Marques Mendes segue, neste momento, na frente como o nome presidenciável mais confortável para a estrutura do PSD. Por precaução, Luís Montenegro vai esperar pacientemente para tomar uma posição — até porque quer apoiar uma candidatura ganhadora — mas o perfil presidencial que definiu esta semana ajuda o ex-líder, de quem sempre foi próximo. A referência a Leonor Beleza como “excelente candidata” por parte do secretário-geral Hugo Soares, segundo explicou um dirigente do PSD ao Observador, não teve intenção de dar força à ex-ministra nem foi uma declaração concertada com o líder. A um ano do anúncio das candidaturas, Marques Mendes é o único dos presidenciáveis a participar presencialmente na rentrée do PSD e o que mantém contacto permanente com as estruturas.
No início da semana, Luís Montenegro divulgou a sua moção estratégica para as diretas do PSD e definiu o perfil do candidato presidencial. O líder do PSD começou por dizer que a escolha deve recair em alguém “dos quadros partidários”. É com base nesta primeira frase das características enunciadas que um social-democrata que acompanha o processo diz ao Observador que “o perfil teve um grande objetivo de excluir o almirante [Henrique Gouveia e Melo]”.
Esta primeira referência de Montenegro exclui soluções menos consonantes com o histórico de apoios do partido como Paulo Portas ou Pedro Santana Lopes (que teria de se refiliar), mas não exclui, por exemplo, outros nomes já testados como Marques Mendes, Leonor Beleza, Durão Barroso, Passos Coelho, nem sequer Rui Rio.
O nome que mais fôlego ganhou nas últimas semanas foi o de Leonor Beleza, por Hugo Soares a ter elogiado como potencial candidata presidencial em entrevista ao Expresso. Questionada pelo Observador, fonte da assessoria de Leonor Beleza não quis fazer qualquer comentário. Ou seja: oficialmente, não se quer incluir nem excluir da candidatura. Um amigo da antiga ministra comenta, no entanto, com o Observador que “a Leonor nunca avançaria, não está disponível para envolver a família num combate eleitoral”. A 28 de maio, num evento com Sebastião Bugalho, Leonor Beleza foi questionada sobre se pondera entrar na corrida às presidenciais de 2026, mas a pôs-se mais fora do que dentro da corrida ao dizer que espera “ainda viver para ver uma mulher mais nova ser Presidente da República em Portugal”.
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Mendes segue como favorito no partido. E nunca saiu do terreno
Marques Mendes pareceu sempre mais bem posicionado no PSD de Montenegro. Logo no primeiro congresso, que entronizou o atual líder, a sua entrada na sala foi anunciada pela Mesa com honras de ex-líder histórico. Nesse dia, terminou o grande obstáculo a que Mendes pudesse ser o candidato apoiado pelo PSD: a liderança de Rui Rio.
Voltando ao perfil desenhado por Luís Montenegro esta semana, uma outra fonte do PSD próxima da atual direção faz a leitura de que há uma “hierarquia” nas características enunciadas. Escreve o primeiro-ministro que quer “militantes com notoriedade e conhecimento profundo e transversal do país, das políticas públicas, das instituições democráticas e cívicas, da realidade geopolítica internacional, da nossa participação na Organização das Nações Unidas, na União Europeia, na NATO, na CPLP e em todas as plataformas internacionais em que intervimos.” A mesma fonte comenta: “Notoriedade? Acham que é para quem? Favorece logo aquele [Marques Mendes] que tem sempre mais de um milhão a vê-lo todas as semanas.”
Marques Mendes é também o único dos presidenciáveis que participa na rentrée do PSD deste ano, embora Leonor Beleza responda a perguntas dos alunos da Universidade de Verão por escrito — como fez o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. O antigo líder do PSD tem-se vindo a posicionar e há precisamente um ano disse na SIC, onde é comentador: “Se eu vir que tem alguma utilidade uma candidatura minha, e que tenho o mínimo de condições para o concretizar, sou franco: tomarei essa decisão”. Não sendo expectável que vá muito mais longe quando participar esta quinta-feira à noite na Universidade de Verão do PSD, também não será de estranhar que dê um sinal que seja um sublime pé na porta na semana em que o partido definiu o perfil do candidato.
Marques Mendes tem, aliás, tendência para anualmente por esta altura, marcar o ponto. Na mesma Universidade de Verão de 2022 (onde vai tentando apanhar Marcelo como orador com mais presenças) também deu uma pista sobre as suas ambições presidenciais de forma indireta ao dizer que “dos quatro presidentes civis, todos foram antes líderes partidários“.
Se Marcelo Rebelo de Sousa em 2014 e 2015, antes de oficializar a candidatura, andou pelo país com Matos Rosa a percorrer todas as estruturas do partido (sob o pretexto dos “40 anos do PSD”, mas de olho num apoio para Belém), Marques Mendes também responde agora a todas as solicitações. E está no terreno. Esta semana, que é simbólica para as aspirações de candidatos presidenciais, é exemplo disso. O ex-líder do PSD aproveitou a ida a Castelo de Vide, sabe o Observador, para privar com alguns autarcas do Alentejo, como por exemplo o presidente da autarquia onde se realiza o evento do PSD, António Pita. Numa maratona partidária, Marques Mendes sai do Alentejo direto para os Açores, onde vai participar num jantar conferência da Universidade de Verão da JSD Açores.
Um outro dirigente do PSD, menos entusiasta de Mendes, admite que o ex-líder é “um candidato forte, porque é conhecido dos portugueses e conhece bem o partido”, mas avisa que “as sondagens, principalmente nos seis meses antes das presidenciais, podem matar ou ressuscitar candidatos”. E acrescenta: “Um partido como o PSD a um ano e meio das presidenciais não ganha nada em afunilar. Tem de ter redundâncias. É por isso que está aqui escrito na moção: ‘Seguiremos a tradição de aguardar as disponibilidades eventuais de militantes do partido com apetência e qualificação pessoal e política para o cargo'”.
As hipóteses calculadas de Mendes e as redundâncias possíveis
As sondagens são todas diferentes (e com diferentes resultados), mas há uma que está a ser particularmente valorizada no partido, por meter candidatos da esquerda e da direita diretamente em confronto. O barómetro de julho para o Negócios, Correio da Manhã e CMTV dá Marques Mendes como o mais bem posicionado à direita e é o único (além de Gouveia e Melo, excluído pelo perfil de Montenegro) que venceria Mário Centeno. O ex-ministro das Finanças do PS, segundo esta sondagem, ganharia a Passos, Leonor Beleza e Santana, mas não a Marques Mendes (48,4% contra 37,1%). Além de Centeno, o ex-líder do PSD e comentador político também venceria com facilidade Ana Gomes (55% contra 33,4% para a diplomata).
A mesma sondagem diz que Mendes perderia para Guterres (55,6% para o atual secretário-geral da ONU, contra apenas 34,9%), mas no PSD a convicção é de que é mais provável que o candidato dos socialistas seja Mário Centeno do que o antigo primeiro-ministro. O problema António Costa, que também tinha boas hipóteses contra Mendes, está resolvido com a ida para o Conselho Europeu.
Tudo isto indicaria que está tudo feito para Marques Mendes, mas ainda é cedo, como explica quem tem experiência nestas candidaturas. Em entrevista ao Observador em meados de julho, o antigo Presidente da República Cavaco Silva antecipava que vão “aparecer muitos candidatos” e que isso o leva a abrir uma outra possibilidade: “Às vezes imagino que irá acontecer uma segunda volta.”
Há outras hipóteses, embora não tão bem colocadas. Pelo menos neste momento. Começam já algumas movimentações de rioistas para uma eventual candidatura presidencial, mas com Montenegro na liderança, admitem montenegristas ouvidos pelo Observador, seria difícil apoiar um candidato como Rui Rio.
Sobre Passos Coelho, os mesmos motenegristas (muitos deles ex-passistas), não arriscam dizer que não seria um bom candidato, mas insistem na velha história de que o ex-primeiro-ministro “quer voltar a cargos executivos, nunca teve ambição de ser Presidente da República”. Há até quem veja no perfil definido para Montenegro uma referência pouco amigável para Passos Coelho: “Os portugueses terão seguramente uma opção apoiada pelo PSD mas necessariamente abrangente e merecedora da confiança de eleitores de outras áreas políticas ou sem vinculo de identidade política pré-definida”. As outras áreas políticas a que se refere Montenegro é o centro-esquerda e o eleitorado oscilante ao centro. Ora, outra fonte do PSD lembra que “a esquerda odeia Passos Coelho”: “Até poderia ser bom para ir buscar votos a outras áreas políticas se estivermos a falar dentro da própria direita, porque muita gente do Chega votaria em Passos, mas para ir buscar à esquerda um Marques Mendes é mais abrangente”.