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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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Montenegro pede tempo e Marcelo dá conforto. Mas ameaça "acompanhar" de perto plano para a Saúde

Ministra da Saúde pediu "tempo" para resolver problemas na Saúde e queixou-se da herança. Montenegro irritou-se com jornalistas e segurou ministra. Marcelo prometeu estar atento nos próximos meses.

Um sinal de confiança com um prazo de validade. Marcelo Rebelo de Sousa esteve esta quinta-feira ao lado de Luís Montenegro numa visita às instalações renovadas da Maternidade do Santa Maria, em Lisboa, e deixou duas coisas bem claras: por um lado, é preciso dar tempo a um Governo que tem menos de quatro meses em funções para resolver problemas que são estruturais na Saúde; mas, e foi isto que o Presidente da República também quis vincar, as expectativas criadas por Luís Montenegro foram muitas e os próximos meses têm de se traduzir em resultados concretos e mais evidentes. Não haverá muitas mais oportunidades para deixar uma boa primeira impressão.

De resto, Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de dar sinais de que tem pressa para ver os problemas resolvidos. Literalmente. Presidente da República e primeiro-ministro tinham visita marcada para as 17h30, mas dez minutos antes já Marcelo inspecionava, a partir do exterior, as instalações da nova maternidade. Pontual, Luís Montenegro chegou, cumprimentou a comitiva (que incluía Ana Paula Martins e Joaquim Miranda Sarmento, ministra da Saúde e das Finanças, respetivamente) e ouviu o pedido de desculpas do Presidente — esperava encontrar mais trânsito pela frente, esquecendo-se das tréguas que o mês de agosto dá nessa frente à cidade de Lisboa.

A visita às instalações acabou por ser acompanhada apenas pelos repórteres de imagem, com a promessa de que, no final, Presidente e primeiro-ministro responderiam às perguntas dos jornalistas. Assim seria, não sem antes Ana Paula Martins ter feito uma intervenção onde acusou os críticos de “má fé”, prometer que no “próximo verão” as urgências não estarão a atravessar as dificuldades atuais e criticar, mais uma vez, a herança recebida. “É uma crise que não começou ontem e que também não vai acabar amanhã. Há gravíssimos problemas que não foram resolvidos nos últimos anos. Já resolvemos situações extremamente graves. Deem-nos tempo. Estamos a cumprir a nossa parte”, pediu a ministra da Saúde.

Seria depois a vez de Luís Montenegro falar, pela primeira vez em público, sobre o momento de particular tensão que atravessam as urgências — ele que tinha estado em silêncio até aqui. Durante largos minutos, o primeiro-ministro fez questão sublinhar três pontos: tem existido uma resposta eficaz nas listas de espera das cirurgias oncológicas, a linha SNS Grávida está a funcionar e impedir que as grávidas andem de maternidade em maternidade à procura de serem recebidas, e, finalmente, o centro de atendimento clínico em Lisboa e hoje prometido centro do Porto vão permitir diminuir a pressão sobre as urgências.

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Apesar de tudo, Montenegro acabou por reconhecer que a situação está muito longe de ser a ideal, responsabilizando, como a ministra e outros sociais-democratas antes dele, o governo de António Costa. “Não vamos ter capacidade de resolver tudo de um dia para o outro. Era uma situação muitíssimo má. Não vamos vender ilusões: o SNS que nos foi legado era absolutamente caótico“, denunciou o primeiro-ministro.

Perante a insistência dos jornalistas — Montenegro irritou-se várias vezes com as perguntas da comunicação social, chegando a falar em “desonestidade” –, o primeiro-ministro reconheceu que não está em condições de prometer que todos os constrangimentos existentes serão resolvidos até ao final do verão. “Seria irresponsável dizer que as urgências estão a funcionar bem. Sabemos que não estão. Mas estamos com mais capacidade de resposta. O plano do Governo é o adequado. Precisamos de tempo e precisamos de confiança”, pediu o social-democrata.

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Desafiado a dizer se tinha convidado para Marcelo Rebelo de Sousa para a visita como forma de encontrar um “chapéu de sol ou de chuva” que o protegesse das críticas da oposição, Montenegro voltou a irritar-se, dizendo que nem ele, nem o Presidente precisam “desses instrumentos” e que o dever do Governo “é informar o Presidente da República de “todas as suas ações”. “[Os jornalistas] têm grande capacidade de criar factos novos. O Presidente da República está aqui porque nós o convidámos para vir. Tudo o resto [só] dão muitos bons títulos.”

Mesmo a terminar, Montenegro, que estava com pressa porque tinha de apanhar o avião até Paris para ver os Jogos Olímpicos e ainda tinha de ouvir o que o Presidente da República tinha a dizer aos jornalistas, disse manter total confiança em Ana Paula Martins. “Mantenho a 300%. Era só o que faltava”, rematou Montenegro.

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Em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa, por sua vez, tentaria fazer o equilíbrio entre os argumentos do Governo e as críticas da oposição. Fazendo a cronologia das alterações profundas introduzidas na gestão do SNS, que começou em 2022 e só foi concretizada em 2023, lembrando que houve uma crise política e mudança de Governo, o Presidente da República, mesmo sem o dizer taxativamente, apelou à paciência de todos com este período de “adaptação“.

Ao mesmo tempo, e foi aqui Marcelo deu algum conforto à oposição, o Presidente da República recordou a Montenegro que as expectativas que o próprio havia criado em relação ao plano de emergência para a Saúde eram “muito altas” e que estão ainda longe de se verem refletidas no terreno. Pegando no que a ministra da Saúde dissera minutos antes (“Dêem-nos tempo”), o Chefe de Estado sugeriu que dava o benefício da dúvida ao Governo, deixando um aviso claro: “Tenciono ao longo das próximas semanas e meses fazer o acompanhamento das medidas”.

Sempre ao lado de Luís Montenegro, cuja equipa já dava manifestos sinais de exasperação com o facto de o primeiro-ministro estar atrasado para apanhar o avião até Paris, Marcelo Rebelo de Sousa recusou qualquer leitura sobre estar ou não a dar “colo” ao atual Governo, lembrando que, no passado, foi repetidamente acusado de fazer o mesmo com António Costa. Não é menos verdade que, na passagem para a maioria absoluta do socialista, o colo se tornou menos frequente e mais hostil. Resta saber se Montenegro receberá maior ou menor tolerância de Marcelo.

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