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O deputado do Partido Social Democrata (PSD) Ricardo Batista Leite intervém no debate sobre o tema "Situação da saúde em Portugal", na Assembleia da República, em Lisboa, 28 de novembro de 2019. MÁRIO CRUZ/LUSA
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Ricardo Baptista Leite é deputado e vice-presidente da bancada parlamentar

MÁRIO CRUZ/LUSA

Ricardo Baptista Leite é deputado e vice-presidente da bancada parlamentar

MÁRIO CRUZ/LUSA

"Marta Temido trata os médicos como se fossem mercenários"

Em entrevista, Ricardo Baptista Leite critica resposta dada pela ministra aos problemas na Saúde e defende reforma profunda. Sobre PSD, diz que Montenegro tem legitimidade para afastar Mota Pinto.

Ricardo Baptista Leite acredita que a demissão de Marta Temido pouco ou nada faria para resolver os problemas registados na Saúde, uma vez que o Governo, como um todo, tem premiado um modelo de gestão que, “com mais dinheiro e mais profissionais”, tem produzido “piores resultados”. O social-democrata reconhece, com ironia que, pelo menos desta vez, houve o reconhecimento de um problema estrutural. “É curioso vindo de um Governo que está há sete anos no poder e de um partido que está há mais de 20 anos no poder.”

Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, o médico infecciologista e deputado do PSD, uma das figuras políticas que mais notoriedade ganhou durante a fase aguda da pandemia, defende uma “reforma profunda” para o SNS, que passe por acabar com as Administrações Regionais de Saúde, “que se transformaram em colossos burocráticos”, mas também pela implantação de um modelo de gestão  que meça e premeie os resultados conseguidos.

Sobre o PSD, Baptista Leite, que é neste momento vice-presidente da bancada parlamentar do PSD e um dos nomes mais falados para suceder a Paulo Mota Pinto caso Luís Montenegro venha a promover uma dança das cadeiras, não afasta determinantemente esse cenário e defende que o novo líder social-democrta tem “toda a legitimidade” para mudar promover essas mudanças. “Não só legitimidade como a necessidade de garantir que se sente perfeitamente alinhado com quem estiver à frente da direção do grupo parlamentar”, defende.

[Ouça aqui a Vichyssoise]

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“Saída da ministra não vai resolver problema”

Tem sido crítico da forma como a ministra da Saúde tem gerido a crise nas urgências. Marta Temido tem condições para continuar no cargo?
O primeiro-ministro acabou de reconduzir a ministra da Saúde há pouco mais de dois meses — uma ministra que está há quatro anos em funções. Há aqui uma posição de um Governo como um todo de que entendem que o modelo de gestão, portanto o problema é muito mais profundo. A mudança da ministra não vai resolver o problema de base. E aquilo de que tenho sido crítico não é apenas e só da gestão desta crise. Tem que ver com o caminho errado que se tem vindo a seguir da gestão e do modelo de financiamento do Serviço Nacional de Saúde. Um SNS que tem mais dinheiro, tem mais profissionais e produz piores resultados e piores serviços é porque está a ser mal gerido.

Esta sexta-feira, Marta Temido justificou o estado do SNS com a pandemia, em primeiro lugar, e depois com a queda do Governo. Fica convencido com estes argumentos da ministra?
Não consigo entender esses argumentos, com toda a franqueza. Até porque temos vistos várias oscilações nas posições do Governo: na segunda-feira, Marta Temido começou por dizer que ia ter uma reunião de trabalho para tentar responder a um problema circunstancial; passados dois dias, o primeiro-ministro, veio dizer que afinal há um problema estrutural no SNS — isto é curioso vindo de um Governo que está há sete anos no poder e de um partido que está há mais de 20 anos no poder, mas ficámos todos expectantes porque finalmente o Governo reconhecia que havia problemas; aquilo que vimos depois foi a ministra da Saúde a tratar os médicos como se fossem mercenários, cujo o único problema que era preciso resolver era o valor pago pela hora de trabalho extraordinário. É uma visão redutora, que desrespeita os profissionais de saúde.

O Governo apresentou dois planos, um a curto prazo e outro a médio prazo. Parecem-lhe medidas suficientes?
Os sindicatos já vieram dizer que as propostas do Governo são apenas para os próximos três meses e que não têm qualquer tipo visão de futuro. Portanto, nem no imediato conseguiram resolver o problema. É fundamental que haja um acordo com os sindicatos e recordo que estamos a falar de uma ministra que nos últimos dois anos se recusou sempre a reunir com os sindicatos, com as ordens profissionais e com as associações do setor.

E em relação ao plano de médio prazo?
O problema a médio prazo é que não há resposta nenhuma. Não há um reconhecimento de que é preciso uma reforma mais profunda, desde os cuidados primários, onde, sob o mandato de Marta Temido, houve um duplicar de portugueses sem médico de família.

"Marta Temido começou por dizer que ia ter uma reunião de trabalho para tentar responder a um problema circunstancial; passados dois dias, o primeiro-ministro, veio dizer que afinal há um problema estrutural no SNS - isto é curioso vindo de um Governo que está há sete anos no poder e de um partido que está há mais de 20 anos no poder"

“Não é deitando dinheiro sobre os problemas que eles se vão resolver”

Mas na questão de contratação de mais médicos e aumentos salariais. O PSD defende que a solução passa por aí? Tem ideia de quanto é que isso representaria em termos de aumento de despesa?
O PSD começaria por fazer de diferente. A primeira coisa seria acabar com as Administrações Regionais de Saúde, que se transformaram em colossos burocráticos que apenas consomem dinheiro dos nos nossos impostos sem conseguir fazer o devido planeamento regional. Passaríamos a ter um modelo assente em unidades locais de saúde. Por outro lado, a contratação de profissionais de saúde teria uma componente de valorização da carreira, mas é fundamental darmos o passo seguinte: passar a medir os resultados em saúde e passar a ter uma valorização remuneratória em função desses mesmos resultados. Não podemos apenas achar que é deitando dinheiro sobre os problemas que eles se vão resolver.

Não consegue medir o impacto que esse modelo de valorização de carreiras teria na despesa.
Aquilo que posso garantir é que com o dinheiro que temos hoje teríamos muitos melhores resultados. Quem gasta mais, que tem mais recursos e tem piores resultados, tem de fazer uma reflexão sobre o porquê.

"A primeira coisa seria acabar com as Administrações Regionais de Saúde, que se transformaram em colossos burocráticos que apenas consomem dinheiro dos nos nossos impostos sem conseguir fazer o devido planeamento regional"

“PSD não soube contrariar ideia de que o Chega poderia entrar no governo”

O PSD prepara-se para agora para mudar de página, mas antes de olharmos para o futuro. A esta altura do campeonato, já percebeu o que aconteceu nas legislativas?
Houve vários fenómenos que concorreram para que o PS acabasse com uma maioria absoluta. Houve um esmagar da extrema-esquerda.

Mas isso também terá acontecido porque a esquerda se mobilizou para evitar um governo do PSD.
Certo. O PSD não conseguiu passar de forma clara as suas mensagens e gerou-se uma ideia que não conseguiu contrair de que o Chega poderia chegar a um governo do país se o PSD vencesse as eleições. Essa conjugação de fatores prejudicou fortemente o PSD, o que deve merecer uma reflexão. Reflexão que, aliás, foi muito discutida no âmbito das eleições internas, que levaram à eleição de Luís Montenegro. Tem aqui a oportunidade de iniciar um novo ciclo.

Deve ser mais claro na questão do Chega?
Parece-me que nas últimas diretas as posições dos dois candidatos ficaram muito claras em relação a essa matéria. O PSD tem de assumir de uma vez por todas que é o maior partido de oposição e tem que apresentar uma visão de alternativa para o país.

Nas últimas diretas, manteve-se equidistante em relação aos dois candidatos. Porque é que decidiu não apoiar ninguém publicamente? Não se revia inteiramente neles?
Sou amigo pessoal dos dois candidatos e, além disso, aceitei o convite de Paulo Mota Pinto para ser vice-presidente da bancada parlamentar e, quando aceitei, foi também na condição de garantir uma equidistância.

"Nas legislativas, houve um esmagar da extrema-esquerda e gerou-se uma ideia que não conseguiu contrair de que o Chega poderia chegar a um governo do país se o PSD vencesse as eleições"

“Luís Montenegro tem legitimidade para mudar liderança da bancada”

Recentemente, fez uma intervenção no Parlamento muito elogiosa em relação a Luís Montenegro, que foi entendida por jornalistas, rioístas e montenegristas como uma candidatura velada à liderança da bancada parlamentar. Admite vir a suceder a Paulo Mota Pinto?
A minha intervenção foi a primeira declaração política a seguir à eleição direta do novo presidente do PSD. Historicamente, sempre que temos eleições diretas ou um congresso nacional, a primeira declaração política versa sobre facto interno no partido e como isso se reflete na nossa intervenção.

Certo, mas admite vir a suceder a Paulo Mota Pinto?
Paulo Mota Pinto é o presidente em funções, sei que houve uma conversa entre ele e Luís Montenegro, cujo teor desconheço. Portanto, para responder a essa pergunta teria de haver uma condição de saber se o lugar estava em aberto. O lugar está fechado. Mas posso dizer-lhe de forma muito clara: há vários quadros com experiência parlamentar e sei que todos estão disponíveis para tentar fazer o possível para garantir que Luís Montenegro tenha um conjunto de deputados ao serviço da orientação da direção do partido e com vontade de contribuir para que o PSD seja visto como um verdadeira alternativa.

E onde é que o Ricardo Baptista Leite se insere?
Sou vice-presidente da bancada parlamentar, estarei nestas funções ou noutras quaisquer na medida daquilo que Luís Montenegro entender.

Ou seja, está disponível para ser líder parlamentar se for convidado.
Primeiro, precisamos de saber se Paulo Mota Pinto tem confiança de Luís Montenegro. Se for o caso, os dois têm legitimidade para seguir esse caminho. O que não pode acontecer é haver uma liderança da bancada parlamentar que esteja em linha contrária àquela que é a linha de pensamento e de atuação política da direção do partido.

Mas acredita que Luís Montenegro tem legitimidade para mudar a liderança da bancada?
A minha resposta é taxativa: Luís Montenegro tem não só legitimidade como a necessidade de garantir que se sente perfeitamente alinhado com quem estiver à frente da direção do grupo parlamentar. É fundamental haver este alinhamento, sempre o defendi no passado e defendo agora. Não me passa pela cabeça o contrário.

Paulo Mota Pinto poderia garantir esse alinhamento.
Paulo Mota Pinto é um quadro de extraordinário valor. Por isso é que eu digo: tudo depende da relação entre os dois e da visão que ambos têm sobre esse futuro.

"Sou vice-presidente da bancada parlamentar, estarei nestas funções ou noutras quaisquer na medida daquilo que Luís Montenegro entender"

“Preferia ser deputado na oposição a ministro com o Chega”

Vamos avançar para a segunda parte da nossa refeição, o “Carne ou Peixe”, em que só pode escolher uma de duas opções. Preferia ser ministro da Saúde de um governo que integrasse André Ventura ou deputado do PSD na oposição?
Deputado do PSD na oposição.

Preferia jogar basquetebol com Luís Montenegro ou uma corridinha com Rui Rio?
Preferia o basquetebol mas não pelo concorrente, é porque sou melhor no basquetebol do que a correr.

Preferia fazer um passeio pela serra de Sintra com Basílio Horta ou almoçar com Marta Temido na Baía de Cascais?
Iríamos bem os três na Serra de Sintra.

Preferia fazer a campanha presidencial ao lado de Luís Marques Mendes ou Paulo Portas?
Qualquer candidato presidencial que garantisse uma representatividade de direita. Aí tenho de aceitar os dois.

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