Está tudo a postos para a terceira edição do festival MEO Kalorama. O recinto do Parque da Bela Vista, intervencionado para que a poeira das últimas edições não volte a fazer das suas, já tem as estruturas dos quatro palcos erguidas para receber, entre os dias 29 e 31 de agosto, 53 concertos.
À semelhança do que aconteceu em 2023, o palco Panorama será exclusivamente dedicado à música eletrónica, com programação em contínuo a partir das 17h até de madrugada. CHERIII, no dia 29 de agosto, CORMAC e CC:DISCO!, no dia 30, os sets da ugandesa Kampire e de DJ Python, no dia 31, são nomes a ter em conta. A pista de dança fecha às 2h da manhã, na quinta-feira, e às 3h na sexta-feira e no sábado. Reincidente é também a parceria com a Chelas é o Sítio, associação sem fins lucrativos encabeçada por Sam the Kid que terá uma curadoria própria. De Chelas chegará o rap da brasileira a viver há mais de dez anos em Portugal, Muleca XIII (29 ago.), e dos projetos Vilson (30 ago.) e Landzs (29 ago.), bem como a pop de Brisa (31 ago.).
O compromisso com as pessoas com mobilidade condicionada sairá reforçado nesta edição, com o MEO Kalorama a anunciar a aposta na língua gestual portuguesa e em espaços sensoriais para pessoas cegas e neurodivergentes. Haverá também uma descrição áudio dos menus e dos espaços, casas de banho e bares adaptados, plataformas específicas para assistir aos concertos e uma oficina para cadeiras de rodas, na qual os formandos aprenderão a arranjar a sua cadeira e a torná-la mais eficiente. Aos assistentes pessoais para pessoas com incapacidade igual ou superior a 60% não será cobrado bilhete.
Este ano, o festival estreitou ainda mais os laços com Lisboa, cidade que até ganhou honras de palco em nome próprio. Os portadores de cartão Navegante terão um desconto de €5 no bilhete diário, cujo preço é de €65, e de €25 no passe geral, que está à venda por €160. A parceria com a Lisboa Camping & Bungalows dará condições especiais aos portadores de bilhete na reserva de dormidas no campismo, que vão dos €15, para uma noite, a €41, para cinco noites. Por seu lado, a Câmara Municipal de Lisboa apoiará o MEO Kalorama em 977.535 euros (apoios não financeiros), dos quais 512.159,30 euros são de taxas municipais a isentar (em 2023, os valores situaram-se, respetivamente, nos 843.302 euros e 416.342 euros). Apesar da oposição dos vereadores do Cidadãos Por Lisboa, PCP, Livre e BE, o apoio manter-se-á para 2025, aquando da quarta edição do MEO Kalorama, a acontecer entre os dias 28 e 30 de agosto.
[Já saiu o quinto episódio de “Um Rei na Boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. Também pode ouvir aqui o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto episódios]
Nas primeiras duas edições passaram pelo recinto um total de 200 mil pessoas. Este ano, apesar de o evento português coincidir com a primeira edição do Kalorama Madrid (cujo cartaz e preços são em tudo semelhantes), a organização revelou ao Observador que a procura se mantém em linha com a registada em 2023. É, por isso, de esperar uma assistência na ordem das 100 mil pessoas e, por outro lado, um crescimento de mercados como o dos Estados Unidos, Alemanha e Itália, que colmatarão a retração do público espanhol, sempre importante (tal como o do Reino Unido) para os festivais de verão portugueses. Os fãs que acorrerem ao recinto, independentemente do idioma que usarem para se exprimirem, poderão escrever postais às suas bandas de eleição no CTT Band Post Office. Não sabemos se todos serão lidos, mas a organização garante que os entregará no backstage. Para que não restem dúvidas, o percurso da viatura-correio poderá ser acompanhado nos ecrãs do palco principal. Feitas as contas e passadas a pente fino as novidades, vamos então ao roteiro de concertos por dia.
29 agosto, quinta-feira
18h15: Ana Lua Caiano (Palco MEO)
Depois de apresentar o seu primeiro LP em abril deste ano – Vou Ficar Neste Quadrado era um dos álbuns mais aguardados do panorama nacional, sucessor dos dois brilhantes EPs Cheguei Tarde a Ontem (2022) e Se Dançar É Só Depois (2023) – Ana Lua Caiano não tem parado de encher a sua agenda. Lá fora, deu cartas em grandes eventos como o Eurosonic, o Roskilde e a Feira do Livro de Buenos Aires; cá dentro, já passou por muitos dos festivais de grande e médio porte que enchem a temporada musical portuguesa. Vimo-la recentemente na aldeia de Cem Soldos, no festival Bons Sons, e podemos atestar que a energia da música de 24 anos continua intocável. O sol de fim de tarde lisboeta, terra natal, assentar-lhe-á bem e será um bom arranque para esta edição do MEO Kalorama.
19h: Gossip (Palco San Miguel) / 19h15: Vagabon (Palco Lisboa)
A última vez que os Gossip passaram por Portugal foi em 2019, no festival NOS Alive. Na altura, celebrava-se o regresso da banda norte-americana à estrada, depois de um hiato iniciado em 2012, e o décimo aniversário do álbum Music For Men (2019). Esse concerto não ficou para os anais da história, apesar da pujança da vocalista Beth Ditto em palco, conhecida pelo seu feminismo acérrimo e pela defesa dos direitos LGBTQ+. O concerto desta edição do MEO Kalorama é uma boa oportunidade para ver se os Gossip, com o seu recente Real Power (2024) estão de facto na sua máxima força ou se os tempos áureos ficaram colados lá atrás, a hinos como “Standing In The Way of Control” ou “Listen Up!”. Valerá também a pena espreitar Vagabon, que entra em cena 15 minutos depois, e que Mitski elogiara em 2019, mal a camaronesa, residente nos Estados Unidos, se lançou com o seu álbum homónimo. Chega a Lisboa com Sorry I Haven’t Called (2023), disco onde põe o luto a abanar a anca.
20h05: Massive Attack (Palco MEO)
Há cinco anos que os Massive Attack não pisavam os palcos. Se por si só este concerto já era especial, a morte do guitarrista Angelo Bruschini, em outubro do ano passado, enche esta digressão de simbolismo. Será um momento de comunhão entre os fãs e a banda de Bristol, pioneira do trip hop e que ao longo da carreira se tem empenhado em várias causas ativistas (a última das quais manifestou-se no lançamento do EP ceasefire, em março deste ano, em solidariedade com o povo palestiniano). Se olharmos ao que tem acontecido nas últimas atuações dos Massive Attack, é possível que Horace Andy, Deborah Miller, Elizabeth Fraser e os Young Fathers participem em temas como “Angel”, “Unfinished Sympathy”, “Voodoo in My Blood” ou “Black Milk”. Será um concerto para unir a família.
22h: Fever Ray (Palco San Miguel) / Jalen Ngonda (Palco Lisboa)
Em 2023, no Vodafone Paredes de Coura, deu um dos melhores concertos que vimos em grandes festivais nesse ano. Fever Ray, pseudónimo de Karin Dreijer, não faz por menos: cada atuação sua é uma performance poderosa, cada música num manifesto estético e bélico contra a apatia e o vulgar. Radical Romantics (2023) é o seu álbum mais recente – um disco que se fartou de figurar nas listas de melhor do ano – mas o concerto deverá navegar também por temas antigos, como o hipnótico “If I Had a Heart”. À mesma hora, outra coisa completamente diferente toma conta do Palco Lisboa. Jalen Ngonda, herdeiro do legado Motown, dono de uma voz luzidia e cheia, é o novo senhor do funk e do soul. Não deve tardar para que o seu nome figure em slots de horário nobre.
23h10: Sam Smith (Palco MEO)
Numa década, Sam Smith conquistou quatro Grammys, um Óscar, entre muitos outros prémios internacionais que o posicionam, indubitavelmente, como um dos grandes nomes da pop mundial. Fazendo jus ao estatuto, é de esperar que mobilize muito público neste primeiro dia de MEO Kalorama. Quando soar “Stay With Me” e “I’m Not The Only One”, canções do seu álbum de estreia que comemora este ano o décimo aniversário, haverá cordas vocais a sangrar no recinto. Porém, quando for a vez de trazer “Unholy” ou “I’m Not Here to Make Friends” para palco, haverá um mar de gente a sacudir a anca sem vergonha, celebrando múltiplas identidades, narrativas não binárias que tiram o cinzentão do mundo. Entre o lado mais sentimentalista e romântico e a exuberância, Smith certamente proporcionará uma viagem com direito a muitas lágrimas e dança no MEO Kalorama.
00h45: Loyle Carner (Palco Lisboa) / 00h40: Peggy Gou (Palco San Miguel)
Na mesma edição que Fever Ray transfigurou o auditório natural de Paredes de Coura, Loyle Carner falou-nos diretamente ao coração, num concerto tocante e primordial. Com uma vulnerabilidade rara, o inglês crescido no sul de Londres, passou então mensagens de perdão, amor e tolerância. É bem provável que essas mensagens sejam resgatadas para o MEO Kalorama, numa altura em que o país de Carner vive a ressaca de uma das piores manifestações de extrema-direita dos últimos anos. Precisamos do hip-hop misturado com jazz e funk deste músico, de todas as possibilidades de misturas que a vida nos dá e de um álbum magistral, como o é hugo (2022) – que este ano foi editado ao vivo, num concerto no Royal Albert Hall – para continuar a sorrir. Se isso não bastar, então temos bom remédio: ir dançar com Peggy Gou no Palco San Miguel, trauteando Nanana.
30 agosto, sexta-feira
17h45: Emmy Curl (Palco San Miguel) / 18h20: Glockenwise (Palco Lisboa)
Uma elfa transmontana ou um coletivo gótico português? Qualquer que seja a escolha para começar o segundo dia de MEO Kalorama, será uma escolha certeira (melhor ainda se a escolha passar por ir aos dois concertos). Se, por um lado, os Glockenwise já rodaram bastante o espetáculo ancorado no seu elogiado último disco de estúdio (Gótico Português, 2023), Emmy Curl está a começar a espalhar pelos quatro ventos o seu novo trabalho, Pastoral (2024), obra que traz o folk de Trás os Montes e as raízes Celta para um registo experimental, de harmonias ricas, sem cair em revivalismos fáceis e mastigados. Quem a viu no Bons Sons, a beber moscatel e a pôr uma plateia em delírio a cantar dizeres de pastoreio transmontano, como se tivesse nascido entre o Alvão e o Marão, quererá repetir a receita. Quem ainda não apanhou esta elfa ao vivo, apresse-se a fazê-lo.
18h35: Olivia Dean (Palco MEO)
Olivia Dean é aquilo que se pode chamar um bom presságio para Raye, que atuará no último dia do MEO Kalorama. Contudo, seria demasiado injusto da nossa parte reduzir a artista britânica, que é considerada uma das vozes da pop mais promissoras do Reino Unido, a essa condição. Três nomeações para os Brit Awards sustentam um estatuto que tem tudo para se robustecer nos próximos anos. Ao MEO Kalorama traz o último espetáculo da digressão de Messy (2023), álbum de estreia que esteve indicado para o Mercury Prize.
19h40: The Kills (Palco San Miguel)
Para os que vaticinam que o rock está morto, Jamie Hince e Alison Mosshart terão sempre uma guitarra em riste pronta a mostra que, não só o rock não está morto, como continua inquieto a procurar novos caminhos para se experimentar. A última vez que estiveram em Portugal foi em 2017, com Ash & Ice (2016), no NOS Alive. Agora regressam com o fabuloso God Games (2023), sexto trabalho de estúdio, camadas de batidas, sintetizadores, samples em corta-e-cose que, ao invés de disfarçarem o rock e o cunho indisfarçável dos The Kills, o mostram atual e cheio de possibilidades de futuro.
20h45: Jungle (Palco MEO)
Um concerto de Jungle é sempre uma grande festa. Por todos os motivos e mais alguns, é quase imperativo assentar arraiais no palco MEO às 20h45 para dançar temas como “Busy Earnn’, “Back On 74” ou “Casio”. Ainda para mais, porque Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland já disseram publicamente que Portugal está no “top 3” dos seus lugares preferidos no mundo (as mais de dez vezes que por aqui passaram não deixam qualquer dúvida quanto a esta afirmação). Ou seja, a paixão e a boa disposição que esta dupla britânica normalmente costuma despejar nos seus espetáculos, cheios de disco, funk, eletrónica e luzes, será despejada a dobrar em Lisboa.
22h05: The Postal Service + Death Cab For Cutie (Palco San Miguel) / 23h: Nation of Language (Palco Lisboa)
Give Up e Transatlanticism, ambos de 2003, são os álbuns que estão na génese da digressão que juntou os The Postal Service e os Death Cab For Cutie. O elo em comum chama-se Ben Gibbard, cantor, compositor e guitarrista americano que, num ano só, se envolveu em dois projetos tornados marcos do movimento indie-rock do início de século. O espetáculo do MEO Kalorama será um momento revivalista para a banda e para os fãs. Para quem não sentir a nostalgia a bater no coração, sugerimos que dê um saltinho ao Palco Lisboa e espreite o pós-punk dos Nation of Language, eles que tiveram a sua estreia em Portugal em 2022, numa intimista sala portuense, e que, desde então, têm trazido para si cada vez mais (e justificada) atenção.
00h: LCD Soundsystem (Palco MEO) / 00h30 Ezra Collective (Palco Lisboa)
Em 2025 celebram-se 20 anos do lançamento do primeiro álbum dos LCD Soundsystem, meteorito que veio alterar completamente a rota da eletrónica, do indie-rock, da house, de todos os géneros onde o impulso criativo e a genialidade rompem com as amarras e se manifestam num grito catártico. De lá para cá, houve espaço para concertos épicos em salas pequenas (quem esteve em 2005 no Lux Frágil, diga “presente”) e em recintos gigantes de festival, todos envolvidos numa apoteose e consistência só ao alcance dos grandes. Houve espaço até para um “The Long Goodbye”, concerto de 2014 que seria de despedida, não fosse James Murphy um tipo inquieto que, em 2017, regressaria ao lado dos seus ainda mais fortalecido, com American Dream. Nunca se sabe ao certo qual será o próximo passo dos LCD Soundsystem. Eles gostam de baralhar as profecias e de escrever a história em andamento, à sua medida, e isso é o que torna cada manifestação sua – seja uma colaboração como a de “Dancer”, com os IDLES, ou mais um concerto – uma epifania a ter em conta. Pena o concerto do MEO Kalorama ser quase à mesma hora do dos Ezra Collective, grupo do novo jazz britânico (já não assim tão novo quanto isso) que recebeu o Mercury Prize pelo seu álbum Where I’m Meant to Be (2023) e que é conhecido pela sua energia visceral ao vivo (em 2023, acabaram no meio da plateia do Super Bock Super Rock). Vale a pena dar lá uma saltada. James Murphy certamente faria o mesmo, se pudesse.
31 agosto, sábado
19h45: Ana Moura (Palco MEO)
Casa Guilhermina foi lançado no final de 2022, mas quase dois anos volvidos ainda dá muito que falar. O disco não foi apenas mais um na carreira de Ana Moura, fadista apadrinhada por Prince, pelos Rolling Stones e que se tornou numa das vozes portuguesas mais internacionais de sempre, ao vender mais de um milhão de cópias por todo o mundo. O sétimo disco de estúdio de Ana Moura teve a força de grito de Ipiranga contra todos aqueles que a queriam manter fechada e imaculada na redoma da tradição. Casa Guilhermina é fado, mas também é quizomba e eletrónica. É um manifesto de empoderamento de uma artista que quer envolver várias linguagens no seu falar e que, nesse exercício, já puxou até si colaborações com Nelly Furtado ou com a venezuelana MJ Nebreda, com quem lançou o tema “Lá Vai Ela”. Deixemo-la ampla com caminho para se passear e paremos durante um instante para a admirar neste último dia de festival.
20h55: dEUS (Palco San Miguel)
Há um ano estiveram no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para apresentar How to Replace It, álbum lançado em 2023, o primeiro em 11 anos e sucessor de Following Sea (2012). Desse concerto veio a confirmação de que os dEUS não ficaram presos na nostalgia dos anos 90, era dourada que deu à luz o seminal In a Bar, Under The Sea (1996). Pelo contrário, eles ainda têm uma palavra a dizer no que ao seu rock progressivo, espaço de experimentação entre o jazz e o punk, diz respeito. É isso que esperamos ver reforçado no concerto do MEO Kalorama, com um Tom Barman sempre intenso nas interpretações e, talvez, a falar português com a plateia.
22h: Raye (Palco MEO)
Não nos enganemos: Raye afigura-se como a nova rainha da pop, não só em solo britânico, de onde é natural, mas à escala mundial (sendo que no estatuto de rainhas temos Beyoncé, Dua Lipa, SZA, entre outras mulheres que não se importam de partilhar o trono umas com as outras. Sororidade à boa maneira girl power). Nos BRIT Awards deste ano, não só bateu o recorde de nomeações (sete), como o de prémios conquistados (seis), incluindo os de Artista do Ano, Álbum do Ano (My 21st Century Blues [2023]) e Canção do Ano (“Escapism”). O que explica tamanha sensação? Primeiro, o talento inato de Raye em firmar-se no terreno da pop movendo-se, com uma naturalidade que já lhe valeu comparações com Amy Winehouse, entre vários estilos, do R&B à house; por outro, o seu arrojo ao romper com a editora, que queria fazer da artista de ascendência suiça e ganesa, um produto de consumo rápido. Ao lançar-se de forma independente, fez sucesso primeiro no TikTok, chamando depois a atenção para a crítica especializada. Hoje, Raye é dona e senhora de si, tendo já assinado colaborações com nomes como John Legend ou com a rainha…Beyoncé. Por todas estas razões, será uma das protagonistas desta temporada de festivais de verão.
23h20: Overmono (Palco San Miguel) / 23h15: Yard Act (Palco Lisboa)
Se os Moderat se encontrassem com os The Blaze, James Blake e Tyler, The Creator num bar, provavelmente o resultado desse brainstorming chamar-se-ia Overmono. A dupla galesa, formada pelos irmãos Tom e Ed Russell, tem na atenção ao detalhe a sua grande mais valia, gerando uma eletrónica envolvente, onde subgéneros como o grime e o techno se imiscuem gentilmente, em nome do bem maior que é a viagem que cada tema proporciona ao ouvinte. Good Lies, disco de 2023, assinalou a estreia dos Ovemono na edição e é esse trabalho que iremos ouvir no MEO Kalorama. Se o menu não lhe agradar, o indie dos Yard Act, para quem os LCD Soundsytem foram uma influência clara, é uma boa alternativa antes do mergulho no outro cabeça de cartaz da noite.
00h30: Burna Boy (Palco MEO)
Highlife, reggae, afrobeat, hip hop, dancehall, pop, África e Ocidente: tudo desagua em Burna Boy, artista congregador que eleva a bandeira do pan-africanismo bem alto e que a colocou num patamar que nenhum outro artista africano tinha colocado até então. Em 2019, foi o primeiro artista africano a esgotar a Wembley Arena de Londres e outros estádios, do Reino Unido aos Estados Unidos, seguiram-lhe as pisadas. À sua passagem, o nigeriano granjeou a admiração de artistas como Beyoncé, Sam Smith, Justin Bieber ou Ed Sheeran, com quem gravou faixas de sucesso global (de “My Oasis” a “JA ARA E”). Hoje tem a atenção do mundo virada para si. O ponto mais alto desta sua jornada, iniciada em 2013 com L.I.F.E., foi a conquista do Grammy para Melhor Álbum de Música Internacional, com Twice as Tall (2020). Passou por Portugal em 2023, dando um concerto poderoso (senão o melhor dessa edição) no festival Afro Nation. Regressa agora, desta feita a Lisboa, pouco tempo depois de ter anunciado o lançamento de um novo disco, o sétimo da carreira: De No Sign of Weakness’ já se conhece “Empty Chairs”.
01h15: Yves Tumor (Palco Lisboa) / 01h50: Soulwax (Palco San Miguel)
Há dois bons motivos para não abandonar o Parque da Bela Vista depois de Burna Boy: um chama-se Yves Tumor, um dos artistas mais criativos da última década ao testar os limites da pop e da arte contemporânea através de um experimentalismo assimétrico, onde cabe a ordem e a desordem, o ritmo e o improviso livre; o outro chama-se Soulwax, veteranos da eletrónica, senhores de alguns dos remixes mais incendiários da indústria – de “Let It Happen”, dos Tame Impala, a “Bizcochito”, de Rosalía – mestres em fazer a festa pela noite fora. Serão dois espetáculos incendiários, cada qual a seu jeito, e uma boa maneira de dizer “até para o ano” ao MEO Kalorama.