Imagine que o planeta é um disco com o Ártico no centro e a Antártida no bordo, como um muro de gelo que nos impede de cair borda fora. É assim que os terraplanistas imaginam o mundo. Pelo menos alguns, outros arriscam formatos alternativos, como argola, cubo ou diamante, o importante é que não seja uma esfera. E quanto mais eloquentes conseguirem ser na sua argumentação, maior o número de seguidores que conseguem angariar.
Rejeitar que a Terra é redonda é o ponto em comum destas teorias — mesmo que tenham ideias diferentes sobre o formato e sobre os outros elementos que conseguimos ver no céu. Porquê? Porque dizem ser a grande mentira da NASA. O que os defensores deste movimento se parecem esquecer é que, muito antes do nascimento da agência espacial norte-americana, já se tinha rejeitado a ideia de que a Terra fosse plana porque todas as provas apontam para que seja um bola — com os pólos achatados, é certo, mas ainda assim longe de ser plana.
Os terraplanistas, porém, não acreditam nos cientistas, que, dizem, fazem parte desta grande conspiração mundial que nos impede de ver a verdade. Só acreditam naquilo que podem ver com os próprios olhos e nas experiências que podem fazer. É por isso que planeiam fazer um cruzeiro até aos limites do disco para ver o muro de gelo. É também por isso que Mike Hughes anda há anos a tentar lançar-se num foguetão: não para ir ao espaço porque os terraplanistas não acreditam que exista universo, mas para chegar lá a cima e ver com os próprios olhos que a Terra é um disco. Na verdade bastaria mandar uma câmara num balão meteorológico (cheio de hélio e capaz de chegar à atmosfera superior).
Fazer este tipo de viagens implica angariar muito dinheiro. Mike Hughes não tem tido muito sucesso na angariação de fundos para se lançar num foguetão construído por si — talvez as tentativas falhadas e os adiamentos não ajudem. Outros terão mais sucesso nas receitas, como os que produzem vídeos para o YouTube e dão palestras um pouco por todo o mundo, para evangelizar e angariar novos seguidores.
As conferências são uma fonte de receita, mas também servem de ponto de encontro e de partilha de experiências entre os crentes. A última aconteceu esta quinta e sexta-feira, dias 14 e 15 de novembro, em Dallas (Texas, Estados Unidos). Já este mês, no dia 10, se tinha realizado a Flat Con Brasil, em São Paulo. E o Canadá e o Reino Unido também já receberam conferências dedicadas à Terra Plana.
A teoria da Terra Plana é tão apelativa que a Netflix não perdeu a oportunidade de passar um documentário — “Behind the Curve” — sobre o tema e apresentar os principais defensores da teoria. Por duas vezes, as experiências feitas pelos terraplanistas mostram exatamente o contrário do que queriam demonstrar — mostraram que a Terra é redonda —, comentou a Newsweek. Mas isso também não chegou para demover os crentes, agora querem provar que aquilo que a experiência prova, não é aquilo que pensamos que está a provar. Confuso? Quem acredita em teorias da conspiração não está disposto a deixá-las cair.
Terraplanistas querem fazer um cruzeiro para provar que a Terra não é um globo
Curso no YouTube para terraplanistas
Escolha-se o país ou a conferência e o padrão será sempre o mesmo: não há nenhum cientista entre os oradores e as estrelas do evento são todas (ou quase todas) youtubers que promovem teorias da conspiração com os vídeos que produzem. Os vídeos do YouTube são, na verdade, a principal forma de evangelização dos crentes nesta teoria e, para muitos, a única fonte de informação que consultaram sobre o assunto — apesar de apregoarem que se aprenda pelas próprias experiências.
“Sempre fui muito cético em relação às coisas”, disse Siddhartha Chaibub, um dos organizadores da conferência Flat Con Brasil, citado pelo jornal The Guardian. Foi assim que o designer de 35 anos de Brasília encontrou os vídeos que defendem que a Terra é plana. Mais tarde, tornou-se ele próprio um dos produtores destes conteúdos: o Professor Terra Plana com 29 mil seguidores.
A história repete-se com vários dos seguidores do movimento e oradores das conferências: primeiro acreditam noutras teorias da conspiração — e vêm muito vídeos que as promovem —, depois encontram os vídeos dos terraplanistas — dos quais até podem duvidar no início —, por fim, depois de muitas horas no YouTube, declaram-se convertidos e começam a espalhar a mensagem. Os argumentos aparentemente científicos apresentados nestes vídeos tornam-nos mais apelativos até para aquelas pessoas que normalmente não acreditam, disse Alex Olshansky, especialista em comunicação de ciência e desinformação, citado pelo ScienceAlert.
“O YouTube foi onde os primeiros vídeos sobre a Terra Plana foram colocados em 2014, o que lançou o movimento que vemos hoje em dia”, disse Olshansky, investigador na Universidade de Tecnologia do Texas. “Porque o algoritmo do YouTube recomenda vídeos que são semelhantes aos que estamos a ver, muitas pessoas que estavam a ver outros vídeos sobre teorias da conspiração encontraram um vídeo da Terra Plana nos vídeos recomendados e entraram na toca do coelho.”
Sem ter os órgãos de comunicação clássicos ou as instituições — nos quais não confiam — a servirem de intermediários no acesso à informação, estas pessoas “vêm o YouTube como a voz de quem procura a verdade e de quem a conta”, explicou o investigador. Mas é um percurso muito solitário — ainda que apareçam casais com filhos, a maioria são homens, brancos, sozinhos e de meia idade.
Deixam ou perdem os empregos (se não estavam já desempregados), afastam-se (ou são afastados) da sociedade, da família e amigos, e todos os argumentos que ouvem — contra ou a favor — servem para enraizarem ainda mais a crença de que a Terra é plana. Cada vez mais isolados, as conferências são um dos raros momentos em que podem conviver, cara a cara, com pessoas que acreditam nas mesmas ideias.
“Acreditar que a Terra é plana não é, por si só, necessariamente prejudicial, mas vem com um pacote de falta de confiança nas instituições e autoridades mais generalizado”, disse Asheley Landrum, investigadora na Universidade de Tecnologia do Texas, que realizou o trabalho com Alex Olshansky, citada pelo The Guardian. Quem recusa que a Terra seja redonda também rejeita, muitas vezes, que as alterações climáticas sejam causadas pelo homem ou acredita que as vacinas causam autismo.
Mas porque hão-de as pessoas acreditar em teorias que são desacreditadas pela ciência e gozadas pela generalidade das pessoas? Aqueles que criam ou acreditam em teorias da conspiração sentem-se especiais, porque têm um conhecimento que escapa à maior parte da população, disse ao jornal The Guardian Chris French, professor de Psicologia na Universidade de Londres. Quando a comunidade se encontra nas conferências, o sentimento sai reforçado.
Uma conspiração dentro de outra conspiração
A Conferência Internacional da Terra Plana, em Dallas, terá atraído 500 a 600 pessoas, diz Robbie Davidson ao Observador. Um número que não fica longe das que assistiram à conferência de 2018 (650), em Denver, ou de 2017 (400), em Raleigh (Carolina do Norte), provando que existem centenas de pessoas disponíveis para pagar 180 euros ou mais — em 2018 ultrapassou os 300 euros — para ouvir durante dois dias palestrantes a dizerem às pessoas para não acreditarem em tudo o que ouvem, exceto naquilo que os próprios estão a dizer.
As conferências anuais — e os encontros semanais em várias cidades — ainda são recentes, porque a maior parte dos terraplanistas só se converteu depois de 2015, depois de Mark Sargent ter lançado uma série de 21 vídeos, “Flat Earth Clues” (Pistas da Terra Plana), que já foi vista quase 760 mil vezes. O próprio organizador da conferência Robbie Davidson estava convencido que a Terra era redonda até essa data. “Achava ridícula a ideia de a Terra ser plana”, disse ao jornal The Guardian, em 2018, mas para ser coerente com a sua crença e o que estava escrito na Bíblia, teria de acreditar nisso. A interpretação literal da Bíblia é um dos pontos comuns a muitos dos convertidos ao terraplanismo.
E no caso de Mark Sargent? “A maior parte das pessoas casa-se e tem filhos. Se não, temos imenso tempo livre nas nossas mãos”, disse o homem de 50 anos que vive com a mãe ao Herald Net. Sargent correu todas as teorias da conspiração possíveis e percebeu que a Terra Plana era a mais difícil de ser aceite por outras pessoas, mesmo entre os que acreditam noutras teorias da conspiração. Porquê tanta resistência? “Porque é isso que nos ensinam aos seis anos e fica connosco. Está estabelecido. Foi estabelecido há 500 anos.”
Mas para Sargent não. E ele tinha tempo suficiente para se debruçar sobre o assunto, para correr o mundo a espalhar a palavra, vender livros e criar vídeos para o YouTube. Mark Sargent tem mais de 82 mil seguidores e mais de 17 milhões de visualizações numa conta de YouTube com o seu nome. A calculadora do Influencer Marketing Hub estima que já tenha ganho mais de 40 mil dólares (cerca de 36 mil euros) neste canal.
O movimento que defende que a Terra é plana pode ter ganhado um alcance que não tinha antes graças às redes sociais, mas continua a usar muitas das ideias estabelecidas por terraplanistas há vários séculos, como Samuel Rowbotham, que escreveu “Astronomia Zetética – A Terra não é um globo”, em 1865. Rowbotham, um fundamentalista religioso britânico, já se referia à Terra como um disco, com o Polo Norte do centro e a Antártida na periferia como uma parede de gelo.
À primeira vista poderia parecer que os terraplanistas formavam uma comunidade coesa, mas o site da conferência organizada por Robbie Davidson deixa claro que não é: “A FEIC [Conferência Internacional da Terra Plana] não está de forma nenhuma afiliada à Sociedade Terra Plana [Flat Earth Society]”. E porquê? “Ninguém, na comunidade de terraplanistas moderna, acredita na maneira como fazem e não confiam na organização”, diz Davidson ao Observador. “Como é que a Sociedade Terra Plana existe há 50 anos e nunca fez uma conferência ou encontro? Eles existem para enganar as pessoas sobre a verdadeira natureza do nosso mundo.” No seu site, a sociedade nega a acusação.
No entanto, nem a teoria da conspiração escapa às teorias da conspiração. Os terraplanistas acreditam que a Terra não é redonda, mas existe uma conspiração para nos fazer acreditar que sim. Mas também acreditam que existem conspiradores que se fazem passar por terraplanistas para impedirem as pessoas de saberem que estão a ser manipuladas sobre aquilo que assumem como verdade sobre a Terra — ou seja, para que as pessoas não saibam que a Terra que é achatada.
Eric Dubay, que lançou o vídeo “200 Proofs that Earth is Not a Spinning Ball” (“200 provas de que a Terra não é uma bola em rotação”) em 2015, por exemplo, acusa Mark Sargent e a FEIC de serem os infiltrados para destruírem o conhecimento dos terraplanistas, escreveu a revista New Yorker. Dubay, que se intitula como o verdadeiro filósofo moderno da teoria da Terra Plana, também ficou conhecido por negar o holocausto.
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Outros duvidam que todos aqueles que se assumem como terraplanistas acreditem verdadeiramente naquilo que apregoam. A revista The New Yorker perguntou a Robbie Davidson se ele realmente acreditava que a Terra era plana. “Bem, não sei a 100%, mas diria que tenho muita certeza do que não é. Definitivamente não acredito que seja uma bola que gira a voar pelo espaço”, respondeu o fundador da conferência norte-americana.
Gary Heather, o promotor da conferência britânica que decorreu em abril deste ano, tem a mesma ideia. “Há um grande ponto de interrogação em relação a não ser um globo e assumimos que a alternativa é ser plano. Mas como é que sabemos que não é côncavo ou convexo ou oco? Não posso dizer o que é, mas acho que sei o que não é”, disse à revista BBC Focus o homem de 50 anos, que até 2015 acreditava que a Terra era redonda.
Terra: plana e coberta com uma cúpula
Uma Terra achatada (que pode não ser um disco), que não gira sobre si própria e não viaja pelo espaço. Uma cúpula que cobre o planeta. Uma Lua e um Sol (minúsculo, comparado com o tamanho oficialmente aceite) que andam em círculos por cima do planeta. E uma teoria sobre uma grande conspiração mundial para convencer a humanidade que a Terra é redonda. São as ideias principais de quem defende que a Terra é plana. Se lhe parece um segredo muito difícil de ser guardado, os terraplanistas têm a resposta: são poucas as pessoas que o conhecem, o que faz com que os astronautas, cientistas e engenheiros sejam instrumentalizados para mentir às pessoas, mesmo sem saberem a verdade.
Se já viu o Sol nascer e pôr-se no horizonte, se já reparou que as estrelas parecem estar em posições diferentes ao longo do ano (na verdade a Terra é que se moveu em torno do Sol), se teve oportunidade de viajar para outro hemisfério e ver a estrela Cruzeiro no lugar da estrela Polar, se já reparou que o que aparece primeiro num navio ao longe é o mastro, então já viu, com os seus olhos, que a Terra gira sobre si própria, anda à volta do Sol e é redonda.
“Já agora, a rotação da Terra é responsável também pelos movimentos de ar em espiral nos anti-ciclones e nos ciclones, tão visíveis, por exemplo, nos furacões”, diz ao Observador Daniel Folha, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (Porto).
Mas prepare-se, os terraplanistas têm todo um conjunto de argumentos para refutar aquilo que os cientistas conseguiram demonstrar (mesmo que não faça sentido nenhum) — mesmo quando foram eles a fazer a experiência —, inclusivamente rejeitam que a gravidade exista e nos puxe para o centro da Terra. Os objetos caem porque sim, entendem. Só não se percebe porque caiem em direção à Terra e não em direção à cúpula pintada de estrelas.
Desde a antiga Grécia, há mais de dois mil anos, que se acredita que a Terra é redonda — ainda que sempre tenham existido movimentos que tentaram provar o contrário. Pitágoras considerou que se a Lua é redonda, a Terra também tem de ser. Aristóteles verificou que o conjunto de estrelas que observamos no céu é diferente consoante nos afastamos do Equador para norte ou para sul. Erastótenes conseguiu calcular a conferência da Terra comparando as sombras de dois paus colocados a vários quilómetros de distância. Se o mote é fazermos as nossas experiências e observarmos com os nossos próprios olhos, como apregoam os terraplanistas, estas podem ser todas testadas em segurança.
Muito tempo depois dos gregos, há 500 anos, Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano completaram uma viagem de circum-navegação em volta de um globo e não num disco. Desceram o oceano Atlântico até contornarem a América do Sul, pelo agora estreito de Magalhães, atravessaram o oceano Pacífico até chegarem às Filipinas e depois deram a volta a África até voltar a Espanha. Foi a tal viagem que pareceu não deixar margem para dúvidas de que a Terra era uma esfera, como referiu Mark Sargent, embora ele próprio não queira acreditar.
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“Hoje voamos suficientemente alto para ver que a Terra não é plana. Hoje temos humanos no espaço que todos os dias nos mostram que a Terra é redonda como uma bola. Hoje temos satélites no espaço que observam a Terra continuamente e nos mostram qual a sua forma”, lembra Daniel Folha.
Mas isto são conquistas recentes. A teoria da conspiração surgiu há mais tempo, quando o homem foi à Lua ou até um pouco antes. Para quem acredita nas teorias da conspiração, o homem nunca foi à Lua e muito menos terá pisado a sua superfície. Mas em plena Guerra Fria era preciso mentir e esconder a mentira o melhor possível, assim como esconder que a Terra era plana e que por isso é que nunca teríamos conseguido ir à Lua — assim alegam os crentes nestas teorias.
Para os terraplanistas, os astronautas mentem nos seus testemunhos, as fotografias que mostram a Terra vista do espaço foram todas alteradas num programa de edição e muitos dizem até que nunca enviámos nenhum satélite para o espaço. Falta perceber como é que as várias agências espaciais, algumas das quais eram, na altura, verdadeiros competidores (como os Estados Unidos e a Rússia), embarcaram numa mentira conjunta para enganar o resto da humanidade. Uma mentira que teria mais de 50 anos sem nunca ter havido fugas de informação.
Para os crentes nas teorias da conspiração, a orquestração está tão bem montada que os satélites que vemos no espaço são equipamentos falsos para enganar as pessoas. E as estrelas? Não serão mais do que buracos ou pinturas na cúpula que cobre a Terra. “Num planetário podemos ver todo o tipo de luzes engraçadas no céu. Quem nos diz que quando saímos de um planetário não estamos a entrar num maior?”, diz Mark Sargent. Para o terraplanista, a Terra terá sido criada por uma entidade divina ou por uma sociedade alienígena mais evoluída que a nossa.
Para uns a Terra é virtualmente infinita, para outros está limitada pela Antártica (o muro de gelo). Mark Sargent vai mais longe e diz que a Antártida só está acessível a militares e a cientistas das forças armadas. Há quem defenda que do outro lado do muro de gelo existem inúmeras riquezas e uma área de terra e mar que está a ser explorada por aqueles que não querem que se conheça a verdade. O que Sargent se está a esquecer é que Antártida é habitada em permanência por investigadores que ali desenvolvem o seu trabalho e que o continente não fica assim tão distante da Nova Zelândia.
Os cientistas bem podem tentar usar todos os argumentos e cálculos possíveis para demonstrar que as provas de que a Terra é plana são, na verdade, falsas. Mas se há uma coisa difícil de fazer é convencer uma pessoa que acredita numa teoria da conspiração de que está errada. “Qualquer evidência que se apresente que sugira que estão errados foi, claramente, colocada ali pelos conspiradores [aqueles que não querem que se conheça a verdade]”, disse ao jornal The Guardian Chris French, professor de Psicologia na Universidade de Londres.
Terraplanistas afirmam ter as resposta na Bíblia
Os terraplanistas rejeitam os argumentos dos cientistas e astronautas e, muitos deles, dizem basear-se no que está escrito na Bíblia. Alguns, como Nathan Roberts — que prega a doutrina da Terra Plana (Flat Earth Doctrine) —, afirmam mesmo que existem mais de 200 versículos que indicam que a Terra é plana e estacionária (não gira sobre si própria, nem faz uma órbita em torno do Sol). O canal do YouTube da Flat Earth Doctrine tem 20,6 mil seguidores.
Um dos versículos citados é Isaías 40:22, que fala de Deus sentado sobre o planeta no qual os habitantes são tão pequenos como gafanhotos. Logo aqui começa o problema das traduções, um problema frequente em várias passagens da Bíblia. Para os terraplanistas: “Ele é o que está sentado sobre o disco da Terra”. Noutras versões: “Ele é o que está sentado sobre o globo da Terra”. Considerando que Deus estaria sentado sobre um trono — ou num cofre como se lê noutros versículos —, então seria algo com volume e não um disco achatado. Mas o significado será, na verdade, que Deus está sobre a Terra (fora dela) a observar os fiéis.
“Usar as escrituras para suportar os argumentos [terraplanistas] é um abuso das escrituras e o contrário do que a Igreja ensina”, diz ao Observador o irmão Guy Consolmagno, diretor do Observatório Astronómico do Vaticano. Para o clérigo e cientista, “as pessoas que usam estes argumentos estão à procura de atenção e não podem ser desmascaradas porque não querem ouvir”.