Bernardo Correia está desde 2016 ao leme da subsidiária portuguesa da gigante Google, após ter passado vários anos em Inglaterra, também a trabalhar para a tecnológica norte-americana. Em entrevista ao Observador, o country manager defende que o comércio eletrónico deve ser encarado pelas empresas portuguesas quase como “um mecanismo defensivo” perante o atual contexto de incerteza económica.
Os portugueses estão mais preocupados com questões como a inflação ou a subida das taxas Euribor – algo que, aliás, a gigante de pesquisas também detetou nas perguntas que os portugueses estão a fazer online. Mas a incerteza económica não se traduz necessariamente num abrandamento das compras online, antevê a Google, que espera uma época de compras, marcada pela Black Friday e por um Mundial de Futebol fora de época, com números relevantes. Um estudo recente feito pela companhia no mercado português aponta que 70% dos portugueses tem intenção de fazer compras online na época de compras que se avizinha.
Mesmo com os últimos dois anos de pandemia a promoverem uma aceleração da transformação digital, Bernardo Correia diz que Portugal continua a ser uma espécie de “máquina do tempo”. “Consigo projetar os números de Portugal olhando para os números de Inglaterra e de outros países desenvolvidos e dizer mais ou menos que em ‘x’ tempo isto acontecerá naturalmente” em Portugal, explica. Mas ter essa cartada quase de ‘futurologia’ não basta – também é preciso “usar essa capacidade de previsão de forma pró-ativa”, avisa.
Uma “máquina do tempo” que é um “privilégio”
Queria começar pela explicação desta história da “máquina do tempo” em Portugal e se, ao longo dos anos em que está com a Google no mercado português, se [esta ideia] já teve alterações. Já estamos um bocadinho menos atrasados em relação àquilo que viu no mercado britânico?
Começando com a razão por que é que acho que Portugal é uma pequena “máquina do tempo”. Acredito que, dos 11 anos que passei em Inglaterra, as coisas que vi são universais. E porquê? Porque nascem do comportamento do consumidor e da vontade de o consumidor ter acesso a melhores produtos e serviços da forma mais conveniente, mais diversificada e mais aberta. E isto é uma tendência a que, em Portugal, nunca havemos de fugir. Ou seja, consigo projetar os números de Portugal olhando para os números de Inglaterra e de outros países desenvolvidos e dizer mais ou menos que em ‘x’ tempo isto acontece naturalmente. Acho que a nossa responsabilidade enquanto portugueses e enquanto negócios em Portugal é a de acelerar essa transição para apanharmos a média europeia e não ficarmos à espera de que evolua naturalmente só por si. É sempre preciso muito trabalho nosso aqui em Portugal para o fazer e temos muitas, muitas coisas pela frente.
E, acima de tudo, acho que os negócios em Portugal têm de se adaptar de uma forma mais consistente àquilo que é claramente um desejo do consumidor português — que é ter uma experiência de utilizador melhor, ter sites em que é fácil efetuar pagamentos, sites em que se respeita a privacidade do utilizador, sites que se adequam a qualquer aparelho que esteja a ser usado, seja um computador, um tablet ou telemóvel. Existe uma procura enorme desses produtos e serviços aqui em Portugal e muitas vezes os consumidores portugueses, como não os encontram em Portugal, vão buscá-los a outro lado, nomeadamente aos mercados que já têm um grande nível de maturidade de comércio digital, como é o caso de Inglaterra. E nisso olho para o comércio online quase como um mecanismo defensivo — ou seja, se nós não acelerarmos a nossa transição digital para o e-commerce vamos perder consumidores para os sites, produtos e serviços de fora de Portugal que vendem para os consumidores portugueses. Olho para esta “máquina do tempo” como um privilégio. Podemos prever o futuro mas temos de usar essa capacidade de previsão de uma forma proativa para nos defendermos e garantirmos que os nossos negócios têm sustentabilidade de longo prazo.
Ao longo dos últimos dois anos, com a questão da pandemia, temos visto já muitos estudos sobre Portugal ter dado um salto no comércio eletrónico. Notaram essa tendência mas ainda não é suficiente?
A pandemia acelerou muito a transformação digital em Portugal, mas é preciso fazer ainda mais. Esse salto quantitativo também existiu nos outros países, ou seja, houve aceleração global da transição para o digital através da pandemia. Fizemos até um caminho bastante interessante, inclusive através da internacionalização de alguns produtos e serviços em Portugal. Por exemplo as máscaras da Mo, que na altura eram as únicas máscaras anti-Covid, que muito rapidamente a marca conseguiu internacionalizar para dezenas de países e de tentar vender o produto que era uma inovação portuguesa para o mundo inteiro. Acho que aquilo que aprendemos através da pandemia foi de que é possível quebrar essas barreiras da internacionalização através do e-commerce. O e-commerce a nível global vale qualquer coisa como 5 biliões de dólares [trillion, na numeração anglosaxónica] de mercado possível. E aqui em Portugal estamos só a arranhar a superfície daquilo que é possível. A nossa principal lição é a de podermos acelerar a transição digital dos nossos produtos e serviços através da internacionalização — não tem de ser um bicho de sete cabeças. Pode ser uma coisa relativamente simples de fazer.
Então se os clientes estão tão interessados e querem tanto essas opções, a responsabilidade está toda do lado das empresas? Por que razão é que as empresas não aderem ao comércio eletrónico? É uma questão de falta de conhecimento, de recursos financeiros?
Acho que existem em Portugal algumas empresas que têm feito um caminho muito positivo e que mostram um bocadinho o que pode ser o futuro do comércio eletrónico. Existem outras empresas que, eventualmente por receio de experiências de internacionalização no passado, não baseadas em e-commerce, possam achar que a internacionalização e o e-commerce podem até ser uma ameaça. Não é esse o caso. Mas, mesmo antes da grande crise financeira de 2008, várias empresas portuguesas tentaram internacionalizar só que fizeram isso com um mercado ou um modelo de negócio não digital. Ou seja, muito intensivo em capital, baseado em expansão de lojas físicas, etc. Hoje em dia não é preciso adotar esse modelo. Acho que é preciso é o reconhecimento por parte das empresas portuguesas de que a adoção do e-commerce e a internacionalização não têm necessariamente de ser um custo fixo gigantesco ou uma transformação gigante. É sim uma questão de mindset.
E nisto tiro muitas vezes a inspiração de outros países, por exemplo Israel, que tem uma indústria exportadora na base de tecnologia, startups, empreendedorismo, etc, absolutamente estratosférica e que olha para o mundo inteiro como uma oportunidade. E essa oportunidade também está ao dispor das empresas portuguesas. Muitas vezes é termos a coragem de olhar para esta oportunidade e tentar entender o que é que tenho de fazer para me adaptar e para poder conseguir tomar conta dessa oportunidade. E acho que as empresas portuguesas ainda têm algum caminho a percorrer, mas as boas notícias é que esse caminho não tem de ser muito difícil.
Também temos visto muitas empresas a falar sobre a normalização dos hábitos de consumo, que as pessoas já não compram tanto online e continuam a ir à loja, como faziam antes da pandemia. Acha que isso poderá ser usado por estas empresas que querem estar um bocadinho mais afastadas do comércio eletrónico como uma justificação para não investir?
É uma boa pergunta. Acho que a solução para a maior parte dessas empresas que tenham um pouco de receio sobre uma transformação total para o digital é sempre a omnicanalidade. A ideia de termos dentro da nossa empresa uma perspetiva única do consumidor, venha ele do online ou das lojas físicas, contact center, seja qual for o canal de contacto. Temos uma perspetiva única sobre esse consumidor. Um dos fenómenos que acontece muito com o e-commerce é que a pessoa vai pesquisar online e vai descobrir os produtos e serviços online ainda antes de ir à loja — o conceito chamado showrooming, que é ir ao site e depois ir buscar à loja. Também acontece o inverso, ou seja, os percursos dos consumidores não têm necessariamente de ser lineares. E a maior parte dessas empresas, se quiserem fazer uma adaptação ao contexto atual, em que o consumidor já sabe que pode comprar online, que pode ir à loja, é ter uma visão completa e holística desse mesmo consumidor e tratá-lo como a mesma pessoa, independentemente do canal pelo qual chegue à empresa. Acho que é o caminho da maior parte das empresas que tiverem um pouco esse receio de fazer uma internacionalização através do e-commerce sem lojas físicas, por exemplo. Há um percurso intermédio, que é essa omnicanalidade que acho que é aquilo que a maior parte dos retalhistas recomenda e acho que é o que faz todo o sentido.
Estamos a preparar-nos para a “peak season“, como dizem, mas uma altura que vai ter também um Mundial de futebol, que é uma coisa que não costumamos ter nesta altura do ano, e temos também outro fator a juntar à equação, que é a questão da inflação, que está a ter efeito em todos os consumidores. O que é que perspetiva para esta época, com todos estes fatores diferentes?
Pegando um bocadinho na teoria da “máquina do tempo”, aquilo que perspetivamos é que é um consumidor que, apesar de estar num contexto de incerteza, quer também fazer algumas escolhas que lhe providenciam uma sensação de bem-estar no meio deste contexto de incerteza. E sabemos que há um aumento muito interessante por procuras de algumas categorias de produtos e serviços, que seriam mais contraditórias ao ciclo económico — por exemplo o “efeito lipstick“, que existe desde a Grande Depressão. Ou seja, sabemos que existe, mesmo no contexto de incerteza, procura por bens e serviços como por exemplo a cosmética, que são contra-cíclicos. As pessoas querem continuar a comprar e o consumo desses produtos até aumenta numa altura de incerteza — os pequenos luxos. Acho que, de certeza absoluta, vai ser a melhor “peak season” de sempre, porque é isso que a nossa máquina do tempo nos ensina, que em Portugal se evolui sempre no contexto de maior comércio eletrónico, maior adoção do digital, mas que vai ser sempre virada para um consumidor que está nesse contexto de incerteza à procura de pequenos luxos e de pequenas formas de adicionar bem-estar num contexto económico conturbado.
A publicidade e os anúncios online representam uma boa fatia desta máquina da Google, há empresas que já estão a reduzir custos e a tentar tornar-se mais ágeis nesta altura tão desafiante. Isso já está a ter alguma consequência para o vosso negócio, algum efeito que já estejam a notar?
É muito importante essa pergunta, porque uma das coisas que discutimos e recomendamos é uma fluidez no planeamento financeiro, incluindo nos orçamentos de marketing. Ou seja, que os nossos orçamentos de marketing se adaptem ao comportamento do consumidor. Aliás, na maior parte das empresas recomendamos que olhem para os custos de e-commerce não como custos de marketing mas como custos de vendas. Ou seja, que entrem no topo da linha financeira das empresas e não no fundo da linha financeira. Isto quer dizer que, na prática, o e-commerce e o comércio digital são impulsionadores de vendas, são um custo de venda e não um custo de marketing. Num contexto em que o consumidor cada vez quer comprar mais coisas online, na prática o que acontece é que o mercado de marketing digital, dos anúncios digitais, aumenta quando aumenta o e-commerce. Acho que isto é bom para todos, é bom para os publishers, para as empresas de notícias que têm cada vez mais oferta de serviços e produtos online, de jornais online, permitem colocar esses sites à disposição das pessoas que querem ter esses produtos e serviços online. É bom para as pessoas que têm esses produtos e serviços à venda internacionalmente. Ou seja, acho que vai haver, como tem acontecido noutros países, uma maior capacidade de gerar valor através do comércio eletrónico para todas as pessoas do ecossistema.
Mencionou também os meios de comunicação social e os publishers. Ao longo das últimas semanas temos assistido a uma campanha de anúncios muito intensa por parte da Google em Portugal a promover o Google News. A que se deve, qual é o momento e o objetivo desta campanha, que até tem anúncios na televisão, uma coisa que nunca tinha sido feita até aqui.
A Google, a nível internacional, sempre acreditou muito no investimento de marketing não só como forma de promover os nossos produtos e serviços mas também de, em alguns casos, estar lá para a indústria da imprensa e de notícias com os nossos próprios investimentos. Aqui em Portugal queremos, com a campanha que referiu, dar a conhecer às pessoas que o Google é uma das fontes mais abrangentes e mais universais possíveis para uma pessoa saber mais sobre o que está a acontecer no mundo que a rodeia. E cada vez é mais importante ter acesso a fontes de notícias pluralistas, que dêem diferentes pontos de vista. Acreditamos muito que os nossos produtos e serviços de notícia são muito bons para os criadores de conteúdos mas também são muito bons para os utilizadores, que lhes permitem ter acesso a essa pluralidade de fontes de informação e é isso um bocadinho a mensagem que queríamos passar a todos.
Consumidor “não quer abdicar da privacidade”, mas ecossistema “não funciona” sem publicidade direcionada
Voltando aqui a esta área das compras, mencionou também a questão da privacidade. A Google é conhecida por ter aqui uma forte componente de cookies e já foi alvo de críticas por causa disso. Como é que a privacidade entra aqui e que mensagem é que tentam transmitir aos clientes para ter isto em conta? Qual é a importância da privacidade na relação com o cliente?
Antes de mais nada, acho que é importante dizer que a privacidade é um direito humano fundamental e que estamos completamente alinhados com isso, tanto em termos da nossa estratégia de desenvolvimento de produto como em termos de mensagem que passamos aos nossos clientes e parceiros. Não existe um futuro de um ecossistema de publicidade sem privacidade e é nesse sentido que andamos a desenvolver, em parceria com o ecossistema, sistemas de publicidade online que garantam a sustentabilidade do ecossistema financeiramente mas que respeitem a privacidade dos utilizadores finais. Não é uma escolha, é um bocadinho como a máquina do tempo — é fácil prever isto.
O consumidor não quer abdicar da sua privacidade no ambiente online. Ao mesmo tempo, o ecossistema de e-commerce não funciona sem publicidade direcionada. É preciso casar as duas coisas. Temos ouvido o ecossistema, criámos através do Chrome uma solução chamada privacy sandbox, que está neste momento em discussão com vários reguladores, com todos os organismos com quem podemos conversar que queiram ser parte dessa solução, para encontrar esse equilíbrio entre o futuro do ecossistema da publicidade, que seja centrado na privacidade, mas também um sistema que permita financiar a produção de conteúdos dos quais vivem a maior parte dos produtores de notícias.
O utilizador português também já manifesta esta preocupação [com privacidade] ou continuamos um bocadinho na máquina do tempo?
O utilizador português está cada vez mais consciente dessa necessidade. Acho que o que nós temos de fazer enquanto indústria é um pouco aquilo que nós próprios no Google temos tentado fazer — dar controlo ao utilizador, ou seja, sermos transparentes com os dados que existem sobre ele e dar-lhe segurança de que esses dados estão bem guardados e bem tratados. E isso é absolutamente fundamental, sem essas três coisas, seja em Portugal seja em qualquer lado do mundo, nenhum utilizador vai confiar nesse ecossistema. Seja em Portugal ou lá fora, essa transparência, controlo e segurança são absolutamente críticas para o futuro do ecossistema como um todo.
Google mais focada em software no mercado português. E os Pixel? “Não tenho nada para anunciar”
Numa das últimas entrevistas que deu disse que Portugal não tinha tantos equipamentos da Google disponíveis cá oficialmente também devido à falta do Google Assistant em português. Desde 2019 que já temos o Google Assistant em português de Portugal e a loja da Google continua com poucas opções de produtos. É nesta peak season que vamos ter os portugueses a comprar o Pixel através da loja da Google?
É uma excelente pergunta, infelizmente não tenho nada para lhe anunciar. Assim que tiver vão ser os primeiros a saber.
Agora é oficial: já pode falar com o Google em português de Portugal
Efetivamente havia este plano de ser coincidente com o lançamento do Google Assistant em português ou foi algo que também adiaram devido à pandemia?
Tal como tive oportunidade de dizer nessa entrevista há uns tempos, a minha perspetiva sobre isto é que somos uma empresa de software first. Portanto a nossa perspetiva em Portugal é a de oferecer aos consumidores portugueses a melhor qualidade de produtos e serviços de software disponíveis em todo o mundo, incluindo aqui em Portugal. Uma das razões pela qual estamos apostados em lançar produtos em Portugal com a mesma celeridade que lançamos em qualquer lado do mundo. Fizemos há pouco tempo, com as direções do Google Maps de uma forma mais ecológica, para que as pessoas em Portugal possam navegar de A para B poupando o máximo possível de combustível. E são esses tipos de inovações que estamos mais focados em trazer para Portugal com a maior rapidez possível.
Portanto, vamos continuar a ter mais de software e menos de produto.
Quando tiver alguma coisa para anunciar digo.
“Vamos continuar a investir em Portugal de uma forma muito forte”
Neste momento é conhecido que as empresas de tecnologia, incluindo as big tech, grupo a que a Alphabet e a Google pertencem, estão a sofrer com este contexto de inflação e de perspetiva de subida de taxas de juro. É conhecido que o CEO da Google já disse que neste momento é preciso reduzir custos e que está a haver alterações a nível de contratações. Como é que está a operação portuguesa tendo em conta este contexto? Estão a ser afetados, há algum travão às contratações em Portugal?
O contexto de incerteza internacional afeta todas as empresas de forma diferente — não somos exceção. O que o Sundar [Pichai] disse que é relativamente evidente que no contexto de incerteza temos de nos manter flexíveis e relativamente cautelosos nas escolhas que tomamos. Em lado algum foram anunciados despedimentos, etc, estamos a ter alguma cautela nos investimentos, mas posso garantir que olhamos para Portugal de uma forma muito positiva. Acabámos de fazer investimentos grandes em Portugal, como o cabo submarino, o Equiano, que liga Portugal a África.
Em Sesimbra.
Que aterrou em Sesimbra há relativamente pouco tempo. Temos aqui uma equipa muito interessante, temos uma presença que achamos que só pode crescer.
Equiano. Cabo submarino da Google chega a Portugal e vai ligar o país à África do Sul
E neste momento essa equipa tem quantas pessoas? Estão a contratar?
Isso é fácil, se for ao site do Google Jobs vê o que está disponível em Portugal. É público e há várias coisas em aberto, que vamos continuar a investir nas coisas certas, por exemplo em Google Cloud, infraestrutura, por aí fora. Há sempre oportunidades na Google e julgo que Portugal continuar a ser, mais uma vez, uma geografia muito interessante. Um país com muita capacidade de atração de talento, de desenvolvimento de talento, um país com uma posição geográfica invejável inclusive para investimentos estratégicos como os cabos submarinos, portanto estou muito otimista em relação às nossas perspetivas de investimento em Portugal.
E já foram contratadas as 500 pessoas do anúncio do Governo, feito há uns anos? [O anúncio da criação de 500 empregados qualificados em Portugal através da Google foi feito por António Costa, no Fórum Económico de Davos.]
Temos uma perspetiva sobre os nossos investimentos que é “o segredo é a alma do negócio”. Estamos muito contentes com os nossos investimentos em Portugal, sejam locais, internacionais ou de infraestrutura. Vamos continuar a investir em Portugal de uma forma muito forte e gostava de ter a certeza de que Portugal olha para a Google como um parceiro estratégico — que é assim que olhamos para Portugal também. Uma localização e investimento estratégico e que estamos cá para durar.
Governo garante que novo centro da Google não é um “call center”
E essa localização e investimentos poderão passar pela abertura de um novo escritório em Portugal, outra localização além de Lisboa?
Mais uma vez, não divulgamos a nossa estratégia de investimento e de negócio. Estamos sempre abertos e sempre atentos a oportunidades de crescimento aqui em Portugal e vamos continuar a fazê-lo. Estou muito otimista de que Portugal está bem posicionado, tanto em termos de estratégia de Governo, de manter um ambiente regulatório saudável, aberto e amigo do investimento. Um país transatlântico, que promove as relações entre Estados Unidos e a Europa, que é um bocadinho a ponte entre os dois continentes. Achamos que, mais uma vez, é um país com capacidade de atração de talento internacional espetacular e, inclusive, um país que tem alguma capacidade de desenvolvimento de talento, seja técnicos, seja o que for, muito interessante. Saem pessoas altamente qualificadas das universidades aqui em Portugal. Não lhe posso dar números concretos de investimento e exatamente o que vamos fazer — o segredo é a alma do negócio — mas acreditamos que Portugal é um país para continuar a investir.
Tem alguma perspetiva ou esperança relativamente ao facto de neste momento a União Europeia ter demonstrado que quer estar mais próxima das tecnológicas norte-americanas, inclusive através da instalação de um escritório em São Francisco? Antecipa aqui alguma alteração de relacionamento?
Acho que, principalmente no contexto de incerteza atual, uma das coisas que foi importante foi que, durante a pandemia, não teria sido nada fácil para a maior parte das empresas do mundo continuar a operar sem os serviços que as empresas de tecnologia podem oferecer. Inclusive muitos deles disponibilizados gratuitamente durante o tempo da pandemia, como as nossas ferramentas de videoconferência…
De educação…
De educação, por aí fora. Acho que isso foi muito importante também para haver na Europa um reconhecimento de que as empresas de tecnologia estão aqui para ajudar. Inclusive empresas como a Google estão aqui para fazer parte da solução e não ser parte do problema. Para nós, haver também um relacionamento saudável entre os dois lados do Atlântico, é uma das coisas obviamente mais importantes, também para podermos operar em tecnologia — sejam empresas europeias, sejam empresas americanas — haver um ambiente regulatório harmonizado e transferível entre o continente europeu e o continente americano. É com muito agrado que assistimos a algumas das últimas evoluções em termos de conversa entre a União Europeia e os Estados Unidos e esperamos que esse ambiente e essa aproximação se mantenha e que continue e que se aproxime cada vez mais.
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