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BOSCO MARTIN/EPA

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Samba na carteira. Como um gestor português ganhou 74% a investir no Brasil

João Caro Sousa, o líder do fundo BPI Brasil Valor, levou o aforro de 300 investidores a um dos maiores avanços de 2016. Apenas foi batido por um trio de gestores de ações russas que ganhou 78%.

A Rússia não está bem: a sua economia ainda está a recuperar da baixa cotação do petróleo e das sanções internacionais que surgiram após a invasão militar da Ucrânia. O Brasil também não anda bem: a situação política é instável e está a afetar também a economia da nação. Como se explica, então, que a Rússia e o Brasil foram as maiores fontes de ganhos para os investidores portugueses?

João Caro Sousa, o gestor da BPI Gestão de Activos que lidera o dia-a-dia do BPI Brasil Valor, foi o que mais se destacou na praça nacional em 2016. Esse fundo rendeu 73,62%, o registo mais elevado entre os produtos portugueses. À sua frente apenas ficaram quatro classes do mesmo fundo de ações russas, o Pictet Russian Equities, gerido por Klaus Bockstaller, Hugo Bain e Christopher Bannon.

Rússia e Brasil ajudam portugueses
Os fundos de ações russas e brasileiras foram os que mais deram a ganhar aos investidores nacionais. Estes são os dez fundos disponíveis aos investidores particulares que mais renderam em 2016.
ISIN Fundo Rentabilidade anualizada Classe de risco Comercialização
2016 2014-2016 2012-2016
LU0338482267 Pictet Russian Equities P USD 77,70% 7,35% 6,96% 7 Banco BIC
LU0338483075 Pictet Russian Equities P EUR 77,63% 7,32% 6,91% 7 Banco BIC
LU0338482770 Pictet Russian Equities R USD 76,52% 6,61% 6,22% 7 Banco Best, Banco Invest, BiG
LU0338483158 Pictet Russian Equities R EUR 76,48% 6,59% 6,18% 7 ActivoBank, Banco Best, Banco Invest, BiG
PTYPIYHM0012 BPI Brasil Valor 73,62% 1,42% -3,55% 7 Banco Best, Banco Invest, BiG, BPI
LU0286682959 UBS Equity Brazil USD P 69,81% 2,41% -4,68% 7 ActivoBank, Banco Best, Banco Invest
LU0265266980 Parvest Equity Brazil CC 66,50% 0,95% -4,27% 7 Deutsche Bank
LU0281906387 Parvest Equity Brazil Classic EUR 66,27% não aplicável Deutsche Bank
LU0329931256 HSBC GIF Russia Equity I USD 66,04% 5,33% 3,21% 7 Banco Best, BiG
LU0265267954 Parvest Equity Brazil N 65,25% 0,20% -4,98% 7 ActivoBank, Banco Best, BiG, Deutsche Bank
Fonte: Bloomberg, entidades comercializadoras. Rentabilidade bruta em euros. Classe de risco entre 1 (baixo) e 7 (alto) baseada na volatilidade das rentabilidades de 260 semanas.

Brasil está melhor do que o esperado

O Brasil está em crise económica – a produção não cresce, o desemprego aumenta, a inflação está fora das metas –, em crise política – que levou ao afastamento da Presidente Dilma Rousseff – e em crise financeira – o crédito contraiu-se, o incumprimento aumentou. Todavia, para João Caro Sousa, o pessimismo foi exagerado: o potencial do Brasil continua presente. “Esta perspetiva negativa sobre o país representou uma oportunidade de investimento bastante interessante”, explica.

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“Com o decorrer do ano, a instabilidade política foi diminuindo, o que foi deixando os investidores mais confiantes”, recorda o gestor da BPI Gestão de Activos. “A expansão da economia global e a política de estímulos adotada pelo governo chinês” também contribuíram para a subida da bolsa brasileira, porque ajudaram a elevar os preços das mercadorias e das ações das suas produtoras, como a Petrobras e a Vale, duas das principais apostas do BPI Brasil Valor. João Caro Sousa destaca ainda “o combate à corrupção, incluindo a investigação a figuras políticas de relevo, como um sinal encorajador para o futuro do país”.

Foi o processo de seleção de ações que permitiu ao BPI Brasil Valor bater os fundos concorrentes. “Seguimos uma política de investimento bottom-up, o que significa que nos focamos nos fundamentais de cada empresa tendo em conta a qualidade do modelo de negócio, as suas vantagens competitivas, os resultados financeiros apresentados, a qualidade da gestão, bem como o histórico da empresa”, resume João Caro Sousa, que planeia visitar o Brasil pelo menos duas vezes ao longo de 2017.

O setor financeiro, a maior aposta, foi o que mais contribuiu para a subida do BPI Brasil Valor. O Banco Bradesco deu um ganho de 10% ao fundo, diz João Caro Sousa. Fotografia: Fábio Pinto.

FÁBIO PINTO/OBSERVADOR

João Caro Sousa defende que ainda há oportunidades para explorar no Brasil. “Acreditamos que, aos preços a que alguns activos brasileiros se encontram, existe valor a ser capturado pelo investidor que seguir uma política de investimento sólida, metódica, ativa e de longo prazo”, afirma. O real brasileiro, que contribuiu em grande parte para o ganho dos investidores do BPI Brasil Valor, também poderá continuar a fortalecer-se, segundo o gestor.

O principal risco de investir no Brasil é político. “A evolução da política mundial irá ter um impacto significativo na performance acionista em todo mundo, principalmente em países com economias muito dependentes do mercado externo como o Brasil”, avisa João Caro Sousa.

A política interna também será importante. “Os investidores irão acompanhar com especial atenção a aprovação das reformas fiscais prometidas pelo novo governo, (…) essenciais para conseguir controlar o aumento da dívida nacional e para fomentar o crescimento económico”, calcula o gestor. “Outro fator a ter em conta é a política de subida de taxas da Reserva Federal [norte-americana] que deverá resultar ainda numa transferência de capital dos mercados emergentes para os Estados Unidos, reflectindo-se numa apreciação do dólar e numa depreciação das moedas dos mercados emergentes”, conclui.

O BPI Brasil Valor, que tinha 313 investidores no final de junho de 2016, não é o único nem o mais popular fundo do BPI que investe no Brasil. O BPI Brasil, que tinha 4.789 participantes na mesma altura, foi o segundo fundo português mais rentável em 2016, ao ganhar 57,21%. Este produto combina ações e obrigações brasileiras. Ambos são comercializados pelo Banco Best, Banco BPI, Banco de Investimento Global e Banco Invest. Adicionalmente, o BPI Brasil também é distribuído pelo ActivoBank.

Rússia pode render mais

“Avaliações baixas, uma economia em recuperação, uma redução significativa nas taxas de juro juntamente com uma melhoria da situação geopolítica” são as razões apontadas por Hugo Bain, um dos especialistas da Pictet à frente do Pictet Russian Equities, para o avanço da bolsa de Moscovo em 2016. “[O nosso] fundo teve um desempenho superior fruto da boa seleção de ações”, revela Bain ao Observador. As quatro classes do Pictet Russian Equities – que, em Portugal, são distribuídas pelo ActivoBank, Banco Best, Banco BIC, Banco de Investimento Global e Banco Invest – renderam, em média, 77,08%, mais 12 pontos percentuais do que o índice moscovita Micex.

"Com a provável eleição em França de François Fillon ou de Le Pen, é cada vez mais expectável que haja algum levantamento de sanções [à Rússia] em 2017", acredita Hugo Bain, da Pictet.

Pictet

Tal como no BPI Brasil Valor, os movimentos cambiais contribuíram fortemente para o avanço do Pictet Russian Equities. “Espero que o rublo continue a fortalecer-se”, diz Hugo Bain. O gestor acredita que 2017 será mais um ano positivo para as ações russas. “Se o petróleo se mantiver acima de 50 [dólares] ou se for mais alto, espero outro ano de fortes retornos com o mercado a seguir o ciclo de abrandamento do banco central e a recuperação da economia”, afirma Bain.

O petróleo, a principal exportação da economia russa, é o maior risco. Se ficar abaixo de 40 dólares por barril, “será difícil ver um desempenho positivo no mercado”, confessa Hugo Bain. O barril de petróleo negociou-se a cerca de 53 dólares (51 euros) durante a primeira semana de 2017.

Pictet também no último lugar

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Além de gerir o fundo mais rentável de 2016, o Pictet Russian Equities, a Pictet também é responsável pelo maior prejuízo do ano. O Pictet Biotech HR EUR foi o fundo que mais perdeu no ano passado, -25,39%. Este fundo investe em empresas biofarmacêuticas, como a Celgene, a Biogen e a Amgen.

Hugo Bain e os seus colegas Klaus Bockstaller e Christopher Bannon continuam a apostar no setor petrolífero. Perto de 28% da carteira do Pictet Russian Equities está aplicado no setor energético, em empresas como a Gazprom, a Lukoil e a Novatek. Com o petróleo a cotar nos 50 dólares, “as companhias petrolíferas russas são das mais lucrativas do mundo e ainda pagam um dividendo significativo”, explica Bain. “São negociadas com um desconto expressivo face às maiores petrolíferas globais”, conclui.

Apesar de a equipa do fundo ter expectativas positivas para a bolsa de Moscovo em 2017, o Pictet Russian Equities não é para todos os investidores. Tal como o BPI Brasil Valor, é um dos fundos mais voláteis comercializados em Portugal. Nem todos suportariam a queda de 80% que o Pictet Russian Equities registou em apenas seis meses do ano de 2008.

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