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Desde o histórico casamento real de 2011, Kate conquistou o povo e tem-se mantido fiel à pessoa que o príncipe William apresentou ao mundo como a sua companheira e futura rainha. Ao longo de um percurso de 11 anos na família real e sob o escrutínio público, escolheu caminhar com uma passada calma e discreta que a tem levado a cumprir objetivos, celebrar vitórias e explorar novos caminhos. Num mundo onde as luzes são facilmente ofuscadas por sombras e as regras são os pilares de uma estrutura centenária, Kate mantém-se firme e presente perante os abanões. A base do que a realeza deve representar: continuidade e segurança. A duquesa de Cambridge celebra 40 anos, numa ótima fase da sua vida.
Quando o pai da noiva a entregou ao noivo, no altar, o futuro genro disse-lhe: “É só um discreto casamento em família…”. O episódio aconteceu há mais de uma década — hoje seria certamente um momento #SóQueNão. O templo estava recheado com quase dois mil convidados, a cerimónia foi transmitida pela televisão para cerca de 180 países e vista por milhões de pessoas, e os noivos, que entraram como um casal de jovens namorados, saíram do seu casamento como duques de Cambridge (em Inglaterra e no País de Gales), condes de Strathearn (na Escócia) e barões de Carrickfergus (na Irlanda do Norte), títulos concedidos pela rainha Isabel II. Mas também como ícones da cultura popular, títulos concedidos por uma sociedade globalizada do início do século XXI.
Depois da cerimónia religiosa, a rainha ofereceu um Queen’s Breakfast no palácio de Buckingham, onde se reuniram 650 convidados para saborear finger food preparada por 21 chefs e assistir ao príncipe William apresentar Kate como “a minha mulher, a Mrs. Wales”. Toda a gente aplaudiu, mas, após mais de uma década, o príncipe terá de desculpar o mundo inteiro que continua a tratar a sua bela duquesa pelo seu diminuitivo. Kate já dispensa título e apelido. É, simplesmente, “a Kate”. Será que isso significa que nos afeiçoámos a ela? Porquê?
A princesa (que vem) do povo
Katie Nicholl, correspondente real, editora de realeza na revista Vanity Fair e autora de livros sobre membros da família real britânica, conhece bem as personagens e regras deste enredo. A autora do livro “Kate – The future Queen” diz ao Observador que “a Kate representa tudo o que procuramos num membro da realeza: ela é um ótimo exemplo, uma esposa que apoia o marido, uma mãe carinhosa e abraçou o seu papel público pondo o dever acima de tudo o resto”. E acrescenta: “ela cumpre os seus deveres e apoia a rainha e a família real, ela é leal, trabalhadora e tem facilidade em relacionar-se com pessoas de todos os contextos da vida.” Para a jornalista, Kate “representa o futuro da monarquia e faz uma instituição muito antiga parecer relevante e moderna através de coisas óbvias como o seu guarda-roupa, mas mais importante, através do seu trabalho e das causas que apoia.”
Um dia Kate será Catherine, a rainha consorte, e há, na história de Inglaterra, já cinco rainhas com o seu nome. Catherine de Valois casou com o rei Henry V, Catarina de Aragão, Catherine Howard e Catherine Parr casaram com o rei Henry VIII e Catarina de Bragança (portuguesa) casou com o rei Charles II. No entanto Kate é a primeira pessoa sem sangue aristocrático a casar com o herdeiro do trono em 350 anos e será a primeira rainha licenciada. Katie Nicholl explica que parte do segredo do sucesso de Kate está precisamente na sua vida comum. “Vir de uma família que se apoia e é chegada é o que fez Kate o que ela é. O que quer que ela tenha tido que aguentar em público, ela foi capaz de lidar por causa do apoio e do amor da sua família. Os pais da Kate, Carole e Michael, deram aos três filhos a melhor educação e experiências de vida que o dinheiro pode comprar, mas deram-lhes muito mais; um crescimento estável, valores e uma confiança que tem sido muito útil a Kate durante a sua vida na realeza.”
Uma joia de família
Catherine Elizabeth nasceu a nove de janeiro de 1982, um ano e meio depois dos pais se casarem. Carole Goldsmith começou a trabalhar como hospedeira aos 21 anos, em 1976. Numa altura em que a profissão era considerada um luxo, as candidatas tinham uma aparência irrepreensível e uma formação bastante ampla. No livro “Kate – A história da mulher que conquistou o coração de uma nação”, a autora, Marcia Moody, escreve que “muito se comentou acerca da ótima compostura dos Middleton no casamento real e, embora grande parte seja natural, parece provável que pelo menos alguma da preparação de Carole na British Airways foi proveitosa para os acontecimentos que se seguiriam na sua vida. Na época, a sua formação foi quase como um curso de boas maneiras, antiquado e condensado, mas o resultado foi o requinte de antigamente e o porte.” Foi no trabalho que conheceu Michael Middleton, que era responsável pela coordenação dos aviões em terra, entre as chegadas e as partidas.
Casaram a 21 de junho de 1980. A segunda filha, Pippa (Philippa) Charlotte, nasceu a seis de setembro de 1983 e o terceiro filho, James William, nasceu a 15 de abril de 1987. Entre 1984 e 1986, o trabalho de Michael levou a família a viver em Amã, na Jordânia. No regresso a casa, Carole, que tinha deixado o seu trabalho quando Kate nasceu, começou a explorar a área das festas infantis quando estava grávida do terceiro filho. E, no mesmo ano, nasceram James e a Party Pieces. O que começou como uma pequena empresa familiar com o escritório no jardim de casa, cresceu ao longo dos anos para uma grande empresa, mas que se mantém familiar e com Carole ao leme.
Os Middleton são uma família muito unida e é sabido que a sua vida familiar rapidamente conquistou o príncipe William. O namoro e o noivado de Kate nem sempre foram fáceis para a sua família, mas nunca se deixaram enfeitiçar pela fogueira das vaidades e mantiveram sempre a máxima descrição e compostura. E agora que a sua proximidade com a família real é cada vez maior, continuam a manter o registo. Os pais de Kate já foram convidados da rainha nas corridas de cavalos de Ascot e, em conjunto com os irmãos da duquesa foram também convidados para as celebrações do Jubileu de Diamante da monarca e para o casamento do príncipe Harry com Meghan Markle.
Depois do casamento real, em abril de 2011, a rainha deu aos novos duques um período de graça de dois anos para que William acabasse a sua formação na R.A.F. e Kate se adaptasse à vida da realeza. O casal continuou a viver na sua casa campestre em Anglesey, em Gales. Mais tarde mudaram-se para o palácio de Kensington, que tem sido a sua residência em Londres. Contudo, as mudanças mais significativas na vida do casal ao longo dos quase 11 anos de casamento serão, certamente, o nascimento dos três filhos. Todos fizeram com que uma legião de jornalistas nacionais e internacionais montassem guarda à porta da maternidade e todos trouxeram alegria à nação.
O príncipe George nasceu a 22 de julho de 2013. Depois de uma gravidez seguida de perto pela comunicação social, o dia do nascimento do herdeiro do trono foi de festa. E a noite também. Em Londres, as fontes de Trafalgar Square e a Tower Bridge iluminaram-se de azul, o London Eye de azul, vermelho e branco, a torre BT anunciava “it’s a boy”, no dia seguinte a edição do jornal “The Sun” saiu com o nome “The Son”. As celebrações do nascimento do primogénito de William e Kate chegaram ao Canadá e à Austrália. Em 2015 monumentos e locais de referência voltaram a iluminar-se, mas de cor de rosa, com o nascimento da princesa Charlotte, a 2 de maio. E as celebrações repetiram-se também para o príncipe Louis, que nasceu a 23 de abril de 2018. Nasceram os três no Hospital St. Mary, em Londres e foram apresentados aos seus súbditos à saída, pelos pais.
O casamento dos contos modernos
O que é afinal um casamento de contos de fadas? Já nem a Disney casa príncipes com princesas. Se aquilo que queremos ver é, afinal, pessoas bonitas, que vivem felizes e nos inspiram tornando o mundo melhor, então talvez estes duques se enquadrem.
O casamento do príncipe William, segundo na linha de sucessão ao trono britânico, com Catherine Middleton teve proporções de evento internacional e momento histórico. Mas foi também o casamento de dois jovens apaixonados que durante anos namoraram e se prepararam para aquele momento, por isso ele tinha, também, de refletir a personalidade dos noivos. A cuidada mistura de tradição e modernidade resultou num jogo de contrastes que se completavam entre si. Primeiro, os noivos decidiram que queriam cortar nos custos, por respeito ao momento que o país atravessava, mas a celebração não deixou se exibir a capacidade única daquela nação para dar ao mundo momentos históricos com pompa e circunstância.
Se, por um lado, estiveram presentes representantes de inúmeras casas reais, por outro a maioria dos convidados não teve lugar marcado e houve partes da igreja reservadas a família e amigos. A Abadia de Westminster, um espaço com um importante peso histórico (ali foram coroados 38 monarcas e realizados 15 casamentos reais), foi decorada com árvores de ácer e perfumada com velas de flor de laranjeira Jo Malone, a pedido da noiva. A noiva usou um vestido feito especialmente para a ocasião, recheado de simbolismo e trabalho artesanal, que já é parte da história do Reino Unido, mas, reza a lenda, foram os seus pais que o pagaram. Na noite do casamento a rainha ofereceu o palácio de Buckingham para uma festa com 300 convidados e até se retirou da sua residência para que se festejasse à vontade: a sala do trono foi transformada numa discoteca e às 2h30 da manhã houve fogo de artifício. Seriam sinais de que a família real entrou no século XXI? E de que a monarquia se estava a modernizar? Hoje talvez possamos dizer que sim, graças aos seus intervenientes.
Katie Nicholl escreveu para a Vanity Fair uma crónica do casamento real, publicada em junho de 2011 na qual conta que esteve instalada num espaço criado para a imprensa na praça em frente ao Palácio de Buckingham a fazer a cobertura do evento, recordando que conseguia sentir a vibração dos gritos e aplausos do público. Depois da cerimónia, entre a multidão que se juntou em frente ao palácio e pela avenida The Mall, podia ouvir-se “Queremos a Kate! Queremos a Kate” (“We want Kate! We want Kate!”) enquanto os noivos apareciam no balcão do palácio para verem e serem vistos pelos seus súbditos.
No dia do seu casamento, Kate Middleton acordou cedo, fez a sua própria maquilhagem e foi ela quem tratou de acalmar o nervosismo que se fazia sentir na suite do Goring Hotel, onde a família da noiva estava instalada. Depois de ter tido aulas de voz com um especialista em elocução, na cerimónia disse, claramente, que prometia “amar, confortar, honrar e guardar”, em vez de “obedecer”, o seu futuro marido. Nicholl conta ainda, na sua peça, que, depois da receção à hora do almoço, os noivos foram descansar para Clarence House, onde trocaram as roupas pomposas por roupões, e viram a transmissão do seu próprio casamento na televisão, depois o príncipe Harry juntou-se a eles.
Keep Calm and Carry On
Apesar da forma descontraída, calma e controlada com que a duquesa de Cambridge, se apresenta sempre (e que a própria rainha parece aprovar e até admirar) nos últimos anos houve alguns obstáculos no seu caminho. Há dois anos a “bomba” Megxit” rebentou mesmo em cima do seu aniversário. E, além de toda a agitação que provocou na comunicação social (e certamente também na família), terá feito recair algum trabalho e exigência extra sobre William e Kate.
Mais tarde nesse mesmo ano, a Tatler, revista feminina britânica com grande aprovação na alta sociedade, e até boas relações com a família real, dedicou a capa do número de julho/agosto de 2020 à duquesa de Cambridge com o título “Catherine the great”, mas o que por fora parecia um elogio, por dentro, o texto revelou-se um pesadelo para Kate. Referências à vida dos duques e à família da duquesa levaram os advogados do palácio de Kensington a exigirem que as “incoerências e falsas representações” fossem removidas e, depois de ambos os lados se debaterem, o artigo que passou do papel para o site acabou por sofrer um valente corte.
Já em 2021 a duquesa foi alvo de críticas por ter ido, em meados de março, a uma vigília em por Sarah Everard, uma mulher de 33 anos que foi raptada e assassinada quando regressava a casa do trabalho, à noite em Londres. O caso demorou algum tempo a ser resolvido e comoveu muitas pessoas dentro e fora do Reino Unido. Kate quis prestar a sua homenagem, porque sabe o que é ter de se deslocar na noite londrina antes de se casar, e acorreu ao local da vigília num sábado à tarde para depositar flores. O problema é que, as limitações impostas pela pandemia não permitiam que se juntassem tantas pessoas, como acabou por acontecer, e a polícia interveio de forma musculada para as desmobilizar. Kate passou quase despercebida, com segurança mínima, mas levantaram-se questões sobre se a sua presença ali faria sentido, se a polícia saberia e ainda o facto de estar sem máscara.
“No entanto o que emergiu mais claramente da saída modestamente controversa de Kate não foi outro desastre para a casa de Windsor. Tornou-se numa espécie de triunfo.”, resumia entretanto o The Times. No artigo com o título “Is Kate the real revolutionary?” (Será Kate a verdadeira revolucionária?) este foi um dos momentos do trabalho que a duquesa desenvolveu durante o confinamento que levou à conclusão de que de ela está “discretamente a tornar-se a ativista mais eficiente d’A Firma”.
Uma colaboradora estrela d’ “A Firma”
Durante o namoro chamaram-lhe “Waity Katie” (Katie à espera). Agora diz-se que é “Queen in waiting” (à espera de ser rainha). No meio de tanta espera, Kate tem posto mãos à obra e utilizado o seu tempo, energia e recursos para se dedicar a causas importantes, para ela e para a sociedade, sendo a infância e a saúde mental as que têm maior destaque. Os duques de Cambridge têm a sua própria fundação, Royal Foundation, e no site podem ver-se os projetos que apoia. Muitos dos atos públicos da duquesa acontecem em escolas ou envolvem crianças e Kate é sempre um sucesso entre os seus súbditos mais pequenos. Em janeiro de 2020 lançou o estudo Early Years a nível nacional sobre os primeiros cinco anos da infância e como se podem refletir mais tarde na vida adulta. Entre as suas patronagens estão várias instituições que se dedicam a crianças. Tal como três importantes museus londrinos: o Museu de História Natural, o Museu Victoria & Albert (que tem pela primeira vez um mecenas real) e a National Portrait Gallery (NPG).
E foi precisamente com esta última que pôs em marcha o projeto Hold Still. A duquesa fez da fotografia um dos seus interesses pessoais, uma janela emocional para toda a nação durante o difícil tempo de confinamento que a Covid-19 impôs. O projeto, lançado em maio de 2020, convidava os britânicos a enviarem fotografias do seu dia a dia durante a pandemia. Das 31 mil imagens propostas resultaram 100 finalistas que estiveram numa exposição online da NPG e algumas expostas em jeito de cartaz pelo país. Em maio de 2021 Hold Still ganhou o formato de livro. Pessoas de todas as idades, em todos os contextos sociais ou profissões concorreram e esta iniciativa tornou-se um retrato da nação. Imagens verdadeiramente emotivas retrataram momentos de felicidade, desespero, esperança e dor e a duquesa foi o rosto desta iniciativa durante todo o processo e falou com alguns dos participantes. Além de ser apaixonada por fotografia, é entusiasta de atividades desportivas e crente na importância da vida ao ar livre uma existência saudável, vemo-la por isso no torneio de ténis de Wimbledon e em várias atividades relacionadas com a Natureza.
Moda, uma chave para muitas portas
Para uma pessoa se tornar um ícone precisa ter carisma e também a atenção da comunicação social. Se na década de 1980, a chegada da princesa Diana à família real coincidiu com o despontar da cultura de tabloides no Reino Unido, também a chegada de Kate Middleton coincidiu com o início da revolução das redes sociais. Em 2010 nasceu o Instagram e o Twitter permitiu a utilização de imagens. No ano seguinte, um casamento real mediático apresentou ao mundo uma nova duquesa, bonita, simpática, solidária e a quem tudo parecia ficar bem. Se às redes sociais e à duquesa juntarmos uma audiência internacional (sedenta de novidades, de interação ou simplesmente curiosa), marcas de moda e muitas fotografias, já temos a receita para um ícone do século XXI.
Bethan Holt, diretora de conteúdos de moda do jornal britânico The Telegraph, lançou em fevereiro de 2021, o livro The Duchess of Cambridge. A decade of modern royal style (da editora Ryland, Peters & Small), onde analisa a evolução do estilo de Kate ao longo de uma década como duquesa. Um mês antes publicou um artigo no jornal sob o mesmo tema, classificando a receita anterior como um “fenómeno de moda” e acrescentando que se acredita que Kate tenha impulsionado a indústria da moda britânica em cerca de mil milhões de libras, num único ano. “Como é que ela o fez? Sendo ao mesmo tempo revolucionária e totalmente respeitadora das tradições reais”, conclui a jornalista. “Poucas semanas depois do noivado de Kate com William, nasceu o chamado ‘Kate Effect’, numa referência à sua capacidade para fazer com que um item se esgote ou impulsionar um negócio a novos níveis”. Bethan Holt falou com David Reiss fundador da marca Reiss, que conta que quando Kate usou o vestido Shola para receber o casal Obama em maio de 2011 no palácio de Buckingham, primeiro o site “crashou” com a quantidade tal foi a quantidade de visitas, depois os vestidos venderam-se à velocidade de um por minuto até esgotarem e, quando abriram as lojas nos Estados Unidos, já não havia modelos disponíveis.
Dez anos depois, o Kate Effect continua. Até as peças que usou em chamadas via Zoom durante o confinamento de 2020 esgotaram. E, felizmente, para as comuns mortais que se inspiram na duquesa, tanto usa criações especiais de marcas de moda de luxo, como de marcas mass market e low cost. Um equilíbrio que sempre soube manter com muita graciosidade. Lembremo-nos que no dia do seu casamento usou um vestido Alexander McQueen muito especial e no dia seguinte apareceu de mão dada com o príncipe William e a usar um vestido Zara. E na altura a blogosfera era o fenómeno do momento, por onde desfilavam todos os seus looks, hoje nada do que a duquesa veste passa despercebido no Instagram. Pelo meio foi capa da revista Vogue britânica no número de junho de 2016, que celebrou o centésimo aniversário da publicação. E, se Diana se tornou a rainha da moda diplomática, Kate é uma competente sucessora. Paquistão, Índia, Butão, Estados Unidos da América, Canadá são apenas alguns dos sítios onde Kate já acenou e encantou. “A Kate é um sucesso global, ela é muitíssimo popular pelo mundo e, enquanto se prepara para assumir o lugar que era de Diana, como a próxima princesa de Gales, o estatuto dela vai crescer ainda mais. Ela é a rapariga dos condados domésticos que casou com um príncipe, a plebeia do centro de Inglaterra que um dia será rainha. Ela é completamente única, amada e respeitada pelo mundo e é maravilhoso vê-la abrir as asas enquanto se prepara para ser rainha [queen in waiting]”, resume Katie Nicholl, que tem uma visão internacional de como o público vê a duquesa.
Além do estilo lady, com vestidos de saia rodada, casacos bem cortados ou blusas de laçada, a duquesa é também adepta de um estilo descontraído, com skinny jeans, ténis, camisolas de malha e botas de caminhada. O que os une é que Kate está sempre irrepreensível em ambos. Mandam as regras não escritas da realeza que o estilo das senhoras reflita continuidade e não se renda a tendências, como aliás a própria monarquia. E, se passarmos em revista os looks da duquesa ao longo destes 11 anos podemos ver que o estilo de princesa e as ondas no cabelo se mantêm e é o grau de sofisticação que foi aumentando. Kate tem tido uma espécie de fada madrinha dos tempos modernos. Em 2014 Natasha Archer foi encarregue do guarda-roupa da duquesa e de tornar a sua imagem mais real e sofisticada, embora já trabalhasse no gabinete dos duques de Cambridge há alguns anos. No fim, a escolha é sempre de Kate, mas dizem as publicações de referência que a stylist/personal assistant é muito bem sucedida no seu trabalho. E até a rainha dá a sua aprovação. Natasha foi distinguida na lista de honras de Ano Novo de 2019 da rainha em, maio desse ano foi tornada Membro da Ordem Real Victoriana, no Palácio de Buckingham.
Ao serviço de Sua Majestade
No dia 28 de setembro de 2021 o mais recente filme da saga 007, No Time to Die (Sem Tempo para Morrer), teve, finalmente, a sua première como manda a tradição: em Londres e com a presença da família real. E esta fez-se representar pelo príncipe Carlos e a duquesa Camilla e ainda pelos duques de Cambridge. Quando Kate saiu do carro e percorreu a passadeira vermelha que se estendia até à entrada do Royal Albert Royal, tudo o resto deixou de existir. O vestido Jenny Packham bordado com lantejoulas douradas irradiava luz, o efeito de capa sobre os ombros acentuava o porte real, o cabelo num elaborado apanhado tornava-a distinta, o sorriso sempre aberto conquistava. A bela duquesa foi a estrela da noite e nem o próprio agente irresistível resistiu ao seu charme. Quando se cumprimentaram Daniel Craig disse-lhe que ela estava “jolly lovely”, que podemos traduzir por “encantadora”. O evento teve grande cobertura mediática e, dado o tema da noite, muito se comparou Kate a uma Bond Girl, pela sua presença ultra feminina e poderosa.
Contudo, repensemos o papel da duquesa de Cambridge. Com o membro da família real que é segundo na linha de sucessão ao trono ela forma uma equipa, já com o terceiro é ela que tem a responsabilidade de levar todos os dias à escola. É constantemente recrutada para representar a Coroa dentro e fora de fronteiras e nunca desilude. Mantém a calma em alturas de stress e aparece sempre que é necessária a sua presença. Usa a moda e até as joias como suas armas e a simpatia para desarmar os outros. Será afinal Catherine, Duquesa de Cambridge, a melhor agente que Sua Majestade tem ao seu serviço?
Brincadeiras à parte, a verdade é que, até agora, a prestação de Kate não tem tido falhas. Mas o futuro será cada vez mais exigente. Quando o príncipe Carlos for rei, os duques de Cambridge serão príncipes de Gales, título com muita responsabilidade, assumido por quem está a um degrau de subir ao trono. “Não há nada de novo na família real, como disse recentemente a princesa Ana. É apenas a forma como se aborda e ela [a duquesa de Cambridge] tem tido uma abordagem lenta e suave. Ela não se apressou a dizer ‘olhem para mim’ como Diana e Fergie fizeram. É por isso que ela é diferente.” Quem o diz ao Observador é Ingrid Seward, uma profunda conhecedora do universo da realeza, em especial da família real britânica. É diretora da revista Majesty, que se dedica há mais de 40 anos a famílias reais, e autora de mais de 15 livros, sendo o mais recente o livro “Prince Philip revealed – A Man of his century”, e já fez comentário em diferentes meios de comunicação social. Explica-nos que “a duquesa de Cambridge é um novo tipo de ‘Princess in waiting’ uma vez que vem de um meio muito normal. Teve nove anos de treino enquanto namorava William, porque eles eram grandes amigos antes dela ter assumido um papel real. Por isso ela pode perceber esse papel e foi isso que ela trouxe de novo — uma compreensão do que é suposto ela fazer e do que esperam dela”.
Kate é uma pessoa naturalmente introvertida. Demorou o seu tempo a dominar algumas partes do seu trabalho, como por exemplo a arte de falar em público. Mas percebeu desde cedo o que era esperado dela. A forma como se veste, as joias da rainha que usa em determinadas ocasiões, a forma como a família de cinco se apresenta e até as fotografias dos filhos da autoria da própria Kate para marcar ocasiões especiais, são todos momentos em que ela está a construir a narrativa do seu núcleo familiar e a adicionar capítulos à longa história da família real. Cumprindo as tradições, mas à sua maneira, num equilíbrio difícil, mas bem sucedido. “Quando ela se tornar princesa de Gales trará ecos da princesa Diana, mas com uma abordagem mais madura e compreensiva. Será maravilhoso ter uma princesa de Gales que está feliz com ela própria e com o seu papel”, diz Ingrid Seward.