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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Na festa da AD, Montenegro lança as bases da campanha: mais velhos, jovens, impostos, Saúde e Educação

Beleza atingiu Passos, Santana, o convidado surpresa, tentou reconciliar líder e antecessor. Portas deixou guião e Melo bateu de frente com Ventura. Coube a Montenegro tentar relançar em definitivo AD

E, à terceira, a renovada Aliança Democrática fez a prova de vida por que tanto ansiavam os dirigentes dois partidos que a lideram. Depois da formalização do acordo, feita em cima do congresso de entronização de Pedro Nuno Santos, depois do encontro com alguns dos quadros económicos mais respeitados à direita, feito em cima das notícias sobres a listas de candidatos a deputados, chegou finalmente convenção da AD com toda a pompa e circunstância, ainda que sem o parceiro incómodo chamado PPM, num momento que superou as expectativas dos próprios partidos — a direção de campanha da coligação só na sexta-feira repensou todo o plano, originalmente desenhado para ser um momento mais minimalista, não pensado para as televisões.

Ainda antes do discurso de Luís Montenegro, o saldo já era positivo. “Não estava à espera“, confessava ao Observador fonte da direção social-democrata. E coube naturalmente ao líder social-democrata encerrar o encontro que decorreu no Centro de Congressos do Estoril. Ao longo de 45 minutos, Luís Montenegro cumpriu os cinco pontos daquela que será a estratégia da Aliança Democrática.

São eles: procurar a reconciliação com o eleitorado mais velho, falar para os mais jovens, apresentar soluções para a Saúde, responder aos problemas na Educação e combater a ideia de que a estagnação do país é uma “fatalidade“. Ao mesmo tempo, deixar o combate político à direita para Nuno Melo, afirmar-se como único garante de credibilidade e estabilidade, por oposição ao “aventureirismo” de Pedro Nuno Santos e ao radicalismo delirante de André Ventura (adversários que nunca nomeou).

As propostas de Montenegro

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  • Taxa máxima de 15% no IRS para os jovens até aos 35 anos;
  • Redução dos escalões do IRS;
  • Isenção IMT na compra da primeira habitação;
  • Garantia do Estado na parte necessária para assegurar financiamento bancário a 100% do valor da compra da casa;
  • Redução do IRC para 15% até ao fim da legislatura;
  • Aumento do Complemento Solidário para Idosos para 820 euros na primeira legislatura;
  • Apoio a 100%” para medicamentos em situações de comprovada insuficiência económica para doenças crónicas;
  • Reposição gradual do tempo de serviço dos professores;
  • Implementar o acesso universal e gratuito a creches e ao pré-escolar;
  • Plano de emergência para a Saúde em 60 dias. Objetivo: diminuição dos prazos na marcação de consultas de saúde familiar, pela inclusão da teleconsulta como uma alternativa ao atendimento presencial, e assegurando enfermeiro e médico de família recorrendo também aos setores privado e social;
  • Atribuição de um ‘voucher’ para consultas de especialidade e cirurgias sempre que o tempo máximo de resposta garantido seja ultrapassado “em uma hora”;
  • Até final de 2025, acabar com listas de espera que excedem o tempo máximo garantido e dar uma resposta de medicina familiar a todos os utentes;
  • Avançar com negociações imediatas com polícias e forças de segurança.

“Temos de dar aos pensionistas e aos mais velhos a atenção que merecem. Esta é a altura de nos reconciliarmos com os pensionistas e com os reformados de Portugal. Sei bem que alguns deles têm receios em votar em nós”, começou por dizer Montenegro, recuperando a proposta do partido para o aumento Complemento Solidário para Idosos. Noutro plano, quando falou para os mais jovens, o líder social-democrata resgatou a ideia de fixar a taxa de IRS nos 15% para os jovens até aos 35 anos e a isenção do IMT na compra da primeira habitação, por exemplo. “Temos de acabar com o crime social de não conseguirmos fixar cá os nossos jovens.”

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[Ouça aqui a intervenção de Luís Montenegro]

“Não esperem aventuras, nem radicalismos. Podem confiar em nós”

Na Saúde, o líder social-democrata comprometeu-se a aprovar nos primeiros 60 dias um plano de emergência para executar em dois anos na área da Saúde. Desse plano, constará o encurtamento dos prazos de consulta de medicina familiar e a garantia de um enfermeiro e de um médico de família recorrendo a toda capacidade instalada — setores privado e social, leia-se.

Na rede de urgências, Montenegro quer envolver igualmente os privados na solução, em particular nas áreas da pediatria e obstetrícia, e atribuir automaticamente um voucher de consulta e de cirurgia sempre que se atinja o tempo máximo em caso de doença aguda. A meta: até final de 2025, acabar com listas de espera que excedem o tempo máximo garantido e dar uma resposta de medicina familiar a todos os utentes de Portugal.

Na área da Educação, Montenegro deixou o compromisso de fechar nos mesmos 60 dias as negociações sobre a recuperação do tempo de serviço dos professores que esteve congelado. O modelo será aquele que já foi proposto por Montenegro: a recuperação gradual e faseada desse tempo em cinco anos. Além disso, prometeu também a implementação o acesso universal e gratuito às creches e ao ensino pré-escolar, “do zero aos seis anos”.

Falando sobre e para as empresas, o líder social-democrata defendeu que era altura de o país mudar “o chip“. “Não podemos ficar agarrados aos mínimos olímpicos. Não podemos eternizar o país na subsidiodependência. Não nos resignamos a essa fatalidade. Portugal precisa de aproveitar as oportunidades. Não podemos ser sempre aqueles que estão sempre à espera de ser elegíveis para mais um apoio. Temos de erradicar com essa cultura do poucochinho.”

Para isso, disse Montenegro, é preciso garantir que o país cresça económica e tal só será possível com o aumento da produtividade e o reforço do tecido empresarial português. O líder do PSD recuperou a proposta de redução do IRC para 15% até ao final da legislatura e a isenção fiscal e contributiva dos prémios de produtividade até 6% da remuneração anual.

“O meu adversário é contra a baixa de impostos. Os portugueses devem saber: entendemos a descida de impostos como fundamental e o PS acha o contrário. O PS quer subtrair às pessoas, às famílias e às empresas os máximos de impostos para depois as amarrem aos subsídios e às ajudas. Empobrecer para enfraquecer. Enfraquecer para amarrar. Amarrar para perpetuar. É este o esquema socialista.”

Além de ter reiterado a garantia de que só governará se ficar em primeiro lugar nas eleições (“não quero trair a confiança dos portugueses; quero governar porque quero que as pessoas estejam com o governo”), Montenegro voltou a insistir que só a AD pode traduzir-se em estabilidade e segurança para o país. “De mim, não esperem aventuras, nem radicalismos. Os últimos 25 anos já mostraram várias vezes que os exageros de hoje se pagam amanhã. Os portugueses não se vão deixar enganar por jogadas de eleitoralismo infantil. Podem confiar em nós”, despediu-se o social-democrata.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Leonor Beleza confronta Passos. Santana tenta a reconciliação

A grande festa da Aliança Democrática acabou por ficar manchada pela ausência de Pedro Passos Coelho, que não foi convidado para se juntar à convenção do Estoril. Logo à chegada ao Centro de Congressos do Estoril, o líder do PSD foi mais uma vez confrontado com a inexistência de um convite ao antigo primeiro-ministro e voltou a chutar a questão para canto. Seria uma antiga ministra do cavaquismo — legado de que Montenegro tenta agora ser um fiel intérprete — a pôr o dedo na ferida.

“Estou aqui porque resolvi vir aqui. Ninguém me convidou. Não é um tempo de cerimónias. É um tempo em que precisamos de estar todos mobilizados”, atirou Leonor Beleza, atual presidente da Fundação Champalimaud e antiga ministra da Saúde de Aníbal Cavaco Silva, num recado mais do que evidente para Pedro Passos Coelho, que, sabe o Observador, causou bastante desconforto junto dos mais próximos do antigo primeiro-ministro.

A ausência de Passos tornou-se ainda mais relevante depois de a revista Visão ter avançado com a informação de que o ex-líder do PSD participou, na sexta-feira, no almoço de aniversário da ex-deputada do PSD Maria Ester Vargas onde estavam, entre outros, Rui Rio, Paulo Mota Pinto (adversários político do passismo), Paulo Rangel, atual primeiro vice-presidente do PSD, e o juiz Carlos Alexandre. Assim que a notícia foi revelada, houve quem, no PSD, não escondesse a desilusão com o gesto de Passos — o Observador sabe, no entanto, que o antigo primeiro-ministro não pretendeu dar qualquer sinal político, nem tão pouco conhecia a lista de convidados.

Pedro Santana Lopes, o convidado surpresa desta convenção, tentou reconciliar Luís Montenegro e Pedro Passos Coelho, há muito afastados por divergências políticas que se transformaram num ressentimento pessoal. Lembrando que os dois travaram em conjunto um trabalho muito difícil, Santana recordou que Montenegro demonstrou uma enorme “coragem” e “nunca olhou para trás” enquanto esteve ao lado de Passos Coelho, tendo sempre dado a “cara” enquanto o governo PSD/CDS “salvava Portugal”.

Tentando sempre provar que é mais aquilo que une os dois — Montenegro e Passos –, Santana recordou que eram grande as desconfianças que recaíam sobre o antigo primeiro-ministro — a começar pelo próprio Santana. “Quando foi eleito líder, não acreditava nele. Juro. Ele também não gostava muito de mim. E dizia a toda a gente ‘mas ele nunca esteve num governo’. E como tive engolir o que disse”, atirou Santana, sempre muito aplaudido pelos presentes.

Em resposta direta a Leonor Beleza, que falou imediatamente antes de Santana, o atual presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz assumiu que tinha recebido um convite de Luís Montenegro para ir até ao Estoril e disse confiar que Montenegro será capaz de gerir os convites aos “muitos” antigos presidentes do partido.

Ainda assim, e citando Pedro Passos Coelho, que ainda no final de dezembro disse que este tempo não lhe pertencia, Santana Lopes deixou um aviso: este é o “tempo” de quem lidera e os militantes do partido têm o dever de se colocarem ao lado do “exército” de quem lidera. Por outras palavras: Montenegro terá o dever de procurar Passos; mas Passos tem de perceber que, de facto, este não é o tempo dele.

"Esta é a altura de nos reconciliarmos com os pensionistas e com os reformados de Portugal. Temos de acabar com o crime social de não conseguirmos fixar cá os nossos jovens. E não podemos eternizar o país na subsidiodependência. Não nos resignamos a essa fatalidade"

Nuno Melo faz marcação a Ventura, Portas traça o guião

No segundo ato de contrição de Nuno Melo depois de ter causado um enorme embaraço a Luís Montenegro, o líder do CDS aproveitou o discurso para tentar enterrar de vez o assunto. “Para que fique claro, o único governo que a AD vai viabilizar depois de 10 de março vai ser o governo da AD quando vencermos as eleições, contados todos os votos. Vai ser o único governo que vamos viabilizar”, reiterou o democrata-cristão.

Recorde-se que as declarações de Nuno Melo, que em entrevista à CNN admitiu viabilizar um governo socialista, causaram um enorme mal-estar na coligação, com elementos do núcleo duro de Luís Montenegro a condenarem a “infantilidade” de Melo e a exigirem correção. O eurodeputado emitiu um primeiro comunicado a corrigir o tiro e, este domingo, procurou enterrar o assunto.

De resto, o democrata-cristão cumpriu aquela que parece ser a estratégia da AD — Montenegro fará o discurso ao centro, Melo servirá para alimentar o combate e, com isso, blindar o flanco direito. No discurso, tentou pressionar André Ventura, acusando-o de ser “a muleta útil das esquerdas, disponível para apresentar moções de rejeição a este governo da AD, para dar a mão ao PS, BE, PCP, PAN e Livre”.

Mais à frente, Melo classificou mesmo de “delírio” aquilo que vai acontecendo no partido à sua direita, referindo-se às propostas já apresentadas por André Ventura em matéria que existe em torno das propostas, comparando mesmo Bloco de Esquerda e Chega em matérias como  a contribuição extraordinária sobre a banca, o aumento das taxas sobre combustíveis ou o aumento das pensões em linha com o salário mínimo nacional. “De comum, Mariana Mortágua e André Ventura têm a capacidade para levar Portugal à bancarrota tal e qual José Sócrates, só que mais rápido”, disse.

Pertenceria a Paulo Portas, ainda assim, a missão de fazer um dos grandes discursos do dia, deixando um verdadeiro guião para a campanha eleitoral da Aliança Democrática. Numa rara intervenção de fundo sobre política nacional, o antigo vice-primeiro-ministro escreveu as grandes linhas orientadoras para o combate que PSD e CDS vão travar até 10 de março: responsabilizar os socialistas pelo estado atual do país, desmontar a tese de que Pedro Nuno Santos não teve intervenção neste período, acenar com o papão do radicalismo à esquerda e provar que um voto no Chega é um voto desperdiçado.

Referindo-se a António Costa, que disse só o PS poderia fazer melhor do que o PS, Paulo Portas propôs uma correção: “Só o PS pode fazer pior do que o PS”. “Parecem um grupo de marcianos que não viveram neste país e que não estiveram sentados no conselho de ministros nos últimos oito anos e querem apresentar-se como turistas.”

Ora, segundo Portas, a AD não pode permitir que os socialistas consigam fazer valer a narrativa de que Pedro Nuno Santos, governante durante sete dos últimos oito anos, não tem responsabilidades sobre os problemas que o país atravessa. “Parece-me evidente que se olharmos para este princípio da democracia a única opção racional é um voto de castigo ao PS.”

“O PS quer vender a imagem de Pedro Nuno Santos como o político que decide. Decidir bem é muito mais importante do que decidir mal. Se como ministro revelou tantas vezes impulsividade, o que seria como primeiro-ministro. Um político que revela tanta leviandade e tanta amnésia não é o mais qualificado para chefiar o Governo de Portugal”, defendeu Portas, antes de voltar ao ponto original. “Fica bastante claro o que está em causa: ou a AD ganha, ou que teremos é uma repetição da ‘geringonça’ com um primeiro-ministro inexperiente e com o BE e o PCP sentado no Conselho de Ministros. Seria o governo mais radicalizado desde 1976”, sugeriu o antigo líder do CDS.

Direita cerca Pedro Nuno, Moedas volta a servir de talismã

De resto, os ataques ao antigo ministro das Infraestruturas foram uma constante ao longo do dia. José Pedro Aguiar-Branco, antigo ministro da Defesa, cabeça de lista da AD por Viana do Castelo e possível candidato da coligação a presidente da Assembleia da República, ajudou a definir o tom: “Pior do que PS só o PS, com Pedro Nuno Santos a primeiro-ministro e Mortágua a ministra das Finanças. É nosso responsabilidade restaurar o exemplo e a dignidade no exercício de cargos públicos e o respeito pelos órgãos de soberania”.

Cecília Meireles, antiga líder parlamentar e deputada do CDS, atingiu diretamente Pedro Nuno Santos, agora “reciclado”, dizendo-se chocada por ouvir o antigo ministro a dizer que o Estado tem de ter opções mais cirúrgicas para os setores da economia que pretende apoiar quando fez parte de um governo que tomou para si “a fatia de leão dos fundos europeus”. “Isso sim é economia clientelar”, argumenta. Lembrando as decisões de Pedro Nuno Santos no dossiê da TAP, Cecília Meireles despediu-se: “Em qualquer país do mundo este ministro teria sido demitido. Agora é candidato a primeiro-ministro. O povo julgará.”

Tal como havia feito no congresso de 25 Novembro, em Almada, Carlos Moedas voltou a juntar-se à grande festa de Luís Montenegro para servir de prova de que a direita, unida e mesmo sem Chega ou Iniciativa Liberal, consegue derrotar os socialistas. “A AD é um projeto de futuro. A AD é o futuro. Estamos aqui novamente com essa capacidade para mudarmos mais uma vez o país. Com a audácia de não ter medo do futuro. Foram dez anos de socialismo, de estagnação de resignação. A AD é olhar para o futuro com esperança.”

“Porque a esquerda tem medo da audácia. No PS vemos irresponsabilidade e desresponsabilização. É o aeroporto, os médicos de família, as casas que disseram que faziam e não fizeram. Para a esquerda tudo é ideológico”, continua Moedas. “Para a AD, tudo são as pessoas. Servimos as pessoas acima de tudo. Não somos todos iguais. Não somos iguais ao PS. Temos de mostrar às pessoas que somos diferentes em tudo. É isso que a AD traz”, rematou Moedas.

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