Em vários hospitais de norte a sul, a maioria dos casos graves, que precisam de cuidados intensivos, são de pessoas não vacinadas. E há também unidades hospitalares em que a percentagem de pessoas vacinadas contra a Covid-19 internadas com a doença é maior do que a de pessoas que não estão vacinadas, mas, mesmo nessas unidades, a proporção de uns e outros (tendo em conta que no país há 90% de imunizados) mostra claramente as vantagens da vacina.
A realidade “diverge” e é “heterogénea”, tal como o secretário de Estado adjunto e da saúde, António Lacerda Sales, classificou quando corrigiu a percentagem de não vacinados internados atualmente nos hospitais de portugueses. Mas há uma conclusão que parece certa: a vacina está a mostrar a sua eficácia no dia a dia dos hospitais portugueses.
No Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, por exemplo, só 20% dos doentes internados na unidade de cuidados intensivos estão vacinados contra a Covid-19 — que são seis, o que corresponde a uma taxa de ocupação de 50%. Em enfermaria, onde estão internados 60 doentes, o que corresponde a uma taxa de ocupação de 87%, a percentagem de vacinados é de 58%.
Aliás, na enfermaria do Hospital de Coimbra, sete dos internados que não têm vacina estão na faixa etária mais vulnerável perante uma infeção pelo SARS-CoV-2: a dos 80 anos ou mais. Há quatro no grupo dos 50-59 anos, dois com 20-29 anos, outros tantos com 30-39 anos, mais dois com 40-49 anos e os mesmos com 70-79 anos. A estes soma-se mais um caso não vacinado entre os jovens com 10 a 19 anos e outro com 60-69 anos.
Dos quatro doentes internados nos cuidados intensivos em Coimbra que não estão vacinados contra a Covid-19, um tem 20 a 29 anos, dois têm 50 a 59 anos e um está na casa dos 60 anos.
Guarda. Sete em 10 infetados nos cuidados intensivos não foram vacinados
Na Guarda, metade dos 14 doentes internados em enfermaria esta quarta-feira por causa da Covid-19 recusou ser vacinado contra a doença, apurou o Observador junto de fonte oficial do Hospital Nossa Senhora da Assunção. Entre os restantes sete hospitalizados, quatro têm a vacinação completa e três aguardam o reforço.
Nos serviços de medicina intensiva neste mesmo hospital, os números são ainda mais expressivos: dos sete hospitalizados, só um tem a vacinação completa e outro aguarda a chamada para receber a dose de reforço. Os restantes cinco (71%) recusaram a vacina.
Apesar de a média de idades entre os internados, tanto em enfermaria como em medicina intensiva, nunca ficar abaixo dos 61 anos, independentemente do estado vacinal, os quadros clínicos graves registam-se em todas as faixas etárias.
Neste momento, o utente mais jovem nos cuidados intensivos do Hospital Nossa Senhora da Assunção tem 32 anos e o mais velho tem 78 anos. No serviço de enfermaria dedicado aos casos de Covid-19 neste mesmo hospital, o doente mais jovem tem 58 anos e o mais velho tem 94 anos.
O hospital registou 12 óbitos atribuídos à Covid-19 entre o dia 1 de dezembro e esta quarta-feira, mas só há registo de uma vítima mortal, internada em enfermaria, que tinha recusado a vacina. Dos 11 que estavam nesta unidade, sete ainda aguardava o reforço vacinal, dois tinham o esquema completo e há um de quem o hospital não tem informações.
A única pessoa que morreu enquanto era acompanhada nos cuidados intensivos tinha recebido o esquema vacinal original, mas ainda lhe faltava a dose de reforço. No que respeita aos óbitos, o utente mais jovem tinha 65 anos e o mais velho tinha 92 anos.
70% a 80% dos doentes Covid-19 graves no Santa Maria não estão vacinados
Já na última terça-feira o Observador noticiou que, no Hospital de Santa Maria 70% a 80% dos doentes Covid-19 graves não estão vacinados.
A 4 de janeiro, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (em que se inclui o Santa Maria) tinha oito doentes Covid-19 internados nas unidades de cuidados intensivos — dentro da média de 8-10 que tem mantido nos últimos meses —, de um total de 46 na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), de acordo com os dados disponibilizados pela Administração Regional de Saúde da região (ARS-LVT).
Entre os doentes graves também se encontram alguns vacinados, nomeadamente pessoas cuja doença de base compromete o sistema imunitário (imunodeprimidos). Fonte do hospital destaca ainda que mais de metade dos doentes em UCI têm menos de 60 anos.
Além dos oito doentes em UCI, o CHULN tem ainda 59 doentes infetados com coronavírus em enfermaria, dos quais 61% têm mais de 60 ou mais anos — quase metade deles (29% dos internados) com 80 anos ou mais. Os doentes com 50-59 anos representam 17% dos internados em enfermaria. Fonte oficial do centro hospitalar destaca que, muitos dos doentes positivos para o SARS-CoV-2 não estão hospitalizados por causa da Covid-19, mas devido a doenças prévias.
Nenhum dos internados em cuidados intensivos em Leiria tem vacina
Em Leiria, oito dos doentes em enfermaria, assim como os que estão nos cuidados intermédios e Medicina Intensiva não têm a vacinação completa — num total de 36% dos doentes Covid-19 internados.
O centro hospitalar tinha, esta terça-feira ao final da tarde, 31 doentes Covid-19 internados em enfermaria, quatro nos cuidados intermédios e um no serviço de Medicina Intensiva, segundo fonte oficial do hospital. Há ainda duas mulheres infetadas que tiveram partos partos recentemente e que se encontram na área de recobro Covid-19 no Bloco de Partos.
Quando uma maioria de vacinados em enfermarias confirma eficácia das vacinas
Se as vacinas não fossem eficazes, a percentagem de vacinados admitidos nos serviços de internamentos estaria em linha com a cobertura vacinal atual: 90% estaria completamente vacinada e 10% não teria sido inoculada contra a Covid-19.
Mas isso não acontece em nenhum dos hospitais a cujos dados o Observador teve acesso — mesmo naqueles em que há mais vacinados em internamento. No Centro Hospitalar de São João, no Porto, fonte oficial confirmou que, dos 43 doentes hospitalizados (13 dos quais na unidade de cuidados intensivos) sete — ou seja, 16,3% — não receberam nenhuma dose da vacina contra a Covid-19.
Ao longo do mês de dezembro, o Centro Hospitalar de São João recebeu um total de 80 doentes, 25 dos quais necessitaram de acompanhamento nos cuidados intensivos. De todos eles, um terço não estavam vacinados contra a Covid-19: eram 26, isto é, 32,5% de todos os internados no mês passado.
Também há mais vacinados entre os internados no Hospital de Santo António: os não imunizados são três de um total de nove pessoas hospitalizadas nos cuidados intensivos (33,3%). Mas fonte oficial do hospital também clarifica que, se a vacina não fosse eficaz, os valores eram diferentes: entre as mesmas nove pessoas, só uma não estaria vacinada e as restantes oito sim.
Mais: metade das seis pessoas vacinadas que estão nos cuidados intensivos por causa da Covid-19 têm aquilo a que os médicos chamam “comorbilidades major”, condições clínicas que os tornam especialmente vulneráveis a uma infeção por SARS-CoV-2. Neste caso, são imunodeprimidos por causa da medicação a que foram sujeitas para passarem por um transplante renal.
No Centro Hospital de Entre o Douro e Vouga, e à semelhança do que acontece no São João e no Santo António, há mais vacinados do que não vacinados entre os internados com Covid-19, sem que isso ponha em causa a eficácia das vacinas.
As pessoas que recusaram a vacina representam cerca de 34% de todos os internamentos por Covid-19: entre os 35 utentes em acompanhamento ao longo desta quarta-feira, 12 não tinha tomado a vacina contra esta doença. E dois destes — ou seja, 16,7% dos internados não vacinados — estavam nos cuidados intensivos.
Mas, entre as 23 pessoas que foram completamente vacinadas contra a Covid-19 e que mesmo assim foram internadas por causa da doença neste hospital (65,7% do total dos hospitalizados), só uma está na unidade de cuidados intensivos — representa 4,3% dos vacinados internados e 2,9% da totalidade de casos de Covid-19 hospitalizados.