1

É mesmo verdade que a atividade física contribui para uma boa saúde mental?

Sim, está cientificamente provado e são muitas as vantagens. Estas são apenas algumas:

  • Promoção de emoções positivas;
  • Melhoria da função cognitiva, da memória e do rendimento académico;
  • Melhoria da gestão da frustração e da persistência nas tarefas;
  • Estimulação da autonomia e da percepção de competência;
  • Melhoria da qualidade do sono;
  • Melhoria da autoestima física e promoção de uma boa relação com o corpo e melhor imagem corporal;
  • Melhoria das competências sociais e do trabalho de equipa.
2

Porque é que a atividade física tem este impacto tão positivo?

Os benefícios para a saúde física — menos dores, mais capacidade respiratória, mais força, mais flexibilidade — levam também a um maior bem-estar. E a prática de atividade física potencia a libertação de alguns neurotransmissores — como dopamina, serotonina e endorfinas — essenciais para a regulação do humor, ao mesmo tempo que diminui os níveis de outros — como o cortisol — o que ajuda a diminuir o stress.

Além disso, e dependendo da atividade praticada, há uma série de outros fatores que contribuem para estes benefícios. Marlene Nunes Silva, psicóloga clínica e doutorada em Exercício e Saúde, atual Diretora Científica do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, da Direção-Geral da Saúde, destaca “a interação social quando exercício é feito em grupo, a atenção plena, a imersão em espaços verdes durante uma caminhada ou sentimentos agudos de afecto positivo, como o runner’s high” (a sensação de euforia que ocorre depois de uma corrida ou exercício intenso).

3

Porque é que os médicos recomendam exercício a quem tem depressão ou ansiedade?

Porque a atividade física, além de promover a saúde mental e prevenir a doença, nomeadamente a ansiedade, depressão e declínio cognitivo, tem também um impacto positivo no seu tratamento, isto é, ajuda a pessoa a melhorar quando já está doente, nomeada com uma perturbação da ansiedade ou depressão.

“O exercício pode ser um complemento eficaz ou até uma alternativa aos medicamentos e à psicoterapia”, diz Marlene Nunes Silva. Além disso, está provado que, para o tratamento da depressão, os efeitos positivos parecem ser proporcionais à intensidade do exercício prescrito.

4

O exercício físico também é benéfico em caso de doença mental grave? 

Sim. Em doenças mentais graves, como a esquizofrenia e a perturbação bipolar, que afetam o funcionamento global da pessoa e provocam alterações em quase todas as funções mentais, o exercício físico também tem um impacto positivo comprovado.

Marlene Nunes Silva afirma que os benefícios reportados vão para além das melhorias dos sintomas associados à própria doença, estendendo-se à saúde física, bem-estar psicológico e qualidade de vida. “Vários estudos têm reportado um efeito positivo em diversas áreas, como a autonomia e competência, interesse social, bem-estar psicológico e autoimagem, redução dos níveis de ansiedade e tensão, bem como na cognição, memória, atenção, raciocínio e resolução de problemas.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

5

Que exercício se deve fazer e com que frequência?

Segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), de uma forma geral, os adultos entre os 18 e os 64 anos, devem realizar pelo menos 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica — como correr, nadar ou pedalar — de intensidade moderada ou pelo menos 75 a 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa ou ainda uma combinação das duas, ao longo da semana.

Além disso, há benefício em realizar, pelo menos duas vezes por semana, atividades que impliquem força muscular de intensidade moderada a vigorosa.

6

E é necessário adaptar estas indicações aos diagnósticos de saúde mental?

É sempre conveniente que possam ser feitas adaptações à condição física, interesses, objetivos e necessidades de cada doente.

“A intensidade, frequência e duração do exercício devem ser adaptados ao nível inicial de aptidão física” da pessoa, explica Marlene Nunes Silva. Além disso, é importante que quem prescreve o plano de exercício “conheça as caraterísticas da doença, por exemplo, a perda de interesse e motivação, baixa autoestima e autoconceito”; bem como “as implicações para o exercício físico relacionadas com os efeitos colaterais da medicação psiquiátrica tais como tonturas, boca seca, náuseas, visão distorcida, tremores,(…) ou sedação” e que saiba identificar problemas de saúde física que possam existir, como outras doenças.

É também conveniente alinhar o exercício com outras necessidades ou preferências da pessoa, escolhendo por exemplo, entre atividades de grupo ou individuais, feitas num ginásio ou ao ar livre, de forma autónoma ou com apoio de um treinador pessoal.

7

As pessoas com doença mental têm mais dificuldade em iniciar uma rotina de exercício físico? 

“A população com doença mental tem um conjunto muito diversificado de barreiras na prática de atividade física que limitam a adesão e participação, nomeadamente baixa autoconfiança e autoconceito físico, falta de motivação e interesse, pobre condição física”, diz Marlene Nunes Silva.

Por isso a pressão externa que é colocada sobre o paciente para implementar estas mudanças deve ser evitada. “Tende produzir resultados [apenas] a curto prazo e não traz bem-estar associado.” Por isso, o fundamental é ajudar a pessoa a dar o primeiro passo e a experimentar e, depois, deixá-la valorizar, por si, as vantagens que a atividade física lhe trouxe, para que a possa manter.