886kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

Getty Images

Getty Images

“Vem aí o Inverno”: 5 respostas para entender a Guerra Fria tecnológica entre os EUA e a Huawei

A Guerra dos Tronos pode ter chegado ao fim na televisão, mas promete continuar na área da tecnologia, com a Google a juntar-se ao ataque norte-americano à chinesa Huawei. O que significa tudo isto?

Esta segunda-feira, os fãs da Guerra dos Tronos acordaram tristes com o fim da sua série preferida. Em Westeros não haverá mais alianças de conveniência, traições e assassínios sangrentos. Na vida real, contudo, há espaço para todo o tipo de guerras e há um conflito a ganhar força: uma espécie de Guerra Fria tecnológica que opõe Estados Unidos à China. No meio disto, está a Huawei, a empresa chinesa que é a segunda maior fabricante de smartphones do mundo.

O último ataque veio de solo americano, com o gigante tecnológico Google a anunciar que vai suspender todos os negócios que tem com a Huawei que exijam a transferência de produtos de hardware e software, para assim conseguir cumprir com as regulações estabelecidas pelo Governo norte-americano, que colocou a Huawei numa espécie de “lista negra”. Ou seja, os utilizadores da marca poderão não conseguir atualizar o sistema operativo Android no futuro.

A chinesa Huawei é a segunda maior fabricante de smartphones de todo o mundo (Kevin Frayer/Getty Images)

Getty Images

A exceção serão os negócios que funcionam no sistema operativo open source (ou seja, de código aberto), mas o impacto a curto-prazo na empresa será à mesma tremendo, de acordo com os especialistas. Ainda para mais, porque esse impacto não é refletido apenas nos negócios com a Google. No mesmo dia, as fabricantes de chips Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom anunciaram também a suspensão de entregas à Huawei. Horas depois, surgiam relatos de um possível contágio à Europa, com a notícia de que a alemã Infineon Tehnologies, que também fabrica chips, deverá fazer o mesmo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A decisão de Washington — de colocar a Huawei nesta espécie de “lista negra”– não é surpreendente, tendo em conta as críticas que os norte-americanos têm feito à empresa chinesa, acusando-a de poder vir a fornecer informação dos utilizadores ao Estado chinês. O argumento da segurança nacional tem inclusivamente sido utilizado para pressionar países como Portugal a não fazerem negócios com a tecnológica de Pequim, nomeadamente no estabelecimento da rede 5G. Esta política norte-americana de ataque frontal veio para ficar ou não passa tudo de pressão temporária para influenciar as negociações sobre a chamada “guerra comercial” que decorre entre EUA e China? Essa é a pergunta de um milhão de dólares. A outra, sobre o final da Guerra dos Tronos, já teve resposta.

Porque é que a Google e outras empresas cortaram relações com a Huawei?

Para responder a imposições legais, impostas pelo Governo dos Estados Unidos.

O anúncio desta segunda-feira surge na sequência de uma ordem executiva do Presidente norte-americano, Donald Trump, que declarou uma situação de “emergência nacional” e impôs às empresas norte-americanas uma proibição de partilhar informação e comunicações com empresas que são consideradas uma ameaça à segurança nacional. Pouco depois, o Departamento do Comércio norte-americano colocou a Huawei na sua “Lista de Entidades”, uma espécie de “lista negra” de empresas com quem os norte-americanos não podem negociar, a não ser que tenham uma licença especial emitida pelo Governo.

Na sequência disso, a Google anunciou estar a “cumprir as ordens e a rever as implicações”, ou seja, suspendendo os negócios em curso com a Huawei. Seguir-se-iam as fabricantes norte-americanas de chips Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom.

Como é que os utilizadores de equipamentos da Huawei serão afetados por esta decisão?

Depende. Isto é: se forem consumidores chineses, em pouco ou nada serão afetados; mas se estiverem noutras partes do mundo, como na Europa, serão bastante, pelo menos a curto-prazo.

Vamos então por partes. A Huawei é a segunda maior fabricante de smartphones do mundo (apenas atrás da Samsung e à frente da Apple) e utiliza o sistema operativo Android, que pertence à Google. Na China, contudo, as aplicações da Google não podem ser utilizadas, razão pela qual há uma série de serviços alternativos para substituir apps como o Gmail ou a Google Maps. No resto do mundo, os smartphones da Huawei utilizam o sistema Android e que permite a instalação de várias aplicações da Google — nalguns casos, essas mesmas aplicações já vêm instaladas por defeito no telefone, o que já levou a tecnológica a ser acusada na Europa de abuso de posição dominante no mercado.

Com esta alteração, a Google já explicou que não haverá efeitos retroativos para os atuais utilizadores da Google Play, o sistema de distribuição de apps da Google. Quem tem um telemóvel da Huawei poderá continuar a utilizá-lo, sem problemas, para já. “Para os utilizadores dos nossos serviços, o Google Play e as proteções de segurança do Google Play Protect [um detetor de malaware] continuarão a funcionar nos equipamentos existentes da Huawei”, declarou um porta-voz da empresa, citado pela agência Reuters.

Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping têm disputado uma guerra comercial entre EUA e China (NICOLAS ASFOURI/AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

As complicações surgem depois: O que acontecerá quando a Google lançar a próxima versão do Android, ainda este ano? E para quem comprar um smartphone novo da Huawei entretanto? “A Huawei só poderá utilizar a versão pública do Android e não poderá ter acesso às aplicações proprietárias e aos serviços da Google”, esclareceu o mesmo porta-voz.

Porque o Android é um sistema que funciona em open source (código aberto), a Google não pode impedir ninguém de o utilizar, incluindo a Huawei. É por essa razão que já surgiram notícias de que empresas como a portuguesa Aptoide estariam a negociar parcerias alternativas à Google Play com a Huawei, como reportou o Dinheiro Vivo. No entanto, a Google pode proibir que sejam utilizados os seus serviços — aqueles que são precisamente proibidos na China, mas que a grande maioria dos europeus utiliza —, como o Gmail, a Google Maps, o Google Chrome, o Google Docs, etc.

Mais: as aplicações que recorrem a serviços da Google, como o Google Maps, também deixarão de poder ser utilizadas nos smartphones da Huawei. É o caso de algumas aplicações de transporte ou de entrega de comida ao domicílio, explica a CNN. Sem elas, diz ao canal norte-americano Bryan Ma da empresa de consultoria tecnológica IDC, “o telemóvel da Huawei passa a ser como um tijolo”.

A Huawei tem estado debaixo da mira do Governo dos EUA — e não só. Porquê?

Porque os EUA alegam que a empresa pode ser utilizada pelo Governo chinês para ter acesso a informações sobre cidadãos estrangeiros, como os norte-americanos. A empresa nega e garante que cumpre escrupulosamente a lei internacional.

A Huawei foi criada em 1987 por um antigo dirigente militar chinês, Ren Zhengfei, e já contou com forte investimento por parte do Governo de Pequim. É atualmente a maior empresa privada da China, a maior fabricante de componentes para redes de telecomunicações de todo o mundo e a segunda maior fabricante de smartphones a nível mundial. Contudo, está impedida de vender vários dos seus produtos em países como os EUA, a Austrália e a Nova Zelândia. A Comissão Europeia também está a tentar avaliar os alegados riscos de segurança associados à empresa, denunciados pelos Estados Unidos.

De acordo com os serviços de informação dos EUA, a Huawei e a ZTE (outra tecnológica chinesa) representam riscos à segurança nacional dos norte-americanos. “Estamos profundamente preocupados com os riscos de permitir a qualquer empresa ou entidade que pertença a governos estrangeiros que não partilham os nossos valores que ganhem posições de poder dentro das nossas redes de telecomunicações, o que lhes pode dar a capacidade de pressionarem ou controlarem a nossa infraestrutura de comunicações”, declarou o diretor do FBI Christopher Wray em 2018, no Senado, de acordo com o Vox. “Isso dá-lhes a capacidade de modificar algo de forma maliciosa ou de roubar informação, e dá-lhes a capacidade de levarem a cabo espionagem sem serem detetados.”

Meng Wanzhou, CFO da Huawei, foi detida no Canadá com um mandado da Justiça norte-americana (DON MACKINNON/AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

A Huawei, por seu turno, nega por completo ter a intenção de fazer espionagem a favor da China. Em janeiro deste ano, o fundador Ren Zhengfei afirmou em público que nunca tomaria ações que “prejudicassem os interesses dos clientes”, mesmo que tal lhe fosse pedido pelo Governo chinês. “Amo o meu país, apoio o Partido Comunista. Mas não faria nada que prejudicasse o mundo”, disse.

Estas declarações surgiram depois de Meng Wanzhou, filha do fundador da Huawei e atual diretora financeira da empresa, ter sido detida no Canadá, a 1 de dezembro. Atualmente, aguarda em liberdade condicional a decisão de um tribunal sobre o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos, que levou à sua detenção. Em causa estão acusações de a Huawei ter violado as sanções comerciais impostas ao Irão, por ter alegadamente negociado com Teerão através de uma empresa de fachada com sede em solo americano, a SkyCom. Foi mais uma jogada de Washington na Guerra Fria contra a Huawei.

Como a detenção da herdeira da Huawei simboliza a guerra comercial dos EUA com a China

Oficialmente, ninguém conseguiu provar que a Huawei tenha vulnerabilidades nos seus produtos que permitam ao Governo chinês aceder a redes privadas no estrangeiro, por exemplo, como relembra ao Vox Adam Segal, do programa digital do Council on Foreign Relations. Contudo, a Bloomberg noticiou no final de abril que teriam sido detetadas essas tais vulnerabilidades pela Vodafone Itália em routers domésticos, entre 2009 e 2011, e que esses equipamentos teriam sido utilizados em países como o Reino Unido, Alemanha, Espanha e Portugal. Contudo, tanto a Vodafone como a Huawei anunciaram que essas vulnerabilidades foram corrigidas em 2011 e 2012.

As maiores preocupações a nível de segurança, contudo, surgem no que diz respeito à tecnologia 5G, como relembrou Segal. Por essa razão, e de forma preventiva, o Japão e a Nova Zelândia proibiram a Huawei de fornecer equipamento 5G nos seus países. A Austrália baniu por completo a empresa, enquanto países como o Reino Unido e o Canadá estão a avaliar a situação.

O caso do Reino Unido é particularmente interessante porque levou até à demissão do ministro da Defesa, Gavin Williamson, no início do mês de maio. Após ter sido publicada informação de que a primeira-ministra britânica, Theresa May, iria permitir que a Huawei participasse no desenvolvimento da rede 5G no país (embora de forma limitada), a primeira-ministra demitiu Williamson, acusando-o de ter divulgado a informação como retaliação por se opor à participação da Huawei na rede.

A Comissão Europeia, por seu turno, tem estado a analisar o tema, mas há responsáveis muito céticos relativamente à segurança fornecida pelos sistemas da Huawei. É o caso do comissário europeu para o Mercado Único Digital, Andrus Ansip, que disse estar “preocupado”, já que a Huawei “tem de cooperar com os serviços de inteligência do país”, visto estar sediada no país. Em abril, a Comissão pediu a todos os Estados-membros “cautela” no uso dos dispositivos 5G da Huawei e requereu uma avaliação dos riscos aos vários países.

A Associação Europeia das Câmaras de Comércio e Indústria (Eurochambres) contesta as declarações dos representantes europeus, falando numa guerra comercial entre EUA e China e pedindo à UE que não tome partido: “Não devemos dizer que a Huawei tem de sair para a [norte-americana] Cisco entrar, é esse o objetivo dos americanos”, disse Christoph Leitl, presidente do grupo, aludindo a interesses comerciais.

Empresas europeias rejeitam pressões dos EUA e defendem Huawei na União Europeia

O comissário Ansip já havia negado essa interpretação. “Muitos chineses dizem que a UE decidiu apoiar os Estados Unidos nesta guerra comercial. Desculpem, [mas] na Europa temos os nossos interesses e as nossas preocupações e temos de proteger a segurança da nossa população e das nossas empresas”, declarou numa entrevista à Agência Lusa. “Não estamos a ser influenciados pelos Estados Unidos. E não, não recebi chamadas de Washington”.

Qualquer decisão da UE terá um impacto tremendo, já que a Huawei tem atualmente 23,6% do mercado europeu, um valor muito superior ao que registava no período homólogo anterior (14,8%), de acordo com dados da consultora Canalys.

E Portugal? Não tem uma rede de 5G que vai ser feita com a Huawei?

Há planos para isso, razão pela qual Washington tem tentado influenciar o Governo português a recuar nessa matéria.

Tudo começou em dezembro de 2018, aquando da visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal. Nesse encontro, a Huawei e a Altice assinaram um memorando de entendimento para a empresa ser a primeira a criar as infraestruturas de redes 5G em Portugal. Meses depois, o gigante chinês acabou por esclarecer que esta parceria não passa de um memorando, que não vincula a Altice a nada. À altura, contudo, o presidente executivo da Altice dizia-se “muito contente” pela parceria.

Confiar ou não confiar? 6 respostas para perceber a desconfiança política em torno da Huawei

Desde então, e face às críticas apontadas por vários sectores, o Governo português tem-se pronunciado publicamente sobre esta questão, desvalorizando as suspeitas norte-americanas.

“Há um entendimento geral [entre os Estados-membros] de que deve haver uma troca de informação relativamente a essas matérias”, confirmou o primeiro-ministro António Costa em março, garantindo que Portugal “segue esse tema com toda a atenção”, devido ao memorando assinado entre a Altice e a Huawei. O primeiro-ministro relembrou, porém, que “não depende da marca do telemóvel ser ou não escutado”.

A avaliação de risco pedida por Bruxelas, contudo, está a ser feita pela Anacom, em parceria com o Gabinete Nacional de Segurança. Cada Estado-membro irá comunicar até ao final de junho “quais são os riscos que está a considerar relativamente ao 5G, em relação a qualquer empresa e a qualquer tipo de operações e a qualquer tipo de dados”, garantiu o ministro dos Negócis Estrangeiros Augusto Santos Silva, em abril. No entanto, deixou uma ressalva face à Huawei: “Não é uma questão dirigida à empresa A, B, C ou D. É uma questão de nós tomarmos as medidas necessárias para que a infraestrutura digital do 5G.”

O memorando para construção da rede 5G entre Huawei e Altice foi assinado aquando da visita de Xi Jinping (à esquerda) a Portugal (PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

Essa postura levou a que o próprio embaixador norte-americano em Lisboa, George Glass, se pronunciasse diretamente contra o memorando assinado entre a Huawei e a Altice e deixasse avisos ao Executivo de António Costa: “Portugal é o nosso segundo mais antigo aliado e não tem havido brechas entre nós há muito tempo”, começou por dizer o embaixador, num encontro com jornalistas. ”Parte disso traduz-se na partilha de informação que só podemos ter com um aliado, especialmente com aliados da NATO, a um nível que não existe com muitos países em todo o mundo. Se isso não for seguro, se os meios para a entrega [dessa informação sensível] não forem seguros, a relação tem de mudar. Temos de pensar numa nova maneira para comunicar esse estilo de informação.

É preciso não esquecer ainda que a mistura entre Huawei e política nacional não tem sido pacífica. Em 2017, o Observador noticiou que a empresa pagou diretamente viagens à China a vários responsáveis políticos, de diferentes partidos. Apesar de não se ter provado haver relação de oferta-benefício nestas viagens com contratos públicos, houve entidades públicas que celebraram acordos com empresas que utilizam equipamentos da empresa chinesa.

Deputado, vereador e presidente de junta do PSD viajam à China pagos pela Huawei

Entrámos mesmo numa Guerra Fria tecnológica? O que vai acontecer daqui para a frente?

Alguns especialistas acham mesmo que sim. Tim Culpan, colunista de Tecnologia da Bloomberg, afirmou isso mesmo e questionou: “Qual dos lados vai ter estômago para uma batalha prolongada, agora que foi cerrada esta Cortina de Ferro Digital?”

Por trás deste conflito tecnológico está uma mescla de interesses comerciais e preocupações de segurança nacional, que opõem os governos norte-americano e chinês, e que correm em paralelo com uma chamada “guerra comercial” que continua a ser alvo de negociações. A última decisão de Trump, de incluir a Huawei na “lista negra” de entidades do Departamento do Comércio, é a mais recente tática para afetar a gigante tecnológica chinesa e começa a ter resultados, com a tomada de posição da Google revelada esta segunda-feira.

Vlad Savov, da publicação especializada em tecnologia The Verge, recorda que tudo isto pode ser apenas uma jogada para assustar o Governo chinês e forçá-lo a ceder nalguns pontos da negociação comercial. “Só que é improvável que a China reaja de forma positiva a estas táticas de bullying dos EUA. E isso significa que o negócio da Huawei pode ficar num limbo durante algum tempo”, afirma. Mais: a China pode inclusivamente retaliar, como fez quando Meng Wanzhou foi presa, ao deter de imediato dois cidadãos canadianos, acusados de porem em risco a segurança nacional.

Esta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês reagiu de imediato às notícias, dizendo que a China “apoia que as empresas chinesas utilizem as armas legais para defender os seus direitos legítimos”, de acordo com o jornal chinês de língua inglesa Global Times. Ina Fried, editora de Tecnologia do site Axios, deu exemplos à Al Jazeera dos formatos que essa retaliação pode tomar: “É verdade que a Huawei precisa de software norte-americano, mas digo-vos já, a Apple também se apoia no fabrico chinês, portanto acho que eles estão preocupados caso a China retalie dizendo ‘Então vão ter pagar tarifas de exportação gigantes se quiserem tirar esses iPhone daqui’”.

Certo é que, aconteça o que acontecer, as decisões recentes têm impacto na Huawei. Oficialmente, a empresa desvaloriza o caso da Google, dizendo que já sabia “que isto podia ser uma possibilidade”  e que se tem preparado. Em causa está um sistema operativo próprio que tem estado a ser desenvolvido pela Huawei — chamado HongMeng OS, de acordo com o Global Times — como espécie de “Plano B”. Mas isso não resolve o facto de os mercados fora da China ficarem sem acesso aos serviços da Google, nem a dificuldade de arranjar os chips que até aqui eram comprados às empresas norte-americanas. A New York Magazine relembra que atualmente a China produz apenas 3% dos chips a nível mundial e que estes são fulcrais para a Huawei cumprir os contratos que tem assinados para a rede 5G.

Ou seja: mesmo que a Huawei consiga arranjar soluções, no curto-prazo, a decisão da Google e dos fabricantes norte-americanos é uma verdadeira dor de cabeça para a empresa. “Isto parece o pior pesadelo de uma empresa, com a sua cadeia de distribuição a ser perturbada desta forma”, resumiu ao South China Morning Post Kiranjeet Kaur, investigador da IDC. “A Huawei até pode utilizar [o Android em open source] e vir a construir as suas próprias aplicações e serviços, mas tudo isso não vai acontecer do dia para a noite.”

E quanto a esta “Guerra Fria” entre EUA e China, para onde se precipita? Ninguém sabe ainda. “A jogada dos EUA é uma resposta a receios sobre as suas próprias vulnerabilidades e é uma tentativa de explorar as vulnerabilidades da China. O resultado provável será uma escalada — mas ainda não temos a certeza”, resumiu Henry Farrel, professor de Relações Internacionais da Universidade George Washington. “Não temos nada que se assemelhe a uma análise estratégia nesta área. A experiência histórica não nos dá nenhuma analogia recente que se aplique bem aqui.”

https://twitter.com/henryfarrell/status/1129019298104709120

Para já, apenas uma coisa é certa: mesmo que se venha a recompor, a Huawei é duramente afetada por esta decisão dos norte-americanos. Por outras palavras, como apontou o editor de Tecnologia da BBC, Leo Kelion: “Esta jogada pode derrubar a ambição [da Huawei] de ultrapassar a Samsung e tornar-se a maior marca de smartphones mundial até 2020”. E quem sabe se não será o primeiro ataque de vários, feitos de parte a parte.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.