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Distante no tempo, mas próxima nas circunstâncias, a década de 20 do século passado chega no rescaldo de uma guerra mundial (1914-1918) e da gripe espanhola (1918-1920)
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Distante no tempo, mas próxima nas circunstâncias, a década de 20 do século passado chega no rescaldo de uma guerra mundial (1914-1918) e da gripe espanhola (1918-1920)

© Imagem MNTD/ Imagens cedidas por Hemeroteca Municipal de Lisboa

Distante no tempo, mas próxima nas circunstâncias, a década de 20 do século passado chega no rescaldo de uma guerra mundial (1914-1918) e da gripe espanhola (1918-1920)

© Imagem MNTD/ Imagens cedidas por Hemeroteca Municipal de Lisboa

Mulheres ao volante, tertúlias de fim de tarde e clubes dançantes. Nos loucos anos 20 "vivia-se sem pensar no dia de amanhã"

O chá das cinco era servido nas pastelarias da moda, as noites de espetáculo lotavam teatros e as madrugadas nos clubes pareciam não ter fim. O retrato, num novo livro, é de uma Lisboa "desbragada".

A par da crise económica, social e política dos anos 20 do século passado em Portugal, para a história fica também o ritmo acelerado que contagia dias e noites de uma elite amante de um nem sempre pontual chá das cinco, das atividades ao ar livre e dos clubes noturnos marcados pelas jazz-bands, jogos ilegais e até pela cocaína. A descrição da década que trouxe um ritmo sem precedentes à capital portuguesa, “desbragado” e até “inconsequente”, é feita pela autora Paula Gomes Magalhães no novo livro “Os Loucos Anos 20 – Diário da Lisboa Boémia”, da editora Planeta, e em entrevista ao Observador.

Numa altura que passam 100 anos de uma década marcada pela imprudência e extravagância, uma “loucura” que Lisboa tentou replicar de olhos vidrados em Paris, a investigadora do Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa faz um retrato de uma cidade boémia através da imprensa da época, sobretudo dos magazines de capas ilustradas por artistas modernistas que contribuíram para a criação de um imagético que perdura até aos dias de hoje. Dos cabelos curtos e indumentária mais liberta (quando comparada com a década anterior), ao volante de um carro conduzido por homens e — em particular — por mulheres.

Distante no tempo, mas próxima nas circunstâncias, a década de 20 do século passado chega no rescaldo de uma guerra mundial (1914-1918) e da gripe espanhola (1918-1920). Esclarecendo que não é socióloga, também a autora desconfia que, após dois confinamentos resultantes de uma crise sanitária, na calha poderão estar “os nossos loucos anos 20”. “Quando olhamos retrospetivamente é mais fácil do que quando estamos a vivenciar o momento. Se hoje olharmos para abertura que tivemos no dia 1 de outubro, se calhar já temos a noção de algum desbragamento. Alguns ecos que me chegaram mostraram esse sentimento de liberdade. É essa ideia: ‘Vamos, vamos já, porque amanhã podemos voltar para casa’.”

Paula Gomes Magalhães, autora do livro "Loucos anos 20 - Retrato da Lisboa boémia", fotografada na Casa do Alentejo

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Escolheu a Casa do Alentejo para esta entrevista. Foi por, noutra vida, ter sido o Magestic e Monumental Club? De que forma é que este espaço é representativo dos anos 20 do século passado em Lisboa?
Na verdade não restam muitas coisas dos anos 20 e daquilo que, de alguma forma, se transformou numa espécie de imagem de marca de então: os clubes noturnos. O Magestic e o Monumental Club foi — porque, no fundo, era apenas um espaço que acabou por mudar de nome — um clube noturno importante e lindíssimo. E é um espaço que ainda mantém tudo isso, que continua disponível ao público. Achei que era uma escolha óbvia. Era o Palácio Alverca que depois foi transformado em clube: foi nesta rua que se concentraram alguns desses espaços, incluindo o Bristol Club, que era muito perto. Era uma rua importante da efervescência noturna dos anos 20.

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Aqui perto também está o Teatro Politeama que já existia na altura…
… Desde 1913.

Acontecia aqui aquilo que é descrito no livro, no sentido em que as pessoas saíam dos teatros e vinham para a noite? Quer dizer, algumas seguiam para casa, outras para os famosos clubes.
Há aqui uma grande centralidade de teatros: o Politeama, o Teatro Nacional D. Maria II, o Teatro Avenida, o Éden… Havia alguns mais distantes, na zona do Chiado, como o Ginásio ou o São Luiz. Toda a confluência teatral estava aqui muito centrada na Avenida da Liberdade, na zona do Rossio e do Chiado. A noite a lisboeta era fundamentalmente nesta zona.

Como era a noite há 100 anos? Isto considerando uma determinada elite.
Sim, não era para todos. Um dos principais divertimentos era o teatro, as pessoas iam ao teatro à noite, ao cinema também — nesta altura a palavra animatógrafo já não é tão usada, mas muitos espaços ainda são assim designados. A ida ao cinema começa a ser bastante regular e um exemplo disso foi o facto de muitos teatros, por perderem público, se terem transformado em cinemas — como o São Luiz que, a partir de 1928 e durante muitos anos, passa a ser cinema. Estamos numa altura em que há um grande boom do cinema…

Começa a ser criado o star system nos EUA.
Exatamente. Há um grande boom do cinema.

Retomando a questão da noite lisboeta de há 100 anos…
As pessoas iam ao teatro e, para aqueles que não regressavam a casa, os clubes noturnos eram o espaço onde a noite podia de alguma forma continuar.

"Em 1920, a atividade continuada de jogo ilegal obriga o Magestic a fechar as portas. No final desse ano, a Sociedade de Hotéis e Restaurantes de Carlos Nápoles de Carvalho reabre o espaço, com a designação de Monumental Club (...) Mantém‐se em atividade até praticamente ao final dos anos 1920, altura em que é novamente decretado o seu encerramento pelas autoridades, mais uma vez devido ao jogo e às medidas repressivas entretanto impostas pelo regime." 
Os Loucos Anos 20 - Diário da Lisboa Boémia, pág. 217 e 218

Fala dos espaços dançantes com as tais jazz-band e os jogos ilegais?
Sim, era isso tudo misturado. Aquilo que entendemos é que a grande maioria destes clubes se sustentava através do jogo. Não eram espaços que tivessem qualquer espécie de subvenção, portanto, o que é que alimentava estes lugares? O jogo. O jogo foi sendo ilegal — isto foi tendo contornos muito diferentes ao longo dos tempos —, mas era uma prática que a grande parte destes clubes tinha, alguns de forma mais resguardada.

Era o caso do Magestic [atual Casa do Alentejo]?
Sim, era o caso. Ele é encerrado enquanto Magestic logo no início dos anos 20 — abre em 1919 e depois reabre no final de 1920 já como Monumental Club. Aquilo que nós percebemos é que era uma prática, eles passavam a vida a ser fechados e reabertos consoante a fiscalização pudesse estar mais ou menos ativa nessa altura. Mas sim, era uma prática inegável na grande maioria destes clubes noturnos.

"As pessoas iam ao teatro e, para aqueles que não regressavam a casa, os clubes noturnos eram o espaço onde a noite podia de alguma forma continuar."

© Imagem MNTD / Imagem cedida por Hemeroteca Municipal de Lisboa

Também há a questão da cocaína que, de certa forma, fazia parte da noite lisboeta.
Abordo a questão da cocaína, mas não a trabalho em termos sociais. Mas que existia e que estes eram espaços onde se consumia e de proliferação da cocaína… Até porque as pessoas passavam muitas horas aqui. A dança e a vida acelerada desta altura tornava isso ainda mais evidente.

Parece existir uma grande disrupção entre esta década e aquela que a antecedeu. Lisboa muda drasticamente? Qual é o contexto histórico e cultural que permite esta metamorfose?
O que é que cria esta explosão, esta necessidade de diversão? Temos um contexto na Europa e no mundo da primeira guerra mundial e temos logo a questão da gripe espanhola. São momentos muito difíceis que a Europa, sobretudo, atravessou. De alguma forma, com estes ritmos que começam a chegar, é como se houvesse por parte da população uma necessidade de viver sem pensar no dia de amanhã, no que vai acontecer. A verdade é que tivemos uma Belle Époque até 1914. E quando é que olhamos para essa Belle Époque enquanto tal? Quando desponta a primeira guerra mundial, quando se olha para trás e se vê que foram tempos de calmaria, de paz, de algum desenvolvimento — tudo estagnou com a primeira guerra mundial. É como se a seguir houvesse essa necessidade de voltar a uma vivência sem pensar no que é que vem a seguir — era viver o dia pelo dia, a noite pela noite. Isto é absolutamente especulativo, mas é como se pensássemos que os dias e as noites fossem vividos sem pensar no futuro, quase de uma forma inconsequente: “Vou viver hoje porque amanhã pode rebentar uma outra guerra, uma outra pandemia”. Bom, agora estamos outra vez nesse cenário [da pandemia].

Cem anos depois chegámos outra vez à década 20 e estamos a ultrapassar uma pandemia global. É possível fazer um paralelismo entre os anos 20 do século passado e agora, tendo em conta o contexto que o mundo atravessa?
Não sou socióloga, tenho alguma dificuldade em fazer esse género de avaliação, mas de uma coisa tenho a certeza: estava em processo de escrita durante o primeiro confinamento e, porque ainda não sabíamos bem o que estávamos a viver, não pensei nisso logo no início. Mas pouco tempo depois, quando estava nas minhas pesquisas, a ver os jornais que apenas podia consultar na Hemeroteca Digital, dei por mim a pensar: nós vamos ter os nossos loucos anos 20. Penso ainda mais nisso agora porque já vivemos dois confinamentos e a coisa não foi tão rápida quanto se calhar gostaríamos, portanto, é natural pensarmos que depois daquilo que vivemos, depois destes espartilhos a que estivemos obrigados, que a libertação possa ser grande, mas não imediata. Lá está, também não terá sido na década 20 do século passado. Quando olhamos retrospetivamente é mais fácil do que quando estamos a vivenciar o momento. Se hoje olharmos para abertura que tivemos no dia 1 de outubro, se calhar já temos a noção de algum desbragamento. Alguns ecos que me chegaram mostraram esse sentimento de liberdade. É essa ideia: “Vamos, vamos já, porque amanhã podemos voltar para casa”.

"No fundo, era como se os clubes não só fossem essa imagem de marca dos anos 20, mas também uma imagem da modernização artística."

© Fundação Mário Soares e Maria Barroso / Diário de Lisboa / Ruella Ramos

Estes loucos anos 20, além da efervescência, são uma época de muita dinâmica e de transformação social?
Sim, de transformação social. Há aqui um acompanhar daquilo que é um desenvolvimento social, cultural e tecnológico. Portanto, é natural que esta libertação também esteja associada a isso. Exemplo é a questão da indumentária: na década anterior era tudo muito espampanante, armado e pomposo, muito por camadas, com espartilhos; na década seguinte há uma libertação porque as pessoas já não se reveem nessa forma de estar, de viver. A vida é mais acelerada, as pessoas têm empregos que, no caso das mulheres, exigem outra roupa. Elas começam a ocupar cargos que até então não ocupavam e não há tempo para grandes preparações de vestuário, de cabelos…

Passamos de espartilhos para vestidos fluídos?
Completamente. É um pouco essa a ideia: de alguma maneira acompanhar mais aquilo que é a linha do próprio corpo. O corpo também começa a ser importante, exemplo disso é a questão do exercício físico. Mais do que esconder o corpo, passa a ser importante mostrá-lo tal como ele é.

"Em 1920, já o magazine ABC escrevia que a silhueta da mulher tinha sofrido uma «radical transformação». A graciosidade dos movimentos, resultantes dos novos contornos, eram comparados aos tempos das «modernas danças, suaves, acariciadoras e cadenciadas!». Assegurava que o sucesso dos meses quentes de verão, conservando a «linha direita e fina», seria a combinação de tecidos modernos, de cores lisas, com quadrados, flores e arabescos, a que se juntavam os plissados, de todas as formas e feitios, as fitas, os botões e os bordados."
Os Loucos Anos 20 - Diário da Lisboa Boémia, pág. 54

Apesar de terem sido “loucos anos 20” em Lisboa, estes não tiveram a mesma intensidade comparativamente com outras capitais europeias, pois não?
Lisboa era uma cidade ainda menos evoluída do que Paris. E Lisboa sempre olhou muito para Paris, que era a referência em termos do que se vestia, do que se fazia e ouvia. Em Lisboa e no resto do país o desenvolvimento não tinha qualquer espécie de comparação. Quando falamos nesta Lisboa boémia, falamos de uma classe de alguma forma restrita — uma grande maioria da população obviamente não frequentava muitos destes espaços ou frequentava de outras formas. Estamos sempre a falar de uma sociedade de grandes contrastes.

Havia quem tivesse a possibilidade de viver quase à imagem dessas grandes capitais europeias — os clubes noturnos são uma marca nesse sentido, isso é referido muitas vezes nos periódicos e nos magazines, no sentido de que a este nível estávamos equiparados às grandes capitais europeias. Era como se nos clubes noturnos conseguíssemos encontrar a verdadeira marca do desenvolvimento ou de uma espécie de desenvolvimento da sociedade de então. Há toda uma geração artística, um movimento artístico muito ligado à questão do modernismo, onde há uma relação muito estreita também com a vivência dos clubes noturnos: o Bristol Club era um espaço frequentado por grande parte destes artistas. No fundo, era como se os clubes não só fossem essa imagem de marca dos anos 20, mas também uma imagem da modernização artística.

"Um caso muito marcante é o facto de as mulheres começarem a conduzir automóveis. Ainda não existiam tantos quanto isso e o número de homens ao volante também não eram assim muito elevado"

© Imagens cedidas por Hemeroteca Municipal de Lisboa/ Imagens MNTD

E isto acontece em simultâneo com um período político muito conturbado.
Sim, muito conturbado. Tudo isto acontecia enquanto existiam autênticas revoluções e governos a mudarem — houve anos em que houve nove e seis governos diferentes, atentados. Quando em 1926 há o golpe militar as coisas também não acalmam imediatamente, foi um período muito conturbado a esse nível.

Os excertos que publica no livro, de crónicas e artigos, parecem sugerir uma certa emancipação feminina nesta fase e, ao mesmo tempo, uma resistência.
Sim. O que quis fazer com este “Diário da Lisboa Boémia” foi precisamente ir beber sobretudo à imprensa. Nesta altura a imprensa é um importante espelho da sociedade, até pelo seu próprio desenvolvimento — a imagem e as ilustrações ganham um lugar muito relevante em muitos destes periódicos. Esse foi o meu objetivo principal: perceber de que forma é que esta década, os divertimentos e a boémia, foi retratada na imprensa. Nesse sentido, encontramos de tudo, a ideia de liberdade, mas também uma grande resistência.

Um caso muito marcante é o facto de as mulheres começarem a conduzir automóveis. Ainda não existiam tantos quanto isso e o número de homens ao volante também não era assim muito elevado — claro que nos anos 20 o número aumenta substancialmente. Mas o facto de muitas mulheres, aquelas que podiam, quererem conduzir automóveis… a velocidade do próprio carro era quase um sinónimo de liberdade. Claro que a sociedade portuguesa era bastante conservadora, mesmo no vestuário e nos cortes de cabelo. Há um cronista que diz, a determinado momento, que antes as mulheres andavam “admiravelmente vestidas” e agora “quase todas admiravelmente bem despidas “. Não percebemos muito bem se há ali uma crítica, mas percebemos que não é algo que toda a gente veja com bons olhos. A imprensa espelha esse lado de quem é a favor e contra, como as pessoas se posicionam no dia a dia.

"No início dos anos 20, Portugal vivia uma profunda crise política, económica e social, propagada desde a implantação da República e agravada pelos anos de guerra. Sucedem‐se os governos – que chegam a durar poucas semanas ou dias –, a moeda desvaloriza, a inflação atinge as mais altas taxas de sempre e o desemprego dispara (...) Nas ruas impera a instabilidade, com greves, manifestações, atentados e mortes, a que nem a ditadura militar, instaurada em 1926, consegue de imediato pôr termo. Durante o ano de 1920 o país teve nove governos e, em 1921, outros seis. 
Os Loucos Anos 20 - Diário da Lisboa Boémia, pág.12

Voltando aos hábitos característicos dessa altura, há o chá das cinco.
Uma mulher saía para se tratar, mesmo quando ia tomar o famoso chá das cinco — menos pontual do que o britânico —, que era importante não pela questão do chá, mas sim pela sociabilidade, porque as mulheres saíam para ver e para serem vistas. E isso era muito importante.

Houve grandes casas que abriram com o intuito de serem palco disso mesmo?
Sim, no fundo essa era a ideia. Porque a sociedade começa a ir para a rua — rua no sentido de não estar só nos grandes salões, nos espaços aristocráticos ou no interior de um teatro. A sociabilidade começa também a fazer-se muito ao ar livre. Nos concursos hípicos, um espaço muito frequentado por esta elite, faziam-se desfiles dos modelos de vestuário feminino em voga na altura — porque era importante esse lado em qualquer circunstância.

E em muitas pastelarias havia música ao mesmo tempo, em fins de tarde — muitas vezes [o chá das cinco] era acompanhado por algumas jazz-band. Era quase uma antecâmara do que ia acontecer à noite no clube. Já as tertúlias de café sempre foram importantes e não apenas nos anos 20, esse debate intelectual e político. O espaço de café enquanto espaço de tertúlia continua a estar patente nesta década.

"Uma mulher saía para se tratar, mesmo quando ia tomar o famoso chá das cinco — menos pontual do que o britânico —, que era importante não pela questão do chá, mas sim pela sociabilidade."

© Imagem MNTD / © Imagem cedida por Hemeroteca Municipal de Lisboa

Falou também no ar livre…
As pessoas também querem sair de casa, estar na rua, nas esplanadas. Não querem estar confinadas apenas à sua casa, embora a casa passe a ser mais aprazível por aquilo que são as comodidades que a vida trás, como as maquinarias que vemos na publicidade e que passa a agilizar o dia a dia — e sendo a vida mais agilizada também há mais tempo para a diversão.

Além da imprensa, incluindo os magazines semanais, ser um espelho da sociedade, ela também ajuda a moldar as vivências. Por exemplo, o primeiro concurso de beleza foi em 1921 e foi organizado pelo Diário de Notícias.
É engraçado pensar nisso. De facto, a imprensa ganha uma notoriedade muito grande nesta altura. O ABC foi o grande magazine dos anos 20 que acompanhou toda essa década e ajudou a fixar uma imagem da época porque as capas acabaram por ser muito representativas. Quem fazia as capas eram ilustradores modernistas — e essa questão de moldar é verdadeira, eles moldaram uma imagem que se criou da sociedade, da mulher, dos espaços. A imagem de como era a mulher: os cabelos curtos, o fumar, os corpos que dançam, que se maquilham…  será mais uma imagética do que se calhar a realidade. A imprensa também tem um lado de construir em grande parte essa imagem.

"Com o avançar da década, as atividades ao ar livre intensificam‐se e convertem‐se numa obsessão. A prática desportiva generaliza‐se entre homens e mulheres, tendo em vista a competição mas sobretudo como forma de manter jovens e saudáveis os corpos que agora se querem atléticos, longilíneos e descobertos." 
Os Loucos Anos 20 - Diário da Lisboa Boémia, pág. 40

O fim dos “loucos anos 20” acontece com a Grande Depressão, com o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929?
Sim, de alguma forma. Porque há uma crise à escala global. Estamos no final da década, não quer dizer que as coisas tenham parado imediatamente a todos os níveis, mas é o marco que estabelece a mudança.  Encontramos sempre momentos de roturas e que determinam mudanças muito fortes. No caso Belle Epoque, por exemplo, foi a primeira guerra mundial. A grande depressão, no final dos nos 1920, foi absolutamente explosiva. Apesar de não a termos sentido em Portugal com a mesma intensidade, há um refrear dos anos 20 em termos globais — e, no país, já tínhamos esse refreamento após [o golpe de estado de] 1926. Os clubes foram fechando por motivos distintos, estas mudanças nunca são imediatas.

Que marcas é que existem atualmente na cidade Lisboa, o que ficou dos anos 20 que perdure até hoje?
Podemos pensar não apenas em Portugal… A ideia dessa vida desbragada, de loucura, está muito associada aos novos ritmos, como [as danças] charleston e foxtrot e as jazz-band. Há uma sonoridade que identificamos e que conotamos imediatamente com esse momento. Mais do que os espaços ou a questão da monumentalidade, é esse imagético que passa muito pelo vestuário e pelas sonoridades.

Como é que acha que a sociedade olha atualmente para estes “loucos anos 20”?
Se lermos algumas descrições do que era a ambiência nos clubes do Harlem, em Nova Iorque, ou nos cabarés em Paris, de facto, é como se houvesse uma festa permanente.

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