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Alguns dos símbolos da Maçonaria explicados em "O Fim dos Segredos" de Catarina Galvão.
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Alguns dos símbolos da Maçonaria explicados em "O Fim dos Segredos" de Catarina Galvão.

Getty Images

Alguns dos símbolos da Maçonaria explicados em "O Fim dos Segredos" de Catarina Galvão.

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O dia-a-dia nas sociedades secretas: como se vive na Maçonaria e na Opus Dei

Opus Dei e Maçonaria estão envoltas em mistério. Um novo livro revela agora "o que nunca lhe contaram" sobre essas sociedades secretas. Onde dormem, o que comem, como se regem.

Maçonaria e Opus Dei. Sociedades secretas, com tudo o que essa designação implica: rituais, regras, penitências. E claro, muito, mas muito secretismo. E se de repente um livro revelasse muitos desses segredos? É exatamente essa a escolha de título –“O Fim dos Segredos” — do trabalho de Catarina Guerreiro, lançado esta sexta-feira. E para aguçar o apetite, que tal conhecer os mistérios do dia a dia de maçons e membros da ‘Obra’ de Deus na pré-publicação do quarto capítulo deste livro da Esfera dos Livros.

Na Opus Dei alguns membros vivem praticamente isolados do mundo. Residem e trabalham nos centros da Obra e dedicam‑se a tempo inteiro à organização. Entregam o ordenado à Prelatura e cumprem um largo número de normas de vida. Outros estão mais integrados na sociedade porque apesar de dormirem em casas da Prelatura têm um emprego no exterior. Todos começam o dia com uma ida à missa e nas horas seguintes têm de arranjar tempo para rezar, submeter‑se a mortificações e fazer exames de consciência. Ao longo da semana são obrigados a participar em reuniões especiais de grupo, e a manter uma conversa privada onde falam dos seus sentimentos com um dos responsáveis do movimento católico. Cada centro é comandado por um grupo de três pessoas que tem de garantir que as normas são cumpridas.

Na Maçonaria também há uma espécie de executivo interno que nas lojas maçónicas controla o cumprimento das leis. Os maçons, além de pagarem uma quota mensal, dão igualmente dinheiro para a organização. Mas apenas se quiserem. Em todas as reuniões passa de mão em mão um saco de pano preto onde podem colocar notas e moedas. Durante as sessões secretas, onde estão vestidos com fatos escuros, aventais e luvas, e se movimentam com passos pré‑definidos, discutem ideias, fazem promessas de entreajuda e juramentos de fidelidade.

Tal como na Opus Dei, também entre os maçons o segredo é crucial. E tanto uns como outros prometem não revelar o que se passa nas suas irmandades.

Opus Dei

BARCELONA, SPAIN - NOVEMBER 25: (ITALY OUT) The Blessed Josemaria Escriva de Balaguer (1902-1975) preaches to the faithful at Brafa Sport's Center November 25, 1972 in Barcelon, Spain. Balaguer founded a Catholic group known as "Opus Dei" (meaning Work of God) October 2, 1928 in Madrid, Spain. Opus Dei has a membership of approximately 83,000 worldwide, mostly laymen. The mortal remains of the Josemaria Escriva de Balaguer will be transferred from the prelatic Church of Our Lady of Peace in Rome, Italy to the Roman Basilica of St. Eugene for veneration by the faithful before the canonization ceremony October 6, 2002 in St. Peter's Square by Pope John Paul II. (Photo by Opus Dei Rome/Getty Images)

Josemaria Escrivá de Balaguer y Albás (1902 – 1975) foi o fundador da Opus Dei, um grupo católico cujo nome significa “Obra de Deus”, em 1928. São cerca de 83 mil os membros da Opus Dei no mundo. Balaguer foi canonizado e o corpo está sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Roma. OPUS DEI ROME/ GETTY IMAGES

A vida nas residências e centros

Quer nas casas dos homens, quer nas das mulheres da Opus Dei dorme‑se sempre em quartos individuais ou triplos. Nunca há quartos duplos. «Para não haver amizades particulares, conversas privadas nem tentações», explica um ex‑membro. A decoração dos dormitórios é simples e básica. Apenas é obrigatório que exista um crucifixo e uma imagem da Virgem Maria.

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Só os numerários, numerárias e numerárias auxiliares, que são perto de 500 dos 1550 membros registados em Portugal, vivem nestas residências da organização espalhadas pelo país. Os restantes moram nas suas próprias casas, mas frequentam os centros da Obra para receber formação espiritual, assistir a tertúlias ou participar em reuniões.

Os que residem nos estabelecimentos da Prelatura são todos celibatários e estão divididos por pequenos grupos, separados por sexo e categoria de membro.

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Alguns deles, especialmente os que trabalham dentro da instituição, vivem muito isolados e saem pouco. Os outros, por terem as suas profissões, passam o dia fora e só regressam antes do jantar.

Nas casas da Obra o dia a dia é sujeito a regras e horários rigorosos. Por volta das 6h30, todos têm de se levantar. Arranjam‑se, assistem à missa matinal e fazem uma meditação. Depois seguem várias rotinas como se fossem uma família, almoçando e jantando sempre juntos a horas definidas.

O momento da refeição obedece a um ritual e é preparado com máximo rigor, seguindo um protocolo detalhadamente descrito em documentos internos. Estes pré‑definem a comida a servir, as bebidas permitidas e o tipo de serviço de mesa a realizar. Só é autorizado vinho ao almoço e nas ocasiões especiais pode‑se beber cerveja ou Martini. Ao jantar, em regra, nunca se consome álcool.

Ao longo do dia os membros vão cumprindo várias normas de vida, como rezar certas orações, e à noite depois de jantarem fazem sempre uma tertúlia onde falam das coisas do quotidiano. Quando termina deslocam‑se aos oratórios que existem nas residências para rezar e fazem o último exame de consciência.

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Perto das 22h30 começa o período de silêncio que só termina na manhã seguinte. Para alguém ficar acordado a ler, estudar ou a falar ao telefone tem de pedir autorização aos diretores.

Cada morador tem um número de identificação. É‑lhe atribuído no dia em que começa ali a viver, sendo bordado nas suas peças de vestuário. É a forma de nada se perder ou ser trocado quando metem alguma coisa no saco de roupa suja que é recolhido, em dias definidos, pelas mulheres da Obra que tratam da lida das casas.

Todo o salário mensal que recebem tem de ser entregue à instituição. Os que exercem profissões no exterior fazem transferência bancária, dão o cheque ou cedem o cartão multibanco ao secretário da residência onde vivem.

Já em relação aos que trabalham na organização o processo é um pouco diferente. A estes a Obra paga um ordenado mensal que vai, no entanto, diretamente para os cofres da Prelatura.

Depois de darem o vencimento à Obra podem solicitar algum dinheiro para comprarem bens essenciais, como champô e pasta de dentes, ou para pagar os transportes. Para isso têm de o pedir na secretaria que existe nos vários centros e que está aberta em determinados dias da semana em horários fixos. Já para as despesas extraordinárias, como roupa e sapatos, é necessário autorização dos diretores e só depois o encarregado da secretaria liberta a verba pedida. E não há margem para erros, pois as despesas devem ser justificadas ao detalhe: até ao dia 5 de cada mês têm de entregar o que se chama «conta de gastos» onde explicam o que fizeram ao dinheiro.

“Colocamos tudo nesse papel, desde os pensos higiénicos aos cartões para telefonar”, esclarece uma antiga agregada.

Em cada residência há uma caixa específica para guardar os cheques, notas e moedas, que só se abre com duas chaves diferentes entregues à guarda de pessoas distintas, geralmente da direção.

Quando são informados de que é obrigatório ceder o salário é‑lhes transmitida também uma explicação: cada um tem de contribuir para as despesas dos centros e ao mesmo tempo dar sinais de desprendimento dos bens materiais.

Segundo o movimento religioso, quem vai viver para uma das residências passa a fazer parte de uma família sobrenatural. «É uma nova família com laços ainda mais fortes do que a biológica», refere uma antiga numerária. Outro ex‑membro conta:

Os nossos pertences, desde jóias a lençóis, têm de ser postos à disposição da Obra. Se a diretora autorizar ficam para nós, se não passam a ser de todos.

Se alguém recebe um presente, mandam as regras da Opus Dei que agradeça e mal chegue a casa o entregue aos diretores. São estes que decidem o destino da oferta. Muitas vezes é dado a um outro membro que dele necessita, outras vezes é colocado num armazém para depois ser usado como presente de Natal.

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Nesta época do ano a organização cumpre a tradição de distribuir presentes pelos membros que, por volta do mês de outubro, costumam escrever uma carta ao Menino Jesus a explicar o que gostavam ou precisavam de receber.

Quem vive nestas residências tem de obedecer também a regras quanto às saídas. Em certas ocasiões não podem sair sozinhos. Ir às compras implica levar companhia de alguém da organização.

«Quando vamos comprar roupas ou sapatos, por exemplo, temos de ir sempre acompanhadas de uma pessoa, em princípio com estatuto superior», conta uma antiga celibatária dizendo que a regra é igual para todos os membros, incluindo os mais importantes. O mesmo se passa com as idas ao médico. Nunca se pode ir só, e além disso, muitas vezes os homens e mulheres da Opus Dei são vistos por clínicos que pertencem ou são amigos da instituição.

O mini‑governo

São três e têm de controlar a vida dos colegas para garantir que cumprem as normas religiosas e espirituais, respeitam os costumes e praticam os rituais. Fazem parte do que na Opus Dei se chama «conselhos locais», os mini‑governos que existem nos centros da instituição pelo país. Cabe‑lhes a tarefa de acompanhar de perto cada um dos membros, que são divididos por grupos consoante as categorias. Os que não vivem nas residências ficam adstritos a uma, que passam a frequentar para receber formação.

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Cada núcleo tem o seu órgão de comando, constituído por um trio: um diretor, um subdiretor e um secretário, com mandatos de três anos.

Aconselham as leis internas que as reuniões semanais destas chefias sejam rápidas e as decisões tomadas por maioria, depois de uma votação. 

Por regra é um procedimento informal. «Fala‑se e decide‑se sem recurso a grandes votos», diz um antigo elemento que integrou um conselho local, explicando que toda a informação é depois comunicada com detalhe aos responsáveis máximos da organização em Portugal. Estes, por seu lado, enviam para os conselhos locais as ordens a pôr em prática com base nas orientações que vão recebendo do governo que está em Roma.

Estes pequenos executivos têm ainda de assumir a gestão financeira dos diversos centros, nomeadamente do dinheiro que cada um cede à Obra, e promover a conservação dos edifícios. Cabe‑lhes também assegurar que as residências funcionam como nas famílias e que todos estão a cumprir as seis principais rotinas do dia a dia: rezar, fazer mortificações, confessar‑se com um padre, conversar em privado com os chefes, participar em reuniões confidenciais com os outros membros e fazer constantes repreensões aos colegas.

Orações e mortificações

As obrigações religiosas e de formação espiritual são tantas que a Opus Dei distribui mensalmente a todos os membros uma pequena folha com um quadro onde estão assinalados os dias do mês e ao lado todas as tarefas a cumprir, como as orações a fazer, as conversas a ter e as práticas religiosas a seguir.

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Folha distribuída aos membros para assinalarem as orações e outras atividades religiosas que têm de cumprir todos os meses. (Documento cedido por antigo membro da Opus Dei.)

A cábula é usada essencialmente por aqueles que entraram há menos tempo, pois os outros depressa decoram as dezenas de normas de vida a respeitar. Afinal, repetem‑nas dia após dia, semana após semana, anos a fio.

Mal toca o despertador de manhã cumprem o que chamam "o minuto heróico", que significa não ficar nem um segundo na cama. Beijam o chão e dizem «Serviam» (Servirei, em latim). 

Rezam 30 minutos de manhã e 30 minutos à tarde, assistem à missa, comungam, e no fim da Eucaristia reservam sempre 10 minutos para fazer orações de agradecimento (Ação de Graças). Se for terça‑feira rezam o Salmo II, se for quinta‑feira o Adoro te devote.

Diariamente são obrigados a recitar o Cântico dos Três Jovens e a ir ao oratório fazer o que no interior da Opus se diz ser uma «visita ao Santíssimo», orando três Ave‑Marias, três Pai‑Nossos e uma Comunhão Espiritual. Todos os dias têm ainda de arranjar tempo para completar três terços e às 12 horas em ponto recitam o Angelus. É preciso ainda folhear durante 10 minutos um livro escolhido pelo diretor espiritual e ler o Novo Testamento durante cinco minutos.

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Sempre que entram ou saem dos quartos, ou de qualquer outra divisão, devem olhar para a imagem da Virgem e dizer pequenas frases como «Amo‑te». Do mesmo modo à saída ou entrada das residências têm de saudar o Anjo da Guarda.

Do rol de orações diárias fazem ainda parte as Preces, a oração em latim exclusiva da Opus Dei, sendo que antes de a fazerem beijam o chão. Ao longo do dia têm também de passar algumas horas em silêncio.

À noite, ao irem para a cama, ajoelham‑se e com os braços em cruz rezam três Ave‑Marias. Antes de dormir deitam uma gota de água benta na cama. Todos têm um frasco, em regra de plástico, que enchem com água benta nos oratórios das residências e que levam sempre na mala quando vão de viagem ou para um retiro espiritual.

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Frente e verso de folha com todas as orações que os membros da Opus Dei são obrigados a fazer diariamente e que devido ao seu tamanho pode ser dobrada e colocada no bolso. (Documento cedido por antigo membro da Opus Dei.)

Pelo meio de todas estas orações mortificam‑se diariamente. É costume fazerem uma mortificação por intenção do Prelado, que em regra é tomar banho de água fria. Além disso, os homens e mulheres numerários e agregados usam, durante duas horas diárias, um cilício na perna. Trata‑se de uma corrente em metal com picos, que se coloca na coxa. «O objetivo é sentir a dor», resume um antigo numerário.

Já uma agregada que abandonou recentemente a Obra e que assemelha o cilício «a uma coleira de cão com espinhos para apertar na virilha ou na coxa», confessa que não só dói «como faz ferida e deixa marca». Mas, acrescenta, é mesmo para a «colocar com generosidade, isto é, apertar bem».

Os que trabalham nas residências da instituição podem pôr o cilício às horas que entenderem. Já aqueles que têm empregos no exterior têm de o colocar logo de manhã, antes de irem trabalhar, ou então quando chegam a casa ao final do dia. Isto porque é proibido levar este objeto de mortificação para fora dos centros.

Uma vez por semana usam também as disciplinas, uns chicotes de corda, com os quais batem nas nádegas nuas enquanto rezam uma oração à escolha. «Faz‑se isso para viver bem a pureza», explica a antiga agregada. “Dói imenso. Eu, por exemplo, rezava muito rápido para aquilo acabar», confessa o ex‑numerário Paulo Emiliano.

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(Em cima) Corrente de metal com picos (cilício) que se coloca na coxa e que os membros celibatários são obrigados a usar durante duas horas por dia. (Em baixo) Chicote de corda (disciplinas) com o qual os membros celibatários batem nas nádegas nuas enquanto rezam uma oração. (Objetos cedidos à autora por Carla Almeida, antiga agregada da Opus Dei. Fotografias de Jorge Nogueira.)

Desde há muitos anos que os membros da organização vão comprar estes objetos de mortificação aos mosteiros das irmãs carmelitas, conhecidos como Carmelos. «Ia muitas vezes ao de Coimbra buscar cilícios», conta um antigo membro.

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Ao domingo e nos dias de festa religiosos estão livres de fazer mortificações corporais. Já ao sábado, além de usarem o cilício, também não lancham.

Para a Opus Dei só quem faz estes sacrifícios consegue atingir a santidade, sublinhando‑se em documentos internos que todos os mártires da instituição, muitos já canonizados, se submetiam a mortificações.

Recentemente, dois livros vieram revelar que João Paulo II era adepto destas práticas e autoflagelava‑se com um cinto. Monsenhor Slawomir Oder, o principal promotor da canonização do antigo Papa, descreve na obra “Porque Ele é um Santo” que no roupeiro de João Paulo II, pendurado entre as vestes, estava sempre um cinto especial que usava para se autoflagelar. Para o ex‑Sumo-Pontífice essas práticas aproximavam‑no do sofrimento de Cristo. Num outro livro intitulado “Santo Já”, de Andrea Tornille biógrafo do Papa, é citada uma freira polaca que trabalhou com João Paulo II. Ela afirma que quando estavam na residência de verão, em Castel Gandolfo, ouviam‑se os sons dos golpes do religioso a autoflagelar‑se.

Estas práticas têm gerado algumas críticas mas a Opus Dei desvaloriza‑as. E em documentos internos compara as mortificações dos seus membros aos sacrifícios físicos a que muitas pessoas se sujeitam para se sentirem melhor, como fazer dietas ou cirurgias estéticas.

O próprio líder da Opus Dei em Portugal, Rafael Espírito Santo, já falou publicamente sobre o assunto.

«Há prática de mortificação. É viver a prática de penitência que é essencial do cristianismo. É uma mortificação voluntária e não uma auto‑penitência por culpa», disse numa entrevista que deu à TSF em 2006, explicando que é um acto que «ajuda ao domínio de si», sendo «essencial para ter personalidade equilibrada».

Na ocasião Rafael Espírito Santo aproveitou para recordar que a própria «Nossa Senhora quando apareceu aos pastorinhos» falou da importância de se fazer «orações», mas também de se «oferecer sacrifícios».

Ao contrário dos membros celibatários, os supranumerários não são obrigados a fazer estas mortificações corporais e as suas regras espirituais são mais ligeiras e flexíveis. Mas também a muitos numerários e agregados é autorizado que, por terem certas profissões, não cumpram à risca os horários e práticas religiosas. Um cirurgião, por exemplo, pode estar a operar na hora de rezar o Angelus. Ou um Secretário de Estado pode estar fechado numa reunião. Mas nestes casos são permitidas alterações. Certo é que a maioria dos membros vai todos os dias à missa e arranja forma de, consoante o seu horário, rezar e fazer exames de consciência e pequenos sacrifícios diários, como não pôr açúcar no café, não beber água quando se tem sede, não falar…

Reuniões confidenciais, repreensões e confissões

Todas as semanas há reuniões à porta fechada dos vários grupos de membros. Realizam‑se numa das salas de um edifício da organização, sempre no mesmo dia da semana e à mesma hora. São dirigidas pelos diretores dos centros que ao seu lado, em regra em cima da uma mesa, têm sempre um crucifixo pequeno, o Evangelho e os papéis com o conteúdo da sessão.

Durante no mínimo 40 minutos há um ritual que tem de ser cumprido. Mal entram na sala ajoelham‑se para rezar. Logo de seguida, quem dirige a reunião lê e comenta durante 10 minutos a parte do Evangelho lida na missa desse dia.

Faz-se depois uma leitura sobre o plano de vida dos membros, gastando mais 15 minutos a explicar a importância de uma norma ou de um costume, como as mortificações, a castidade ou a necessidade de beijar a cruz de madeira quando se entra ou sai de uma das capelas dos centros. Depois realizam um exame de consciência de cinco minutos. Durante este tempo ninguém, para além da pessoa que dirige o encontro, está autorizado a falar. Os participantes ouvem e não podem dizer nada. Só se expressam excecionalmente quando algum quer pedir desculpa por algum erro. Isto porque, durante estas sessões, há um ritual de penitência que qualquer membro pode pedir para fazer. Coloca‑se então de joelhos e pede desculpas por um erro que cometeu. Uma prática a que internamente dão o nome de «emendatio», sendo uma forma de mostrar o arrependimento de algo.

Pode ser simplesmente por ter sido preguiçosa», conta uma antiga agregada, que diz ter‑se sentido humilhada muitas vezes. Pede‑se perdão e penitência e quem dirige o encontro manda, em regra, rezar uma oração.

Antes de a reunião terminar o responsável ainda faz uma pequena palestra sobre algum tema da espiritualidade da Obra. Quando acaba faz‑se uma pequena tertúlia, durante a qual nunca se aborda os assuntos tratados na última hora. Antes de abandonarem a sala, beijam o chão e rezam as Preces. Desde o primeiro dia são informados de que nada do que ali se passa pode ser falado fora das paredes da sala da reunião.

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Na Opus Dei estes encontros são intitulados de «círculos breves» e em cada um deles só podem participar elementos da mesma categoria. Ou seja, há uns para numerários, outros para numerárias, outros ainda para numerárias auxiliares e outros para agregados.

E ninguém vai a uma sessão que não seja com fiéis do seu estatuto. Os supranumerários também frequentam estas reuniões especiais mas chamam‑se «círculos de estudos» e podem ser feitos na casa de um deles.

As reuniões são geralmente comandadas por um dos elementos da direção do centro, embora haja a possibilidade de a tarefa ser executada por membros que não têm cargos de chefia. Mas para o poderem fazer têm antes de se submeter a uma intensa formação e serem aprovados como «zeladores».

Não é apenas durante estes círculos que os membros são chamados à atenção. Há mesmo uma prática comum que consiste em estar constantemente a fazer advertências aos outros. «Não acendeste as velas pela ordem correta» – é o reparo feito com maior regularidade pelos membros, quando vêem que um colega não está a acender as seis velas do oratório da direita para a esquerda, como mandam as regras. Estas repreensões são chamadas «correções fraternas» e os membros são obrigados a fazê‑las várias vezes. Caso contrário são chamados à atenção pelos chefes.

«A primeira correção que levei foi sobre o facto de usar roupas modernas» diz uma antiga agregada explicando que quando se recebe uma chamada de atenção não se pode responder.

Antes de se fazer uma «correção fraterna» a alguém é necessário consultar primeiro o diretor do centro, para que este possa evitar que uma mesma pessoa receba correções a mais.

O objetivo, segundo as leis internas, é formar bem as pessoas ajudando‑as a melhorar e a alcançar a santidade. Na verdade, um dos aspetos que os membros e ex‑membros elogiam na organização é o facto de promover as virtudes individuais, como a pontualidade, a humildade, a fidelidade e o trabalho. 

Na Opus Dei não há lugar para preguiçosos. Todos têm de ter um trabalho, dentro ou fora das paredes da instituição, e têm de o fazer o mais perfeito possível. É o que qualificam como «santificação do trabalho», um dos princípios mais importantes.

O dia-a-dia dos que pertencem ao movimento de Escrivá conta ainda com retiros de silêncio obrigatórios. Fazem um de 24 horas por mês e outro de seis dias todos os anos, durante o qual rezam e meditam sobre os textos do fundador.

Anualmente têm ainda de participar em cursos de formação doutrinal, com três semanas de duração para os numerários e agregados e uma semana para os supranumerários. Nessa altura têm de decorar o Catecismo da Prelatura, um documento com 346 perguntas e respostas onde constam os principais fundamentos da Obra.

Na Opus Dei os membros estão em permanente formação espiritual e prestam provas constantes da sua dedicação. Todas as semanas confessam‑se a um padre da Prelatura – sendo proibido recorrer a um religioso que não seja da organização – e têm de se sujeitar a uma conversa privada e íntima com um dos responsáveis. Neste diálogo fala‑se sobre tudo, desde as tentações aos medos, passando pelo recrutamento de amigos e conhecidos. Estes encontros são um dos assuntos que mais polémica tem gerado.

Conversas íntimas e polémicas

«É hora de dizeres ao teu amigo José Pinto Coelho para entrar na Obra» – disse o diretor do centro da Opus Dei ao então numerário Paulo Emiliano. A sugestão para recrutar rapidamente o jovem, que mais tarde veio a fundar o Partido Nacional Renovador (PNR), foi dada a Emiliano pelo seu orientador durante a conversa semanal e privada que os dois tinham todos os sábados à tarde. Nestes encontros falavam sempre das pessoas que o numerário estava perto de convencer a pedir a adesão. Como Pinto Coelho era seu colega de curso no Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (IADE), e tinha entretanto começado a frequentar locais da Obra, o responsável do movimento católico considerava que tinha chegado a hora de entrar. Mas Paulo Emiliano não gostava de sugerir a outros que pedissem a admissão e por isso não fez o que o seu chefe mandou.

Pinto Coelho acabou por entrar mas não por convite do amigo. «Entrei em 1983. Foi através do Paulo Emiliano que conheci o Opus Dei, mas depois comecei a frequentar o Centro de Estudos do Campo Grande e aqui aproximei‑me de outras pessoas da Obra», conta José Pinto Coelho que passou a ter fortes ligações com alguns dos membros, especialmente com Vítor Corte Real, um numerário que dirigia aquele centro.

Foi supranumerário durante 13 anos mas, aos poucos, afastou‑se e acabou por deixar a instituição:

Fui feliz, mas fui‑me desligando e um dia percebi que estava numa situação morna, em que não cumpria todas as normas».

Saiu, mas ainda hoje é professor de Educação Visual no Colégio Planalto, onde dá aulas há 30 anos. E a sua mulher, conta, continua a ser supranumerária da Opus Dei. A sua ligação ao colégio da Opus Dei e ao Partido Nacional Renovador, do qual se tornou presidente em 2005, acabou por gerar polémica. Em 2007 depois de o PNR ter colocado um cartaz no Marquês de Pombal, em Lisboa, a apelar à expulsão dos imigrantes, a direção do estabelecimento escolar viu‑se obrigada a escrever aos pais dos 550 alunos a dizer que a instituição de ensino nada tinha a ver com as posições públicas dos seus 38 professores e anunciou que iria afastar o político das aulas dos estudantes mais velhos.

Quando o responsável da Obra sugeriu a Paulo Emiliano que convencesse Pinto Coelho a entrar estaria longe de imaginar que pudessem surgir tais problemas. Além disso, falar de amigos e conhecidos que são bons candidatos a entrar na organização é um dos assuntos obrigatórios dos encontros semanais entre os membros e os chefes. Por isso é habitual que os membros preparem uma lista com nomes de colegas, amigos ou conhecidos com perfil e disponíveis para entrar. «Depois somos orientados no que fazer. Dizem‑nos: “Com esta pessoa tens de fazer assim e assim para ver se adere; com a outra tens de pressionar mais para ver se se integra”», conta Paulo Emiliano, lembrando que chegou a levar para a Obra um amigo e vizinho que andara no mesmo liceu e que agora é Diplomata.

Estes diálogos são classificados internamente como «conversas fraternas» e representam uma das regras mais importantes da rotina do movimento católico. O objetivo é que o diretor possa perceber o que vai na cabeça de cada membro e se este segue o plano de vida da Opus Dei. «Durante a conversa fazemos um relatório da nossa semana, da nossa vida» diz Paulo Emiliano, recordando que durante o tempo que se está na sala tem de se falar de tudo, especialmente do cumprimento das normas e dos costumes da organização, com especial atenção à castidade e às tentações do corpo e da mente. Numa das primeiras conversas o orientador foi logo direto ao assunto, enumerando os perigos que podiam desviá‑lo do caminho de castidade que tinha escolhido. «Contou‑me a seguinte história: um numerário via diariamente uma rapariga no autocarro que apanhava para as aulas, mas um dia ela não apareceu e ele ficou ansioso. Aí descobriu que estava apaixonado.» Paulo percebeu que aquilo era uma mensagem mas não a entendeu bem. Passados poucos segundos o responsável deu‑lhe a explicação.

Disse‑me que o que sucedeu ao pobre rapaz é a prova de que é preciso ter cuidado, até nos transportes públicos, porque o coração é traiçoeiro. E esclareceu que o truque para o evitar é mortificar os sentidos, ou seja, não olhar para mulheres.

Depois de ouvir o relato, o numerário pegou na caneta a escreveu «não olhar» na pequena folha de papel que levava sempre para aquele encontro com o diretor, onde constava uma lista de cerca de dez mortificações que prometia fazer na semana seguinte. É outra das normas do dia-a-dia. Nesta reunião todos definem um conjunto de sacrifícos a fazer. «São pequenos atos a oferecer a Deus, como não cruzar as pernas, não pôr açúcar no café, vencer o apetite, não ser curioso» explica outro ex‑numerário.

Segundo vários membros, nestas conversas as pessoas que as orientam esforçam‑se ao máximo para garantir que nada fica por dizer, nem mesmo os assuntos mais íntimos. «Temos de contar os nossos pensamentos. Até se nos masturbamos», recorda uma ex‑agregada, esclarecendo que a uma dada altura encara‑se este processo de forma natural porque a Obra lhes transmite desde que entram que é preciso praticar «uma sinceridade selvagem». «Ensinam‑nos que não podemos ter segredos e que temos de contar sem filtros o que nos passa pela cabeça. Se não se revelar tudo, dizem‑nos que estamos a manter um segredo com o demónio», refere a mesma agregada.

As saudades dos pais, irmãos e outros familiares são também constantemente abordadas. «Muitas vezes querem saber se sentimos falta da família de sangue e se admitirmos que sim aconselham‑nos a controlar os afetos com mortificações», conta a ex‑membro. Aliás, para não haver desculpas de falta de memória, os membros costumam levar para estas conversas uma agenda onde têm anotado o que aconteceu ao longo da semana. Para facilitar a tarefa, na formação inicial que é dada às pessoas quando entram, é‑lhes transmitida a ideia de que os diretores são a «representação de Deus», devendo confiar‑se neles «sem receios e de forma fraternal».

É ainda nestas trocas de palavras semanais que se tenta perceber se há algum desvio do caminho, seja um contacto com o sexo oposto, sejam meras amizades particulares.

É que na Opus Dei não há melhores amigos nem pessoas mais importantes que outras. «É uma forma de controlar as pessoas e saber os anseios que têm, as amizades que constroem», resume Paulo Emiliano. Mas nada disto é totalmente pacífico. 

E estas conversas têm gerado alguma polémica dentro da própria instituição, pois entre os que as têm de realizar há alguns que não se sentem confortáveis ao fazê‑lo. Até porque o seu conteúdo é depois relatado, grande parte das vezes por escrito, às chefias máximas. A informação é transmitida através de códigos: recorre‑se a letras e a números que remetem para artigos específicos dos documentos internos onde estão definidos os comportamentos a ter. 

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Quando num relatório está, por exemplo, escrito «dificuldade em lidar com algumas virtudes (cfrB10 III, 38)», isto significa que a pessoa em causa encontra‑se vulnerável às tentações, uma vez que aqueles números correspondem ao ponto que fala da necessidade de preservar a castidade.

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1 e 2. O confessionário é constituído por duas pequenas salas contíguas divididas por uma parede onde está colocada uma janela com redes de metal. No meio existe sempre um pano preto para impedir o contacto visual. 3 A cruz de pau é um objeto obrigatório em todas as residências da Opus Dei em Portugal. 4 Mesa onde os sacerdotes da Prelatura realizam meditações para todos os membros. (Fotografias recolhidas por Carla Almeida, antiga agregada, que foi responsável pela Casa da Serra, no Caramulo.)

Uma antiga numerária, que viveu dez anos em centros da Obra, conta que quando assumiu um cargo de chefia e começou a reunir‑se com jovens acabadas de entrar sentia‑se infeliz por ter de dar conselhos que considerava inadequados, mas que eram os que as diretoras esperavam que desse. E recorda que o verdadeiro e inicial nome dado internamente a estas conversas era «confidência». «O nome diz tudo», considera.

Maçonaria

A vida nas lojas maçónicas

Naquele fim de tarde de 24 de janeiro de 2014, os 12 maçons que iam dar início a uma nova loja liderada por Rui Lourenço, administrador da Valorsul, começaram a vestir os aventais e a colocar as faixas encarnadas, a cor que identifica o rito a que pertencem. O ambiente era divertido e descontraído, à porta do templo principal que se situa no Palacete Maçónico da Grande Loja Legal de Portugal, em Telheiras, Lisboa. Animados, conversavam enquanto esperavam que o então grão‑mestre, José Moreno, sempre presente nas cerimónias de constituição de lojas, desse ordem para se iniciar a sessão. Lá dentro tinha sido tudo preparado ao detalhe, com a azáfama natural dos minutos que antecedem o início de uma reunião. Apesar de o ambiente ser calmo notava‑se o frenesim. Um dos «irmãos» escolhia a música para acompanhar o evento e outro punha os livros onde são descritos os rituais em cima das duas mesas de madeira triangulares existentes à entrada. Outro ainda preparava tudo o que seria necessário para a sessão secreta, colocando um plástico no meio do chão em xadrez preto e branco, para que ali pudesse ser derramado vinho, sal, trigo e azeite, como mandava o ritual para a consagração de novas oficinas.

O objetivo do encontro daquela sexta‑feira era exatamente criar a Loja Mestre de Avis. Se a reunião fosse para iniciar um maçon ou fazer outro subir de grau, os rituais e a decoração mudavam.

Certo é que em todas as sessões, à entrada das salas, há sempre duas colunas. E ao fundo três degraus dão acesso a um estrado onde está a cadeira e a mesa do líder, com uma espada flamejante e um candelabro.

Junto aos degraus situa‑se o altar dos juramentos, onde se põe a Bíblia ou a Constituição da República, um esquadro (símbolo da retidão) e um compasso (símbolo da justiça). Nas paredes, colocam‑se imagens do sol e da lua.

Há ainda pequenas mesas triangulares espalhadas, umas à entrada, outras perto do altar, onde se sentam os maçons com tarefas importantes nos rituais. O chão é sempre coberto por um pavimento em xadrez preto e branco, podendo ser improvisado com tapetes com esse desenho. As cadeiras estão dispostas por uma ordem específica, geralmente nas laterais, em duas filas. O teto deve simbolizar o céu e por isso, às vezes, é pintado de preto e enfeitado com pequenas luzes, como se fossem as estrelas.

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Imagem que explica onde se sentam os vários elementos de uma loja numa sessão onde se pratica o Rito Escocês Antigo e Aceite. (in “Ritual do Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceite”, Grande Loja Legal de Portugal, junho de 2007.)

Na maior parte dos encontros há velas acesas e música clássica. Mozart, Sibelius, Bach, Beethoven e Brahms são dos mais usados. A escolha da sinfonia é considerada uma das tarefas mais importantes e o «irmão» que fica encarregue de o fazer tem de selecionar um alinhamento que vai soando consoante o ritual que no dia está a ser praticado. Por outro lado, vai‑se também ouvindo o barulho das marteladas de um malhete (martelo de madeira) que o líder e os seus dois ajudantes vão usando para marcar os vários momentos. 

Nas reuniões fazem juramentos estendendo o braço direito para a frente com uma inclinação de 45 graus e votações erguendo o mesmo braço mas num ângulo de 90 graus.

No Grande Oriente Lusitano (GOL) as sessões secretas decorrem quase todas no Palácio Maçónico, no Bairro Alto. As da GLLP realizam‑se nos templos criados no palacete em Telheiras, num andar em Alvalade, onde durante anos funcionou a sede da obediência, e que hoje os maçons ainda mantêm para algumas reuniões. Os membros da GLLP costumam ainda reunir‑se num apartamento no Chiado, em frente à pastelaria Brasileira. Situado na Rua João Pereira da Rosa, n.º 14, é arrendado a um membro da irmandade, o Visconde de Sacavém, Manuel Sacavém, pela associação Alberto Pike, que é da Maçonaria. No entanto há lojas que funcionam em templos privados, muitos em casas de «irmãos» que têm grandes moradias onde se conseguem erguer locais com os requisitos decorativos exigidos pelas leis maçónicas. 

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Os membros da Loja Astrolábio, por exemplo, reúnem‑se todas as primeiras segundas‑feiras do mês, às 20h30, em casa do antigo grão‑mestre Alberto Trovão do Rosário que na sua quinta em Palmela tem um espaço onde se fazem sessões maçónicas.

Aos poucos, as lojas vão recrutando e aumentando o número de elementos até se desdobrarem noutras. A Loja Mestre de Avis, por exemplo, que fez a sua primeira reunião naquele fim de tarde de sexta‑feira, resultou de um alargamento da poderosa Loja Mercúrio. Esta foi comandada nos últimos anos, entre outros, pelo ex‑presidente do Instituto Nacional de Aviação Civil, Luís Trindade Santos, e tem servido para fazer crescer o número de «irmãos», sendo uma das lojas mais importantes.

Entre os 12 obreiros que ergueram a Mestre de Avis estiveram o ex‑presidente da Câmara Municipal da Amadora, o socialista Joaquim Raposo, e Pedro Cegonho, colega do mesmo partido que nas eleições de 29 de setembro de 2013 ganhou a presidência da Junta de Freguesia de Campo de Ourique.

Também a recente Loja Jacques de Molay, consagrada em 30 de outubro de 2013, que teve como seu primeiro chefe o jovem socialista Rui Sebastião, do PS/Sintra, é uma ramificação de outra loja influente, a Mestre Afonso Domingues. Desta faz parte Carlos Máximo, o poeta que foi vereador da Câmara Municipal de Odivelas, e José Ruah, dono de uma empresa de gestão de unidades de saúde. Na época era liderada por Jarbas Delcaton, um médico dentista.

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Uma espada maçónica com o símbolo desta sociedade secreta. GETTY IMAGES

É assim a base de toda a vida da maçonaria: os templos ramificam‑se e os maçons mais importantes vão liderando vários grupos secretos. Estes surgem muitas vezes porque a «loja mãe» tem pessoas a mais e é preciso dividi‑la. Mas há outros que aparecem como forma de esvaziar lojas. Foi o que aconteceu na terça‑feira, 29 de fevereiro de 2013, quando António Saraiva, presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, assumiu o cargo de líder da nova Loja George Washington, que surgiu com a missão de suceder à polémica e poderosa Loja Mozart– que chegou a ser das mais influentes oficinas maçónicas do país e integrava, entre outros, elementos dos serviços secretos, do grupo Ongoing, da classe política e da qual António Saraiva fazia parte.

Dados das obediências de janeiro de 2015 indicam que tanto o GOL como a GLLP têm cada uma cerca de 100 lojas. A primeira conta com dois mil membros e a segunda, de acordo com os seus responsáveis, já tem inscritos perto de três mil elementos. Um crescimento que se intensificou nos últimos anos.

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Em 2005 a média de crescimento do GOL era de 8,2% ao ano e em 2010 já havia registos de 1900 «irmãos» espalhados por 76 templos: 1400 mestres, 200 companheiros e 300 aprendizes. Na GLLP o aumento é ainda mais recente.

 Hoje há praticamente o dobro dos filiados de 2008, ano em que estavam inscritos 1125 membros. Em 12 meses, entre fevereiro de 2013 e fevereiro de 2014, foram abertas pelo menos dez novas lojas: quatro em Lisboa e as restantes distribuídas por Bragança, Porto, Viseu, Silves, Batalha e Braga.

Para se criar uma loja são precisos sete maçons com grau de mestre. Juntos fazem uma petição ao grão‑mestre que, se aceitar a ideia, nomeia através de decreto um líder interino. Ao fim de 180 dias no máximo é eleito o homem que passará a comandar as reuniões. Todas as oficinas têm uma carta patente, onde está escrito o número e nome, que no GOL tem de ser aprovado pelo Conselho da Ordem, um dos órgãos máximos. É este que afixa nos Passos Perdidos, a área de passagem e encontro no Palácio no Bairro Alto, uma cópia com os nomes dos que compõem o novo templo e um pedido de parecer às restantes lojas. Depois de todas aprovarem, o processo segue para o grão‑mestre que faz um decreto de instalação.

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Nas zonas mais isoladas do país, onde a quantidade de maçons não é suficiente para criar uma loja como as outras, pode‑se pedir autorização para se constituir um grupo mais pequeno, que na maçonaria se chama triângulos. Têm de ter pelo menos três «irmãos» do terceiro grau e há casos em que se exige que um deles tenha já sido líder de uma loja.

Independentemente do tamanho da loja, no interior dos templos o dia-a- dia é igual para todas. Seguem rituais, discutem ideias, promovem debates, fazem promessas e juramentos, iniciam novos membros, aprovam ajudas financeiras, estabelecem projetos no mundo profano e vão fortalecendo o sentimento de inter‑ajuda. A ligação que é suposto terem entre todos é de tal forma forte que no GOL as leis internas deixam claro que, quando for necessário, os membros da irmandade devem «tomar sob sua proteção, por adoção, filhos menores de maçons dos quadros da obediência».

Ao longo dos anos muitas lojas desapareceram ou, em linguagem maçónica, «abateram colunas». A decisão pode ser tomada pelos elementos que a integram, pelo grão‑mestre ou pelos tribunais maçónicos.

A Loja Ervedal da GLLP, por exemplo, que funcionava na quinta do pintor Henrique Vaz Duarte, foi abatida em 2013 por falta de condições.

É que as lojas para funcionarem têm de cumprir regras rígidas, controladas pelo homem que cada grupo elege para as comandar. No dia em que o líder é instalado, faz‑se uma festa. O templo recebe, em regra, a visita do grão‑mestre para consagrar o novo chefe, que tem de fazer um juramento e ler um compromisso perante todos. Além disso, passa por uma prova.

Tiram‑lhe o avental e as luvas e tem de sair da sala por uns instantes para que os outros possam votar de novo, confirmando a sua eleição. Quando entra, é recebido pelo maçon mais recente no grupo, que lhe coloca o avental. Mas agora um avental completamente diferente de todos os outros.

O mini‑governo

Nas reuniões distingue‑se por usar um colar de fita azul celeste, onde está bordado o delta e um esquadro (insígnia maçónica do venerável) e por se apresentar com um avental mais elaborado.

Com o título de venerável, é ele quem comanda o grupo e convoca as sessões secretas, sempre agendadas para um dia fixo. Só em casos excecionais pode chamar os maçons para encontros de urgência, tendo porém de fazê‑lo da forma o mais confidencial possível e dar uma justificação ao chefe máximo da maçonaria. Cabe‑lhe manter a disciplina nos encontros, dirimindo as situações em que os «irmãos» não se entendem, como por exemplo em relação à entrada de novos membros.

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As lojas têm um mini‑governo que toma posse no dia em que o venerável é instalado. Costuma ter pelo menos sete «irmãos», todos mestres. Conhecidos na maçonaria como oficiais, desempenham as principais tarefas nos rituais e gerem as oficinas.

O venerável, o mais importante, é eleito pelos seus pares e representa a loja nos órgãos máximos da obediência. Pessoas de várias profissões têm ocupado este cargo, como empresários, desportistas, médicos, engenheiros, políticos e artistas. Em 2014, na GLLP, a lista secreta de veneráveis incluía o pianista luso‑romeno Constatin Sadu (Loja Porto do Graal), o presidente da Câmara Municipal da Horta, João Fernando Brum de Azevedo Castro (Loja Amor de Pátria), o ex‑dirigente do Sporting Carlos Janelas (Loja Jean Mons), António Saraiva, presidente da CIP (Loja Washington), o engenheiro Artur Rodrigues Consolado, da Ordem dos Engenheiros (Loja Lusitânia), o empresário João Gaspar Damasceno (Loja Conimbriga), entre muitos outros. A diversidade de líderes tem sido comum nas duas obediências. No GOL em 2009, por exemplo, a lista de veneráveis incluía o cardiologista Carlos Correia França (Loja Universalis), Luís Maldonado Gonelha, socialista que esteve à frente da concelhia do PS de Setúbal (Loja Cidadania e Laicidade) e o advogado Belmiro de Sá Leão (Loja Liberdade e Justiça), que representou Júlio Monteiro, tio de José Sócrates, durante o caso Freeport.

Há no entanto diferenças: na GLLP os mandatos dos veneráveis duram um ano, podendo ser reeleitos uma vez, enquanto no GOL são eleitos todos os anos, não havendo limite de tempo para a mesma pessoa exercer o cargo.

Na hierarquia logo a seguir aos veneráveis estão os vigilantes. São os que transmitem as ordens do líder, sendo responsáveis pela formação dos «irmãos» menos experientes dos primeiros dois graus. O 1.º vigilante dá instruções aos que têm o estatuto de companheiros e o 2.º é responsável pelos aprendizes. Um e outro são os colaboradores mais diretos do venerável.

Há depois o orador, que é uma espécie de polícia dos maçons: verifica se as leis e o regulamento interno estão a ser cumpridos nas sessões. Já o secretário lê e redige as atas das sessões sendo responsável por toda a correspondência, enquanto o tesoureiro fiscaliza as contas, recebendo, pagando e controlando todas as despesas e receitas. Cada loja tem, aliás, um livro onde estão as somas recebidas ou pagas e que pode ser consultado por qualquer um dos membros da loja.

Deste executivo maçónico faz ainda parte o mestre de cerimónias a quem cabe garantir a realização do ritual.

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Mas se no GOL todos os oficiais são eleitos, na GLLP só o venerável e tesoureiro são escolhidos também por votos, sendo os restantes nomeados pelo líder.

Outra das diferenças é a restante composição deste pequeno executivo. Para além daqueles sete oficiais obrigatórios, na GLLP cada loja decide se nomeia mais ‘governantes’, podendo alterar as designações dos cargos. Os maçons que praticam os ritos de York e o de Emulação costumam escolher dois elementos para exercer a função de «diáconos», que acompanham os «irmãos» nas cerimónias de iniciação e de elevação de grau, e um outro para desempenhar a tarefa de «capelão» que é o responsável por abrir e fechar o livro da Lei Sagrada. Já no GOL é comum serem eleitos sempre mais cinco oficiais, a somar àqueles sete. O experto, que auxilia o mestre de cerimónias e tem também a missão de desempenhar as tarefas do venerável e dos vigilantes quando estes não estão presentes; o hospitaleiro, que acompanha os «irmãos» em situações de crise, visita os que estão doentes e faz sindicâncias aos elementos que solicitem auxílio financeiro à oficina; e o chanceler‑arquivista, que zela pela catalogação do acervo. Há ainda o guarda interno, que desempenha as tarefas de porteiro, tendo a importante missão de garantir o sigilo da reunião. 

Antes de fechar a porta sai sempre ao exterior e, empunhando uma espada com a mão direita, espreita para ver se não há olhares indiscretos. Se não houver, volta para dentro e informa os restantes com a frase «O templo está a coberto dos profanos». E assim dão início às reuniões, seguros de que ninguém os está a ver.

Aventais e togas

Com todos os maçons dentro do templo, de pé e em frente ao respetivo lugar, entra por último o venerável. Ouve‑se uma música exaltante com instrumentos de sopro. Um dos maçons segura na mão esquerda do líder e leva‑o até ao altar. Aqui, o chefe da loja agarra numa das pontas da bandeira portuguesa, que costuma estar presente em todas as reuniões.

O som vai parando gradualmente e de repente começa a tocar o Hino Nacional que todos cantam em conjunto. Quando acabam sentam‑se e aguardam que o chefe acenda uma vela. É assim que começam as sessões secretas dos maçons.

Estão de fato escuro – preto, azul ou cinzento – e de camisa branca lisa com gravata ou laço preto. Usam aventais e luvas brancas e alguns ostentam medalhas, condecorações e colares. Dentro do templo ninguém se pode deslocar sem ser conduzido pelo mestre de cerimónias. E sempre que se encontram sentados devem estar numa posição esfíngica, sem nunca cruzar as pernas ou os braços. Quando chegam atrasados usam códigos: têm de bater três vezes e esperar que o «irmão» que faz de porteiro os autorize a entrar.

Em regra só os mestres podem falar, os outros são obrigados a ficar em silêncio. A exceção é o dia em que vão apresentar os trabalhos escritos através dos quais serão avaliados pelos outros.

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Conhecidos como «pranchas» podem tratar de vários temas e costumam dar origem a debates. Pode ser um ensaio filosófico, um estudo relativo a um ritual ou um texto sobre um assunto que gera preocupação na sociedade.

Para conseguirem subir de grau os maçons têm de expor estes exercícios. No dia em que o explicam aos «irmãos» assumem um papel de destaque na reunião, ficando de pé, no meio do templo. Quando o maçon acaba de ler o texto que elaborou manda a boa prática maçónica que os outros façam duras críticas, principalmente se os trabalhos tiverem sido realizados por um dos «irmãos» mais recentes, que são ainda aprendizes ou companheiros.

Diferenciam‑se uns dos outros pelo lugar que ocupam na sala e pelo avental que vestem. Os aprendizes usam um todo branco com a aba levantada e sentam‑se nas filas de trás durante as reuniões. Já os companheiros têm aventais igualmente de pele branca, mas com a aba deitada. Além disso, têm um pequeno debruado de 1,5 centímetros com uma fita de cor azul, encarnada ou outra, consoante o rito que seguem. Quanto atingem o grau de mestre passam a colocar um avental com três rosetas, tendo igualmente um contorno colorido com 2,8 centímetros de largura.

O verso deve ser forrado a negro e com uma caveira estampada a branco. Quando ocupam o cargo de venerável recebem um avental mais elaborado em pele sintética e com três «T» invertidos, em metal, chamados de “taus”.

O uso do avental é obrigatório, sendo a marca distintiva de um maçon. A maioria coloca‑o por cima do fato escuro. Mas há lojas que optam por usar antes uma capa preta comprida, tipo toga. É o que faz um grupo de maçons mais velhos que integra a Loja Soliditas e se costuma reunir num templo da antiga sede em Alvalade. O uso deste balandrau, que deve ficar abaixo dos joelhos, é considerado uma exceção e o modelo tem de ser autorizado previamente pelo grão‑mestre. Mas há mais maçons que o gostam de vestir, nomeadamante das lojas com rituais mais religiosos. Nestas, quando as reuniões são só para os elementos mais importantes, todos se cobrem com capas pretas e usam chapéus da mesma cor.

O uso recorrente deste balandrau não é, no entanto, consensual. E o facto de a Loja Soliditas o usar em todas as sessões só não levanta mais polémica por serem maçons com hábitos diferentes dos outros da GLLP: não recrutam ninguém nem fazem iniciações nas suas reuniões secretas. São todos membros da maçonaria há longos anos, já lideraram várias lojas da obediência, detêm os graus maçónicos mais elevados e gostam de discutir temas esotéricos e filosóficos. Do grupo fazem parte, entre outros, o médico otorrino Vítor Gabão da Veiga, o reformado Manuel Dantas e o advogado António Romano de Castro.

Mas se a Soliditas é das que têm elementos mais velhos, há outras onde se juntam pessoas mais novas. É o caso de uma loja muito recente, criada no verão de 2014, batizada Marechal Teixeira Rebelo. Foi lançada por Fernando Pereira, artista e imitador, e outros sete «irmãos»: João Pedro Ruela, músico, agente e ex‑marido da cantora Mariza, João Pestana Dias, gestor de eventos, Abílio Alagoa da Silva, dono da empresa Lisbon 67 especializada em venda de imóveis, consultoria e marketing, Tiago Lúcio Rapaz, presidente da Associação Académica da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, André Conrado Cardoso, CEO da Sottotour, Paulo Jorge Alves Loureiro, gestor da LIS‑PAX – International Consulting Unipessoal Lda. e Rui Alberto Simões Coelho, gestor da Cape Town – Sociedade de Investimentos Turísticos e Imobiliários Lda..

Por ter um perfil mais jovem foi também uma das três primeiras a adotar o ritual português completamente novo, criado pela GLLP em 2014, que se baseia na tradição nacional. Esta oficina resultou de uma ramificação da Loja Jean Mons onde estavam Ruela, Pestana Dias, Fernando Pereira e o dirigente desportivo Carlos Janelas. Nesta loja foram‑se juntando ao longo dos últimos tempos vários ex‑alunos do Colégio Militar e pessoas ligadas ao mundo do espetáculo ou jovens empreendedores.

Apesar de ser natural que as pessoas se agrupem por terem os mesmos interesses, em Portugal as lojas não são constituídas com base nas profissões, como sucede nos EUA, onde há lojas só de médicos, só de professores, só de advogados, etc.», conta um elemento com responsabilidade na maçonaria.

Diferente é a Loja Fraternidade, que não funciona no dia-a-dia mas apenas quando o grão‑mestre quer. É a mais secreta do GLLP. «Se é preciso iniciar alguém de forma oculta pode usar‑se esta oficina», explica um maçon, esclarecendo que para a loja funcionar o grão‑mestre escolhe maçons de uma ou várias lojas para participarem na sessão, não circulando nem sendo afixada na sede qualquer informação sobre quem participa nos encontros.

O saco cheio de dinheiro

«Meus irmãos, vai circular o tronco da viúva». O anúncio é feito pelo líder, quando a sessão se aproxima do fim. Um dos maçons, o que tem a função de hospitaleiro, pega num pequeno saco preto de pano e fá‑lo passar por todos. Cada um, quando chega a sua vez, tira a luva e com a mão direita deposita dinheiro no saco, da forma mais discreta possível, para que os outros não percebam a quantia. O donativo é por eles chamado de óbolo.

Este «tronco da viúva» – nome cuja origem tem várias versões, como a de ser uma caixa para ajudar as viúvas e os filhos menores de «irmãos» falecidos – é também conhecido nas lojas como «tronco da beneficência» ou «tronco da solidariedade» por ter como finalidade ajudar um dos elementos da loja, alguém do exterior que esteja em dificuldades ou uma instituição.

Terminada a recolha, um deles segura o saco com o braço esticado, dando sinal de que está à disposição de todos. «Algum dos meus “irmãos” reclama o tronco da viúva?», pergunta o líder. 

O dinheiro junto naquela sessão ou o acumulado de várias pode ser solicitado por um dos presentes, para si próprio ou para terceiros. Se ninguém o fizer, fica acumulado, podendo depois ser reclamado na sessão seguinte ou ser‑lhe dado um destino decidido pelo venerável. E durante o momento em que o saco passa por todos há também a possibilidade de um deles, em vez de pôr, tirar algum dinheiro.

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Por regra é o «irmão» com o cargo de hospitaleiro que sugere quem ou que instituição ajudar. E no caso de ser um dos elementos da loja pode ter de se fazer antes uma sindicância, para confirmar se ele tem mesmo necessidade de ficar com os recursos financeiros do «tronco da viúva». Uma vez por ano deve apresentar um relatório sobre a situação do «tronco da viúva» e a aplicação das verbas.

Depois de o líder questionar os colegas, o maçon que fez a colheita e que tem o saco na mão entrega‑o ao secretário, que verifica o conteúdo:

«Venerável mestre, o “tronco da viúva” rendeu a medalha profana de x quilos em moeda cunhada Europeia», informa, passando depois a quantia recolhida ao tesoureiro, para este fazer o que a loja decidiu: guardar ou dar a alguém.

Este fundo de reserva da loja é obtido exclusivamente através de donativos dos membros da loja e dos seus visitantes ou mediante ações de angariação de fundos a ele destinados, como leilões e iniciativas sociais. Fora do saco ficam o valor das jóias que cada um paga quando entra na maçonaria e as quotas mensais.

As presenças nas reuniões têm igualmente de ser sempre registadas, sendo anexadas num caderno onde ficam também as atas das sessões. Por outro lado, todas as oficinas devem informar anualmente os chefes da obediência sobre a lista de movimentações com os nomes dos membros, a profissão, os contatos e os títulos de cada um.

No GOL os maçons usam um nome simbólico que tem também de constar desta lista. Ou seja, dentro da maçonaria não são conhecidos pelos nomes que têm no mundo profano, mas por um outro que pode ser de um rei, herói, amigo ou familiar.

O coronel Eugénio de Oliveira, por exemplo, o antigo grão‑mestre que pertencia à Loja O Futuro, era conhecido como «Ghandi»; o cantor Vitorino é tratado como «mestre Hélio»; e Emídio Guerreiro, um dos fundadores do PSD que faleceu com 105 anos, era «Lenine» desde que entrou em 1927 na Loja Revolta, de Coimbra.

No final das sessões, levantam‑se, tiram as luvas e colocam‑se num círculo fechado.

Dão as mãos uns aos outros, cruzando o braço direito por cima do esquerdo. Os pés, em esquadria, têm de tocar pelas pontas nos dos «irmãos» que estão ao lado, enquanto mantêm os calcanhares unidos.

Durante uns minutos meditam, rezam ou fazem votos sobre alguma coisa ou alguém em concreto. O momento, sempre conduzido pelo líder, é acompanhado por música suave e pequenos silêncios. Terminado o ritual o mestre anuncia: «Deixemos esta cadeia de união e regressemos aos nossos lugares.» Todos obedecem mas antes cada um deles sacode três vezes os braços. Quando saem dos templos despem os aventais para entrarem no mundo profano sem serem identificados. Fora das lojas maçónicas e das residências da Opus Dei os membros das irmandades têm de cumprir regras: uns usam linguagem codificada, outros possuem uma lista de coisas proibidas de fazer na vida privada de cada um.

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