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epa09546117 A view of a sign featuring Facebook's iconic 'Thumbs Up' Like button is displayed outside Facebook Headquarters in Menlo Park, California, USA, 25 October 2021. Facebook has posted better-than-expected earnings with 9 billion US dollar for the third quarter despite new claims from former employee whistleblower and internal documents detailing unethical behaviour.  EPA/JOHN G. MABANGLO
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O conhecido "gosto" na sede da empresa, em Menlo Park, na Califórnia

JOHN G. MABANGLO/EPA

O conhecido "gosto" na sede da empresa, em Menlo Park, na Califórnia

JOHN G. MABANGLO/EPA

O Facebook faz 20 anos. Como um site de encontros para universitários se tornou no “império romano” das redes sociais

Zuckerberg criou a maior rede social do mundo sem sair do dormitório de Harvard. Com uma estratégia de aquisições, controla hoje as apps sociais mais usadas, mas também já enfrentou várias crises.

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A história é conhecida. Começa com um jovem estudante de Harvard, um dormitório e três amigos com um computador. A ideia foi tão disruptiva que bastaram meia dúzia de anos para que o making of do site criado por Mark Zuckerberg para uso exclusivo dos estudantes do campus chegasse ao cinema. Quando David Fincher realizou “The Social Network”, em 2010, o Facebook já era um gigante mundial. Até hoje, dia em que faz 20 anos, ainda não parou de crescer.

O 4 de fevereiro entrou para os livros da história moderna. Depois de Zuckerberg ter carregado no enter para lançar o “TheFacebook”, a rede expandiu-se a outras universidades da Ivy League, ao ensino superior do Canadá e atravessou o Atlântico até Oxford ou Cambridge. Dois anos após o lançamento, a rede já não cabia no circuito universitário. Em qualquer parte do mundo, só era preciso ter mais de 13 anos e um email válido para se estar no Facebook (o ‘The’ ficou pelo caminho). Hoje, a empresa controla três das aplicações sociais mais usadas do mundo.

Não era fácil prever a dimensão que a empresa atingiu, até porque “o conceito de rede social era algo de tão novo que a ideia de o Facebook ser algo que ‘desse dinheiro’ não era algo que passasse pela cabeça das pessoas”, admite ao Observador Ed Zitron, fundador da agência especializada em startups e tecnológicas EZPR e autor do livro “Fire Your Publicist”. Atualmente, o Facebook é usado diariamente por uma média de 2,11 mil milhões de pessoas, sem contar com os utilizadores que passam por outras redes da empresa.

Através de aquisições, Zuckerberg, um eterno fascinado pelo Império Romano, em particular pelo imperador Augusto como o próprio já confessou, criou o seu próprio império. Controla, sozinho, o WhatsApp e o Instagram, e desenvolveu mais serviços, como o Messenger e o Threads. Feitas as contas, a família de apps é usada todos os dias por 3,19 mil milhões de pessoas. As redes sociais que chegaram antes da empresa, como o MySpace ou o Hi5, desapareceram.

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Mas nem só de expansão é feita a história do Facebook, tanto que David Fincher já admitiu a possibilidade de uma sequela para incluir as crises da tecnológica. A empresa já teve um escândalo de privacidade, com o caso Cambridge Analytica e a interferência em eleições, foi acusada de estar no centrd da expansão do discurso de ódio online e até de ter contribuído para um genocídio no Myanmar.

Refugiados rohingya processam Facebook por propagar mensagens de ódio

O escrutínio tornou-se cada vez maior, vindo de reguladores de todo o globo e associações humanitárias. Mark Zuckerberg, que há 20 anos apregoa a missão de ligar o mundo e tem comprado rivais assim que dão sinais de ser uma ameaça, não parece querer afastar-se do leme. Se é visto como o arquiteto de um império da tecnologia, também tem feito algumas apostas que não estarão a avançar ao ritmo esperado – o metaverso é o principal exemplo. Só em 2023, a divisão Reality Labs, onde se enquadra esta tecnologia, gerou um prejuízo de 16 mil milhões de dólares.

Um modelo de negócio assente maioritariamente em publicidade

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As redes sociais da Meta (Facebook, Instagram, etc) são de registo gratuito. Ao aceitar as condições, o utilizador assina uma espécie de contrato em que aceita que os seus dados sejam explorados para fins publicitários. Por sua vez, a companhia ganha dinheiro através da venda de publicidade online a outras empresas, que podem escolher a faixa demográfica ou localização dos utilizadores que querem alcançar.

Em 2023, a publicidade gerou cerca de 132 mil milhões de dólares à empresa, um aumento de 16% face ao ano anterior. Embora ao longo dos anos tenha diversificado as fontes de receita, nomeadamente através das vendas dos headsets de realidade virtual, o principal motor do negócio continua a ser a publicidade.

Em 2023, a publicidade nas redes sociais foi responsável por quase 98% das receitas totais, “a beneficiar dos gastos de anunciantes da China que estão a chegar a clientes de outros mercados”, disse a diretora financeira Susan Li. Nas entrelinhas, era possível identificar os anunciantes: a Shein e a Temu.

A dependência da publicidade já trouxe alguns dissabores à companhia. Em 2022, devido ao aumento da inflação e também das taxas de juro, os anunciantes tornaram-se mais contidos nos gastos e houve impacto nas contas da tecnológica. Na altura, a Meta justificou a queda anual de 1% das receitas publicitárias com uma “redução da procura publicitária” devido a um “ambiente macroeconómico mais desafiante”.

Zuckerberg, o último dos fundadores que ainda lidera a sua big tech

Mark Elliot Zuckerberg ainda não tinha feito 20 anos quando co-fundou o Facebook, com Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes. Os co-fundadores foram gradualmente saindo da empresa, até restar apenas Zuckerberg, que desistiu do curso em Harvard para se concentrar na empresa.

O jovem CEO ficou associado à frase “move fast and break things”, algo como ‘avança depressa e parte coisas’. Nunca escondeu os seus planos ambiciosos para conseguir ligar o mundo. Quando começou a dar nas vistas na imprensa norte-americana e internacional, depois de receber um investimento de meio milhão de dólares do magnata Peter Thiel, surgia como o estereótipo de um nerd da tecnologia – com hoodies, casacos de capuz e t-shirts. Passou a ser a sua imagem de marca. Nem quando tocou o sino em Wall Street, assinalando a estreia do Facebook em bolsa, em maio de 2012, Zuckerberg mudou de visual. Nos primeiros anos da empresa, eram frequentes as referências na imprensa sobre como a equipa da rede social fazia noitadas no escritório para tentar melhorar o serviço — o auge da mentalidade always be hustling (persegue sempre um objetivo) de Silicon Valley.

Dustin Moscovitz e Mark Zuckerberg fotografados em Harvard, no início do Facebook

Boston Globe via Getty Images

Em maio, Zuckerberg completará 40 anos – metade da vida foi passada a gerir uma gigante da tecnologia. O “college dropout” nunca acabou o curso mas tornou-se num dos homens mais influentes da indústria e o quinto mais rico do mundo, com uma fortuna estimada de 142 mil milhões de dólares, atrás de Bill Gates. Perto de 97% da fortuna está assente em ações da empresa.

Gradualmente, o ex-universitário passou a estar no mesmo patamar que os nomes mais relevantes da tecnologia, como Bill Gates, Jeff Bezos, Steve Jobs ou Larry Page e Sergey Brin. O facto de a empresa ter ficado com o estatuto de maior IPO (oferta pública inicial) da história da tecnologia ajudou a consolidar essa fama – só em 2014 é que a Alibaba lhe conseguiu roubar o título.

Vinte anos depois da criação do Facebook, Zuckerberg é um dos resistentes no papel CEO/fundador, mantendo-se à frente da companhia que criou. A longevidade no cargo tornou-se, de alguma forma, incomum na indústria, já que muitos dos contemporâneos iniciais já se afastaram. Em 2008, Bill Gates saiu das operações diárias da Microsoft; Sergey Brin e Larry Page entregaram as chaves do reino da Google em 2019 e Jeff Bezos deixou de ser CEO da Amazon em 2021. Até no antigo Twitter, um rival do Facebook, já houve várias mudanças de CEO (e até de dono).

Um ano depois, nem o nome sobreviveu. As 10 maiores voltas que o X (ex-Twitter) deu desde que foi comprado por Musk

O homem que gere hoje a Meta, a casa-mãe do Facebook, Instagram e WhatsApp, já não é bem o universitário ansioso de outros tempos. Transformou-se numa figura conhecida pelas aquisições milionárias e navegou águas agitadas por escândalos e pressões. É reconhecido pela indústria que o seu braço direito durante anos, a ex-diretora de operações Sheryl Sandberg, que saiu da empresa no verão de 2022, foi fundamental para ajudar a profissionalizar a gestão do Facebook.

14 anos depois… Saída de número dois do Facebook põe fim à longa parceria que mudou a internet

As publicações que Zuckerberg faz hoje nas suas redes sociais (é a única pessoa que não se pode bloquear no Facebook) dão um vislumbre de uma vida familiar discreta. O norte-americano tem três filhas com Priscilla Chan, que conheceu ainda na universidade: August, Maxima e Aurelia, todas com nomes inspirados em imperadores romanos. Recentemente, Zuckerberg passou a ter outra faceta: já praticava surf, mas juntou mais um desporto à lista, as artes marciais mistas (MMA), em que até compete. No ano passado, chegou a ser desafiado por Musk para um combate, que nunca se realizou (e até se especulou que poderia acontecer no Coliseu de Roma). Após muita troca de galhardetes, o patrão do Facebook considerou que Musk não estava a levar o combate “a sério”.

Zuckerberg diz que Musk “não está a ser sério” sobre combate e que está a dar demasiadas desculpas para não lutar

Mesmo com uma lista de hobbies mais recheada, não há sinais de que Zuckerberg queira seguir os passos dos fundadores de outras big tech. Edward Zitron, da agência EZPR, acredita que o norte-americano “vai manter-se como CEO da Meta pelo tempo que quiser”. “Ele tem poder absoluto, não pode ser despedido, não pode ser pressionado a sair e basicamente pode fazer o que quiser”, enumera Zitron. “Tem um poder centralizado e criou pequenos feudos na empresa que, em última instância, afastam a companhia de qualquer outro tipo de missão além de ‘acumular a maior quantidade de tráfego e receitas que seja humanamente possível’”.

Uma breve história dos 20 anos do Facebook

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  • 4 de fevereiro de 2004: lançamento do TheFacebook, apenas em Harvard
  • 13 de abril de 2004: constituição da empresa TheFacebook.com, por Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Zuckerberg
  • Junho de 2004: o primeiro investimento, de 500 mil dólares, vindos de Peter Thiel
  • Setembro de 2004: o primeiro processo judicial, dos gémeos Cameron e Tyler Winklevoss, da ConnectU, contra a empresa de Zuckerberg. Ficou resolvido em 2008, quando o Facebook adquiriu formalmente a rede social
  • 30 de dezembro de 2004: o primeiro milhão de utilizadores
  • 10 de março de 2005: o Facebook chega às universidades do Reino Unido
  • 26 de maio de 2005: o segundo investimento, agora da Accel Partners, com 13 milhões de dólares
  • Setembro de 2005: o Facebook chega aos liceus
  • 26 de setembro de 2006: qualquer pessoa, desde que maior de 13 anos e com um email válido, pode registar-se na rede social
  • 10 de janeiro de 2007: o lançamento da versão mobile da rede social
  • Outubro de 2008: o Facebook instala-se em Dublin, na Irlanda
  • 9 de fevereiro de 2009: o lançamento do famoso botão ‘gosto’
  • Outubro de 2010: é lançado o filme “The Social Network”. Anos mais tarde, Zuckerberg disse que tinha ficado magoado com o retrato no cinema e que havia factos “embelezados e inventados”
  • 18 de maio de 2012: a entrada em bolsa. Até ao IPO da Alibaba, era a maior operação do género no mundo da tecnologia
  • Outubro de 2012: os primeiros mil milhões de utilizadores ativos
  • Agosto de 2015: o lançamento da função de poder fazer diretos na rede social. Marca a viragem da empresa das imagens para os vídeos
  • 17 de março de 2018: o início do escândalo de privacidade da Cambridge Analytica
  • 27 de junho de 2017: Facebook chega aos dois mil milhões de utilizadores
  • 10 de abril de 2018: a primeira audição devido à crise da Cambridge Analytica, no Congresso dos EUA
  • 28 de outubro de 2021: o anúncio da mudança de nome e a aposta no metaverso
  • 3 de fevereiro de 2022: o anúncio da primeira perda de utilizadores em 18 anos de história
  • 9 de novembro de 2022: Zuckerberg anuncia o despedimento de 11 mil funcionários, cerca de 13% do total de trabalhadores
  • 5 de julho de 2023: o lançamento da app Threads, para rivalizar com o X (antigo Twitter), com disponibilidade limitada
  • 14 de dezembro de 2023: o Threads chega aos países a União Europeia

As crises, do ano “horribilis” de 2018 até aos milhares de despedimentos

O percurso da tecnológica de Zuckerberg tem tido vários momentos atribulados. E logo desde o início. Em 2004, a empresa esteve envolvida num processo judicial, movido pelos gémeos Cameron e Tyler Winklevoss, da ConnectU, que acusaram Zuckerberg de lhes ter roubado a ideia para a rede social. Em 2008, chegaram a um acordo para pôr fim ao processo, que implicou a aquisição da ConnectU, naquela que foi apenas uma das primeiras batalhas legais da empresa.

Mark Zuckerberg e Chris Hughes, fotografados em maio de 2004, três meses após o lançamento do então TheFacebook

Corbis via Getty Images

Já havia críticas ao modelo de negócio e alertas sobre a privacidade dos utilizadores. Mas as reais consequências de um grande número de dados nas mãos erradas só foram conhecidas em 2018, quando rebentou o escândalo da Cambridge Analytica. Christopher Wylie, ex-diretor de investigação de uma pequena empresa britânica chamada Cambridge Analytica, revelou ao Guardian e ao New York Times o papel que o Facebook teve na eleição de Donald Trump e o desfecho do Brexit, deixando o Facebook em maus lençóis com as revelações.

Cambridge Analytica. Um ano “horribilis” depois, o Facebook não voltou a ser o mesmo

As consequências para a democracia foram questionada e a presença online começou a ser repensada. Através de um aparentemente inofensivo quiz de personalidade disponível no Facebook, a Cambridge Analytica teve acesso a uma base de dados de cada utilizador, recolhendo nomes, listas de amigos e outras preferências. Quando foi contratada pela campanha de Trump, para as eleições de 2016, esses dados foram explorados de forma a que fosse possível apresentar mensagens direcionadas aos eleitores norte-americanos.

Na altura, foi revelado que tinham sido recolhidos dados de 50 milhões de perfis do Facebook; só mais tarde se soube que o universo de afetados era ainda maior: 87 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, veio a público a existência de interferências de grupos russos nas presidenciais norte-americanas. O CEO chegou, mais tarde, a admitir que a empresa tinha agido de forma “lenta” a identificar as operações vindas da Rússia.

O escândalo da Cambridge Analytica afetou a confiança dos utilizadores e deixou a empresa à mercê de uma série de investigações e muitas multas por infringir as regras da privacidade. Zuckerberg teve de prestar contas no Congresso norte-americano e no Parlamento Europeu na primavera de 2018. Foi das primeiras ocasiões em que o executivo trocou a habitual t-shirt cinzenta por um fato.

Depois das audições, onde assumiu que a rede social “não fez o suficiente para prevenir que as ferramentas fossem usadas para o mal”, vieram as multas. Nos EUA, a Comissão Federal de Comércio (FTC) castigou a empresa em 5 mil milhões de dólares. Na Europa, o regulador irlandês da privacidade de dados avançou com uma multa de 265 milhões de euros. Em Inglaterra, o Facebook pagou 500 mil libras (585,7 mil euros) e em Itália foi pedido um milhão de euros.

Como consequência do escândalo, o Facebook foi obrigado a adotar medidas para tentar evitar novos casos como o Cambridge Analytica. Amelia Connor-Afflick, analista sénior da GlobalData, reconhece que, após o escândalo, “tem existido uma séria retaliação no que toca a preocupações de segurança online e questões legais”, levando a “respostas como o fortalecimento da moderação de conteúdos, a criação de um órgão de supervisão ou a colaboração com organizações externas e o envolvimento em iniciativas focadas na privacidade” para tentar aliviar alguma pressão.

Quando chegou a pandemia de Covid-19, a empresa voltou a ser confrontada com o seu papel na difusão de desinformação. A pressão foi geral para as tecnológicas, mas particularmente visível no caso do Facebook e Instagram. A empresa teve de adotar medidas como a criação de um centro de informação sobre a Covid-19 no Facebook e de avisos sobre mensagens reencaminhadas demasiadas vezes no WhatsApp. Ainda assim,  2020 foi um ano positivo para a empresa de Zuckerberg, tal como para outras tecnológicas. Afinal, com as lojas fechadas e o mundo confinado, as redes sociais eram a melhor forma de as empresas chegarem aos clientes.

Até que, a meio de 2021, Mark Zuckerberg começou a deixar avisos sobre a possibilidade de turbulência na empresa. Estavam dados os primeiros sinais de maior contenção dos anunciantes nos gastos online. Um cenário que se confirmou no ano seguinte, quando as receitas de publicidade encolheram devido ao contexto “macroeconómico mais desafiante”. A queda nas receitas de publicidade, a galinha dos ovos de ouro da empresa, no segundo trimestre de 2022, foi algo inédito para a recém-batizada Meta.

Não foi a única estreia em 2022. “Hoje estou a partilhar uma das mais difíceis mudanças já feitas na história da Meta. Decidi reduzir o tamanho da nossa equipa em 13% e deixar partir mais de 11 mil dos nossos talentosos funcionários”, revelou o patrão da Meta em novembro de 2022. A Meta não foi imune à onda de despedimentos que afetou as tecnológicas após a expansão da pandemia. A companhia anunciou medidas adicionais para reduzir custos, incluindo o congelamento das contratações ao longo de 2023, que foi oficialmente classificado por Zuckerberg como “o ano da eficiência”. No fim do ano passado, a Meta tinha 67.317 funcionários: entre 2022 e 2023, saíram mais de 19 mil pessoas da companhia.

Zuckerberg oficializa despedimentos na Meta. Há 11 mil pessoas que vão sair da tecnológica

O ano da eficiência parece ter resultado, mas a pressão ao nível de regulação não se dissipou. Este ano, Mark Zuckerberg voltou a ser chamado ao Senado norte-americano, com os CEO de várias redes sociais, para prestar contas sobre o que faz a plataforma para proteger os mais jovens. Embora também tenham estado presentes o CEO do TikTok ou a líder do X, antigo Twitter, ficou em destaque o pedido de desculpas do líder da Meta às famílias de crianças e jovens vítimas de cyberbullying.

Mark Zuckerberg pede desculpas no Senado americano em discussão sobre exploração infantil

De crise em crise, Zuckerberg foi resistindo. Para Edward Zitron, é fácil encontrar uma justificação para isso. “Não pode ser despedido. É isso. O governo pode continuar a gritar com ele, mas ninguém vai ser realmente capaz de despedi-lo”, diz o especialista.

Com utilizadores do Facebook a estagnar, Zuckerberg mantém olho no TikTok

Primeiro, o Facebook quis ligar o mundo universitário da América do Norte, chegando depois à Europa. Na América Latina, na Ásia-Pacífico e, mais tarde, em África, com versões mais leves da aplicação para smartphone do Facebook, a rede social principal bateu recordes de utilizadores.

Até que se foi tornando cada vez mais difícil encontrar mais pessoas para aderir ao Facebook, a rede social principal da Meta. Os números de utilizadores começaram a estagnar e, no último trimestre de 2021, chegou a primeira queda em 18 anos de história. Eram 500 mil utilizadores a menos, um recuo que custou 230 mil milhões de dólares num dia, a maior queda diária de sempre de uma empresa em bolsa, devido à desvalorização de 20% das ações.

epa10732131 An employee downloads the newly unveiled Threads app on an iPhone at a design company in Chennai, India, 07 July 2023. Meta, the company behind Facebook and Instagram, said in a press release on 05 July 2023, that Mark Zuckerberg announced the initial version of 'Threads', an Instagram's text-based conversation app.  EPA/IDREES MOHAMMED

Há anos que a empresa de Zuckerberg tem as apps sociais mais usadas do mundo -- o Facebook, WhatsApp e o Instagram. No ano passado, avançou com a Threads, para rivalizar com o X de Musk

IDREES MOHAMMED/EPA

Os especialistas apontaram a concorrência de outros produtos, alguns até da Meta, como o Instagram, para justificar a perda de utilizadores. Outros diziam que o Facebook se tinha tornado menos apelativo para os mais jovens, especialmente quando comparado com o TikTok.  Segundo dados da Data.ai, que analisa o mercado de apps móveis, o TikTok foi em 2023 a aplicação social mais descarregada a nível global, à frente do Instagram e do Facebook.

Mark Zuckerberg respondeu logo em 2020 à ameaça do TikTok, usando uma das suas estratégias favoritas (além das aquisições): a cópia de funções. Tal como já tinha feito antes, usando as histórias do Snapchat para fazer crescer o Instagram, inspirou-se nos vídeos curtos do TikTok para dotar o Instagram de uma função rival, os Reels, apresentados em 2020. Quase quatro anos depois, a empresa ainda considera que há margem para desenvolver a monetização deste formato.

Algumas das maiores aquisições da tecnológica

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A lista de compras da Facebook/Meta é grande, mas nem sempre são conhecidos os valores. Entre as compras mais relevantes estão as operações de aquisição do Instagram e do WhatsApp.

  • Junho de 2008 – ConnectU, 31 milhões de dólares
  • Agosto de 2009 – FriendFeed, 47,5 milhões de dólares
  • Maio de 2010 – Patentes da Friendster, 40 milhões de dólares
  • Abril de 2012 – Instagram por mil milhões de dólares
  • Junho de 2012 – Face.com, 100 milhões de dólares
  • Fevereiro de 2014 – WhatsApp, 19 mil milhões de dólares
  • Março de 2014 – Oculus VR, 2 mil milhões de dólares
  • Outubro de 2021 – Within, por um valor não revelado
  • Abril de 2022 – Presize, cerca de 100 milhões de dólares

Esta quinta-feira, a Meta partilhou pela última vez dados sobre os números de utilizadores do Facebook. A diretora financeira, Susan Li, diz que a empresa quer “afastar-se” da partilha de métricas concretas sobre a rede social Facebook, algo que até já tinha sido considerado em 2019, recorda o Engadget. Nesta última partilha, o Facebook apresentou 2,11 mil milhões de utilizadores ativos diários, um aumento homólogo de 6%. Já o total da família de apps (Facebook, Instagram, WhatsApp, Messenger) tinha no fim do ano passado 3,19 mil milhões de utilizadores em média, um aumento de 8% face a 2022.

A aposta no metaverso tem pernas para andar?

No fim de outubro de 2021, no Facebook Connect, a habitual conferência de realidade virtual da tecnológica teve uma surpresa: o Facebook ia mudar de nome e passar a chamar-se Meta. Aos programadores, que esperavam obter novidades sobre os planos da empresa para as áreas da realidade virtual e aumentada, Zuckerberg mostrou estar disposto a apostar todas as fichas numa nova tecnologia, o metaverso, ao ponto de mudar o nome do império.

“Somos vistos como uma empresa de redes sociais, mas no nosso ADN somos uma empresa que cria tecnologia e conecta pessoas”, disse então o CEO, descrevendo o “metaverso como a próxima fronteira”. O metaverso quer mundos digitais, acessíveis através de um headset de realidade virtual. E, graças à aquisição da Oculus, em 2014, a empresa até já fabricava a ferramenta necessária.

Zuckerberg, que criou um pilar das redes sociais, já queria e pensava no metaverso como “o sucessor da internet móvel” e numa nova forma de ligar pessoas. Nesse ano, ficou a promessa de gastos na ordem de 10 mil milhões de dólares para os mundos digitais. Já a pensar nos reguladores, os responsáveis da Meta fizeram questão de explicar que era um projeto para vários anos e com um investimento relevante, para o qual seria precisa a ajuda de mais empresas. O metaverso não poderia pertencer a uma única empresa, frisaram.

Meta Connect 2022, pernas, Zuckerberg, metaverso, avatares

Uma versão de Zuckerberg em modo avatar (e com pernas)

Um ano depois, Zuckerberg voltou ao evento Connect para partilhar uma atualização sobre o metaverso: uma aliança com a Microsoft e também a promessa de que os avatares iam ter um aspeto melhorado e passar a ter pernas, para dar mais dinamismo. A base de utilizadores do Meta Horizons Worlds, o serviço onde é possível ver os primeiros passos da empresa no metaverso, é reduzida, até pelo facto de estar disponível apenas em alguns países (Canadá, França, Islândia, Irlanda, Espanha, Reino Unido e EUA).

Zuckerberg desvenda avatares mais realistas e com pernas, um “headset” mais caro e uma parceria de peso com a Microsoft

Até hoje, há poucos desenvolvimentos ligados a esta “nova internet”. Em junho do ano passado, os analistas ouvidos pelo Observador relataram o “défice de atenção” da indústria, que se tinha virado para a inteligência artificial depois do “boom” do ChatGPT. Uma tecnologia que, para já, apresenta mais potencial de uso do que o metaverso.

365 dias de Meta. O nome pode não fazer diferença, mas a ambição do metaverso sai cada vez mais cara a Zuckerberg

No comentário às contas da Meta, Zuckerberg falou em “muitos progressos na visão para avançar na inteligência artificial e no metaverso”. Já os resultados contam outra versão: os Reality Labs continuam a dar mais despesa do que proveito, com mais um ano de avisos da diretora financeira para “um aumento significativo de perdas operacionais” na divisão devido “aos desenvolvimentos de produtos em curso”. Em 2023, os Reality Labs deram um prejuízo de 16,1 mil milhões, mais 2,4 mil milhões de dólares do que há um ano.

“O metaverso nunca foi nada desde o princípio”, considera Edward Zitron, que já publicou vários artigos de análise sobre esta tendência em órgãos como a Business Insider. “Dizer que o metaverso foi um ‘flop’ sugere que ele alguma vez tenha existido", atira.

“O metaverso nunca foi nada desde o princípio”, considera Edward Zitron, que já publicou vários artigos de análise sobre esta tendência. “Dizer que o metaverso foi um ‘flop’ sugere que ele alguma vez tenha existido”, atira.

O entusiasmo com o metaverso esfumou-se para dar lugar à febre da IA?

Há anos que a empresa trabalha em IA – e “Zuck” dá sinais de não querer ficar para trás

A Meta usa inteligência artificial há já vários anos, incluindo para deteção de conteúdos maliciosos e eliminação de contas. Desde 2013 que a empresa tem o programa FAIR, a sigla para Facebook AI Research, investigação em IA do Facebook, em português, onde são desenvolvidos projetos na área da IA. Há presença destas equipas de investigação em Menlo Park, a sede da empresa, Nova Iorque, Paris, Tel Aviv, Seattle, Pittsburgh e Londres. Yann LeCun, um dos três “padrinhos” da IA, é o líder do projeto FAIR.

Neste momento, a indústria está interessada na IA generativa, como o ChatGPT ou o Bard. Em fevereiro de 2023, a Meta AI lançou um modelo de linguagem, chamado Code LlaMA, que entretanto já está na segunda versão. Amelia Connor-Afflick, analista sénior da GlobalData, diz que o “atual investimento da Meta em IA é um movimento sensato, já que não pode depender mais do seu modelo de negócio de publicidade digital ou no metaverso, dado o atual ‘inverno’ de metaverso que estamos a passar”. “Se será ou não suficiente para diversificar o seu modelo de negócio e trazer receitas suficientes é algo ainda por provar.”

Com tantas atenções dadas à IA, as principais gigantes estão a investir milhões para avançar na corrida. Por agora, a vantagem parece estar nas alianças Microsoft/OpenAI e Google/Anthropic. Mas Zuckerberg não dá sinais de querer baixar os braços e já disse que a empresa está a canalizar milhões para adquirir componentes da Nvidia, que vende as unidades de processamento gráfico essenciais para o desenvolvimento de IA, as GPU. Num Reels no Instagram, o CEO da empresa anunciou que, até ao final deste ano, a empresa quer ter cerca de “350 mil componentes H100 da Nvidia”.

Passou de ideia num restaurante a “trillion dollar baby” em Wall Street. Como a Nvidia conquistou a indústria de chips

Ed Zitron, da EZPR, considera que, mesmo com a concorrência, a Meta ainda está na corrida para competir no mundo da IA. “Tanto quanto alguém com uma grande quantidade de dinheiro pode estar”. Uma empreitada para os próximos 20 anos?

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