar como exigências numa negociação democrática.
Mas há condições de que a IL não abdica. Quais são?
Uma redução ambiciosa dos impostos. A reforma do sistema eleitoral — e o mínimo é a introdução do círculo de compensação no nosso atual sistema, se não quiserem fazer uma reforma mais aprofundada, mas pelo menos o círculo de compensação tem que ser uma realidade. Isso é uma exigência claríssima porque não pode haver portugueses de primeira e portugueses de segunda, 700 mil votos desperdiçados é inaceitável. Uma reforma da saúde. Certamente, quando estivermos à mesa das negociações, ou o PSD alinha no nosso sentido de uma profunda reforma do sistema de saúde, colocando de forma igual dentro do sistema público, privado e social, ou teremos que ser nós a ceder um pouco ao PSD. Portanto, há uma margem de manobra de entendimento bastante possível, desde que haja vontade de reformar. E isso é aquilo que a IL quer trazer. Aliás, quando foi das últimas eleições, também no programa do Ricardo Araújo Pereira, de uma forma mais descontraída, João Cotrim Figueiredo até disse que queria ser o viagra do PSD. Continuamos com essa ambição, com essa vontade de impor dentro de um novo governo o ímpeto reformista que é preciso para pôr Portugal a crescer.
Mas a IL tem acusado o PSD em todas essas propostas de propor poucochinho relativamente às mudanças que a IL quer fazer. Como é que se encontram aqui a meio?
Se nós tivermos 5, 10, 15 ou 20% iremos para a mesa das negociações com um nível de ambição maior ou menor e isso será a vontade dos portugueses. O que os portugueses vão saber para o dia 10 de março é que a IL é a solução mais ambiciosa para fazer reformas no país e para pôr Portugal a crescer e o partido com mais coragem. Aquilo que disse no início da nossa conversa sobre correr riscos, pagar os custos, etc, isso para nós é muito claro tudo o que está em cima da mesa, os prós e os contras de qualquer solução. Há uma coisa que acho que as pessoas podem dizer da IL, para além de sermos muito claros naquilo que queremos e que não queremos: somos corajosos.
Ainda esta semana, Rui Rocha disse numa entrevista que só fará sentido ter cargos num governo “se a solução política que daí resultar for mais forte por causa disso”. A IL aceita fazer parte de um governo do PSD sem um único ministério, sem uma secretaria de Estado, sem nada?
Fazer parte de um governo sem nada não existe. Fazendo parte do governo teria que ter um ministério ou uma secretaria de Estado.
Esta é exatamente a questão. Se a IL abdica de cargos, como é que está dentro de uma solução?
Estando dentro do governo tem que estar exercendo funções ministeriais ou secretarias de Estado, isso parece-me que é óbvio. Outra solução é um apoio de incidência parlamentar. Portanto, tudo está em cima da mesa. Estamos disponíveis para nos sentarmos com o PSD e vermos qual a melhor forma.
Mas consegue compreender que é difícil para os eleitores perceberem esta indisponibilidade para fazer parte de uma coligação pré-eleitoral e, ao mesmo tempo, a disponibilidade para, no dia seguinte, conversarem alegremente com o PSD. Isso não é uma incoerência?
Não, não é uma incoerência. É bastante claro. Não queremos ir coligados porque achamos que todos os portugueses… Se há coisa que os liberais gostam e defendem muito é concorrência e liberdade de escolha. Ao estarem a dizer ‘metam-se dentro de uma coligação’, estão a dizer aos liberais para reduzir concorrência e para reduzir liberdade de escolha aos portugueses. Isso é que é contraditório. Aquilo que estamos a fazer é bastante coerente. Queremos mais concorrência entre todos os partidos para que todos os portugueses tenham mais liberdade de escolha.
E informação para os portugueses também poderem exercer essa liberdade de escolha. Não acha que aqui também há um défice de informação? Afinal, o que é que vocês pretendem fazer no dia seguinte?
Queremos uma reforma ambiciosa na parte fiscal.
Estamos a falar em termos de acordos.
Eu ou qualquer pessoa de qualquer partido não pode estar a dizer que vai exigir lugares e cargos ainda sem saber qual vai ser o seu peso eleitoral. A IL move-se, sobretudo, por ideias e propostas concretas. É muito mais importante para nós o seguinte: no dia 11 de março, o PSD dizer ‘vamos fazer uma reforma da saúde perante aquilo que foi a vossa proposta do SUA-Saúde, colocando o público privado e social equiparado e assinamos por baixo’. Obviamente que será melhor termos o Ministério da Saúde para desenvolver essa reforma, mas muito mais importante é o compromisso do PSD, ou do partido que vier a liderar o próximo governo, em que vai fazer essa reforma. Portanto, isso é muito claro e os portugueses vão ter essa informação e têm tido essa informação.
Falou em duas questões, quer na saúde, quer nos impostos, em que não há, aparentemente, um mínimo entendimento com o PSD.
Há pouco expliquei que na saúde há um mínimo entendimento.
Mas disse que o PSD não se mostrou a favor da proposta apresentada pela IL.
Fiquei surpreendido com o voto contra. Achava que o PSD, como acha que é uma vertente complementar, iria abster-se.
Mas o que é que pode mudar de 10 de março para 11 de março? O que é que vai mudar de estrutural no PSD ou na IL?
De estrutural, acho que não vai mudar nada.
Como é que se chega a um acordo? Como é que um partido que diz que não quer ir, por razões já explicadas, coligado com o PSD porque não se conseguem entender em áreas muito fundamentais, no dia seguinte às eleições já vai haver uma margem de entendimento?
Mas os portugueses, quando votarem, sabem que vão dar força à IL, que já demonstrou que está disponível para se sentar e entender-se com o PSD e voltar a pôr no governo de Portugal aquilo que o PSD em tempos teve, que foi o ímpeto reformista.
E Luís Montenegro dá-lhe essa garantia?
Nós é que vamos dar a garantia de que voltamos a pôr o PSD num governo com ímpeto reformista e os portugueses conhecem esta nossa disponibilidade. Se algum português achar que isto não é preciso ou que não deve, não vota em nós e há muitas outras escolhas no boletim de voto.
O PSD tem usado o que aconteceu em Lisboa, nomeadamente o facto de a IL não ter ido na coligação com Carlos Moedas, como exemplo da falha de compromisso da Iniciativa Liberal. Em Lisboa, esta estratégia falhou, a Iniciativa Liberal não elegeu nenhum vereador e Carlos Moedas ganhou. Não vai acontecer o mesmo nas próximas legislativas, quererem negociar a seguir e não terem força suficiente?
Em primeiro lugar, as eleições legislativas e as eleições autárquicas têm uma diferença, que de facto faz toda a diferença. É que nas eleições autárquicas quem fica em primeiro na câmara municipal governa, é o líder do executivo, e em legislativas não. Portanto, há essa grande diferença.
Luís Montenegro já disse que só governa se ganhar.
Sim, mas isso são questões do PSD, não são questões da Iniciativa Liberal. Em segundo lugar, recordo que o primeiro grande problema que Carlos Moedas teve no seu mandato na Câmara de Lisboa foi na Assembleia Municipal, numa proposta sua que foi chumbada exatamente pelos deputados municipais do PSD, não foi pela Iniciativa Liberal. Portanto, essas leituras e equiparações daquilo que é a realidade autárquica e a realidade legislativa não parece que seja justa para os eleitores. As eleições legislativas têm as suas especificidades e as autárquicas têm as suas especificidades. Carlos Moedas no outro dia disse que a Iniciativa Liberal já se arrependia. Não, não acho que a Iniciativa Liberal se tenha arrependido, estava certa e convicta daquilo que faz.
Remeteu para o PSD aquela questão de ficar em segundo e não governar. A IL admite reeditar uma solução de tipo geringonça de 2015, ou seja, havendo uma maioria de direita, mesmo que o partido, no caso o PSD, não tenha sido mais votado, admite fazer parte de uma solução dessa natureza, ou seja, uma geringonça à direita?
Sim, por isso é que disse há pouco que no dia 11 de março quem vai mandar é a vontade dos portugueses e, se os portugueses puserem na Assembleia da República uma maioria do espaço não socialista, o espaço não socialista tem que apresentar uma proposta de governo. Tão simples quanto isso.
“Não há uma transposição entre os Açores e o continente”
Do lado do PSD, não há nenhuma rejeição a esse cenário pós-eleitoral com a Iniciativa Liberal, até pelo contrário, mas o PSD aponta também o exemplo dos Açores para mostrar que a IL pode não ser totalmente confiável. Voltavam a assinar um acordo desse género, mas agora na Assembleia da República?
Sobre os Açores há três níveis. O primeiro, acho que a bolha política-mediática comete muito um erro que é o de analisar o que se passa nos Açores e na Madeira à luz daquilo que é o continente. E desconhecendo por completo, e não valorizando, aquilo que são as especificidades de cada uma das suas regiões autónomas, que são diferentes. As especificidades políticas, locais, culturais, o histórico entre as pessoas, é bastante diferente. Em segunda instância, apetece-me citar Luís Montenegro quando diz, e bem, que é uma antecipação de um ato eleitoral que iria existir já no próximo ano, de oito, nove meses. Portanto, o próprio presidente do PSD nacional diz, e bem, que o que se passa nos Açores, tal como aquilo que se passou na Madeira, são questões da autonomia regional e que temos que respeitar. Os partidos não podem ter sempre a autonomia na sua boca e depois na sua prática não a respeitarem. Na IL defendemos a autonomia e praticamos o respeito dessa autonomia.
Portanto, não há uma transposição nacional. O PSD pode ser confiável no continente.
Não há uma transposição. Rui Rocha disse que a relação institucional entre as direções nacionais dos partidos é uma boa relação. A relação com a liderança parlamentar do PSD também é uma boa relação institucional e até posso dizer, não me perguntem depois especificamente o que é porque o segredo às vezes é a alma do negócio, mas estávamos em conjunto a preparar, por exemplo, uma iniciativa legislativa, o que demonstra que há uma boa relação e vontade de trabalhar em conjunto e de demonstrar aos portugueses que podem confiar naquilo que é um trabalho conjunto da IL com o PSD.
A Iniciativa Liberal foi dos primeiros a dizer que com o Chega não. Entretanto, o PSD também já veio dar essa mensagem. Se chegarem a acordo depois das eleições e formarem um governo minoritário que acabe viabilizado pelo Chega, através de uma abstenção, como é que lidam com isso?
Vamos ter que gerir e lidar com aquilo que for a vontade dos portugueses. Existe uma maioria parlamentar do espaço não socialista. Acredito que o PSD e a IL podem alcançar uma maioria parlamentar por si só. Se isso não acontecer, é possível haver um governo sem maioria parlamentar com o PSD e a IL e os outros partidos que estão na Assembleia da República vão ter que validar os orçamentos ou não. E isso é uma responsabilidade dos outros partidos. Outro partido do espaço não socialista não vota a favor de um orçamento da IL ou põe um projeto de resolução para chumbar um programa de governo. A seguir ou vão votar a favor de uma proposta de governo vinda do PS ou o país vai outra vez para eleições, é tão claro quanto isto.
Vai de alguma forma pôr o Chega entre a espada e a parede, é isso? Ou nós ou os socialista?
Isso é uma opção que André Ventura terá que tomar.
“Gostava que a IL não tivesse apenas oito deputados”
A Iniciativa Liberal vai a votos e pode ver a bancada parlamentar aumentar. É líder atualmente do grupo parlamentar da IL. Acredita que os deputados que foram eleitos em 2022 devem manter-se?
Se há coisa boa que a IL tem é muito sangue novo e muita energia.
A questão é mesmo se aqueles que estão no Parlamento devem manter-se.
Não sou dirigente do partido, portanto, a única participação que eu tenho naquilo que são os órgãos do partido é por inerência, sem direito a voto, portanto, é de participante para ouvir no Conselho Nacional, onde, de facto, depois as listas serão apresentadas e serão votadas em conjunto com o programa eleitoral. Não estou na Comissão Executiva, não estou em nenhum núcleo, não estou no processo de decisão das listas. Irei respeitar sempre aquilo que for a decisão dos órgãos do partido. O grupo parlamentar da IL, todo ele, tem trabalhado e apresentado propostas, seja no plenário, seja nas comissões. Os órgãos do partido têm o dever de avaliar o trabalho que os deputados fizeram e escolher aquilo que quer fazer.
Mas gostava de continuar a trabalhar com Carla Castro, por exemplo.
Gostava que a IL crescesse e não tivesse apenas oito deputados. Acho que a Iniciativa Liberal tem condições para ter mais deputados, para ser de facto possível trazer uma alternativa ao socialismo.
Admitimos que acredite nisso, mas a pergunta não era essa. Gostaria de continuar a trabalhar com Carla Castro?
Felizmente, não estou nos órgãos que vão tomar essa decisão. Não me perguntem, felizmente, não estou.
Mas é líder parlamentar. Trabalha com estas pessoas todos os dias.
Sou líder parlamentar e não sei se irei continuar líder parlamentar. Portanto, o mundo a Deus pertence e estas decisões aos órgãos do partido pertencem.
Mas pode ter uma opinião sobre isso. Se o partido assim quiser, pretende voltar a ir nas listas de deputados?
Sim, se o partido assim quiser. E, aliás, a única coisa que eu posso dizer e que sei de facto das listas é que o meu núcleo, que é o núcleo de Oeiras, tomou a decisão de indicar alguns nomes e indicou o meu nome em primeiro lugar. Fiquei bastante sensibilizado pelo reconhecimento e pela gratidão. Essa é a única coisa que eu sei. Portanto, sim, estou disponível e o partido tomará essa decisão.
Rui Rocha foi eleito por Braga. Faz sentido, como líder do partido, ser agora eleito por Lisboa ou deve continuar em Braga?
Quando os líderes partidários vão por Lisboa ou Porto, que são os círculos maiores, acho que toda a gente entende, mas acho que naturalmente se o Rui for por Braga e continuar por Braga, também é uma questão normal. Acho que as duas coisas são normais. Não me choca nada, mas gostava muito de voltar a eleger o Rui Rocha por Braga. Aliás, gostava muito de eleger o Rui Rocha e mais uma pessoa por Braga. É difícil? É. Aliás, se há coisa que Rui Rocha tem é ser corajoso e ser ambicioso. Porque é exatamente aquilo que queremos que Portugal tenha, ambição. E gosto muito disso no Rui Rocha porque é aquilo que nós queremos para o país. Mas, indo por Braga, há uma probabilidade maior de não ser eleito, podendo não ter o líder no parlamento. Será um sinal de coragem. Nesse cenário, de quem acha que é difícil uma eleição, então só têm que reconhecer o Rui Rocha coragem se for essa a sua decisão.
“Estou confortável com os esclarecimentos de Marcelo”
No caso das gémeas, a IL tentou forçar a chamada de Marta Temido e de Lacerda Sales ao Parlamento. Há aqui uma tentativa de desviar o foco do Presidente da República para o Governo?
Não, em termos regimentais parlamentares, não há forma de chamar o Presidente da República ou o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa à Assembleia da República, seria uma impossibilidade regimental ou formal. Mas o Presidente da República ou o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, porque chamou a imprensa para dar aquela declaração num espaço inusitado, deu os seus esclarecimentos.
E ficou confortável com esses esclarecimentos?
Como alguém disse ontem, temos que acreditar na palavra da pessoa que está Presidente da República.
A questão é se se sentiu esclarecido, não é acreditar só na palavra dele. Sentiu que foram explicadas todas as questões?
Senti-me esclarecido na medida em que tinha estado numa audiência com o Presidente da República e ele, em parte, já tinha explicado a sua versão. Na altura, com menos informação de factos públicos, etc, mas já tinha ficado mais ou menos com a ideia daquilo que veio confirmar nessa declaração. Portanto, sim, estou confortável.
O que falta?
Independentemente daquilo que o Presidente da República disse, houve uma interferência. Houve uma interferência de alguém superior, de alguém político, e é isso que é preciso esclarecer. Por isso é que nós fizemos este requerimento, o PS chumbou, fizemos potestativo. A confiança dos portugueses nas instituições ficou abalada. Qual é a única forma de recuperar, de restituir, de recuperar a confiança dos portugueses nas instituições? É com esclarecimentos, com transparência.
“As pessoas saíram por sua livre e espontânea vontade”
Num ano, a Iniciativa Liberal viu o partido a dividir-se ao meio e várias pessoas abandonaram em rutura com a liderança. Como é que num partido liberal não há espaço para várias correntes coabitarem juntas?
Essa pergunta colocar-se-ia se as pessoas tivessem sido expulsas. E as pessoas não foram expulsas. Saíram por sua livre e espontânea vontade.
Não concordam com a liderança.
Acho que a melhor resposta dada a estas pessoas foi dada na convenção pelos membros da Iniciativa Liberal. Essas pessoas estavam juntas numa lista ao Conselho Nacional que teve uma votação bastante residual na convenção.
Não são só os membros dessa lista que abandonaram o partido.
Daquilo que tenho visto, sim. Eram quase tudo pessoas que estavam nessa lista.
Estamos a falar da corrente conservadora da IL.
Há uma coisa que posso dizer: assisto a algumas reuniões do Conselho Nacional, tenho ido a alguns núcleos porque me convidam para jantares ou para tertúlias, e o ambiente que se vive dentro do partido é bastante diferente daquilo que essas notícias tentam transmitir. Não há divergências dentro da Iniciativa Liberal. Não há um partido partido. Há um partido unido em prol de um objetivo maior que é, de facto, reformar o país. Essas notícias saem… Eu também trabalhei em comunicação.
Não são ‘só’ notícias. As últimas eleições internas foram quase 50/50. Foram renhidas.
Foram renhidas.
E a convenção foi bastante violenta, aliás.
Exato. E posso recordar a entrevista que vos dei na altura a dizer que a campanha para a Convenção não tinha sido bonita. Recordo-me perfeitamente disso. Agora, é sempre mais notícia quando o homem morde o cão do que quando o cão morde o homem. O que estou a dizer, porque foi essa a pergunta que me foi colocada, daquilo que presencio e que vou vivendo quando estou nos núcleos, ou quando assisto ao Conselho Nacional, é que o ambiente que existe é de união e de motivação.
A oposição só existe para vir para a comunicação social, é isso?
Sim.
“Tenho relação de amizade e de respeito muito grande com Passos”
Vamos avançar para o nosso segundo segmento, o bloco Carne ou Peixe, em que só pode escolher uma de duas opções. Pode voltar a ser foodie por um dia. Quem leva a experimentar um restaurante novo? Luís Montenegro ou Pedro Passos Coelho?
Luís Montenegro. Com Pedro Passos Coelho de vez em quando almoço num restaurante de que gostamos muito que é o “Comilão” e como com Luís Montenegro ainda não tive nenhuma refeição…
Também faz parte do circuito de almoços de Pedro Passos Coelho?
É muito pontual. Conheço Pedro Passos Coelho há 30 anos, portanto somos amigos. Uma coisa muito interessante é que saio do PSD e era o Pedro Passos Coelho presidente do PSD. Temos aí umas divergências políticas, mas temos uma relação de amizade e de respeito muito grande.
E preferia que fosse ele no lugar de Luís Montenegro?
Já dei para o peditório do PSD há muitos anos, já não dou mais.
Quem deixa a tomar conta das redes sociais da Iniciativa Liberal por uma semana? Pedro Nuno Santos ou José Luís Carneiro?
Acho que talvez o Pedro Nuno tenha um estilo mais irreverente, parecido com o da Iniciativa Liberal. Ou seja, acabaria por escolher Pedro Nuno Santos por exclusão de partes. Não me parece que José Luís Carneiro tenha um perfil irreverente.
A quem compra um bilhete para Bruxelas: Carla Castro ou Tiago Mayan Gonçalves?
João Cotrim Figueiredo. Aqui vou para vegetariano.
Quem é que levava a um concerto: Paulo Portas ou Luís Marques Mendes?
Bem, acho que dependia do estilo de música.
Podia ser na Festa do Livro em Belém.
Bem, os dois querem muito ir para Belém, não é? Acho que Luís Marques Mendes. Já tive que lidar com o Luís Marques Mendes quando ele era presidente do partido e eu era vereador na Câmara Municipal de Lisboa. Ainda tínhamos umas músicas para escutar desse tempo.