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Nesta quarta-feira, em Portugal, já tinham levado pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19 868.767 pessoas e 265.281 tinham a vacinação completa. O Governo insiste até ao final do verão espera que 70% da população esteja vacinada contra a doença e que foram encomendadas já as doses suficientes para que isso aconteça e que ainda sobrem vacinas para ajudar os países mais pobres.

Com cada vez mais pessoas vacinadas, começa a surgir também mais confiança contra a qual se tem pedido cautela. Porque, mesmo após a imunização, ainda sobram algumas (talvez muitas) dúvidas. Preciso de tomar uma nova dose no futuro? Qual é o papel das variantes? Será que posso transmitir o vírus mesmo vacinado?

Para responder a estas e mais questões, falámos com Miguel Castanho, bioquímico do Instituto de Medicina Molecular e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e Henrique Veiga-Fernandes, imunologista do Instituto Champalimaud. Algumas questões ficam esclarecidas, mas ainda há muitas respostas inconclusivas.

O que quer exatamente dizer que uma vacina tem 95% de eficácia?

Parece uma questão elaborada e que envolveu cálculos exaustivos, mas, segundo Henrique Veiga-Fernandes, apenas significa que, após os testes clínicos, há uma diminuição de 95% do total da população que apanham a doença, sejam eles entre vacinados ou não vacinados. “No essencial, é um índice de proteção, que foi estipulado no final da fase 3 dos ensaios clínicos. Foi determinado que, após um mês a seguir à segunda toma da vacina, por cada 100 pessoas (num universo de vacinados e não vacinados), apenas cinco têm propensão para desenvolver a doença. As restantes não vão ficar doentes, nem vão desenvolver sintomas”, explica o imunologista.

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Se tomar uma dose da vacina e estiver à espera da segunda, há possibilidade de apanhar Covid-19?

Sim. A imunização à doença não surge imediatamente a seguir à vacinação — apenas duas ou três semanas depois, altura em que o organismo já apresenta anticorpos suficientes para neutralizar o vírus e há uma atualização da imunidade celular. Henrique Veiga-Fernandes sinaliza que, só após este intervalo de tempo é que existe de facto “um nível de proteção considerável”.

As duas doses da vacina têm de ser da mesma farmacêutica?

Atualmente sim (nas vacinas que são de duas tomas). Mas estão a decorrer estudos no Reino Unido para ser possível utilizar vacinas de fabricantes diferentes, o que permitiria, de acordo com Henrique Veiga-Fernandes, uma “grande flexibilização do ponto de vista logístico”. Ainda assim, salienta o imunologista, há uma “razão científica” para que as duas doses sejam da mesma empresa farmacêutica: o facto de utilizarem o mesmo “material genético” e de terem uma codificação das mesmas partículas. O que está a ser testado é exatamente que os fabricantes compatibilizem estes factores.

Tomei a primeira dose da vacina e não sofri qualquer reação adversa. Posso ter um efeito secundário na segunda dose?

Há pouquíssimos casos, são “extraordinariamente raros”, e acontecem principalmente a pessoas com um passado alérgico grave. Henrique Veiga-Fernandes explica que é por isso, aliás, que após a toma da vacina os doentes ficam 30 minutos numa sala de espera, de forma a controlar possíveis efeitos secundários adversos.

Quem já foi infetado precisa apenas de tomar uma dose da vacina?

Esta decisão varia de país para país porque os dados ainda são insuficientes. Em Portugal, quem já esteve infetado não deverá ser vacinado nesta fase e ainda não se sabe se será vacinado com uma ou duas doses, disse fonte oficial da Direção-Geral da Saúde ao Observador. Já quem tomou a primeira dose da vacina e foi infetado (antes ou depois disso) não tomará a segunda dose.

DGS. Quem esteve infetado com coronavírus só toma uma dose da vacina

Em Espanha, por exemplo, foi estipulado recentemente que só se vai dar uma dose da vacina da AstraZeneca a pessoas entre os 45 e os 55 anos que estiveram infetados.

De acordo com Henrique Veiga-Fernandes, existe uma “forte variabilidade”, dependente da resposta imunitária que cada pessoa desenvolveu após ter contraído a doença. Miguel Castanho sublinhou que, tendo em conta que quem já foi infetado já desenvolveu anticorpos, essa opção poderá ser viável, mas a decisão ainda carece de mais estudos.

Neste caso, a eficácia de apenas uma dose pode ser a mesma?

Sim. O imunologista refere que, caso houver “uma infeção natural que já espoletou uma resposta imunitária robusta”, uma dose pode chegar para a imunização, ainda que esse processo esteja dependente da resposta do organismo de cada pessoa. Henrique Veiga-Fernandes admite, contudo, que esta opção “merece ponderação por parte das autoridades portuguesas”.

Se for vacinado, posso transmitir o vírus?

Sim. De acordo com Henrique Veiga-Fernandes, a vacinação “não é sinónimo de esterilidade”. “Particularmente nas situações em que os genes anticorpos que existam não sejam suficientes para neutralizar o vírus, a pessoa pode ser infetada e pode transmitir o vírus”, afirma. Miguel Castanho também considera que “as pessoas vacinadas podem transmitir o vírus durante algum tempo tão eficientemente como alguém que não foi imunizado”. Daí a necessidade de manter as medidas de etiqueta respiratória e de distanciamento social mesmo depois de se ser vacinado.

A eficácia da vacina varia consoante certos fatores, como a idade?

É possível que sim. Em pessoas mais velhas, existe uma “produção de anticorpos menos robusta” e a “imunidade celular também é menos robusta”, o que faz com que as vacinas possam ser menos eficazes — e isto acontece também em outras (como a da gripe). Henrique Veiga-Fernandes considera, no entanto, que é necessário “mais informações” para perceber como é que o sistema imunitário dos mais velhos reage ao imunizante.

Quanto tempo dura a proteção da vacina contra a Covid-19?

Ainda não há dados concretos, mas Henrique Veiga-Fernandes estima que se induzam “níveis consideráveis de anticorpos neutralizantes oito a nove meses após a vacinação, ainda que admita que “é possível que se mantenham durante mais tempo”. Miguel Castanho realça que após alguns meses há um “declínio no número de anticorpos”: “Não é possível avançar com um determinado número de meses, mas olhando para as pessoas que já foram infetadas, é possível inferir, com alguma segurança, que a proteção dura durante algum tempo”, afirma o bioquímico.

De que forma é que as novas variantes afetam a vacinação? Vou precisar de tomar outra dose?

“É uma possibilidade clara, real e palpável”, descreve Henrique Veiga-Fernandes. Miguel Castanho salienta que, tendo que em conta estão a surgir mutações do vírus a “um ritmo apreciável”, é de esperar que possa haver um reforço da vacinação no futuro ou até pode vir mesmo a existir, tal como existe com a gripe, uma vacinação periódica.

Se tomar uma vacina que depois se prova que não é eficaz contra uma variante, preciso de ser vacinado outra vez?

Como já se disse, poderá haver a necessidade de um reforço. No entanto, convém realçar que mesmo com as atuais vacinas continuam a existir anticorpos no organismo que combatem o vírus — aliás, podem mesmo evitar que existam complicações mais graves da doença.

Atualizado dia 4 de março, às 19h00, com a estratégia portugues para uma só dose da vacina.