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Albuquerque e Calado, lado a lado
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Albuquerque e Calado, lado a lado

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Albuquerque e Calado, lado a lado

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Resultado curto abre guerra à sucessão de Albuquerque. Pedro Calado na pole position já sofre ataques internos

Segunda vitória consecutiva sem maioria retira margem a Miguel Albuquerque para ir a um quarto mandato. A pensar em 2027, as guerras internas já começaram no PSD-M. Calado é o "sucessor natural".

O resultado mais curto do que o esperado reduziu a margem de Miguel Albuquerque para ir a um quarto mandato e acelerou a guerra pela sucessão no PSD/Madeira. O presidente da câmara do Funchal, Pedro Calado, é, para vários dirigentes do PSD-M ouvidos pelo Observador, o “sucessor natural“. Mas já está a ser alvo de ataques de fações de outros potenciais candidatos ao lugar em 2027. O jogo começou.

Miguel Albuquerque tenta manter-se acima desta luta — e diz que não revela quando sai para não fomentar conflitos internos —, mas a frente anti-Calado tenta arrastá-lo para uma guerra com o presidente da maior autarquia da Madeira. E Calado, pelo seu lado, também vai tentando fazer a emancipação que pode de Albuquerque para se preparar para o próximo ciclo.

No day after das eleições, o ataque a Pedro Calado foi feito em duas frentes: na ida de Luís Montenegro à campanha e na quebra de resultados da coligação ‘Somos Madeira’ no Funchal, onde o presidente da câmara é também o presidente da concelhia do PSD/Funchal.

Apesar de Miguel Albuquerque ter dito publicamente que combinou diretamente com Luís Montenegro a ida à Madeira (o que o presidente do PSD também confirmou), há dirigentes do PSD/Madeira que negam. Dizem que foi uma “armadilha” de Pedro Calado e que o autarca quis deixar o presidente do governo regional sem outra opção senão a de receber o líder nacional.

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Há, desde logo, um acontecimento estranho que marcou a reta final da campanha. A derradeira arruada prevista na agenda do PSD/Madeira no início da semana para as 17h00 no Funchal não aconteceu. Em alternativa, realizou-se apenas um passeio de Albuquerque e Montenegro de algumas centenas de metros no centro da cidade. Sem apoiantes, sem bandeiras, sem qualquer cântico partidário.

A segunda linha de ataque é a quebra de votos no Funchal, com os membros da estrutura do PSD/M anti-Calado a responsabilizarem o presidente da concelhia pela perda da maioria absoluta na região. A lógica dos dirigentes opositores de Calado é a seguinte: a coligação PSD/CDS perdeu 3.462 votos no Funchal relativamente ao resultado obtido pelos dois partidos em 2019, que seriam suficientes para eleger o 24º deputado e alcançar a maioria absoluta. Além disso, relativamente às autárquicas de 2021, quando Calado conquistou a autarquia, a quebra é de 4.429 votos, o que daria confortavelmente a maioria a Miguel Albuquerque nas regionais de domingo. A conclusão que estes dirigentes tiram é: Calado não se empenhou na campanha.

A leitura também é vantajosa para Albuquerque, que assim podia justificar o resultado aquém do esperado. Mas, ao contrário do que estava a circular nos bastidores do PSD, Pedro Calado não foi, no entanto, afastado das negociações para a formação do novo governo. O presidente da câmara do Funchal fez parte da comitiva que esteve, esta terça-feira de manhã, reunida com o PAN no hotel Savoy, no Funchal.

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Mas, afinal, quem são os opositores de Calado? Para os apoiantes do atual presidente da câmara do Funchal tratam-se de outros potenciais sucessores de Albuquerque: o secretário regional do Turismo madeirense, Eduardo Jesus, e o presidente da autarquia de Câmara de Lobos, Pedro Coelho, que terão as mesmas ambições: as de um dia liderarem o governo regional. Pedro Coelho é um jardinista, a quem o antigo presidente se juntou com pompa e circunstância no último dia de campanha eleitoral. O antigo secretário-geral do PSD/M, Rui Abreu, e o atual secretário-geral PSD/M, José Prada, também fazem parte do grupo que quer evitar uma sucessão natural de Pedro Calado.

Os apoiantes de Calado contra-atacam e dizem que o resultado na concelhia de Pedro Coelho acabou por ser, à proporção, pior. Isto porque a percentagem de votantes perdidos em Câmara de Lobos (1.274) é de 7,8%, enquanto a percentagem de votos perdidos no Funchal representa uma quebra de 6,2%. Além disso, a concelhia de Pedro Coelho foi aquela onde o Chega mais cresceu, tendo obtido 11,34% dos votos. Contas apresentadas de um lado e do outro, o que é certo é que o clima de guerrilha já começou.

Na pole position para a sucessão

No dia de reflexão, Pedro Calado sagrou-se campeão regional no Campeonato da Madeira Coral de Ralis, como co-piloto de Alexandre Camacho. Foi uma vitória que partilhou nas redes sociais, ao contrário da vitória do PSD na Madeira, da qual não há registo nas suas contas.

Apesar dos adversários internos, o presidente da câmara do Funchal segue na pole position para a sucessão de Miguel Albuquerque, desde logo por ocupar o segundo cargo político mais importante na região.

O antigo presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, disse na sexta-feira em entrevista ao Observador que “não se põe a questão da liderança” e que Pedro Calado “pode esperar“. Mas acrescentou: “É um bom sucessor“. Já Miguel Albuquerque, também em entrevista ao Observador dois dias antes, preferia não focar demasiado em Pedro Calado: “Temos várias pessoas preparadas. Ainda bem. E vamos continuar a preparar. O PSD Madeira soube renovar-se. Teve uma renovação fantástica. Hoje, sou o político mais velho no ativo.”

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Quanto ao momento da sucessão, Albuquerque diz que “todos os partidos têm pessoas com ambições” e que sabe que — “no dia em que disser” que se vai embora — “as ambições começam a emergir e há conflitos internos e instabilidade.” Por isso não diz quando sai. Mas Albuquerque — que sempre defendeu um limite de três mandatos — deixa uma garantia: “No dia em que anunciar que me vou embora tenho de arranjar condições para ter uma sucessão dentro do partido.”

Pedro Calado ganhou o estatuto de sucessor natural pelo percurso que fez, principalmente, a partir de 2017. Apesar de ter entrado como vereador na lista de Albuquerque em 2005, só chegaria a vice-presidente em 2012. Nas autárquicas de 2013, após Albuquerque atingir o limite de mandatos, Calado foi preterido e o partido escolheu Bruno Pereira para candidato à autarquia — que perderia a câmara para o PS e Paulo Cafôfo. Calado foi para o setor privado.

Albuquerque chegaria ao Governo regional em 2015 e, dois anos depois, foi buscar Pedro Calado para vice-presidente, ato que muitos atribuem às melhorias da governação registadas a partir da segunda metade do primeiro mandato. O então vice-presidente do Governo acabaria por sair para protagonizar uma das mais importantes vitórias do PSD-M nos últimos anos: a reconquista da câmara do Funchal, perdida para os socialistas ainda no reinado de Alberto João Jardim (em 2013).

Pedro Calado é igualmente um nome bem visto junto da atual direção nacional do PSD e a prova disso é que foi ele o número um da lista ao Conselho Nacional no Congresso que ocorreu a dois meses das eleições legislativas de 2022. Tem, no entanto, um fator que irrita os madeirenses mais puristas: nasceu em Lisboa. Apesar de viver há décadas na Madeira, Calado é “cubano” de berço — o que para autonomistas radicais é um handicap. O local onde nasceu não o impede, porém, de ter um discurso anti-Lisboa na hora de animar as massas madeirenses. Como fala e o que diz Calado?

Um Calado que fala para o povo: “Esses continentais”

O último grande comício das regionais foi no Funchal, na quinta-feira antes do ato eleitoral. Por ser líder concelhio, Pedro Calado falaria sempre, mas o discurso não foi de um mero dirigente local ou autarca. A mensagem, em linhas gerais, podia ser a de um candidato à liderança do Governo regional. Falou, aliás, mais tempo do que Miguel Albuquerque.

Pedro Calado começou por atacar os partidos que espreitavam entrar no Governo regional para avisar que “não é tempo de brincar aos partidos”. Na mesma linha de Albuquerque, pediu aos apoiantes do PSD para não confiarem em “sondagens” e não terem a postura “tranquila de pensar que está tudo ganho”. E deu o exemplo de José Manuel Bolieiro, numa surpresa que jogou a favor do PSD: “Nos Açores davam vantagens a pessoas e vimos o que aconteceu.”

Depois, puxou dos seus próprios louros para dizer que era preciso “repetir 2021 e derrotar o PS”, numa alusão à vitória que teve na autarquia há dois anos. E engrenou no ataque ao PS. Disse que “em Portugal” nos últimos 27 anos, 20 foram de socialismo e ficou provado que “não sabem governar”.

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E caso Paulo Cafôfo ganhar fôlego para voltar a candidatar-se em regionais (e ser um potencial adversário), Pedro Calado antecipou-se no ataque ao antigo presidente da câmara do Funchal: “Anda aí um senhor armado em caixeiro viajante [Cafôfo é secretário de Estado das Comunidades]. Os socialistas quando sentem uma dificuldade, é ir para Lisboa à procura de um tacho.”

Se Pedro Calado é “cubano”, não se notou. Perguntou: “Quando o PSD desenvolvia a Madeira, onde estavam esses continentais que nunca fizeram nada da vida?” Atirou-se também às forças políticas que só agora se dedicaram às regionais, referindo os “partidos que descobriram a Madeira há um mês. Que não sabem quantos concelhos tem a Madeira. Que não sabem os nomes dos concelhos. Não sabem nada da Madeira.”

O povo gostou e cantou: “Madeira livre, olé; Madeira livre, olé“. Ao mesmo estilo de Albuquerque, Pedro Calado não poupou o Governo da República: “Perguntem ao António Costa que veio em 2015 prometer o ferry, se o ferry está encalhado no porto de Lisboa. O Hospital de Lisboa Oriental está no papel, o nosso [Hospital da Madeira] está no ar”.

Apesar de ter sido acusado de forçar a presença de Montenegro, no dia antes da chegada do líder do PSD nacional, Pedro Calado atirou-se à presença de figuras nacionais dos partidos. “O que é que os líderes vêm aqui fazer?”, questionou.

Apelou ainda à “estabilidade governativa” que, dizia, só o PSD podia garantir. Isto porque, lembrou, o PSD/Madeira teve dois líderes (Alberto João Jardim e Miguel Albuquerque) e o PS “já vai no 12º líder” no mesmo período.

No ataque aos adversários políticos do PSD, Pedro Calado ainda se atirou ao Juntos Pelo Povo, dizendo que não podiam “deixar entrar malandros” no Governo, que “nem a família respeitam”. Falou num “irmão escorraçado” e num “tipo de gente que não pode estar aqui”. Aqui, leia-se, no poder.

No fim do discurso, enquanto fazia vês de vitória, com o braço de Albuquerque por cima dele, Pedro Calado não se mostrou particularmente caloroso e responsivo à abordagem do candidato, mas foi sorrindo e acenando. Ficou a fotografia para o futuro se um dia forem antecessor e sucessor.

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