A oficialização dos despedimentos na Meta, empresa que detém o Facebook, foi feita esta quarta-feira por Mark Zuckerberg: a empresa vai reduzir o número de trabalhadores em 13% e despedir mais de 11 mil empregados.

“Hoje estou a partilhar uma das mais difíceis mudanças já feitas na história da Meta. Decidi reduzir o tamanho da nossa equipa em 13% e ver partir mais de 11 mil dos nossos talentosos empregados”, anunciou Zuckerberg em comunicado. Além deste anúncio, o fundador e CEO da Meta diz que a empresa está a “tomar medidas adicionais para se tornar mais ágil e mais eficiente ao eliminar gastos e a prolongar o congelamento de contratações ao longo do primeiro trimestre [de 2023]”.

Neste anúncio, Mark Zuckerberg assume não só as responsabilidades “por estas decisões e pela forma” como a empresa chegou a este ponto. “Sei que isto é duro para toda a gente e lamento particularmente pelas pessoas que foram afetadas”.

Na segunda-feira, o Wall Street Journal já tinha noticiado que a Meta ia anunciar despedimentos esta semana. O anúncio da redução de trabalhadores presta alguns esclarecimentos sobre aquilo que se passou para a empresa precisar de tomar esta decisão. Nos números divulgados recentemente, a dona do Facebook e do Instagram tinha cerca de 87 mil trabalhadores.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“No início da Covid, o mundo estava rapidamente a mover-se para o online e o crescimento do comércio eletrónico levou a um crescimento expansivo das receitas”, contextualiza Mark Zuckerberg. Nesta comunicação assume que, tal como muitas pessoas, também previu que “a aceleração seria permanente e que continuaria mesmo após o fim da pandemia”. Foi a partir dessa premissa que decidiu “aumentar significativamente” os investimentos da empresa. No final de 2021, a empresa anunciou uma viragem no negócio, ambicionando crescer na tendência do metaverso. Este ano, o valor investido nesta área de realidade virtual já ultrapassou os 15 mil milhões de dólares.

365 dias de Meta. O nome pode não fazer diferença, mas a ambição do metaverso sai cada vez mais cara a Zuckerberg

“Infelizmente isto não se desenrolou como esperava. Não só o comércio online regressou às tendências anteriores como houve uma quebra do cenário macroeconómico, aumento da concorrência e perda de anúncios que levaram a que as receitas se tornassem muito mais baixas do que eu esperava. Percebi isto mal e assumo a responsabilidade por isso”, explica o fundador da tecnológica.

O CEO da Meta reconhece que, neste novo ambiente, a empresa precisa de ser mais eficiente em capital. “Estamos a transferir mais dos nossos recursos para um menor número de áreas de crescimento de alta prioridade — como o nosso motor de pesquisa de inteligência artificial, as nossas plataformas de anúncios e negócios e a nossa visão a longo prazo para o metaverso”. Zuckerberg revela também que a empresa tem vindo a reduzir custos, “incluindo a redução de orçamentos, benefícios e no decréscimo da presença imobiliária”. Especificamente na área do imobiliário, a tecnológica nota que “as pessoas já passam a maior parte do tempo fora do escritório” e que, à medida que diminui o número de espaço ocupado, vai “transitar para um modelo de partilha de secretária”.

Ainda assim, o patrão do Facebook diz que “só as medidas [para redução de custos] não são suficientes para fazer com que as despesas fiquem em linha com o crescimento das receitas, pelo que foi necessário tomar a difícil decisão de despedir pessoas”.

A empresa promete ainda novas medidas de redução de custos ao longo dos próximos meses. O CEO diz que acredita que a Meta é “profundamente subestimada hoje em dia”, argumentando que “milhares de milhões de pessoas usam os serviços para se ligarem e que as comunidades continuam a crescer.” “Fazemos historicamente trabalho importante. Estou confiante de que, se trabalharmos de forma eficiente, vamos conseguir sair deste período de quebra mais fortes e mais resilientes do que nunca.”

A companhia vai bloquear o acesso à maioria dos sistemas da empresa ao trabalhadores despedidos já a partir desta quarta-feira, “dado o acesso a informação sensível”. Ainda assim, diz que vai manter os emails ativos ao longo do dia “para que todos possam dizer adeus”.

A Meta não tem escritórios em Portugal. Na Europa, a localização mais próxima são os escritórios de Madrid, em Espanha. No total, a empresa tem 26 escritórios na região da Europa, Médio Oriente e África (EMEA). Apesar de ter a sede europeia na Irlanda, o Reino Unido ganhou destaque na presença europeia da empresa, particularmente com o escritório de Londres. É na capital britânica que fica o segundo maior hub de engenharia da empresa fora dos Estados Unidos.

Em 18 anos de vida, este é o primeiro despedimento de grande escala feito pela empresa de Zuckerberg. Devido ao contexto económico mais desafiante, a Meta já tinha anunciado em junho o congelamento das contratações.

Nas últimas semanas têm sido feitos despedimentos significativos na indústria tecnológica, com destaque para o Twitter, onde Elon Musk despediu na semana passada cerca de metade dos 7.500 trabalhadores da rede social. Também a Microsoft já anunciou reduções de trabalhadores este ano. 

Microsoft vai voltar a reduzir número de trabalhadores este ano

Como vão ser feitos os despedimentos?

A comunicação de Zuckerberg dá alguns pormenores sobre como vai funcionar este processo de despedimentos. “Não há uma forma fácil de fazer isto, mas esperamos dar toda a informação relevante o mais depressa possível”. A tecnológica explica que vai enviar emails aos trabalhadores sobre a sua situação profissional e, se estiverem na lista de despedimentos, “alguém da empresa vai responder às questões que tenham e poder participar em sessões de esclarecimento”.

Os detalhes sobre as compensações a atribuir aos empregados são mais claros para os trabalhadores norte-americanos, onde ficam os maiores escritórios da empresa. Ainda assim, a companhia explica que “fora dos Estados Unidos o apoio será semelhante” e que terá “em conta as leis de emprego locais”.

Nos Estados Unidos, os trabalhadores vão receber um pagamento base de “16 semanas de trabalho mais o valor de duas semanas adicionais por cada ano de serviço, sem limitação”. Também serão pagas férias que ainda haja por gozar e o seguro de saúde continuará ativo para o trabalhador e respetiva família por mais seis meses. Os trabalhadores despedidos também vão receber as “restricted stock units”, as ações da companhia atribuídas aos empregados que obedecem a regras específicas e a um calendário, que deveriam ser atribuídas a 15 de novembro.

A empresa vai disponibilizar acompanhamento profissional durante três meses, com outra empresa. Nesta área, a Meta defende que isto vai incluir o acesso a vagas de trabalho que ainda não são públicas, para que os trabalhadores despedidos consigam encontrar um novo emprego.

Uma parte dos trabalhadores da Meta nos Estados Unidos são imigrantes, por isso é prometido apoio nesta área. “Sabemos que é especialmente difícil se se está no país com um visto. Há um período de aviso antes do fim do contrato e alguns períodos de extensão do visto, o que significa que todos vão ter tempo para fazer os seus planos e trabalhar no seu estado de imigração.”