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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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PS sonha com geringonça inclusiva na Madeira, mas tem mais portas fechadas do que abertas

Da direita à esquerda, Paulo Cafôfo só excluiu PSD e Chega de uma possível geringonça, mas nem todos se querem sentar à mesa com o PS no dia seguinte às eleições. Pelo contrário.

Paulo Cafôfo está disposto a quase tudo para “virar a página” da política na Madeira e mudar as cores do partido que está há 48 anos a governar. Para isso, estabeleceu duas linhas vermelhas — ao PSD e ao Chega — e estendeu a passadeira a todos os que queiram dialogar no dia seguinte. A ambição está definida, uma geringonça. Apesar disso nem todos estão alinhados no sonho do cabeça de lista do PS: os partidos de direita não veem em Cafôfo uma alternativa e mesmo à esquerda há quem duvide que consiga vencer.

Na reta final de campanha, e para contrariar as sondagens que dão o PSD com nova vitória (ainda que a precisar de entendimentos para a maioria absoluta), Paulo Cafôfo procura deixar a porta aberta a todos os cenários pós-eleitorais, ainda que tenha sugerido que existe um entendimento entre PSD, Chega e CDS — que todos negam. Numa entrevista ao Observador, reconheceu que “é possível ter uma geringonça, seja lá qual for o formato” e chegou mesmo a dizer que acredita que este modelo se está a “desenhar”.

Paulo Cafôfo: “Só tenho linhas vermelhas para PSD e Chega. Está mesmo a desenhar-se uma geringonça”

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Nos últimos tempos Paulo Cafôfo tem dito que “votar no Chega, no CDS, na IL e no PAN é votar em Miguel Albuquerque”, mas também já sugeriu que votar em partidos pequenos faz com que “tudo fique na mesma” — o que não agradou aos adversários com que se quer sentar à mesa no dia seguinte.

Os irmãos Élvio e Filipe Sousa numa ação de campanha no centro do Funchal

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Há um adversário político sem o qual é quase impossível Cafôfo continuar a sonhar com este cenário e até aí são colocados entraves. O Juntos pelo Povo (JPP), terceira força política na Madeira que surge em crescimento nas sondagens, pode vir a ser um problema nos planos de geringonça do PS por estar constantemente a colocar PS e PSD no mesmo saco: “Entre um e outro, venha o diabo e escolha”, chegou a atirar o secretário-geral do partido e cabeça de lista, Élvio Sousa. Porém, foi deixando pistas para um possível entendimento, impondo “15 princípios” — que vão desde imposições sobre o formato do governo até à redução de despesa — para quem quiser uma “aliança” e dando a entender que não é uma porta trancada.

“A bold e a negrito”, Élvio Sousa vai dizendo que o JPP “não tem acordo com qualquer partido” — “Diz a arte da guerra que antes de fazer qualquer aliança temos de saber os propósitos do adversário e os outros adversários nunca nos disseram se estão interessados em adotar os eixos e a agenda do JPP”, realça, frisando que “não tem bolas de cristal”. As insistências às não-respostas sobre o pós-eleições são diárias e o cabeça de lista do JPP acaba por concluir: “A região não vai ficar ingovernável, nós nunca fomos agentes de instabilidade”, assegura, recusando ser uma “força de bloqueio”. Assim, apesar das críticas constantes aos partidos tradicionais, fica uma folga para o dia seguinte.

Entre a incerteza e a pouca confiança

Em sentido oposto segue a CDU, que luta para eleger um deputado, aparece a descer nas sondagens, e não tem mostrado entusiasmo para uma geringonça. Mas há mais falta de crença do que uma ideia de recusar acordos. Em declarações ao Observador durante um comício no centro do Funchal, recuperou o exemplo de Cafôfo enquanto presidente da câmara e afirmou: “Em nome de uma prometida mudança, mudaram os protagonistas, houve uma dança de cadeiras, saiu o PSD e entrou o PS, saiu o PS e entrou o PSD, e no essencial as políticas não se alteraram.”

Edgar Silva, da CDU, durante um comício numa das ruas mais procuradas pelos partidos durante o período eleitoral

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Mais ainda, Edgar Silva sublinhou que “em política funcionamos com factos, com acontecimentos concretos e o que eu vejo é um PS em quebra, um PSD em quebra” e, questionado pelo Observador sobre um acordo pós-eleitoral, atirou: “Vamos fazer um acordo com o PS para quê?” E sugeriu que o PS não vai vencer, não só porque está em “quebra”, mas também porque “desbaratou “ uma maioria absoluta de António Costa. No fundo, o cabeça de lista não só está pouco esperançoso, como prefere manter a incógnita sobre o que fará no dia seguinte caso a coligação mantenha o representante na assembleia legislativa.

A postura do Bloco de Esquerda é bem diferente, até porque o partido fez parte da coligação liderada por Paulo Cafôfo na Câmara do Funchal, mas há linhas vermelhas bem mais sublinhadas: Roberto Almada antecipa que “com o CDS não é possível fazer entendimentos” e também a IL não serve. “Tudo à direita”, esclarece em declarações ao Observador, recordando que o CDS esteve de “braço dado com Miguel Albuquerque” e faz “uma campanha que parece que nem esteve no governo” e que “a IL ficou zangada e amuada porque Albuquerque não ligou na noite eleitoral”.

Comitiva do Bloco de Esquerda da Madeira numa ação de campanha centrada no tema da habitação

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Descrente sobre o que as políticas de direita podem conseguir mudar e que esses partidos sejam uma “alternativa” às políticas que Miguel Albuquerque tem aplicado na Madeira, Roberto Almada deixa uma certeza: “Conversaremos com toda a gente à esquerda que queira, porque pode haver quem não queira, efetivamente, construir um programa alternativo diferente do PSD, e como se sabe não é insistindo no mesmo remédio que a doença é curada.”

Um PAN desconfiado

Porém, há um partido — que não se coloca à esquerda ou à direita — com quem o Bloco de Esquerda recusa falar: o PAN, pelo menos “este PAN”. “O PAN, à primeira oportunidade que teve, foi entregar-se nos braços de Miguel Albuquerque. Que confiança podemos ter numa força política dessas?”, justifica o candidato bloquista.

A verdade é que Paulo Cafôfo, ao referir-se a todos, também incluiu o PAN, mas Mónica Freitas nem sequer parece próxima de aceitar um acordo com o PS naqueles termos. Está bem mais perto do PSD, ainda que recuse acordos de governo com Albuquerque. Ao Observador, revela que o líder do PS/Madeira “tem sido um bocadinho incoerente ao longo destas semanas, porque uma hora diz que não está disponível para dialogar com determinados partidos, outra hora já está disponível, parece que não sabe muito bem o que é que quer, a única coisa que nós temos a certeza que quer é chegar a governo”.

A deputada única do PAN que permitiu a Albuquerque governar com maioria refere que para chegar ao governo é “preciso maturidade e responsabilidade política”, que não considera que os socialistas tenham, já que Cafôfo “tem sido altamente crítico das medidas do PAN, embora curiosamente esteja a utilizá-las para fazer a propaganda política e por diversas vezes tenha dito que um voto no PAN é um voto no PSD”.

Mónica Freitas durante uma ação de campanha no centro do Funchal

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Depois de Albuquerque ter caído após o retirar de confiança do PAN, Mónica Freitas assegura que o partido será “sempre o fator de estabilidade”. E não vira as costas a novos entendimentos — não nos mesmos termos. Argumenta que o PSD não é uma linha vermelha, “mas continua a ser a mesma pessoa [a quem o PAN retirou a confiança política] a cabeça de lista e isso torna difícil para o PAN voltar a ter um acordo como teve até aqui”. Contudo, o PAN  está disponível para “fazer um trabalho responsável de avaliar os diplomas, de avaliar o programa de governo e de avaliar um orçamento e, desde que vá de encontro aos princípios e aos valores do PAN, [o partido está] disposto a viabilizar”.

À direita, Cafôfo tem pouca sorte

Depois do repto de Paulo Cafôfo para uma geringonça e um assumir de que pode dialogar com todos os partidos, os partidos à direita distanciaram-se. O Chega está excluído à partida pelo próprio PS, mas IL e CDS também não embarcam na ideia. Ao Observador, Nuno Morna contou que o líder do PS sabe que não vale a pela ligar-lhe para procurar qualquer tipo de entendimento. O cabeça de lista da IL acusa o PS de estar a fazer uma campanha em que mais parece que “encontrou petróleo na Chamorra”. “As palavras que se ouvem mais são subsídios, gratuitidade, dar, oferecer… Quando não se está a dar nada, não há almoços grátis, estas coisas têm um custo. E esse custo, Cafôfo não explica onde é que vai cortar para poder facultar isso”, afirma Nuno Morna.

Também José Manuel Rodrigues, candidato do CDS, acredita que “o PS não é alternativa, que não tem quadros e tem um conjunto de promessas que dois orçamentos não pagavam”, e também por isso “gostaria de ver a Madeira continuar a ser governada ao centro e à direita, e não com uma maioria de esquerda, muito menos com uma geringonça”.

José Manuel Rodrigues e a sua comitiva a distribuir propaganda eleitoral pelo Funchal.

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Na ambição de geringonça de Paulo Cafôfo até há uma preferência pela esquerda, mas o líder do PS/Madeira sabe as dificuldades que existem para “virar a página” na região e, ao admitir diálogo com todos os partidos além do PSD e Chega, procura aumentar o leque de probabilidades de, na noite eleitoral, conseguir 24 deputados que suportem um governo na assembleia legislativa. À direita falta-lhe a sorte e à esquerda, aparentemente, só o JPP sobe, pelo que é possível esperar uma grande mudança relativamente às últimas eleições para que o PS convença (quase) todos os partidos de que é o rosto da solução.

Albuquerque: “Se o PS faz acordos, e bem, com quem acha o Kim da Coreia democrata, vou eu ter limitações?”

 
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