Uma publicação na rede social Facebook alega que tanto os confinamentos decretados durante a pandemia de Covid-19 como as vacinas administradas contra o vírus SARS-CoV-2 foram responsáveis por três milhões de mortes acima do que seria expectável, entre os anos de 2020 e 2o22. “Confinamentos e vacinas Covid causaram três milhões de mortes em excesso após a pandemia, em 47 países ocidentais”, é o título partilhado por um utilizador, que, na descrição da publicação, cita vários parágrafos de um artigo.

O texto em causa, que está a ser partilhado nas redes sociais, foi publicado pelo Contra Cultura (uma página de desinformação ligada às teorias da conspiração) e refere, logo no primeiro parágrafo, que “os peritos em saúde pública estão, lenta mas paulatinamente, a reconhecer que as vacinas mRNA contra a Covid-19 podem ser responsáveis pelo aumento global do número de mortes em excesso desde a pandemia, já que os dados de mortalidade de 47 países ocidentais, compilados por investigadores nos Países Baixos, mostram que as mortes nesses países excederam as projeções em três milhões, desde 2020”. O artigo classifica, de resto, o processo de vacinação como “genocida”.

Para justificar a primeira parte da frase acima citada (que as vacinas de mRNA são responsáveis pelo aumento das mortes desde a pandemia), o Contra Cultura socorre-se de um artigo, publicado a 5 de junho pelo jornal The Telegraph, e cujo título é: “As vacinas contra a Covid podem ter ajudado a aumentar o excesso de mortes”. O artigo do prestigiado diário britânico é sobre um estudo, recentemente publicado, e que conclui, de facto, que se verificaram mais cerca de três milhões de mortes acima do expectável nos países ocidentais entre 2020 e 2022. Mas terá esse estudo, publicado no BMJ Public Health, concluído que essas mortes se devem aos confinamentos e às vacinas contra a Covid-19?

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A investigação, levada a cabo por cientistas dos Países Baixos, concluiu que, em 47 países (ou seja, toda a Europa e ainda EUA e Austrália), houve mais de um milhão de mortes em excesso em 2020, no auge da pandemia, mas também 1,2 milhões a mais em 2021 e 800 mil acima do expectável em 2022. “O excesso de mortalidade permaneceu alto no mundo ocidental por três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção e vacinas contra a Covid-19. Isso levanta sérias preocupações”, escrevem os investigadores.

“Embora as vacinas contra a Covid-19 tenham sido fornecidas para proteger os civis da morbilidade e mortalidade pelo vírus da Covid-19, eventos adversos suspeitos também foram documentados”, sublinha o estudo. No entanto, os investigadores nunca fazem uma ligação direta entre as vacinas e os confinamentos e o excesso de mortalidade.

O estudo não atribui qualquer relação entre as medidas, as vacinas ou outro qualquer aspeto e a mortalidade“, confirma ao Observador o Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. Gustavo Tato Borges acrescenta que, “por isso, não há qualquer afirmação que coloque em causa as medidas utilizadas, sejam o confinamento ou as vacinas”.

O médico destaca, por outro lado, que o que investigadores recomendam é que “é importante que os governos estudem as causas” do excesso de mortalidade e que só nessa altura se poderão tirar conclusões. Quanto ao título do artigo do The Telegraph, Tato Borges é perentório: “É uma dedução do autor do artigo do Telegraph, não do estudo.”

Conclusão

Os confinamentos e a vacinação contra a Covid-19 não causaram três milhões de mortos em excesso. O que diz a investigação realizada nos Países Baixos é que essas mortes foram, de facto, registadas e que é necessário que os países apurem as causas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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