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Roberto Roncon, médico intensivista do Hospital de São João: "Podíamos ter evitado aquilo a que estamos a assistir"

Roberto Roncon, coordenador de Medicina Intensiva do Hospital de São João, está para lá da linha da frente: mantém vivos doentes por vezes dados como perdidos. Fala em mau planeamento e em erros.

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Roberto Roncon, médico intensivista, diz sem rodeios: “Virou-se a página rápido demais e não se planeou”. Pioneiro em Portugal na utilização da técnica que a pandemia agora tornou famosa, a Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO), vive quase 24 horas por dia mergulhado nos casos e nos problemas da Unidade de Medicina Intensiva (UMI) do Hospital de São João, no Porto, onde coordena o Centro de Referência ECMO. É um dos médicos mais experientes a lidar com doentes Covid-19 — mas não só — em fim de linha. Foram já mais de 300 os casos que “lhe passaram pelas mãos”. E “acabo por conhecê-los a todos”, refere.

O professor de Fisiologia, da Faculdade de Medicina do Porto, não tem dúvidas de que a mortalidade não Covid-19 vai disparar para além destes meses de janeiro e fevereiro. Quando 70% ou 80% dos meios disponíveis estão alocados a uma doença, “nem quero imaginar as conclusões a que vamos chegar quando começarmos a analisar os doentes não-Covid. Sou otimista por natureza, mas nesse ponto de vista estou muito pessimista”.

Roberto Roncon confessa que está triste, cansado e envergonhado. Um médico alemão, amigo de longa data, perguntou-lhe o que se está a passar por cá. Na Alemanha viram as imagens de uma fila de 40 ambulâncias paradas à porta do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. O especialista aponta o dedo ao Governo e às autoridades de saúde pela falta de planeamento e pelo aliviar das restrições no Natal. Explica que o executivo apostou numa narrativa que “criou as condições para uma tempestade quase perfeita, para isto que está a acontecer”. É igualmente crítico em relação ao plano de vacinação contra a Covid-19, que classifica de “bagunçada”, em que, ninguém percebe muito bem o que está a acontecer”. E não poupa Francisco Ramos (a entrevista foi gravada antes de ser conhecida a demissão do coordenador da task-force) por trazer a “luta partidária para um âmbito que deveria estar muito acima disso.”

Estamos a gravar esta conversa às 18 horas de uma terça-feira. Como foi o seu dia?
É uma pergunta que tem uma resposta um bocadinho monótona neste último ano. Foi um dia passado no hospital. Trabalho numa unidade com 34 camas de cuidados intensivos, sendo que mais de metade dessas camas são de doentes em ECMO, que têm um extremo de gravidade e que precisam de um extremo de atenção. Estou com cansaço acumulado, porque ao fim destes meses todos a nossa capacidade de discernimento, às vezes, não é a mesma. Temos de pensar duas vezes antes de tomar algumas decisões. Temos sempre algum receio que o cansaço possa interferir no processo de decisão. A Covid-19 grave ou os extremos de gravidade, que são aqueles com os quais contacto, têm uma mortalidade significativa e nem todos os doentes respondem às abordagens terapêuticas que fazemos. Temos de saber lidar com aquilo que não corresponde às nossas melhores expectativas. Dir-lhe-ia que foi um dia como tantos outros.

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No arranque desta pandemia esteve três meses seguidos a trabalhar sem folgas. E agora?
Esse aspeto não merece grande relevância. Se o fiz, foi porque tive de o fazer…

Mas ajuda a perceber as necessidades.
Contam-se pelos dedos os dias em que não estou no hospital, mesmo ao fim de semana. Nas raras vezes em que não estou escalado tenho a preocupação de me incluir nas escalas. Os cuidados intensivos e o ECMO são, provavelmente, as áreas mais desprotegidas, ou seja, em que há menor intensidade de recursos humanos e em que poderá haver maior descontinuidade de cuidados. Tenho uma grande preocupação de assegurar esses fins de semana e feriados com algum receio de que se possa perder alguma continuidade nos cuidados. Quando não estou no hospital estou sempre em contacto com os colegas que estão. Não o faço porque seja muito necessário ou porque acrescento muito valor, não. Tem a ver com outro aspeto que para mim é ainda mais importante, é estar ao lado de quem trabalha.

Estou com cansaço acumulado, porque ao fim destes meses todos a nossa capacidade de discernimento, às vezes, não é a mesma. Temos de pensar duas vezes antes de tomar algumas decisões. Temos sempre algum receio que o cansaço possa interferir no processo de decisão.

Porque tem sido exigido muito às equipas que estão na linha da frente?
Como é evidente. Agora, que já não é tão notório e já não é novidade [o muito trabalho], é nestas fases que surge o desânimo, o desencantamento, porque alguns dos resultados não vão na linha daquilo que esperávamos. Claro que ainda vamos tendo enormes alegrias, mas sentimos mais as derrotas. O professor Walter Osswald tem uma frase que diz muito daquilo que acredito que deve ser o espírito de missão: ‘Para ser é preciso estar’. Se não estivermos acabamos por não ser. Tenho sempre esta perspetiva e não digo que é diferente da dos outros, mas sinto que faz parte das minhas atribuições de coordenador do Centro de Referência de ECMO e também da UMI estar presente, solidarizar-me, sobretudo, quando as coisas não correm bem, quando é preciso dar más ou notícias mais tristes às famílias. Não estou a dizer que consigo sempre fazê-lo da forma mais perfeita, mas, pelo menos, tento e acho que o facto de tentar já não é mau.

É um dos médicos com mais experiência em Portugal na área Covid-19. Tem ideia do número de doentes que já viu?
Sim. Sou das mais pessoas com mais experiência nos doentes mais graves. Há médicos que viram muitos mais doentes do que eu com Covid-19, mas não com tanta gravidade. Fruto de ser coordenador de uma unidade que ficou com essa missão, e ter a cargo o ECMO, acabei por contactar com um número muito, muito significativo destes doentes em extremos de gravidade. Isso dá-me alguma experiência. Não diria que me dê grande conhecimento, mas alguma experiência e uma pequena sabedoria para saber aquilo que não devo fazer. Foram mais de 300 doentes, que já passaram pela unidade e pelas minhas mãos. Acabo por conhecê-los a todos, esforço-me por conhecer os detalhes e é um número muito significativo.

Ouça aqui a entrevista íntegra.

A gestão de uma pandemia não deve ser feita a reboque de uma fila de ambulância.

Agosto terá sido o período mais calmo e controlado da pandemia em Portugal. Se fizermos uma comparação entre o momento que estamos a viver e o verão, quais são os rácios médico/doente na sua unidade?
Essa é uma pergunta de extrema importância, porque a resposta explica o facto de eu considerar que, neste momento, e apesar de todos os constrangimentos, não estamos em catástrofe ou em caos completo. Pelo menos, até agora, temos conseguido na minha unidade manter rácios médico/doente e enfermeiro/doente dentro daquilo que é o aceitável.

E o que é o “aceitável”?
É ter um médico para cada 12 doentes no período noturno. No diurno, um médico para cada 6 doentes e nas manhãs, um médico para cada 3 doentes. Claro, aos fins de semana é um pouco mais difícil, mas tentamos sempre equilibrar e arranjar estratégias de equilíbrio.

E apesar da pressão tem conseguido manter esse rácio?
Sim, mas atenção: isto não é o ideal. Estamos a contar com muitos profissionais que estão numa fase de início de carreira e que foram incluídos há pouco tempo. Não é expectável que tenham o mesmo grau de autonomia e experiência. Isto não é uma crítica, é uma constatação de um facto. Todos nós tivemos as mesmas dificuldades, mas é um contexto mau para começar. Por outro lado, contamos com especialistas de outras áreas, nomeadamente anestesiologia, que são excelentes profissionais com imensos conhecimentos, mas estão a sair da sua zona de conforto, da sua especialidade e têm a generosidade de nos ajudar. Isso obriga a uma grande adaptação. Exige um esforço gigantesco de reorganização e de criação de novas rotinas, que, do meu ponto de vista, têm sido bem sucedidas. Mas temos de ser práticos e temos de dizer a verdade: não é a situação ideal, não é o contexto ideal. E claro, estamos no limite e o problema é que já estamos cansados. Este esquema funcionava muito bem se fosse de curto prazo, como aconteceu na primeira vaga; esta segunda já vai em meio ano. Legitimamente, as pessoas estão cansadas, querem voltar àquilo que era o seu dia-a-dia, à sua rotina e isso não tem sido possível.

E nem se sabe quando é que isso poderá acontecer?
Ninguém sabe. A minha unidade tem 22 camas, o que são imensas. Estamos a falar de camas de nível 4. As pessoas estão habituadas a falar de nível 2, nível 3.

Nível 4, em quantos?
É uma forma, se quiser, jocosa. Detesto a designação nível 2 ou 3. Do meu ponto de vista, o doente ou é crítico ou não é crítico. Essa distinção para mim não faz tanto sentido. Porém, é uma designação que está consagrada e não vou discuti-la. Para “brincar” costumo dizer que a nossa unidade é de nível 4, porque temos os doentes que não respondem aos tratamentos que são oferecidos nas unidades de nível 3.

Temos o ECMO, as bombas ventriculares, as bombas micro axiais, suporte circulatório mecânico. São estratégias de suporte orgânico artificial, que vão para lá daquilo que é oferecido nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) polivalentes gerais. E neste momento, temos um grande aumento de procura do lado do ECMO, por isso é que a questão dos recursos humanos é tão sensível. No fundo, tenho os rácios que os outros têm, mas tenho doentes (em média) muito mais graves. Temos imensa boa vontade, gosto em ajudar e imenso brio profissional, mas é algo que acaba por ser muito português: sermos penalizados pelo nosso bom desempenho.

Não estou a dizer que haja aqui alguma má fé, nada disso. Estou a dizer que na prática acabamos por dar resposta a doentes mais graves, mas, fruto de uma série de circunstâncias, em que a pandemia também não ajuda, temos tido um aumento da procura desses doentes ainda mais graves e não temos as condições de recursos humanos que noutros países são alocadas a este tipo de unidade. Isso cria uma dificuldade adicional — compreendemos — que no contexto da pandemia não seja possível resolver, mas explica algum do cansaço acumulado.

Um profissional de saúde prepara um instrumento de Oxigenação por Membrana Extracorpórea no Hospital São João, Porto.

Leonel de Castro/Global Imagens

E até que ponto essa sobrecarga prejudica a assistência aos doentes?
Isso não é matéria de opinião, é de facto. Só vamos conseguir quantificar tudo isso daqui a uns meses. Nem quero imaginar as conclusões a que vamos chegar quando começarmos a analisar os doentes não Covid. Sou otimista por natureza, mas desse ponto de vista estou muito pessimista. Quando alocamos a uma patologia única 60% a 70% da capacidade instalada, por exemplo em cuidados intensivos a nível nacional, isso diz muito, porque as outras doenças não deixaram de existir. Claro, podem dizer que há menos trauma, porque há menos sinistralidade rodoviária fruto do confinamento e isso aceito como argumento válido, mas não deixou de existir doença renal crónica, doença oncológica, doença cardiovascular… Estou triste, tenho de o reconhecer. Porquê é que é importante resolver esta crise depressa? Não é só por questões económico-sociais é também por questões de saúde publica não Covid-19.

E estes números da mortalidade…
Excesso de mortalidade.

Estes números de excesso de mortalidade a que temos assistido entroncam nisso que está a referir?
Sim, mas acho que vamos ter consequências e não só no excesso de mortalidade em janeiro ou fevereiro. Não estou a dizer isto por demagogia nem por alarmismo, não é matéria de opinião, é matéria de facto. Estes números vão ser analisados, trabalhados e publicados, porque são factuais. Acho que muitas dessas consequências vão para lá de janeiro e fevereiro. A patologia com mortalidade pode não ser hiperaguda. Só que, se alguns atos cirúrgicos não forem efetuados em tempo útil, o prognóstico vai piorar e isso vai resultar num excesso de mortalidade.

“A variante inglesa não é um exclusivo de Portugal, não explica tudo que está a acontecer”

Nem quero imaginar as conclusões a que vamos chegar quando começarmos a analisar os doentes não Covid. Sou otimista por natureza, mas desse ponto de vista estou muito pessimista. Quando alocamos a uma patologia única 60% a 70% da capacidade instalada, por exemplo em cuidados intensivos a nível nacional, isso diz muito, porque as outras doenças não deixaram de existir.

Como é que chegámos aqui?
Em primeiro lugar temos de ser diretos, frontais e verdadeiros: chegámos aqui, porque existe uma pandemia. A Covid-19 não é um problema português, começou a ser português e isso é que é mau. Tenho dificuldade em aceitar aquilo a que estamos a assistir neste momento, sobretudo, aquilo que está acontecer na terceira vaga, até mais do que na segunda, em que já foi bem patente a questão de falta de planeamento, a falta de capacidade de resposta e de articulação entre o setor privado, social e o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que ficou muito aquém daquilo que poderia ter sido efetuado. Esta questão da terceira vaga diz muito daquilo que é a nossa portugalidade. Somos excelentes no impulso inicial, na solidariedade, generosidade e tudo isso sentiu-se na primeira vaga, mas depois aconteceu algo que infelizmente é muito português: virou-se a página rápido demais e não se planeou. Claro, que dizer isto pode ser demagógico, porque obviamente houve planeamento.

O Governo acha que esse argumento é demagógico?
Reconheço que dizer ‘não se planeou’ é demagógico, aqui não divergimos. Mas também há aquilo que acho que não é demagógico e que deve merecer a nossa reflexão — e volto a insistir, este é o tempo de salvar vidas, não é um tempo de guerrilha partidária, de discussões políticas, de discutir a lei de bases da saúde, não é nada disso. No entanto, há coisas que devemos dizer porque podem interferir no imediato da perceção da realidade. A terceira vaga está a ter uma expressão que não é a mesma em todos os países da Europa. Estamos a ter uma terceira vaga que está a tocar mais fundo e a ter consequências piores. A variante inglesa não é um exclusivo de Portugal, não explica tudo que está a acontecer. Temos de ter esta frontalidade e abertura, senão não vamos ter a firmeza para definir uma nova estratégia. E penso que foi isso que faltou.

Mas o que é que devia ter sido feito e não foi, nomeadamente no verão?
Há imensa coisa que podia ter sido feita de uma forma melhor, mas todos têm direito a errar. É mais fácil comentar a posteriori. Não vou entrar nesse tipo de discussão, porque acho que não é justa nem correta. Da mesma maneira que fui um dos principais críticos (e eu não sou ninguém) ao dizer o que pensava sobre o ‘milagre português’, que achei um disparate completo, nomeadamente, em termos de comunicação. E também discordei da fanfarra que foi o lançamento da campanha de vacinação para o SARS-Cov2. Podia criar e criou, juntamente com uma série de medidas menos restritivas durante a quadra natalícia, que se estendeu até ao final do ano, uma descompressão de uma sociedade cansada da pandemia, que deu no que deu. Nem todos os países da Europa fizeram isto, podia-se ter escolhido um caminho diferente. A Alemanha não seguiu este caminho.

Tenho dificuldade em aceitar aquilo que está acontecer na terceira vaga, até mais do que na segunda, em que já foi bem patente a questão de falta de planeamento, a falta de capacidade de resposta e de articulação entre o setor privado, social e o Serviço Nacional de Saúde, que ficou muito aquém daquilo que poderia ter sido efetuado. Esta questão da terceira vaga diz muito daquilo que é a nossa portugalidade.

A ‘abertura’ no Natal foi um erro?
Para responder a essa pergunta desafio os leitores a rever o discurso que a chanceler Merkel fez na Bundestag antes do Natal. Aquele discurso representa tudo aquilo em que acredito. Foi verdadeiro, frontal, com base científica, sem instrumentalização dos dados, assumindo as responsabilidades políticas e dizendo a verdade. Antecipou. A boa governação, em termos de pandemia, avalia-se pela capacidade de antecipar, porque se formos a reboque, os resultados são sempre piores. O Governo, quando criou a narrativa que um segundo confinamento era algo de absolutamente impensável, que devíamos evitar a todo o custo, criou as condições para uma tempestade quase perfeita, para isto que está a acontecer. As mesmas medidas que foram tomadas agora, se tivessem sido tomadas antes da fase menos controlada teríamos conseguido, seguramente, não evitar uma segunda vaga, não evitar um excesso de mortalidade — porque isso, infelizmente, todos os países assistiram –, mas conseguíamos, provavelmente, muitos melhores resultados quer em termos de saúde publica, quer em termos económicos e sociais. A partir do momento em que assistimos a filas de ambulâncias à porta de hospitais, obviamente, percebemos que temos de ir atrás do prejuízo. A gestão de uma pandemia não deve ser feita a reboque de uma fila de ambulâncias. Deve-se antecipar. Reconheço que é difícil prever todas as variáveis, mas também temos de perceber que não é só uma questão de recursos financeiros, estamos aqui a falar de organização, capacidade de antecipação e boa governação.

Os sinais estavam lá?
É evidente. Tivemos uma segunda vaga que já foi muito significativa. O problema desta terceira vaga é que foi enxertada numa segunda vaga que ainda não tinha passado. Com taxas de ocupação de 70%, 80% e 90% em UCI. Já viu o que é ter uma terceira vaga enxertada numa sobrecarga destas?

E o facto das autoridades de saúde e políticas referirem, mais do que uma vez, que temos um Serviço Nacional de Saúde forte e robusto, com milhares de médicos, milhares de camas e com capacidade contribui para isso?
Sou muito respeitador das dificuldades. Decidir não é fácil, mandar não é fácil, gerir uma pandemia não é fácil. Quem está à espera que tenha um tom hipercrítico relativo a questões sensíveis está enganado, porque acho que isso seria uma falta de humildade e de inteligência. Do que estamos a falar, e aí acho que posso ser crítico – estou a ser justo e construtivo – é que abandonem esse registo, porque não nos está a levar a lado nenhum em termos de saúde pública, nem económicos e sociais. Não construam narrativas. Saibam ler a realidade com humildade e com capacidade de antecipação e não usem as contradições dos especialistas para terem um cheque em branco para justificar todas as decisões, as boas e as más. Acho que foi construída uma narrativa errada. Um confinamento em contexto de pandemia pode ser terapêutico. Um confinamento de uma ou duas semanas pode ser cirúrgico. Se perguntar a um dono de um restaurante se prefere estar duas semanas fechado, mas saber que começa no dia x e acaba no dia y, ou estar meio ano fechado, ele vai responder que prefere as duas semanas. Depois há outra coisa, a questão da imprevisibilidade. Quanto tempo isto vai durar? Ninguém sabe. Se conseguirmos mitigar a fase exponencial podemos ter um horizonte temporal e prever melhor as coisas.

Fui um dos principais críticos (e eu não sou ninguém) ao dizer o que pensava sobre o 'milagre português', que achei um disparate completo, nomeadamente em termos de comunicação. E também discordei da fanfarra que foi o lançamento da campanha de vacinação para o SARS-Cov2. Podia criar, e criou, uma descompressão de uma sociedade cansada da pandemia, que deu no que deu.

E a robustez do SNS?
Sou um grande defensor do SNS, mas não concordo que se coloque o SNS à frente das pessoas. Não quero salvar o SNS, quero salvar os portugueses. Claro que acho que o SNS é instrumental para salvar os portugueses. Num contexto de pandemia, nunca um Serviço Nacional de Saúde, por melhor equipado – que não está -, por melhores recursos humanos que tivesse — que tem falta deles —, nunca estaria preparado para ser autossuficiente. Isso foi mais uma narrativa, como a narrativa de ‘confinamento só em último recurso’ e ‘vamos tentar evitar fechar a economia’. E o que está a acontecer é o pior dos dois mundos. Se tivéssemos adotado medidas mais restritivas na altura certa e por um período curto, antecipando a tendência, o impacto seria muito menor com os mesmos recursos. Isto não é uma questão de falta de dinheiro, nada disso. Isto é uma questão de organização e de capacidade de antecipação e não de andar a reboque de uma narrativa que, manifestamente, já no final da primeira vaga, do meu ponto de vista, não teve nem pés nem cabeça.

Vacinação: “Os portugueses começam a olhar para uma coisa que devia ser muito séria como uma bagunçada”

Que avaliação faz do plano nacional de vacinação e da forma como está a ser executado? (a entrevista foi gravada antes da demissão de Francisco Ramos)
Acho inaceitável que a pessoa que está a encabeçar esse plano (Francisco Ramos) e que está a dar cara, que é de enorme competência, perca o seu discernimento e entre em querelas partidárias. Acho que isso não devia acontecer, é um erro. Só lhe ficava bem reconhecê-lo publicamente. Isso é alimentar polémicas e trazer luta partidária para um âmbito que deveria estar muito acima disso. Não o conhecendo pessoalmente, tenho muito respeito por quem está a encabeçar o plano para a vacinação da Covid-19, mas não gostei. Acho que quando uma pessoa erra devia retratar-se e ficava ali sanado.

Isso foi mais uma narrativa, como a narrativa de 'confinamento só em último recurso' e 'vamos tentar evitar fechar a economia'. E o que está a acontecer é o pior dos dois mundos. Se tivéssemos adotado medidas mais restritivas na altura certa e por um período curto, antecipando a tendência, o impacto seria muito menor com os mesmos recursos.

E sobre o plano?
Isto é relevante, porque os portugueses começam a olhar para uma coisa que devia ser muito séria como uma bagunçada, em que ninguém percebe muito bem o que está a acontecer. Os portugueses perceberam porque é que os profissionais de saúde faziam parte do grupo prioritário — se os médicos adoecessem a capacidade de resposta diminuía. Isso foi consensual.

Não gostei da forma exuberante e exultante como o poder político festejou os primeiros milhares de vacinas. Sabíamos que isso não iria ter impacto nenhum na mortalidade e não vai influenciar igualmente nas segunda e terceira vagas, não vai. Quando muito vai contribuir para o regresso à normalidade na segunda metade do ano – na melhor hipótese – e já não era nada mau que o próximo inverno fosse normal.

Depois, fica completamente patente a falta de planeamento. Esta vacinação de pessoas que não fazem parte dos grupos prioritários — leia-se o que se passou com o INEM e nalguns lares — prende-se com uma coisa muito simples: não antecipar que deveria ser criada uma lista de suplentes, porque há desistências, há pessoas que ficam doentes. E não antecipar isto é criar a tempestade perfeita para estas exceções. Até acredito que estas exceções possam não ter procurado favorecimento, porque conheço algumas delas e sei que não procuraram esse tipo de favorecimento, mas não é forma de se programar um plano de vacinação a nível micro. Devia ser obrigatório a criação da lista de suplentes — algo de que só agora se lembraram ao fim deste tempo —, que é uma questão básica. Por outro lado, mina completamente a confiança dos portugueses, e isto é uma questão de confiança e não faz sentido nenhum.

Não gostei da forma exuberante e exultante como o poder político festejou os primeiros milhares de vacinas. Sabíamos que isso não iria ter impacto nenhum na mortalidade e não vai influenciar igualmente nas segunda e terceira vagas, não vai. Quando muito vai contribuir para o regresso à normalidade na segunda metade do ano - na melhor hipótese - e já não era nada mau que o próximo inverno fosse normal.

E sobre o processo?
Seria mais favorável, por uma questão de transparência, à criação de grandes centros de vacinação, à semelhança do que foi feito na Alemanha, parece-me uma boa ideia. Claro, que se tem de evitar as aglomerações de pessoas, mas permite a criação de uma logística e de uma capacidade instalada que acaba por ser mais barata do que tentar reproduzir a vacinação em milhares de locais. Sou a favor da concentração de recursos, porque ganhamos em organização, em economia de escala e também em segurança.

Outra coisa que tem minado a confiança é a questão da priorização. Parece que as prioridades estão sempre a mudar e isto têm a ver com a comunicação, mas não só. É um problema de conteúdo, porque, de facto, as prioridades têm vindo a mudar e há questões substantivas que têm de ser resolvidas.

Enquanto médico entende essas mudanças?
Não entendo, nem aceito. Defendo regras claras, prefiro uma regra injusta à ausência de regras. Começámos a entrar num… âmbito um pouco confuso. Defendo modelos matemáticos com base nos principais determinantes da mortalidade Covid-19. Ao definir prioridades devemos dizer qual é o critério que preside à prioridade. Do meu ponto de vista, deviam ser dois: a estratégia que vai salvar mais vidas. Não é só o número de vidas, mas também os anos de vida. Temos de pensar nos que têm 50 anos e uma esperança de vida maior. Temos de entrar com estas variáveis todas. E a segunda, a estratégia que me vai permitir descongestionar os serviços de urgências e UCI mais rapidamente, porque estamos a ter uma crise e sabemos que o principal determinante de mortalidade dos doentes graves é a afluência. Quanto maior for o caos instalado, maior a mortalidade. Não há capacidade para tratar tão bem quando são muitos mais doentes.

Ficámos muito impressionados com o que vimos em Itália, Espanha e Nova Iorque. Estamos a atravessar uma situação semelhante?
Recebi um email de um colega alemão, com quem trabalhei há 10 anos na Alemanha, que me envergonhou. Escreveu-me, porque tinha visto 40 ambulâncias à porta de um hospital central e queria saber o que se passa. É o responsável pelo registo alemão dos doentes internados em UCI, é uma pessoa bastante influente nesta área na Alemanha. E isso, deixa-me triste.

Roberto Roncon, coordenador da unidade de ECMO do Hospital de São João, Porto

Pedro Correia/Global Imagens

E que explicação lhe deu?
Expliquei-lhe os números, expliquei aquilo que acho que poderia ter corrido melhor, como é que poderíamos ter evitado esta terceira vaga, o que não foi feito. E … que nunca iremos desistir e que até ao último minuto iremos dar o nosso melhor pelos nossos concidadãos. Podíamos ter evitado aquilo a que estamos a assistir. E nem a Alemanha, com os seus enormes recursos, tem capacidade para lidar com esta avalancha de doentes.

Nem a ajuda alemã…
Prefiro não falar sobre isso, sabe porquê? Porque ia-me exaltar e não me quero exaltar. Estou cansado e a trabalhar há muitos meses e se calhar aprendi a controlar estes meus “exaltanços”… (risos) Preferia não falar sobre esse assunto, que me deixa muito triste.

Percebemos a mensagem com a resposta que não deu.

O ECMO está a ter menor impacto do que na primeira vaga

É um pioneiro do ECMO. É uma técnica para quando já estamos no limite.
Ando há 10 anos a tentar que não seja. Deve ser uma técnica instituída atempadamente. O grande problema do ECMO é que exige uma enorme experiência e logística e não é fácil construir estes centros. Devia pensar-se nesta técnica antes do limite.

Mas como explica o que é o ECMO?
Existem dois grandes tipos de ECMO, o respiratório, que substitui a função do pulmão; e o circulatório, que substitui a função circulatória, do coração. Por isso, nós designamos o ECMO como máquina coração/pulmão.

Este dispositivo utiliza um circuito de sangue (extra-corporal) a grande velocidade, uma espécie de circuito de diálise, mas de grandes dimensões, para purificar o sangue, oxigená-lo e em caso de falência circulatória pôr o sangue sob pressão no doente para que continue a circular adequadamente.

Acredita que ao utilizar esta terapêutica (ECMO) em doentes Covid dá mais tempo ao paciente para que o corpo e o sistema imunitário possam reagir?
Relativamente a isso, não tenho dúvidas. Agora, na segunda vaga, tivemos piores resultados do que na primeira, mesmo com a utilização do ECMO. Estou à vontade para falar porque estamos, neste momento, a trabalhar num artigo, que está quase final, no qual vamos publicar a experiência ibérica da utilização do ECMO na Covid-19, juntamente com os dois centros coordenadores: o do Porto e o de Barcelona, do Hospital Vall d’Herbon. Isto também aconteceu em Espanha e um pouco por toda a Europa. Temos agora um artigo publicado pelos colegas do Reino Unido a documentar exatamente o mesmo.

E porque é que isso aconteceu?
Utilizamos, hoje em dia, a dexametasona, que é um anti-inflamatório para tratar os doentes com Covid-19 grave, ou seja, com insuficiência respiratória. Muitos doentes na primeira vaga, que agravavam e alguns deles até precisavam de ECMO agora já não precisam, porque com a dexametasona melhoram. Ótimo, fantástico. O problema é que os doentes que falham esta primeira intervenção terapêutica são doentes necessariamente mais graves.

Fruto dos muito bons resultados que tivemos com o ECMO na primeira vaga, também incluímos doentes com mais doenças associadas. São doentes que, muitas vezes, respondem pior à Covid-19. Não são assim tão mais idosos nem têm assim tantas mais doenças associadas, mas pode ter contribuído.

Terceiro aspeto muito importante — que merece toda a reflexão (e que os colegas do Reino Unido têm chamado à atenção): a forma como estamos a tratar não invasivamente estes doentes é diferente. Ou seja, não estamos a protelar mais a entubação orotraqueal, e a ventilação mecânica invasiva, com o argumento de que isto é bom para os doentes. Isso é apenas verdade para alguns. A ventilação não invasiva — nestes doentes — salva imensas vidas. O problema é que se nós não reconhecermos atempadamente os doentes que não estão a responder a esta ventilação não invasiva podemos protelar a entubação orotraqueal e, depois, quando iniciamos a ventilação mecânica  invasiva temos rapidamente doentes inventiláveis e doentes que vão responder mal ao ECMO – sendo que alguns desses não vão sequer recuperar a função pulmonar. Num contexto de caos, muitos destes doentes já chegam aos cuidados intensivos tarde.

O problema é que se nós não reconhecermos atempadamente os doentes que não estão a responder a esta ventilação não invasiva podemos protelar a entubação orotraqueal e, depois, quando iniciamos a ventilação mecânica  invasiva temos rapidamente doentes inventiláveis e doentes que vão responder mal ao ECMO - sendo que alguns desses não vão sequer recuperar a função pulmonar. Num contexto de caos, muitos destes doentes já chegam aos cuidados intensivos tarde.

“Chega. Estamos fartos disto. Fartos disto.”

O Roberto Roncon, médico, vai ser uma pessoa diferente quando “tudo isto” acabar?
Claro que sim, porque nós somos moldados pela nossa experiência e pelas nossas vivências. De que forma isso me vai mudar? Não sei. Estou muito cansado e ainda não tenho uma perspetiva concreta do horizonte temporal em que as coisas vão melhorar. Mas acho que me tornei um bocadinho melhor médico, porque aprendi muito e de várias formas. Posso dizer que nunca estudei tanto ventilação mecânica invasiva como até agora; nunca estudei tanto ventilação não invasiva como até agora; nunca estudei tanto modos avançados de oxigenação por ECMO e alternativas como até agora. Acho que me tornei, humildemente, um bocadinho melhor médico ou menos mau. Se calhar é “menos mau” médico (risos).

Depois, a relação entre colegas não foi fácil. Na primeira vaga, correu tudo bem; estávamos todos amigos, mas, nesta segunda e terceira vaga, as pessoas já estão mais cansadas e há mais tensão. Não diria egoísmo, mas as pessoas olham mais para o seu interesse individual e esquecem um bocadinho mais o interesse coletivo. Isso é humano e quem sou eu para criticar?

Um instrumento de hemodiálise utilizada na unidade ECMO do Hospital de São João, Porto.

Leonel de Castro/Global Imagens

Mas sentiu isso entre os hospitais?
Não digo isto para apontar o dedo a ninguém. Olhe, se calhar, até aconteceu comigo. Estou a dizer-lhe aquilo que me fez crescer. Em guerra, nós aprendemos muito. Ganhamos bons amigos, mas também perdemos outros; ficamos a conhecer melhor a natureza de algumas pessoas, e senti muito a falta da família e dos amigos. Tenho o privilégio de ter excelentes amigos e de ter uma família excelente. Nenhum dos meus familiares mais chegados ficou muito doente com Covid-19. Isso foi bom, excelente. Muitas vezes, esquecemo-nos das coisas mais simples.

Mas tenho imensa vontade de voltar às minhas rotinas de família e de voltar a estar com os meus amigos… Voltar a ler… É uma coisa que gosto muito de fazer; não tenho tido muito tempo, e agora muito menos tempo tenho. Gosto imenso de ler sobre economia mundial, de conhecer alguns aspetos relacionados com a política internacional, porque aprendemos imenso com as diferenças. Também gosto muito de ler sobre história. E isto irrita-me, percebe? Acho que devia ter tempo e não tenho. “O médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe”. Começamos a sentir que o nosso horizonte começa a ser muito o “hospital”. E os doentes também precisam que nós tenhamos mundo para os tratarmos melhor. Nesse sentido, passei a dar ainda mais valor àquilo que acho que tem valor: a família e os amigos. Acho que vou dar ainda mais valor quando isto terminar.

Também gosto muito de ler sobre história. E isto irrita-me, percebe? Acho que devia ter tempo e não tenho. “O médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe”. Começamos a sentir que o nosso horizonte começa a ser muito o "hospital". E os doentes também precisam que nós tenhamos mundo para os tratarmos melhor.

E tem pensado naquele dia em que vai ter, finalmente, 24 horas para si?
Tenho. Mas vou ser sincero: nunca procurei isso. Na minha vida profissional sempre procurei o caminho mais difícil. Talvez por uma razão muito simples: sempre gostei das vitórias difíceis e nunca gostei das fáceis. Tenho dúvidas de que algum dia procure essas 24 horas. Gosto muito, mesmo muito, de tratar doentes. Mas o que me está a chatear nesta pandemia é o facto de estar a ser tão absorvente, não me deixar espaço para mais nada. Mas, para mim, receber um telefonema, ao fim de semana, a meio da tarde, de um colega que quer discutir um aspeto sobre um doente é lazer. Lido muito bem. Adoro o que faço e não me estou a ver a fazer mais nada. Também gosto muito de dar aulas. Gostava de chegar a casa e de não ter tantos problemas em que pensar sobre o mesmo assunto. Esta “coisa” da Covid-19, de facto, “já chega”. Vamos virar a página, temos é de salvar estas vidas e dar o nosso melhor – mas chega. Estamos fartos disto. Fartos disto.

De todos estes doentes que já lhe passaram pelas mãos, têm alguma história que não consegue esquecer?
Tenho, claro que sim. Para o bem e para o mal, sou muito ligado aos doentes e às famílias. Para o bem, porque acho que isso, em alguns momentos, é muito importante para as famílias e para mim também. Mas tem um lado menos positivo, pois sofro um bocadinho – se calhar até demais -, mas é como sou. Não vou ser de maneira diferente, até porque não considero que seja um defeito, é feitio.

Tive um caso, que me marcou muito, e que mostra também a revolta que tenho com a Covid. Deveu-se a um pico de necessidades de ECMO que tivemos — tínhamos vinte doentes em ECMO ao mesmo tempo. Já não sabíamos para onde é que nos havíamos de virar. E, nesse contexto, entrou-nos nas urgências um jovem com uma paragem cardiorrespiratória, que podia precisar de ECMO. Estamos a falar de um quase atleta de alta competição. Um jovem de vinte e tal anos… E não tinha nenhuma máquina disponível. E gerou-se muito mau estar entre a equipa.

Entrou-nos nas urgências um jovem com uma paragem cardiorrespiratória, que podia precisar de ECMO. Estamos a falar de um quase atleta de alta competição. Um jovem de vinte e tal anos... E não tinha nenhuma máquina disponível (...). Acabou por correr tudo bem, mas é mais um daqueles exemplos em que a Covid só traz dissabores. Consome tudo. É uma espécie de eucalipto, que não deixa crescer nada à volta. 

O doente acabou por recuperar sem esse mecanismo, porque respondeu às manobras de reanimação convencionais. Mas, depois, acabou por precisar de ECMO, porque, para ser tratado ao coração — o ECMO foi usado como suporte circulatório — precisava do procedimento. Esteve cerca de uma semana ligado a este dispositivo, o que foi decisivo e ele beneficiou do tratamento. Mas a verdade é que se aquele jovem tem morrido por falta de ECMO… Uma coisa é nós tentarmos tudo e o doente morrer; outra coisa é ficar a dúvida.

Nesse dia, cheguei a casa maldisposto. Foi um dia horrível. Acabou por correr tudo bem, mas é mais um daqueles exemplos em que a Covid só traz dissabores. Consome tudo. É uma espécie de eucalipto, que não deixa crescer nada à volta. Por isso, acho que temos rapidamente de controlar esta pandemia.

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