Artigo originalmente publicado em 26 de setembro de 2022 e atualizado em 14 de dezembro de 2023 depois de Tolentino Mendonça ter recebido o Prémio Pessoa 2023
Numa manhã de outono em 2017, Tolentino Mendonça recebeu o telefonema que mudou a sua vida. O padre e poeta português, vice-reitor da Universidade Católica e capelão da Capela do Rato, em Lisboa, atendeu e ouviu a voz do Papa Francisco, que tinha acabado de celebrar a sua missa diária na Capela de Santa Marta, no Vaticano. O argentino tinha um convite para lhe fazer: queria que Tolentino fosse o pregador do retiro quaresmal anual do Papa e dos cardeais da Cúria Romana, agendado para fevereiro de 2018.
O padre reagiu com surpresa e humildade:
— Olhe, mas está a convidar um pobre padre português para pregar o retiro, não sou um grande teólogo, não sou um pensador ao nível da Cúria Romana. Sou um pobre padre — respondeu Tolentino.
— Mas é bom. É isso que quero, quero um padre a pregar-me o retiro — insistiu o Papa Francisco.
O relato deste telefonema foi feito pelo próprio Tolentino Mendonça, numa entrevista ao Observador em abril de 2018, já depois do retiro e numa altura em que os textos preparados pelo sacerdote foram editados em livro. Porém, durante três meses, até ao anúncio oficial feito pelo jornal do Vaticano em janeiro de 2018, Tolentino Mendonça não pôde dizer nada a ninguém. “A dada altura, no meio da preparação tão intensa, não sabia se de facto tinha sonhado, se era verdade que estava a acontecer. Era uma coisa, ao mesmo tempo, muito solitária, uma preparação para alguma coisa que não era pública nem era imediatamente partilhável”, lembrou ao Observador.
Tolentino Mendonça: “Achava que tinha sonhado que o Papa me tinha convidado para orientar o retiro”
O que Tolentino Mendonça não sabia era que aquele convite tinha sido o primeiro passo para aquilo que se viria a revelar uma ascensão em flecha na hierarquia eclesiástica. “Naturalmente, o processo para chegar a este convite certamente passou pelo contacto com as coisas que escrevo. Tenho, nos últimos anos, editado um conjunto dos meus livros em língua italiana. No ano passado escrevi no [jornal italiano] Avvenire uma coluna diária durante três meses. Tudo isso também contribuiu para que o meu nome e o meu pensamento teológico fossem conhecidos em Itália, e naturalmente alguém sugeriu isso ao Papa Francisco”, disse Tolentino em 2018.
O retiro, subordinado ao tema “o elogio da sede”, foi um sucesso. À maneira de Tolentino Mendonça, aquela semana ficou marcada por reflexões baseadas tanto nos evangelhos como na cultura profana, na literatura e na música. No final do retiro, foi esse o aspeto que o Papa Francisco sublinhou quando agradeceu a Tolentino Mendonça por ter ajudado a puxar os pés do Papa e dos cardeais à terra, ao mundo de hoje: “As profundas meditações, partindo do dado exegético, abriram-nos ao mundo contemporâneo através das referências literárias, poéticas e ligadas a acontecimentos da atualidade.”
O Papa Francisco não ficou indiferente ao pensamento teológico-cultural de Tolentino Mendonça. Quatro meses depois do retiro, em junho de 2018, motivado pela admiração do pensamento de Tolentino, nomeou o padre para os cargos de arquivista e bibliotecário da Santa Sé. O sacerdote português, ordenado em 1990, saltou num ápice para a cúpula da Igreja Católica, passando a ter sob a sua tutela o Arquivo Secreto do Vaticano e a Biblioteca Apostólica, a mais antiga biblioteca do mundo. A nomeação trouxe outra novidade: a elevação a arcebispo. O agora José Tolentino Mendonça foi ordenado bispo em julho do mesmo ano, no Mosteiro dos Jerónimos, numa celebração com Marcelo Rebelo de Sousa na primeira fila. “Há 28 anos, não sabia ser padre, como agora não sei ser bispo. Vou ter de aprender”, disse na ocasião, garantindo igualmente que não deixaria de escrever nem de ser poeta.
Como bibliotecário e arquivista do Papa e da Igreja, Tolentino Mendonça passou os últimos quatro anos como guardião de alguns dos tesouros documentais mais preciosos do mundo. Pelo meio, em Portugal, foi convidado para presidir às comemorações do 10 de Junho em 2020 (que ficariam marcadas pela pandemia que se abatera sobre o mundo) e, em setembro de 2019, foi elevado a cardeal pelo Papa Francisco. Nomeado cardeal com apenas 53 anos, tornou-se na altura no segundo membro mais jovem do colégio cardinalício e deu a Portugal uns inéditos três votos num próximo conclave para a eleição de um futuro Papa (se tal acontecer antes de Manuel Clemente e António Marto completarem 80 anos de idade).
Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre Tolentino Mendonça.
Após quatro anos como bibliotecário e arquivista, Tolentino Mendonça foi formalmente nomeado pelo Papa para um novo cargo: prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação no Vaticano. Em linguagem civil, é o novo ministro da Cultura e da Educação da Igreja Católica. Passou a ter sob a sua tutela centenas de universidades e escolas católicas em todo o mundo, onde estudam milhões de jovens e crianças, e passa a supervisionar todo o trabalho que a Igreja Católica desenvolve em articulação com o mundo das artes e da cultura. A nomeação consolida Tolentino Mendonça como um dos mais poderosos aliados do Papa Francisco e posiciona-o no topo da hierarquia eclesiástica global — mas também é um símbolo do processo de reforma da Igreja que o Papa Francisco tem levado a cabo ao longo dos últimos anos.
O que vai Tolentino Mendonça fazer?
Tolentino Mendonça inaugurou o cargo de prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação. Isto porque, desde o verão deste ano, a Cúria Romana foi totalmente reformada — num processo que foi a grande bandeira programática do pontificado do Papa Francisco e que passou pela concentração e redução de altos cargos na hierarquia eclesiástica. Mas o primeiro ponto a ter em conta na análise das novas funções de Tolentino Mendonça é este: o cardeal português vai passar a ser um dos líderes da Cúria Romana, o órgão administrativo da Santa Sé.
A Santa Sé é a instituição central global da Igreja Católica: é um sujeito de direito internacional que dá corpo formal à Igreja Católica a nível global. A Santa Sé é o organismo que tem jurisdição sobre o território do Vaticano (que é uma entidade diferente, onde tem sede a Santa Sé), tem relações diplomáticas com centenas de países em todo o mundo e até tem estatuto de observador na ONU e em várias outras organizações internacionais. Liderada pelo Papa, que é simultaneamente o chefe de Estado do Vaticano, a Santa Sé tem um conjunto de organismos internos que podem ser comparados aos de um Estado civil, incluindo um sistema judicial e um organismo semelhante ao governo: a Cúria Romana.
A Cúria Romana é composta por um conjunto de organismos ou departamentos, responsáveis pelas várias áreas da política eclesiástica. Com o passar dos séculos, porém, a Cúria Romana tornou-se uma estrutura pesada, com congregações, conselhos pontifícios, dicastérios, comissões pontifícias, comités, academias e múltiplos outros organismos, estruturas organizadas de modo hierárquico. Desde a sua eleição, em 2013, que o Papa Francisco tem procurado implementar uma reforma profunda da estrutura da Cúria Romana, com o objetivo de simplificar e reduzir a dimensão do organismo, que se tinha consolidado como o centro do poder clericalista da Igreja — transformando-o numa estrutura próxima das igrejas locais, ao serviço dos católicos.
Durante vários anos, a reforma da Cúria foi o grande projeto de Francisco. Para o Papa, importava reduzir o número de instituições e departamentos, eliminar o excesso de distinções hierárquicas e abrir a Cúria Romana aos leigos e aos católicos das periferias. Com o apoio do Conselho de Cardeais, o Papa Francisco redigiu uma nova constituição — a Praedicate Evangelium —, que foi implementada em junho deste ano e que deu corpo à reforma da Cúria. Uma das grandes novidades foi o fim da distinção entre congregações e conselhos pontifícios, que foram todos transformados em dicastérios. O número de dicastérios também foi reduzido.
É aqui que entra Tolentino Mendonça. O novo Dicastério para a Cultura e a Educação resulta da fusão da Congregação da Educação Católica e do Conselho Pontifício para a Cultura, dois organismos que foram extintos. O cardeal português vai, assim, substituir o cardeal Gianfranco Ravasi na Cultura e o cardeal Giuseppe Versaldi na Educação — ambos italianos que se aproximam dos 80 anos, idade em que se reformam e perdem a possibilidade de votar num conclave.
O novo organismo é um dos 16 dicastérios que compõem agora a Cúria Romana. Como se lê na própria constituição desenhada pelo Papa, “o Dicastério para a Cultura e a Educação, contribuindo para a plena realização do seguimento de Jesus Cristo, opera em prol do desenvolvimento dos valores humanos nas pessoas no horizonte da antropologia cristã”. Concretamente, “o Dicastério é constituído pela Secção para a Cultura, dedicada à promoção da cultura, à animação pastoral e à valorização do património cultural, e pela Secção para a Educação, que desenvolve os princípios fundamentais da educação em relação às escolas, aos Institutos de estudos superiores e investigação católicos e eclesiásticos e é competente para tratar os recursos hierárquicos em tais matérias”.
A missão do organismo que fica agora sob tutela de Tolentino Mendonça está pormenorizadamente descrita nos artigos 153 a 162 da constituição. Entre outros aspetos, cabe a este organismo coordenar a nível global o trabalho das dioceses católicas na conservação do património histórico, cultural, arquivístico e artístico da Igreja Católica, com especial foco nos arquivos, bibliotecas, museus e igrejas.
O Papa Francisco quer também que a secção de Cultura promova e estimule o “diálogo entre as múltiplas culturas presentes dentro da Igreja” e que ajude os bispos locais a valorizar e a proteger as culturas locais. O organismo deve ainda participar em fóruns internacionais de cultura, promover o diálogo com diversos atores culturais, prestando também uma especial atenção às dinâmicas artísticas e culturais que existem dentro da própria Igreja Católica.
Por outro lado, a secção para a Educação, também sob a jurisdição de Tolentino Mendonça, tem a missão de colaborar com as dioceses de todo o mundo no que toca à criação de escolas católicas e à promoção do ensino católico nas escolas. Concretamente, o organismo deve colaborar com os bispos locais “para que os princípios fundamentais da Educação, especialmente a católica, sejam acolhidos e aprofundados em modo tal que possam ser implementados contextual e culturalmente”.
O dicastério deve também ajudar os bispos locais na “promoção da identidade católica das escolas e dos Institutos de estudos superiores” e na garantia da “integridade da fé católica” no ensinamento doutrinal. É também missão do dicastério promover “o ensino da religião católica nas escolas” — como sucede em Portugal com a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica — e ainda ajudar as estruturas locais da Igreja a definir as regras para a criação de novas escolas e universidades católicas.
Finalmente, também cabe ao dicastério liderado por Tolentino Mendonça supervisionar a vertente académica da própria Santa Sé, nomeadamente reconhecendo os graus académicos emitidos em nome da Santa Sé, aprovando os professores autorizados a ensinar teologia e coordenando as academias pontifícias.
José Tolentino Mendonça, que foi professor universitário e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa entre 2012 e 2018, conhece bem a realidade do ensino católico — e o seu pensamento sobre o assunto é igualmente conhecido. “Uma escola católica, apostada numa educação integral, tem de ter uma visão, e uma visão do todo, da pessoa humana na sua inteireza”, disse em fevereiro deste ano, numa cerimónia de comemoração dos 80 anos do Colégio Sagrado Coração de Maria. “A educação é um jogo de relação”, que “não se empenha apenas em transmitir de forma competente, eficaz, os vários saberes”, mas que deve “ajudar cada um dos seus membros a viver inteiramente aquilo que é”.
Em 2019, na cerimónia em que recebeu a Medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira, Tolentino Mendonça pronunciou-se extensamente sobre a educação e a cultura. “Numa democracia, a questão da educação é uma questão que tem de ser transversal. É de facto uma questão nacional e uma questão regional, que diz respeito a todos, e temos que conseguir sempre um vastíssimo acordo para um investimento grande na educação e na cultura”, disse Tolentino Mendonça. “Pela minha própria experiência, a educação, a construção pessoal e o investimento na pessoa humana, na sua cultura, são a chave para o percurso que iremos fazer.”
Concretamente, estarão sob jurisdição de Tolentino Mendonça 1.360 universidades católicas, 487 universidades eclesiásticas e 217 mil escolas — que abrangem 11 milhões de estudantes universitários e 62 milhões de alunos mais novos.
Quanto à dimensão cultural, a expectativa é a de que Tolentino Mendonça aposte na aproximação entre a tradição da Igreja Católica e a cultura contemporânea, estabelecendo paralelismos com a música, a arte e a literatura.
“A Bíblia é palavra sagrada. É sagrada, por um lado, e nesse sentido aquela palavra tem um estatuto singular, mas não deixa de ser palavra. A Bíblia não deixa de ser uma biblioteca, não deixa de ser um conjunto de poemas, um conjunto de cartas, um conjunto de Evangelhos, um conjunto de apocalipses, de textos de corte, de textos amorosos, de narrativas epopeicas, e por isso o conhecimento que a teoria da literatura, mas também a ciência ou o cinema, nos oferecem sobre o que é uma narrativa ou uma história, o impacto desta palavra no leitor, é absolutamente decisivo para adensar a interpretação e a pertinência da leitura que nós podemos fazer”, disse Tolentino Mendonça em entrevista ao Observador, em 2018.
“Eu digo sempre aos meus alunos que um estudioso da Bíblia, ou um padre, tem de ver muito cinema, tem de ouvir muita música, tem de contactar muito com o mundo das artes, tem de conhecer psicanálise, tem de ler antropologia. Isso vai enriquecer a compreensão do humano”, acrescentou.
A Madeira, Angola e o fascínio pela poesia
José Tolentino Mendonça nasceu na ilha da Madeira a 15 de dezembro de 1965, mas tinha apenas um ano de idade quando deixou Machico e se mudou com a família para o Lobito, em Angola, onde já tinha familiares. O pequeno José viveu a primeira década da sua infância em Angola, onde teve uma vida de grande proximidade à natureza.
“Penso que tive muita sorte de vir de um mundo ainda ligado às profissões artesanais, porque há um contacto com a natureza, com os elementos, há uma disponibilidade quase contemplativa. Lembro-me de, pequeno, nas férias escolares, ir com o meu pai e com a companhia do barco, e lembro-me de estar sentado na proa a olhar o fundo do mar, a olhar mais distante, a paisagem da terra que se ia avistando, e isso de certa forma também deu uma largueza ao meu olhar”, disse ao Observador, também em 2018.
Tolentino Mendonça. A vida do padre-poeta que orientou o retiro do Papa
Voltou à Madeira com nove anos, depois do 25 de Abril — uma despedida marcada por um “dramatismo mais literário do que literal”, como recordou. “Senti que me estava a despedir daqueles lugares. Fui com o meu cão, sozinho. Digo que foi literário porque quis chorar, abraçado ao cão, sentindo que era a última vez que estava ali”, descreveu. Na ilha, encontrou uma vida diferente, com menos espaço físico, contrastante com a amplitude da vida em África: “No microcosmos insular, tudo é muito concentrado, está lá tudo. Mas tudo numa dimensão muito pequena, minúscula. O que é uma outra experiência do espaço e uma outra experiência do tempo.”
Na infância, teve o primeiro contacto com a literatura. “A minha avó foi a minha primeira biblioteca”, revelou numa entrevista ao Público, em 2012: a avó não sabia ler nem escrever, mas conhecia de cor vários romances e histórias orais. Aos 11 anos, entrou no seminário e entrou pela primeira vez numa biblioteca. Mas foi pela oralidade de uma mulher analfabeta, uma zeladora da igreja que frequentava e que citava várias vezes o Cântico dos Cânticos, que Tolentino Mendonça se apaixonou pela poesia. “Uma vez, disse-me aquele poema e fiquei aturdido, extasiado, aquelas palavras apoderaram-se de mim”, disse ao Observador.
“Fiquei num estado de fascínio por aquele poema, de que não sabia a proveniência, e depois descobri que era um poema que afinal estava escrito. Acho que na formação de uma pessoa — cada uma tem a sua formação — podemos valorizar vidas muito simples, vidas que vêm de outro mundo. Penso, por exemplo, nesta transformação que Portugal tem vivido nestas últimas décadas. No fundo, é a transição apressada de mundos. No meu mundo, no mundo da minha infância, havia ainda muitas pessoas analfabetas ou com uma formação escolar muito básica. O que não quer dizer que elas não fossem transportadoras de uma sabedoria”, acrescentou.
Foi já como seminarista que, aos 16 anos, escreveu o seu primeiro poema, A Infância de Herberto Hélder, o poeta madeirense que foi a sua grande referência poética. “Aos 16 anos não sabia nada. Só sabia que amava o Herberto Hélder”, disse ao Público. Um ano depois, começou os estudos superiores de teologia e foi ordenado padre em 1990, no ano em que lançou o primeiro livro de poemas, Os Dias Contados. Depois da ordenação, Tolentino Mendonça mudou-se para Roma, onde fez um mestrado em Ciências Bíblicas. Mais tarde, faria também o doutoramento em Teologia Bíblica.
Regressou a Lisboa ainda na década de 1990 e começou a dar aulas na Universidade Católica, onde também foi colocado como capelão. Foi lá que conheceu, entre outros estudantes, o jovem Pedro Mexia, que ali estudava Direito. “Lembro-me de as pessoas ficarem muito cativadas com o estilo dele. Houve até pessoas que passaram a ir à missa para o ouvir”, disse o poeta português ao Observador em 2018. “Nós dizíamos uns aos outros que achávamos que aquele tipo ia longe.”
O padre Miguel Vasconcelos, que sucedeu a Tolentino Mendonça como capelão da Católica, e que também foi seu aluno, resumiu ao Observador aquilo que caracterizava o professor Tolentino: “Uma das coisas que marcam a ação dele é a capacidade de olhar para os Evangelhos com a sensibilidade dos artistas. É uma teologia contemplativa, com a lupa da estética. E isso é próprio dele, por ele ser poeta, não é uma fabricação.” Anos mais tarde, o próprio Papa Francisco testemunharia isso mesmo.
Mais poder para Portugal no Vaticano
A nomeação de José Tolentino Mendonça para o cargo de prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação consolida a influência da Igreja Católica portuguesa junto do centro de decisão da Igreja global. Nos últimos anos, duas decisões do Papa Francisco reforçaram a posição de Portugal na Santa Sé: a elevação de António Marto, hoje bispo emérito de Leiria-Fátima, a cardeal; e, agora, a nomeação de José Tolentino Mendonça para este novo cargo.
Em 2019, a elevação de Tolentino Mendonça a cardeal já tinha criado uma situação inédita: se houver um conclave num futuro próximo, Portugal tem direito a três votos — José Tolentino Mendonça, António Marto e Manuel Clemente. Contudo, com a nova nomeação, o cardeal passa a estar na primeira linha da Cúria Romana e ganhará um novo protagonismo como um dos decisores primordiais dos destinos da Igreja Católica contemporânea.
Porque é que Portugal não tem mais poder no Vaticano? Porque não quer
Em 2018, vários responsáveis portugueses no Vaticano reconheciam ao Observador que a influência de Portugal na Santa Sé estava em crescimento. Segundo o padre jesuíta João Vila-Chã, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, viviam-se “tempos marcados por uma subida em flecha do peso de Portugal em Roma”. Já o bispo Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício da Cultura — organismo agora extinto —, dizia que “talvez Portugal nunca tenha tido tanta influência [no Vaticano] como tem hoje”.
Para aqueles que acalentam o sonho de ver um português subir ao trono de São Pedro, a escolha para um cargo de primeira linha de Tolentino Mendonça, o homem de quem o Papa Francisco disse um dia “tu és a poesia”, pode ser vista como um sinal positivo.