O mar é um negócio de família. Há linhas de navegadores, militares, pescadores, piratas — e cartógrafos. E algumas das famílias de cartógrafos portugueses foram das melhores do mundo. Os cartógrafos nascidos e criados em Portugal foram cobiçados por imperadores, nomeados por reis e essenciais aos melhores cientistas da época.
Há nomes bem conhecidos dos portugueses, com destaque nos manuais de história e com direito a polémica séculos depois: afinal foi a circum-navegação de Fernão de Magalhães uma momento de glória português ou espanhol? Mas, por cada acontecimento histórico que vem nos exames das escolas, há milhares de caras que continuam desconhecidas.
É de uma mistura de personalidades desconhecidas e de figuras inevitáveis que se faz o mais recente livro de José António Rodrigues Pereira: “Homens do Mar — Os portugueses que se destacaram na história marítima de Portugal”, uma coletânea de 51 figuras que ajudaram a construir a relação elevada a mito de Portugal com o mar.
José António Rodrigues Pereira, no livro que sai a 16 de maio, publicado pela Esfera dos Livros, fala de Diogo Cão, D. Luís I, Gil Eanes e muitos outros. Nesta pré-publicação, mostramos os portugueses que deixaram o país, literalmente, no mapa. As famílias Reinel, Homem e Teixeira Albernaz, em colaboração ou à vez, mostraram que os cartógrafos portugueses estavam ao nível dos melhores do mundo.
Pedro e Jorge Reinel: o pai e filho que o Imperador Carlos V quis na corte
Pedro Reinel nasceu cerca de 1462, e deu início à segunda de quatro épocas ou escolas da cartografia portuguesa, definidas por Armando Cortesão. Teve a sua oficina em Lisboa e trabalhou para os monarcas D. João II, D. Manuel I e D. João III, como mestre de agulhas e de cartas de marear.
Pedro Reinel, que teria no seu filho Jorge um continuador da sua obra, marca a transição da cartografia portuguesa do século XV para o XVI. A sua obra reproduziu os avanços das viagens de descobrimento dos navegadores portugueses e da evolução científica da navegação, abandonando as concepções ptolemaicas do desenho das cartas.
Fernão de Magalhães e a história de uma viagem que Portugal tentou impedir
Pedro Reinel é o primeiro cartógrafo português de quem conhecemos a produção cartográfica porque foi o primeiro que assinou os seus trabalhos. A sua carta náutica de cerca de 1485 ainda é do tipo portulano; representando a costa ocidental do continente africano, apresenta já os resultados das viagens de exploração dos navegadores ao serviço de Fernão Gomes (1469 ‑1473) e da primeira viagem de Diogo Cão (1482‑ ‑1484), o que a torna uma referência histórica.
A obra cartográfica atribuída a Pedro Reinel é constituída por oito cartas: a carta náutica de c. 1504, assinada por Pedro Reinel, é a primeira carta náutica onde existe uma escala de latitudes e também a primeira que apresentou uma rosa‑dos‑ventos com a flor‑de‑lis indicando o Oriente. Seguiram‑se a carta de c. 1517, duas cartas de c. 1522 e uma carta de c. 1535, todas consideradas anónimas por não estarem assinadas.
Um documento, datado de 10 de Fevereiro de 1528, refere uma carta de mercê, em que D. João III concede a Pedro Reinel uma tença de 15 000 reais anuais. Faleceu em 1542, mas a sua obra foi continuada por seu filho Jorge.
Jorge Reinel nasceu em Lisboa cerca de 1502, filho do também cartógrafo Pedro Reinel, e foi um dos mais importantes cartógrafos portugueses. Das suas obras mais conhecidas destacamos: Oceano Índico (1510), carta actualmente na Biblioteca Herzog August em Wolfenbüttel; Planisfério (1519), desaparecido durante a Segunda Guerra Mundial do Arquivo de Munique; Oceano Atlântico (1540), a única assinada, actualmente na Biblioteca Nacional de Florença. O seu traçado mostra, com rigor, o conhecimento geográfico da época.
O período dos descobrimentos tinha já acabado e o conhecimento do litoral dos chamados Novos Mundos estava suficientemente estudado. O que agora preocupava o monarca português, D. João III, não era o envio de expedições em busca de novas terras, mas encontrar um processo para garantir a posse das que já se conheciam.
Estas preocupações reflectiram‑se também na cartografia e a carta de 1540 tem desenhadas pequenas bandeiras para afirmar a soberania de Portugal relativamente a numerosas parcelas da costa africana e do litoral Nordeste do Brasil.
D. João III concedeu‑lhe, por carta de mercê de 10 de Fevereiro de 1528, uma tença anual de 10 000 reais. Jorge Reinel aparece também como assistente de Pedro Nunes nos exames para mestres de cartas de marear, a que se submeteram os cartógrafos António Martins (1563), Bartolomeu Lasso e Luís Teixeira (1564). Também nos Livros de Verea‑ ção da Câmara Municipal de Lisboa, existem dois autos de ajuramentação, datados de 29 de Agosto de 1551 e 29 de Novembro de 1554, em que surgem Jorge Reinel e Lopo Homem como exemjnadores darte de navegar.
Em 1519, na sequência de uma contenda com o padre Pedro Enes, o cartógrafo refugiou‑se em Espanha, tendo vivido em Sevilha, onde, segundo parece, terá continuado a trabalhar na sua profissão. Seu pai deslocou‑se àquela cidade para o trazer de volta a Portugal, mas antes teve de o auxiliar a terminar algumas cartas que Jorge se tinha comprometido a executar para a expedição de Fernão de Magalhães. Estes factos são confirmados pela carta, de 18 de Julho de 1519, enviada a D. Manuel I pelo feitor português em Sevilha, Sebastião Álvares, onde se afirma que «… a terra de Maluco eu vy asentada na poma e carta que ca fez o filho de Reynell, a qual nõ era acabada quando caa seu pay veo por ele, e seu pay acabou tudo e pos estas terras de Maluco e per este padram se fazem todalas cartas…».
Bartolomé Leonardo de Argensola, citado por Armando Cortesão e Teixeira da Mota, também se refere ao facto de Magalhães, a fim de obter o apoio de Carlos V para a sua viagem, ter utilizado “vn Planisferio dibujado por Pedro Reynel“, no qual as Molucas estariam representadas a leste da linha de demarcação estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e Espanha, portanto dentro do hemisfério espanhol.
Os Reinéis foram considerados os melhores cartógrafos do seu tempo, ao ponto de o imperador Carlos V os querer a trabalhar na sua corte. Em 1524, durante as negociações da chamada Junta de Badajoz-Elvas, ofereceram‑lhes, para esse efeito, uma avultada quantia, conforme Diogo Lopes de Sequeira e António de Azevedo Coutinho informaram D. João III, em carta datada de 9 de Junho de 1524. Mas os dois cartógrafos mantiveram‑se ao serviço de Portugal. Jorge Reinel faleceu, com 70 anos de idade, em 1572. A chamada Escola dos Reinéis, assegurou à família Reinel um lugar importante na cartografia portuguesa pelo rigor, pela qualidade técnica e pelo valor artístico das suas cartas.
Lopo, Diogo e André Homem: a família encarregue de resolver o Tratado de Tordesilhas
Lopo Homem foi o cartógrafo a quem, em 1517, o monarca D. Manuel I atribui, por alvará, o privilégio de fazer e reparar todas as agulhas dos navios. Outra pessoa que executasse essa tarefa teria de pagar, a Lopo Homem, vinte cruzados.
Em 1524, D. João III renovou o alvará de 1517 e nomeou‑o para participar na Junta de Badajoz‑Elvas, comissão estabelecida pelos monarcas de Portugal e Espanha para tentar demarcar os limites a oriente do Tratado de Tordesilhas, sobre cuja posição exacta não havia acordo entre os dois Estados, dando origem à chamada Questão das Molucas. Este diferendo seria resolvido pelo Tratado de Saragoça, em 1529.
Em 1531, foi‑lhe atribuída uma tença vitalícia de 20 000 reais, aumentada, no ano seguinte em mais 5000. A obra mais antiga que se conhece deste cartógrafo é um planisfério desenhado em 1519. O mapa encontra‑se rodeado pelos quatro ventos, nos cantos, e tem uma nomenclatura, em latim, muito escassa; em África estão identificadas apenas a Líbia, a Etiópia e a Guiné. A América é identificada como Mundus novus Brazil, e apresenta‑se ligada à Ásia por um continente imaginário identificado como Mundus Novus.
Além desta, destacam‑se ainda as seguintes obras de sua autoria:
- Terras Brasilis (1519), mapa integrado no chamado Atlas Miller e atribuído a Lopo Homem e aos Reinéis. É uma carta manuscrita, sobre pergaminho, apresentando uma nomenclatura em latim muito detalhada (mais de 146 nomes); mostra‑nos toda a costa do Brasil, desde o Maranhão até ao Rio da Prata. Este mapa destaca‑se pelos detalhes do território, menos de vinte anos depois da sua descoberta.
- O Atlas Miller onde se integra este mapa, também conhecido por Atlas Lopo Homem-Reinéis, é uma obra constituída por dez cartas ricamente ilustradas desenhadas cerca de 1519. É um trabalho conjunto dos cartógrafos Lopo Homem, Pedro Reinel e Jorge Reinel, ilustrado por António de Holanda. Estão ali representados o oceano Atlântico Norte, a Europa do Norte, o arquipélago dos Açores, Madagáscar, o oceano Índico, a Insulíndia, o mar da China, as ilhas Molucas, o Brasil e o mar Mediterrâneo. Terá sido oferecido por D. Manuel I ao monarca francês Francisco I.
- Planisfério (1524).
- Carta Marítima (sem data). Pertenceu ao rei D. Carlos.
Foi pai do cartógrafo Diogo Homem e faleceu em 1565.
Diogo Homem nasceu em 1520 ou 1521 e, ainda muito novo, cometeu um crime de homicídio, pelo que foi condenado a uma pena de degredo numa praça de Marrocos. Fugiu para Inglaterra e parece que nunca mais regressou ao Reino, apesar dos esforços do seu pai para que lhe fosse concedido um perdão.
Diogo Homem foi um cartógrafo de grande qualidade técnica e artística e produtor de numerosos atlas e cartas‑portulano. O seu portulano, desenhado c. 1566 é, possivelmente, a sua obra de maior interesse. Existe também um portulano de 7 cartas datado de Veneza, 1572.
A sua obra cartográfica foi produzida, maioritariamente, entre 1556 e 1576 e dela se destaca o chamado Atlas de Diogo Homem, com 29 cartas manuscritas em pergaminho iluminado. Este magnífico exemplo da cartografia náutica do século XVI, datado de 1556, é uma das mais brilhantes obras deste cartógrafo. Dele são conhecidas ainda as seguintes cartas:
- América Meridional (1558), exibe a América do Sul e as Antilhas.
- América do Sul (1558), caracteriza‑se pela grande imprecisão do traçado da região Sul do Brasil que está muito estendida para leste. Encontram‑se assinalados o mar das Antilhas, o Peru, a Argentina, a Terra dos Incas e o estreito de Magalhães.
- América do Sul II (1568), é constituída por duas folhas. Tem uma inscrição Mvndnvs, que significa Mundo Novo, e designa a América do Sul. As outras legendas referem‑se a Brasilis e Terra Argentea, a primeira com as armas de Portugal e a segunda com as armas de Castela.
- América do Sul III (1568), apresenta‑nos um escudo e duas bandeiras com as armas de Castela indicando o domínio espanhol sobre a região ocidental daquele continente. Da costa do oceano Pacífico apresenta já as posições espanholas situadas entre o actual México e o Chile, bem como as posições da região dos Andes e da bacia do Rio da Prata. Está ainda representada a cordilheira dos Andes e o sinuoso rio Amazonas.
A carta de Diogo Homem, de 1557, é a mais antiga carta portuguesa assinada e datada que se conhece. Diogo Homem faleceu em 1576 e foi, ao que se julga saber, o mais produtivo de todos os cartógrafos portugueses ou, pelo menos, aquele de quem se conhecem maior número de trabalhos.
André Homem foi outro cartógrafo português de cuja vida pouco se sabe. Pensa‑se que poderá ser irmão (ou primo) de Diogo Homem. Sabe‑se que esteve em Paris em 1565 e em Londres dois anos depois.
A “Universa ac Navigabilis Terrarum Orbis Descriptio“, confeccionada sobre pergaminho, em 1559, para o soberano de França, é a sua obra mais conhecida. Uma carta deste cartógrafo, datada de 28 de Fevereiro de 1565, e endereçada ao embaixador de Portugal em Paris, continha um planisfério que foi muitas vezes citado nas discussões sobre limites entre o Brasil e a Guiana Francesa para favorecer as posições francesas.
Museu dos Descobrimentos tem de mostrar os “aspetos mais e menos positivos, incluindo a escravatura”
Texeira de Albernaz: os irmãos que desenharam os Açores
Esta família de cartógrafos portugueses iniciou‑se com Pero Fernandes e continuou com Luís Teixeira, a que se seguiram os seus filhos, João Teixeira Albernaz (I) e Pedro Teixeira Albernaz. Além de Estêvão Teixeira, integra também esta família João Teixeira Albernaz (II), neto do seu homónimo. A actividade desta família exerceu‑se de meados do século XVI até ao final do século XVII.
Pero Fernandes terá nascido na primeira metade do século XVI e foi nomeado mestre de fazer cartas de marear, em 23 de Maio de 1558. Apenas se conhecem duas obras suas:
- Uma carta de 1525, representando a Europa Ocidental e o Norte de África.
- Uma carta de 1528, representando o Atlântico Sul até ao Reino do Congo.
Pertenceram ao espólio da Sächsische Landesbibliothek de Dresden e foram destruídas durante os bombardeamentos dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.
Pero Fernandes teve três filhos: Domingos Teixeira, Luís Teixeira e Marcos Fernandes, todos cartógrafos. Domingos Teixeira exerceu a sua actividade na segunda metade do século XVI. Teve um filho, Pero Lemos, também cartógrafo.
Pouco sabemos da sua actividade, mas o Livro de Lançamentos da Câmara de Lisboa refere‑se a um Domingos Teixeira que, em 1565, fazia cartas de marear. A relação da viagem da nau São Pantaleão, em 1595, refere que as cartas que existiam a bordo tinham sido desenhadas pelos irmãos Luís e Domingos Teixeira, o que nos leva a concluir que os dois irmãos trabalhariam juntos.
São conhecidas, apenas, duas cartas da sua autoria: A Carta Atlântica, sem data, da Biblioteca de Bodlein, em Oxford; O Planisfério de 1573, da Biblioteca Nacional de França, em Paris.
Luís Teixeira é o mais ilustre representante desta família, pois os seus trabalhos apresentam, além de uma qualidade superior e pormenores excepcionais, um estilo muito próprio. Ao nível internacional, colaborou com Abraham Ortelius no Theatrum Orbis Terrarum. Considera‑se que este cartógrafo fundou, na segunda metade do século XVI, uma nova escola de cartografia. Foi pai de João Teixeira Albernaz e Pedro Teixeira Albernaz, também cartógrafos.
A sua carta de ofício foi passada a 18 de Outubro de 1564, permitindo‑lhe desenhar cartas de marear, construir instrumentos náuticos e fazer regimentos de altura e declinação do Sol.
As suas qualidades proporcionaram‑lhe grande fama no Norte da Europa, onde foram publicadas e vendidas muitas cartas de sua autoria. Em 1569, foi nomeado para fornecer, aos navios da Coroa, todas as cartas e instrumentos náuticos que fossem necessários.
São conhecidos 15 mapas de sua autoria, que não correspondem, de modo nenhum, à totalidade dos seus trabalhos; foi pioneiro na cartografia das ilhas dos Açores.
Enumeram‑se alguns dos seus mais importantes trabalhos: Roteiro de todos os sinais, conhecimentos, fundos, baixos, alturas, e derrotas que há na costa do Brasil desde o cabo de Santo Agostinho até ao estreito de Fernão de Magalhães, elaborado entre 1573 e 1578, e actualmente na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa; Fragmento de Planisfério, c. 1586, que se encontra no Museu de Marinha de Lisboa; Carta do Japão, publicada em 1595.
Domingos Teixeira manteve intensos contactos com cartógrafos holandeses, como Jodocus Hondius e Abraham Ortelius, com quem contactou desde 1582.
Numa carta datada de 2 de Fevereiro de 1592, Teixeira enviou a Ortelius duas peças com as descrições da China e Japão, cujas fontes foram possivelmente os trabalhos dos jesuítas. Apareceram na Holanda várias gravuras com cartas de sua autoria. Uma delas foi a carta da Guiné, de 1602, que apresenta, como originalidade, a representação do interior da Senegâmbia e da Costa do Ouro.
Marcos Fernandes, filho de Pero Fernandes, teve carta de ofício datada de 1592.
João Teixeira Albernaz conhecido também como João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira Albernaz, o Velho, para o distinguir do seu neto e homónimo, é um dos cartógrafos de quem se conhecem mais obras publicadas.
Nasceu em Lisboa no último quartel do século XVI, filho do cartógrafo Luís Teixeira, e faleceu cerca de 1662. São conhecidos 19 atlas da sua autoria, totalizando 215 cartas. Apresenta nos seus trabalhos uma variedade enorme de temas, de que se destacam as explorações marítimas, terrestres e fluviais do Brasil.
Terá aprendido a arte da cartografia com seu pai Luís Teixeira e iniciado os seus trabalhos já no século XVII. Recebeu Carta de Ofício de mestre em fazer cartas de marear, astrolábios, agulhas e balestilhas, a 29 de Outubro de 1602, sendo seu examinador o cosmógrafo‑mor do Reino João Baptista Lavanha. Em 1605, foi nomeado cartógrafo do Armazém da Guiné e Índia (também chamada Casa da Mina e Índia), onde trabalharia até ao final da sua vida.
No Arquivo das Índias, em Sevilha, existem documentos que comprovam a sua presença em Madrid, juntamente com o seu irmão Pedro, e a execução de cartas náuticas representando o estreito de São Vicente e o estreito de Magalhães. Numa relação da viagem dos irmãos Bartolomeu e Gonçalo Nodal à América austral, consta uma carta de Pedro desenhada com a colaboração de João.
Em 1622, o cartógrafo apresentou uma petição para ser provido no lugar de cosmógrafo‑mor, mas foi preterido a favor de Valentim de Sá, com quem, no ano seguinte, viria a colaborar como membro do júri que passou a Carta de Ofício a João Baptista de Serga.
A obra de João Teixeira Albernaz é de grande interesse pela sua amplitude, variedade e pelo assentamento das explorações portuguesas nomeadamente no Brasil. A obra está reunida em 19 atlas, um conjunto de quatro cartas, duas cartas isoladas e uma outra incluída num atlas de origem diferente. Existem ainda oito cópias de dois dos seus 19 atlas, num total de 215 cartas, e mais duas cartas gravadas.
Pedro Teixeira Albernaz (c. 1595‑1662) nasceu em Lisboa, tendo desenvolvido a sua actividade maioritariamente em Espanha, para onde partiu em 1619, com seu irmão João, a fim de cartografarem os locais que constavam da relação de viagem dos irmãos Nodal.
João Teixeira Albernaz regressou a Portugal, como já vimos, e Pedro permaneceu em Madrid, onde viria a falecer em 16629. A sua produção cartográfica que chegou até à actualidade é muito escassa, mas sabe‑se que terão desaparecido numerosas cartas deste cartógrafo.
Dedicou‑se especialmente a executar levantamentos topográficos, julga‑se que por influência de João Baptista Lavanha (1555‑1624), cosmógrafo‑mor e professor de Matemática de D. Sebastião e do príncipe e futuro rei de Espanha D. Filipe IV.
Das cartas desaparecidas, referiremos uma que continha a representação do delta do rio Amazonas e outra, em várias folhas, com a descrição das costas de Espanha; desta existem várias cópias da sua descrição, mas sem as cartas. Em 1623 fez parte, como seu irmão João, do júri de exame a João Baptista de Serga.
João Teixeira Albernaz II foi um cartógrafo português do século XVII, neto e sucessor do outro cartógrafo com o mesmo nome. Pouco ou nada se sabe da vida deste cartógrafo e, por vezes, os seus dados são confundidos com os do seu avô.
Manuel Pimentel indica que João Teixeira Albernaz II é neto de Albernaz I, afirmando também que fazia cartas com perfeição. Sabemos igualmente que ainda se encontrava vivo em 1699.
Na sua obra, é patente a influência que recebeu do seu avô, que foi o seu mestre, mas os traçados das letras e as iluminuras são menos rigorosas. Os Atlas do Brasil repetem, embora com alguns progressos, os que o seu avô tinha desenhado, mas possuem o mérito de terem influenciado a cartografia holandesa daquela região. A sua obra considerada mais importante é o Atlas de África de 1665, trabalho único no género, que terá sido encomendada por um francês, o que mostra a procura e o valor que a cartografia portuguesa tinha, ainda nessa época, no estrangeiro. Uma das suas cartas foi usada na Conferência de Badajoz (1681), a propósito da questão da Colónia do Sacramento, afirmando os seus membros que João Teixeira Albernaz II era conhecido em toda a Europa, razão pela qual foi por todos escolhida uma das suas cartas.
É bastante vasta a sua produção cartográfica, sendo o cartógrafo de que chegaram maior número de cartas até à actualidade. Para além das cartas isoladas, vários Atlas são da sua autoria. Os três Atlas do Brasil que lhe são atribuídos são muito semelhantes, abrindo com uma carta geral, a que se seguem depois as particulares, e utilizam, genericamente, o padrão desenhado por seu avô, João Teixeira Albernaz I.