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José Cardoso é candidato à presidência da Iniciativa Liberal
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José Cardoso é candidato à presidência da Iniciativa Liberal

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

José Cardoso é candidato à presidência da Iniciativa Liberal

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

José Cardoso: "Criticar o PS não pode ser a única razão de viver da IL”

José Cardoso, candidato à liderança da Iniciativa Liberal, considera um erro centrar toda a energia do partido na denúncia dos erros do PS. O conselheiro do partido exige ainda mais transparência.

Foi o último a aparecer na corrida à sucessão de João Cotrim Figueiredo e quer assumir-se como a verdadeira alternativa do partido ao poder vigente. Considera que Rui Rocha e Carla Castro não oferecem nada de diferente e que são farinha do mesmo saco. “Não consigo ver diferenças entre Rui Rocha e Carla Castro. Pelos vistos chatearam-se, ainda não percebi muito bem porquê.”

Em entrevista ao Observador, no programa “Sob Escuta”, José Cardoso, até aqui conselheiro nacional da IL e gestor de profissão, lamenta aquilo que diz ser a falta de transparência interna do partido e sugere que é preciso saber exatamente quem é que financia o partido e o que é feito com esse dinheiro. “Nunca aceitarei que o partido tenha opacidade sobre um único euro”, diz.

Crítico assumido da forma como João Cotrim Figueiredo e respetiva direção têm conduzido o partido, José Cardoso defende que a IL tem de ser mais do que um mero partido que protesta. “As pessoas não votam em nós porque somos os melhores a criticar o PS. Um partido liberal tem de se focar no indivíduo. É essa a razão do liberalismo. Dá muito mais trabalho. É muito mais fácil acordar de manhã, fazer uma crítica ao PS, colocar um banner na Internet e está feito o dia.”

Nesta entrevista — a primeira de uma série que contará com os três candidatos à liderança da IL e que culminará com um debate entre todos –, José Cardoso lamenta ainda que o partido se tenha colocado numa posição de ser chamado “partido dos queques”. “Chateia-me solenemente esse tema porque foi algo para que alertei o partido a seu tempo, em 2019. Falhámos.”

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[Veja aqui a entrevista a José Cardoso na íntegra]

“Não consigo ver diferenças entre Rui Rocha e Carla Castro”

A sua página de Facebook tem 97 seguidores. Tem 51 seguidores no Instagram. Quando apresentou a sua candidatura, neste sábado, tinha 14 pessoas na assistência. Sente que a sua candidatura tem alguma representatividade dentro da Iniciativa Liberal? 
Este processo começa há três anos e tenho optado por fazer um trabalho interno no partido com muito pouca exposição mediática. Esta apresentação pública começa agora e é normal que muitos ainda não me conheçam. No entanto, dentro do partido, as pessoas conhecem-me razoavelmente bem.

Tem feito muitas críticas ao longo destes anos no Conselho Nacional, disse na apresentação da candidatura que decidiu avançar para que os membros da Iniciativa Liberal não tenham de escolher “entre arroz e arroz”. Se Rui Rocha ou Carla Castro, se um dos dois vencer, concluirá que as críticas ao longo destes anos não convenceram os militantes?
Não sei quais são as conclusões que vou fazer depois. O que sei é que todas as críticas que fiz ao longo dos três anos foram sempre sustentadas com propostas alternativas e o que aprendi é que nunca se critica quando não se é capaz de fazer melhor ou quando não se tem alguma coisa para propor. Não é normal que, num partido liberal, 48 horas depois da demissão do presidente, apareçam duas candidaturas e exista um endorsement do presidente que sai. Um partido liberal não pode ficar refém de uma inevitabilidade que nos é oferecida. Acresce que estes dois candidatos fazem parte da mesma Comissão Executiva, não são de áreas diferentes do partido ou de formas de estar diferentes, são a mesma forma de estar. Pelos vistos chatearam-se, ainda não percebi muito bem porquê.

Caso não vença, com esta candidatura acabou por afastar a hipótese de continuar a ser conselheiro nacional, qual é que vai ser o seu papel na vida interna do partido?
Isso não me preocupa, motivo-me por ideias. A minha participação ativa acontecia antes de estar no Conselho Nacional e vai manter-se.

Voltando ao “arroz com arroz”: não vê qualquer diferença entre as candidaturas de Rui Rocha e Carla Castro?
Tenho de comparar o que os dois têm feito no partido. Nos últimos três anos, no Conselho Nacional, cada um deles fez uma ou duas intervenções orais. Pontos agendados para debate: zero. Documentos alternativos a outros que tenham sido colocados na mesa: zero. Relatórios da sua atividade como membros da Comissão Executiva: zero. Olhando para isto e para o facto de terem sempre votado juntos em todas as votações até ao fim, não consigo ver diferença.

Há instantes sugeriu que talvez se tivessem chateado. Acha que o que move os dois é pessoal?
Não faço ideia, têm de ser eles a explicar.

Ainda assim, Carla Castro apresenta uma equipa que só tem um elemento da anterior Comissão Executiva. Isso não é uma prova de que quer uma mudança?
Se não estava de acordo com a prática política da Comissão Executiva anterior devia ter-se demitido a seu tempo e dizer porquê. Não o fez. No Conselho Nacional, nunca vi qualquer um dos dois a votar ao lado de ideias e de conceitos como a descentralização dentro do partido, a partilha do conhecimento, o respeito pela separação de poderes, a transparência de salários, de donativos, a partilha de contactos para que as pessoas pudessem construir projetos juntos, a comunicação interna, a forma como falamos com os cidadãos, um centro de estudos mais aberto. Votaram sempre contra todas as propostas e nunca propuseram uma proposta alternativa. É para isto que olho quando digo que as candidaturas são iguais.

Vai propor à Convenção que haja uma segunda volta nestas eleições internas. No caso de essa proposta ser aprovada e de não conseguir passar à segunda volta, votaria em Rui Rocha ou em Carla Castro?
Ao contrário do João Cotrim Figueiredo nunca farei nenhuma recomendação em outro candidato, devem ser os membros a refletir e a tomar as suas decisões quando isso vier a acontecer. Mas espero não só passar à segunda volta como ganhar as eleições.

Mas não vê nos seus adversários nenhuma diferença que lhe permita dizer que um é melhor candidato do que o outro?
Não me compete a mim fazê-lo. Se apresentei uma alternativa tenho de defender a minha alternativa.

Mas votará num deles ou não?
Se fosse hoje votava em branco.

"O grande problema é que atrás de muitas ideias liberais, a prática política não tem sido liberal"

“Nunca aceitarei que o partido tenha opacidade sobre um único euro”

É um dos rostos mais críticos do Conselho Nacional e acusou a Comissão Executiva de falta de democracia interna. A equipa de João Cotrim Figueiredo transformou a Iniciativa Liberal numa redoma de poder onde só há uma linha de pensamento?
Na política há as ideias e a prática política. Quando falamos da maneira como o PS contrata os secretários de Estado e tudo o que tem dominado a política nos últimos tempos não estamos a falar das ideias políticas; estamos a falar da prática política. O grande problema é que atrás de muitas ideias liberais, a prática política não tem sido liberal. Se a IL quer sobreviver, não o conseguirá sendo igual ao PSD e ao PS. É impossível. A diferenciação vem pelas ideias, mas também pela forma como fazemos política. Nos últimos anos, desde que entrou João Cotrim Figueiredo, não tem havido nenhuma evolução no sentido liberal da prática política.

Concorda, por exemplo, com Tiago Mayan Gonçalves, que acusou a direção de Cotrim Figueiredo de funcionar “como o Comité Central do PCP”?
Não gosto muito de me expressar dessa forma. Mas quando Comissão Executiva tem o direito a voto que tem no Conselho Nacional, é mais ou menos a mesma coisa que o Governo ter 33% dos votos na Assembleia da República mais o seu partido de apoio. A partir daí deixa de haver democracia. Isso leva a que seja muito difícil que um conjunto de ideias que outras pessoas proponham sejam debatidas, criando uma linha de pensamento único. Num partido liberal isso não é aceitável.

Então concorda que há apenas uma linha de pensamento dentro do partido, uma linha imposta pela direção?
Concordo que não tem havido espaço no Conselho Nacional para haver debate sobre ideias alternativas. A Comissão Executiva anula todas essas possibilidades.

Tiago Mayan Gonçalves disse também que os membros do Conselho Nacional e alguns elementos da Comissão Executiva não tinham acesso a atas nem a “informação completa” sobre os contratos celebrados pela Iniciativa Liberal. Alguma vez lhe foi negado o acesso a algum documento?
Nenhuma informação pode ser limitada ao Conselho Nacional. Há um conjunto de informação que a Comissão Executiva devia prestar a este órgão e que não tem prestado. E tem de prestar, nem sequer tem de questionar.

Já percebemos que tem uma desconfiança, mas consegue concretizar em que é que assenta essa desconfiança?
As remunerações na política têm de ser 100% transparentes para os eleitores, estejamos a falar do país, do partido ou de qualquer outra organização política. Nunca aceitarei que nenhum órgão executivo tenha qualquer tipo de opacidade sobre um único euro ou alguma prática política.

Mas o que é que está em causa nessa acusação? São, por exemplo, os contratos dos funcionários da IL?
São as remunerações pagas a funcionários. Estamos a falar também dos donativos recebidos. Não quero ser o PS e o PSD, quero transparência sobre as contas do partido, os donativos, o centro de estudos, a manifestação de interesses. Por exemplo: se uma pessoa tem uma empresa de um determinado tipo de produtos e participa com a IL numa lei da qual pode beneficiar de alguma forma, tem de haver um registo de interesses. Não quero ninguém a utilizar a IL.

Mas isso está a acontecer?
Não há uma prática de registo de interesses. Quero um partido à prova de bala.

Conhece algum caso em que isso aconteça ou está apenas a querer ter informação?
Não quero ser surpreendido daqui a não sei quanto tempo e saber que alguém esteve nessa situação. Não quero chegar aí. É preciso termos uma prática política diferente dos outros partidos, caso contrário vamos chegar aí. Se não fazemos um partido diferente, as pessoas terão a perceção de que seremos iguais. Não quero a IL igual ao PSD ou ao PS.

Então quando a presidente do Conselho Nacional, Mariana Leitão, diz que os conselheiros têm acesso a todos os documentos está a mentir?
Os documentos que acho que tem de haver mais transparência são do órgão executivo perante o órgão legislativo que é o Conselho Nacional. Relativamente ao Conselho Nacional, muitas vezes tem havido dificuldade em agendar pontos para debate e não pode ser.

A Comissão Executiva que esconde ou oculta informação?
Exatamente, [é a Comissão Executiva] que tem de prestar esses esclarecimentos.

Concorda com alguns membros da Iniciativa Liberal que pediram a demissão da presidente do Conselho Nacional?
No fim de mandato não faz muito sentido. O papel de um presidente e de uma mesa do Conselho Nacional é ser equidistante em relação a todas as diferentes opiniões que existem no partido.

"Uma linha de pensamento único num partido liberal não é aceitável"

“Se houver eleições nos próximos dois anos, provavelmente não serei candidato a deputado”

A história da IL já teve três presidentes — Miguel Ferreira da Silva, Carlos Guimarães Pinto e João Cotrim Figueiredo, qual é que acha que cumpriu melhor a função?
Não se podem comparar. O Miguel Ferreira da Silva faz o trabalho difícil de ser o primeiro, quase inglório, e temos de lhes estar gratos. O Carlos Guimarães Pinto trouxe uma componente ideológica, muitas pessoas ainda têm saudades dessa IL de 2019, foi o homem certo no momento certo, e o João Cotrim Figueiredo foi o deputado único, era uma pessoa que tinha de ser bom porta-voz, que funcionasse nos media porque tinha de nos comunicar pela primeira vez ao mundo e esteve bem nesse papel. Foram três pessoas que conseguiram encaixar com o ideal para o partido.

Estiveram os três bem?
Sim, naquele que era o desafio do momento. Se calhar trocando a ordem não funcionaria tão bem, mas estiveram todos bem naquilo que era esperado naquele momento.

Defende que o partido precisa de um presidente a tempo inteiro, ou seja, que não acumule essa função com o lugar de deputado. Se ganhar, não vai ser candidato a deputado nas próximas legislativas?
Já não se pode dizer quando é que são as próximas legislativas. O PS parece que está a fazer de tudo para que o mandato não chegue até ao fim. Mas, imaginando que as eleições são daqui a quatro anos, neste momento, não me sinto motivado para isso. Não me parece que seja o relevante. Vejo um projeto político como algo muito mais abrangente do que estar só na Assembleia da República. O projeto político da Iniciativa Liberal não está construído. Não o vejo implementando no país. A formação dos membros do partido está por fazer. As estruturas internas estão por fazer.

Então não ser deputado não é uma posição de princípio?
Se houver eleições nos próximos dois anos, provavelmente não serei candidato a deputado.

Daqui a quatro anos já não haverá problema de acumular os dois cargos?
Não sei. Mas, neste momento, não vejo que seja isso que o partido precise. O partido precisa de construir um projeto político que vai muito para além da Assembleia da República.

Caso a Iniciativa Liberal integre uma coligação de governo, acumulará a presidência do partido com um ministério?
Se for presidente da Iniciativa Liberal, não nos candidataremos coligados com qualquer partido.

A pergunta era outra. No caso de o PSD convidar a IL a formar governo, enquanto presidente do partido, aceitará ou não um cargo ministerial?
Se fosse nos próximos dois anos, não sei se isso faria muito sentido. O projeto político demorará mais tempo do que esses dois anos a ser construído. Isso colocaria em causa esse trabalho que tem de ser feito.

Defende que “a Iniciativa Liberal deve ser um partido de Governo e não um partido de protesto”. Quer que a IL seja um partido de governo, mas não quer fazer parte do governo. Isso não é uma contradição?
Não, de todo. Temos tantas pessoas competentes. Troco o meu lugar para ver um Carlos Guimarães Pinto como ministro da Economia. Há muitas pessoas capazes na IL, tem muitos quadros.

E João Cotrim Figueiredo? Qual é que seria uma boa pasta para ele?
Esteve no Turismo, com um bom desempenho, portanto teria muitos lugares para ocupar no Governo.

Se for eleito presidente da IL, escolherá João Cotrim Figueiredo como candidato às próximas eleições europeias?
Sou defensor que o partido mude a forma como escolhe os seus candidatos. Tem de se abrir espaço a que um conjunto de membros se possa chegar à frente, propor e escolher a pessoa. Nunca farei o processo numa ótica presidencialista.

"O projeto político da Iniciativa Liberal não está construído. Não o vejo implementando no país. A formação dos membros do partido está por fazer. As estruturas internas estão por fazer"

“É fácil acordar de manhã e fazer uma crítica ao PS. Não pode ser a nossa razão de viver”

Na sua moção diz que quer “um partido focado nos cidadãos e não no PS como até agora”. Acha que a Iniciativa Liberal devia criticar menos o PS?
A IL não pode achar que isso é a razão de viver. Um partido não pode ter como única razão de viver criticar os outros porque são diferente de nós. Não pode focar 80 ou 90% da sua energia nisso. As pessoas não votam em nós porque somos os melhores a criticar o PS. Um partido liberal tem de se focar no indivíduo. É essa a razão do liberalismo. Dá muito mais trabalho. É muito mais fácil acordar de manhã, fazer uma crítica ao PS, colocar um banner na Internet e está feito o dia.

Concorda com a apresentação da moção de censura ao governo por parte da Iniciativa Liberal?
Independente do que tem feito o PS, que parece já uma anedota, não o faria em período eleitoral e com uma maioria absoluta do PS. Não proporia uma moção de censura.

Disse a seguinte frase: “Eu não quero fazer um partido bengala de ninguém, nem viemos para ser iguais, senão prefiro ir para casa e votar no PSD”. Neste ponto da moção de censura, qual é a diferença entre a sua posição e a do PSD, que se absteve?
O que eu disse é que igual por igual as pessoas dirão “voto nos que já estão”. Foi o que aconteceu nos últimos 50 anos. Não há nenhum partido novo que tenha chegado à Assembleia da República e que tenha sobrevivido.

Neste caso, estaria alinhado com o PSD.
Ter uma opinião não me coloca do lado dos que têm a mesma opinião do que eu. Estou ao lado das minhas convicções.

Até onde é que vai a sua diferença de opiniões com o PSD? Que coligações seria possíveis? Admite uma coligação com o PS?
Olhando para os exemplos da Europa, acho que caminhamos para uma queda do PS e do PSD. E penso que será já nas próximas eleições. Repare que há países em que se estão a coligar quatro partidos, que não tem rigorosamente nada que ver uns com os outros, para conseguir governar.

Na Alemanha, por exemplo, o Partido Liberal está a apoiar um Governo liderado pelo correspondente ao nosso PS. Admite esse cenário cá?
Admito que as pessoas têm de ganhar maturidade política para perceber que, nas diferenças, temos de nos unir para governar. Estamos longe ainda. Mas vamos chegar lá. E penso que vão surgir mais pequenos partidos que vão polvilhar mais. Neste momento, o PS é tão estatista, tão estrangulador da economia, que não há ninguém que, defendendo a economia de mercado, queira estar ao lado do PS.

Na Alemanha, os liberais apresentaram quatro ou cinco exigências.
Mas não é possível comparar [as realidades políticas].

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Neste momento, só vê um possível governo com o PSD?
Neste momento, só o vejo com partidos que economicamente entendam a necessidade de darmos mais liberdade económica às pessoas para desenvolverem o seu potencial. E que, nas liberdades sociais, respeitem todos os princípios de maior liberdade para as pessoas e não de maior condicionamento.

Portanto, os partidos que existem, só admite uma coligação com o PSD.
Dos que estão na Assembleia da República, provavelmente só o PSD.

E admite uma solução de governo que envolva o Chega numa fórmula semelhante à dos Açores?
A Iniciativa Liberal não tem qualquer governo com o Chega nos Açores. A. IL fez um acordo parlamentar com o PSD. Ponto.

E depois o PSD fez um acordo com Chega.
Isso é entre o PSD e o Chega.

Não é bem assim. Na realidade, a IL está a sustentar um governo que é condicionado por um acordo com o Chega.
Honestamente, nem sei em que é que é condicionado. Desde que não nos condicione.

Dois dos aspetos que constam desse acordo são o combate à chamada subsídiodependência e a luta contra a corrupção. Não lhe provoca qualquer urticária?
Não. Não são temas fraturantes. Agora, em Portugal continental, pode haver coligações de governo e podem haver modelos desses com múltiplos partidos. Com o Chega, o problema é que somos incompatíveis em várias situações. Baseamos as nossas decisões em ciência, factos, em exemplos que procuramos na Europa, e o Chega vai procurar a espuma dos dias e o populismo. Como é que iríamos governar assim? Duraria um mês?

Voltando à nossa primeira pergunta: nestes termos, ou seja uma solução semelhante à que foi encontrada nos Açores, não veria qualquer impedimento?
Duvido muito que a IL, com qualquer um dos candidatos, faça qualquer tipo de acordo com um partido populista. Eu não faria de certeza. Mas não é por ser o Chega; um partido que é populista, que tenta atacar liberdades sociais de certas minorias, que tem uns laivos de estatismo, como é que a Iniciativa Liberal fazia um acordo?

Então, mas está ou não confortável com o que existe nos Açores?
Estou confortável com o que a IL negociou com o PSD.

Portanto, essa solução poderia repetir-se para um governo da República?
Se o PSD quiser tentar essa solução, pode tentá-la. Se a IL conseguisse um acordo com o PSD que fizesse reformas no país, acho que deveria fazer esse acordo, seja em formato de governo, seja num formato de apoio parlamentar.

Mesmo havendo um acordo paralelo entre PSD e Chega.
Isso seria um problema entre o PSD e o Chega.

"Com o Chega, o problema é que somos incompatíveis em várias situações. Baseamos as nossas decisões em ciência, factos, em exemplos que procuramos na Europa, e o Chega vai procurar a espuma dos dias e o populismo. Como é que iríamos governar assim? Duraria um mês?"

“Vejo o Estado com um papel regulador e não como um prestador de serviços”

Na sua moção diz dezenas de vezes que quer “acompanhar necessidades e indicadores” para “apresentar propostas políticas”. Mas no documento quase não tem medidas concretas. Como é que pretende que votem na sua lista quando os militantes da Iniciativa Liberal não sabem o que quer para o país?
Quando as pessoas se candidatam a presidente de um partido, a tendência é lançar cinco, seis ou sete propostas para o país. Mas quando alguém se candidata a este tipo de cargos tem de apresentar uma moção estratégica para o partido e não um programa eleitoral para o país. Não sou um tudólogo e não gosto de presidencialismos.

Mas o que nos está a dizer é que a sua candidatura se pode resumir a reformas internas e não a um projeto para o país.
Não, antes pelo contrário. Essas oito áreas dizem-lhe da importância e relevância para o país que demos a esses segmentos.

Mas num partido que se afirma por ser das ideias e não das pessoas não faltam ideias concretas na sua moção?
Não. Numa moção estratégica tem de estar uma estratégia.

Uma estratégia para o partido, mas não para o país?
As áreas para as quais o partido tem de apresentar soluções dirigem-se ao país. Nas últimas eleições, apresentámos um programa de 600 páginas. Ou seja: o partido está capaz de apresentar programas eleitorais e isso é que é relevante. O caminho para essas áreas é o que apresentámos na moção de estratégia.

Defende uma reforma da administração pública e diz querer um Estado “pequeno”. Quer despedir funcionários públicos?
Tal como o PS foi, ao longo dos tempos, fazendo aumentar o número de funcionários públicos, o Estado pode ir fazendo uma reforma sem despedimentos, colocando os funcionários públicos onde eles possam ser mais rentáveis para o Estado e possam melhorar o seu desempenho.

Se quer um Estado “pequeno”, presume-se que o vai diminuir. Vai diminui-lo onde?
Na otimização de todo o Estado. Devemos identificar aquilo que são os objetivos do Estado em cada área e, a partir daí, identificar os processos para cumprir esses objetivos.

Tem algum exemplo de uma área onde o Estado pode ser otimizado?
Como é que um cidadão entende que, quando recorre a um serviço público, haja sempre uma dificuldade imensa de recursos humanos quando esses recursos humanos continuam a aumentar? Alguma coisa deve estar errada. Não tenho os dados todos para conseguir fazer a avaliação dessas movimentações de pessoas. Mas se o Estado continua a aumentar e nós, de cada vez que recorremos aos serviços, sentimos cada vez mais dificuldades, deve haver um problema de alocação de recursos. A partir do Orçamento do Estado, fiz um trabalho na área da Cultura de identificar todas as organizações que pertenciam à Cultura, perceber para onde ia o dinheiro e qual o papel de cada uma dessas organizações. O objetivo era mapear para depois propor uma reorganização. Isto revelou-se um verdadeiro monstro. E estamos a falar da Cultura. Nem quero imaginar se chegarmos às outras áreas.

Mas há alguma área de onde ache que o Estado deva sair? Ou deve continuar presente em todas as áreas onde está agora simplesmente com essa “otimização”?
Vou dar um exemplo: os notários. Têm um papel que se calhar toda a gente diria que se calhar caberia ao Estado, porque há uma grande responsabilidade. A verdade é que se conseguiu uma solução em que a sociedade civil toma conta dos notários e funciona lindamente.

Mas isso é o que já existe. Para o futuro, quais seriam as áreas de onde seria desejável que o Estado saísse?
O Estado tem de assegurar bem — e nem isso consegue — aquilo que é a soberania: Segurança Interna, Justiça e Relações Externas. Mas mesmo aí falha.

A questão não é onde falha, mas de onde deve sair.
Em tudo o resto, vejo o Estado com um papel regulador e não como um prestador de serviços. E, na eventualidade de querer continuar como prestador de serviços, então que o faça de forma concorrencial com os privados. Na Cultura, o Estado é dono de todos os espaços. Primeiro que um empreendedor consiga uma sala para fazer um espetáculo, não pode. Porque depois o Estado abre um teatro ao lado e cobra 5 euros quando o privado só consegue cobrar bilhetes a 30, 40 ou 50 euros.

Há muitas salas de espetáculos privadas, não sei exatamente em que é que está a pensar.
Há uma dificuldade enorme de todos os agentes culturais para conseguirem desempenhar o seu papel, por exemplo, na cidade de Lisboa.

E hospitais ou escolas?
Claro. Porque é que não existe uma participação privada na prestação de serviços nas escolas? E na Saúde também?

Disse há pouco que, fora das funções de soberania, o Estado deveria ter um papel apenas de regulador. Continuaria a existir escolas e hospitais públicos?
Pode haver, desde que concorram livremente e em igualdade com os privados. E desde que isso não seja castrador da capacidade do acesso à saúde — que, neste momento, é. O Estado criou um conjunto de pessoas que são privilegiadas e têm acesso aos serviços e depois temos um outro conjunto de pessoas que espera 24 horas para ser atendido. Recentemente, houve pessoas a morrer em urgências em Portugal, uma grávida que morre a caminho do hospital para ter uma criança. Atingimos um ponto muito grave. O Estado devia criar uma rede com os privados, sem problemas ideológicos, para atender as pessoas. Para os doentes é indiferente se são atendidos num hospital público ou privado — ou até do terceiro setor.

"Tal como o PS foi, ao longo dos tempos, fazendo aumentar o número de funcionários públicos, o Estado pode ir fazendo uma reforma sem despedimentos, colocando os funcionários públicos onde eles possam ser mais rentáveis para o Estado e possam melhorar o seu desempenho"

“Partido dos queques? Alertei o partido a seu tempo para esse tema”

Na sua moção, diz que há um “problema grave” de habitação. Como é que se resolve?
O primeiro ponto é reconhecer que há m problema em vez de o ignorar, como tem acontecido. Portugal passou a pertencer à rede de habitação da Europa, passámos a ter os europeus como compradores de casas.

Essa é parte do problema, sabemos — qual é a solução?
A solução era ter entendido a oferta e a procura e ter trabalhado de maneira a garantir que havia um aumento da oferta para esse aumento da procura — e não houve. Como é que isso se faz? Por exemplo, animando o mercado de arrendamento. O Estado é quem mais ganha com esse mercado, ao cobrar 28% às pessoas que tentam arrendar uma casa e dando zero garantias de que, numa eventualidade de a renda não ser paga, o problema possa ter uma solução rápida. Muitas pessoas não arrendam porque não acreditam no mercado de arrendamento — logo aí, podia haver algum trabalho legislativo. Além disso, o próprio Estado tem casas e é incapaz de fazer alguma coisa com essas casas para aumentar a oferta. Depois, existe a construção. Recentemente, construí uma casa e vi bem aquilo que é tentar colocar um projeto na Câmara e o tempo que se demora, além de todas as outras burocracias. Simplificando todos os processos burocráticos e ajudando os construtores civis a terem os seus projetos aprovados rapidamente também poderia ajudar. É pela oferta que o problema se resolve.

A nível fiscal, defende a flat tax, que tem sido uma das grandes bandeiras da IL?
Gostava que o partido lhe chamasse “taxa única”, já que estamos em Portugal, para as pessoas entenderem. Depois, há outro problema na comunicação que o partido tem feito sobre a taxa única: ela aplica-se apenas a partir de determinado montante, não é desde o valor zero. E isso muda completamente a compreensão deste tema. A progressividade está de alguma forma assegurada se as coisas forem ditas desta forma. Todos iriam pagar menos impostos, fosse com um escalão ou com dois. Ninguém cuida melhor da sua riqueza do que os próprios — e o Estado nunca vai cuidar tão bem da riqueza dos cidadãos. Por isso, deixemos os cidadãos com mais dinheiro no bolso.

Então, concorda com a ideia da taxa única.
Não teria problemas nenhuns em defendê-la desde que fosse explicado às pessoas que é uma taxa única a partir de um determinado montante.

Disse numa entrevista que a Iniciativa Liberal se deixou “guetizar em expressões como os queques e os meninos ricos da Lapa que querem descontos nos impostos”. Acha que é assim que os eleitores veem o partido?
Alguns verão. Chateia-me solenemente esse tema porque foi algo para que alertei o partido a seu tempo, em 2019. A IL veio colocar no léxico português a palavra “liberal”, que até então tinha uma conotação negativa. E havia uma oportunidade única de posicionamento. Aí, claramente, falhámos. Focámo-nos nas ideias mas descuidámos o posicionamento. E os outros partidos, do BE ao CDS, aproveitaram isso, chamando-nos “Bloco de Esquerda da direita” ou até “fascistas”. Podíamos ter evitado isso.

Então, acha que António Costa tinha alguma razão quando falou em “queques” na entrevista à Visão?
Não tem porque, se conhecesse a IL por dentro, perceberia que o membro da IL é o português comum que, acima de tudo, está cansado dos mesmos tipos de políticas dos últimos 30 anos. Não tem nada a ver com queques. Aliás, o liberalismo é do povo. Oferece às pessoas a liberdade individual para fazerem o que querem com a sua vida. Uma cabeleireira numa pequena vila portuguesa que quer abrir um pequeno negócio com os últimos 3 mil euros que tem na conta é alguém que acredita em si própria e no seu potencial. O Estado não quer saber disso para nada, mas nós queremos. Temos que saber falar para essa pessoa.

José Cardoso vai a votos contra a “inevitabilidade” de escolher “entre arroz e arroz”

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